É a comunicação, estúpido!

Por Chico Cavalcante (*), na Revista Fórum

Num cenário de disputa acirrada e de narrativas polarizadas, a comunicação do governo Lula deveria ser uma solução e se tornou um problema.

Lula, Paulo Pimenta e Marcos Uchôa no Conversa com o Presidente. Créditos: Ricardo Stuckert / PR

Durante décadas vigorou a noção notavelmente cunhada por James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton contra George H.W. Bush: “É a economia, estúpido!”. 

A performance econômica era decisiva nas eleições e, antes dela, na avaliação de um governo. Essa objetividade perdeu espaço para uma subjetividade tóxica, eivada de temas emocionais e viralizada em refrões repetitivos nas redes, que nos aprisionam no eterno confronto estéril com quem não é possível dialogar.

Nos EUA, apesar de um Biden economicamente bem-sucedido, com baixo desemprego e melhoria na distribuição de renda, a popularidade de seu governo cai enquanto Trump avança. Em Portugal, a economia forte e os benefícios sociais não impedem a crise política e o crescimento da direita xenófoba. No Brasil, melhorias econômicas sob Lula, como a elevação do PIB, o reingresso do país entre as dez maiores economias do mundo e o aumento do salário mínimo, não elevam sua popularidade, refletindo a polarização e o impacto das narrativas emocionais da subjetividade nas disputas políticas.

As pesquisas Atlas e Quest, recém publicadas, mostram, em números aproximados, que a aprovação de Lula caiu de 52% para 47%. A avaliação negativa do governo subiu para 41%, enquanto a positiva caiu para 38%. O desempenho e a avaliação caíram em todas as áreas. No entanto, a maioria dos brasileiros – dados das próprias pesquisas citadas – continua considerando que todos os setores do governo Lula têm um desempenho melhor do que os apresentados no governo de Bolsonaro – incluindo educação, saúde, meio-ambiente, redução da pobreza, justiça e combate à corrupção e segurança pública. A máxima de James Carville, então, precisa ser rescrita: “é a comunicação, estúpido!”. 

Vivemos em uma sociedade saturada de comunicação, que prioriza a rapidez dos bordões e mensagens virais que reafirmam crenças e elegem líderes sem nenhuma competência, enquanto questões econômicas e demandas sociais – que exigem análise e senso crítico – ficam em segundo plano.

Num cenário de disputa acirrada e de narrativas polarizadas, a comunicação do governo Lula deveria ser uma solução e se tornou um problema. Para mudar, precisa virar a chave das métricas e algoritmos frios e da publicidade enlatada que pratica e abraçar a comunicação militante como ferramenta estratégica para construir uma relação de confiança com a população das periferias e do campo e divulgar de forma eficaz as conquistas e benefícios das políticas implementadas.

Cunhei o conceito de comunicação militante no ano 2000, quando publiquei, com Ruth Vieira, o livro que relatava nossa experiência de comunicação ativa na prefeitura petista de Belém (1997-2000). O descrevemos como “toda prática de comunicação de natureza ativista”, onde o objetivo principal é promover, defender ou disseminar ideias e valores associados à causa. É uma comunicação pedagógica, horizontal, de foco local, engajada, que busca não apenas informar, mas também inspirar ação, feedbacks e engajamento por parte do público. Diferencia-se da comunicação convencional por seu compromisso explícito com as agendas progressistas. Mudar o caráter burguês da publicidade institucional do governo federal, regionaliza-la, e organizar núcleos de comunicadores locais, criando uma rede com centenas de milhares de multiplicadores de conteúdo, mudará a forma como somos vistos por nosso público de interesse.

Investir em uma comunicação militante, de baixo para cima, regionalizada, acessível e estratégica, contribuirá significativamente para abandonarmos o bate-boca inútil com os 24% imersos em insatisfações e medos, que não converteremos, e reverter a desaprovação, promovendo uma imagem positiva e verdadeira do governo Lula . Ou fazemos isso, ou os estúpidos seremos nós.

(*) Chico Cavalcante é publicitário

Globo manipula dados e transforma sucesso da Petrobras em fracasso

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

A manchete principal do Globo é falsa. Não respeita sequer a matéria.

Vamos às informações corretas, sem as distorções do jornal.

  1. O lucro líquido da Petrobras em 2023 foi de R$ 124,6 bilhões, o segundo mais alto da história.
  2. O EBITDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) doi de R$ 262,2 bilhões, o segundo maior da história, assim como o segundo maior fluxo de caixa operacional.
  3. E esse resultado não foi alcançado por uma eventual melhora nos preços internacionais do petróleo que, na verdade, caíram 18% e houve queda de 23% no preço do diesel em relação ao petróleo.

Onde está o problema? Em 2022, a Petrobras distribuiu todo seu lucro, uma irresponsabilidade absoluta em relação ao futuro da companhia. E não houve nenhuma grita de O Globo. Ou seja, deixou de investir em novos campos, na transição energética, em novas tecnologias, na segurança, para beneficiar os acionistas.

Em 2023 foram US$ 12,7 bilhões em investimentos, crescimento de 29% em relação ao ano anterior. Além disso, pagou R$ 240 bilhões em tributos à União e estados.

Mesmo não distribuindo a totalidade do lucro, os acionistas da Petrobras obtiveram um retorno superior ao das demais empresas petrolíferas. Além disso houve redução de US$ 1,2 bilhão na dívida financeira. A produção do pré-sal chegou a 2,17 milhões de barris de petróleo equivalentes, 10% acima do ano anterior.

Em suma, o que era para ser tratado como um sucesso, foi derrubado pelo Globo simplesmente porque não se cometeu a irresponsabilidade de outros anos, de didstribuir todo o lucro, sem se preocupar com o futuro da companhia.

Meninos da base salvam o Leão

POR GERSON NOGUEIRA

O torcedor é contraditório: normalmente é tolerante com pernas-de-pau de fora, mas extremamente intransigente com os nativos. Ontem à noite, na estreia do paraguaio Gustavo Morínigo no comando técnico, os meninos da base brilharam. Mal das pernas, o Remo venceu graças aos gols de Felipinho e Kanu e à assistência do primeiro para o gol de Ribamar.

A partida contra o Trem-AP terminou com um placar folgado e enganoso, 3 a 1, mas o desempenho ficou aquém do esperado. Depois de uma atuação pífia diante do Bragantino, domingo, pelo Parazão, a expectativa era de uma atuação mais encaixada e minimamente convincente.

Nada disso aconteceu. E olha que o Remo começou balançando as redes. Aos 6 minutos, em boa jogada individual, Felipinho recebeu uma bola na entrada da área e bateu forte e rasteiro no canto direito da meta amapaense. Tudo parecia absolutamente tranquilo para os azulinos.

A partir daí, espantosamente, o Remo não conseguiu manter a pegada inicial e não soube administrar a partida. O Trem surpreendeu com uma postura ofensiva. Partiu com tudo para cima da zaga azulina, mas fracassava nas finalizações.

Mesmo hesitante, com nenhuma conexão entre meio e ataque, quase o marcador foi ampliado aos 31 minutos. Felipinho novamente apareceu bem, mandando um lançamento para Echaporã, que entrou na área e bateu na saída do goleiro Victor, que conseguiu evitar o gol.

A desorganização era a marca do comportamento do Remo, que se atrapalhava sempre que retomava a posse da bola. Pressionado pelo Trem, o meio-de-campo não conseguia se livrar do bloqueio e acabava perdendo bolas na zona mais perigosa do campo.

Para piorar, o zagueiro Ícaro saiu lesionado muito cedo, forçando a entrada de Reiniê. Aos 30’, o atacante Marco Antônio também saiu contundido. Aos 41’, um susto: Tácio disparou um chute forte da intermediária para grande defesa de Marcelo Rangel.

Logo em seguida, uma outra chegada aguda do Trem: a zaga vacilou e Aleilson entrou na área, driblou o goleiro e só não fez o gol porque demorou a finalizar. Lances que inquietavam o time e irritavam a torcida, novamente em pequeno número no Baenão.

O 2º tempo se iniciou e os pesadelos da galera se materializaram. Logo aos 10 minutos, pênalti para o Trem. Daniel Felipe cobrou e empatou. Para felicidade do Leão, no minuto seguinte Ribamar aproveitou cruzamento de Felipinho e desempatou. Foi o primeiro dele com a camisa azulina.   

Nos minutos derradeiros surgiram oportunidades para os dois lados, a principal delas com Kelvin, que errou no arremate final. Cansado, o Remo arriou os meiões e o Trem impôs pressão. Felipe quase marcou em lance que Marcelo Rangel foi decisivo.

Aos 49’, finalmente, a torcida explodiu no Baenão. Lançado pela direita, Kanu (que substituiu Ribamar) entrou na área, driblou um zagueiro e fuzilou para o gol, fazendo 3 a 1. Uma vitória importante, conquistada aos trancos e barrancos, mas que comprovou a importância da base azulina.

Paraguaio terá uma missão árdua pela frente

A boa participação dos laterais Thalys e Raimar e a conduta segura de Pavani foram os destaques do Remo diante do Trem. A performance coletiva podia ter sido melhor, com maior aproximação entre os setores, mas por alguns minutos o torcedor viu um time com postura mais firme.

Ocorre que a intensidade deixou de novo a desejar, principalmente no segundo tempo, quando o Trem decidiu buscar o empate a qualquer custo e botou pressão. O Remo cansou muito cedo, o que expõe um dos pontos mais criticados da passagem de Ricardo Catalá.

Na entrevista pós-jogo, o técnico Gustavo Morínigo abordou essas questões e enfatizou o quanto considera valiosa a atitude mental dos jogadores. Mesmo com pouco tempo de contato com o elenco, ele revelou que buscou passar orientação tática nas conversas com os jogadores.

As ações pelos corredores laterais foram importantes, principalmente com Raimar no primeiro tempo, e podem ser entendidas como resultantes da entrada em cena de Morínigo. Consciente das dificuldades, o técnico terá que trabalhar muito para incutir força emocional ao grupo.

O Remo joga como se estivesse o tempo todo pilhado, temendo o pior – e o pior acaba ocorrendo. Do jeito como o time se comporta hoje, qualquer time se agiganta diante do Remo dentro de sua casa. Foi assim com o São Francisco e se repetiu, em vários momentos, com o Trem.

O medo e o nervosismo funcionam como gatilhos de inspiração para os visitantes, por mais limitados que sejam. O paraguaio terá que se dedicar com afinco para mudar esse cenário.

Junior Santos, sensação do Botafogo na Libertadores

O futebol tem suas ironias. Antes de a temporada começar, em meio às especulações sobre saídas e chegadas, o ponta Junior Santos foi cogitado para deixar o Botafogo. Interessava a vários clubes, entre os quais Grêmio e Corinthians. Corpulento, meio desengonçado, mas muito habilidoso e veloz, tinha deixado boa impressão na campanha na Série A 2023.

A SAF alvinegra manteve Junior Santos como prioridade para 2024, apesar das críticas de uma parte da torcida, que pregava tolerância zero com os remanescentes da pipocada histórica no Campeonato Brasileiro.

Junior Santos não negou fogo. Em três jogos, marcou sete gols e virou o recordista do clube em partidas pela competição continental. E gols nascidos de iniciativa individual e muita visão de jogo.

Marcou no empate com o Aurora, na Bolívia. Fez quatro gols contra o mesmo Aurora na volta, no estádio Nilton Santos. Brilhou ainda mais diante do RB Bragantino, anteontem, fazendo os golaços que garantiram o triunfo botafoguense.

Junior está voando e na plenitude da confiança, fator importantíssimo na vida de qualquer atacante. Com gols decisivos, ele se transformou na melhor notícia desse começo de temporada do Botafogo.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 08)

O adeus de Akira Toriyama, criador da celebrada série Dragon Ball

Mai Nishiyama, Sophie Jeong e Chris Lau, da CNN Tóquio

Akira Toriyama, o autor japonês que criou a popular e influente série Dragon Ball, morreu devido a um problema cerebral na semana passada, aos 68 anos, segundo seu estúdio de produção nesta sexta-feira (8). O artista morreu de hematoma subdural agudo, uma forma de sangramento cerebral, segundo um comunicado.

Toriyama foi a mente por trás da franquia de animações de artes marciais com Son Goku, um garoto do espaço sideral com força sobre-humana e cauda de macaco que embarca em uma busca pelas sete esferas do dragão.

O universo Dragon Ball continua sendo um dos sucessos globais de maior sucesso do Japão, cativando os corações de muitos adolescentes e adultos amantes de mangá de todo o mundo desde sua estreia na década de 1980.

A morte de Toriyama foi anunciada na sexta-feira pelo site oficial de Dragon Ball em um comunicado compartilhado pela Bird Studio e Capsule Corporation Tokyo. “Lamentamos profundamente que ele ainda tenha vários trabalhos em fase de criação com grande entusiasmo”, afirmou. “Ele teria muito mais coisas para alcançar. No entanto, ele deixou muitos títulos de mangá e obras de arte para este mundo”, acrescentou, agradecendo aos fãs pelo apoio em nome de Toriyama. A página de fãs no Instagram dedicada a Toriyama republicou o comunicado.

Nascido em 5 de abril de 1955 na cidade de Kiyosu, província de Aichi, Toriyama começou a desenhar mangá aos 23 anos. Ele fez sua estreia como cartunista em 1978, enviando um conto para a revista Weekly Shonen Jump, de fãs de mangá.

Sua série “Dragon Ball” foi publicada na mesma revista em 1984 e foi o centro de uma carreira criativa que durou mais de quatro décadas. A franquia é baseada no clássico romance chinês Jornada ao Oeste e desde então foi adaptada para anime e para o filme de ação de Hollywood de 2009 “Dragon Ball Evolution”.

Enquanto Son Goku parte em busca das sete esferas do dragão, ele luta contra os vilões ao longo do caminho e protege a Terra. À medida que envelhece, o enredo muda para seus descendentes e amigos.

As esferas do dragão, quando coletadas, podem invocar Shen Long, um dragão divino que pode realizar qualquer desejo. Son muitas vezes acabava gastando desejos com seus amigos ou restaurando uma Terra fortemente destruída na série centrada na coragem, amizade e parentesco.

O proeminente autor e designer de jogos japonês Yuji Horii, amigo de longa data de Toriyama, disse que trabalharam juntos no popular jogo Dragon Quest. “Não acredito que ele se foi”, escreveu ele na plataforma X. Eiichiro Oda, criador da série de mangá “One Piece”, disse que a ideia de nunca mais ver seu amigo Toriyama “me enche de tristeza”.

Toriyama “pegou o testemunho da época em que ler mangá deixaria você estúpido e criou uma era onde adultos e crianças leem e gostam de mangá. Ele nos mostrou o sonho de que o mangá pode fazer coisas assim e que podemos ir para o mundo”, disse Oda no site da Shonen Jump.

Muitos fãs também prestaram homenagem ao peso-pesado do mangá on-line. “Dragon Ball foi meu livro para a vida toda. Ensinou-me que eu poderia superar qualquer dificuldade se trabalhasse nisso com alegria e prazer”, escreveu um fã no X.

ORDEM CRONOLÓGICA DAS SÉRIES

A franquia de Dragon Ball foi lançada em 1986, no Japão, e ganhou o mundo inteiro desde então. De lá para cá, foram produzidos mais de 20 filmes e seis séries a partir do universo do mangá Arika Toriyama. Toriyama foi a mente por trás da franquia de animações de artes marciais com Son Goku, um garoto do espaço sideral com força sobre-humana e cauda de macaco que embarca em uma busca pelas sete esferas do dragão.

O universo Dragon Ball continua sendo um dos sucessos globais de maior sucesso do Japão, cativando os corações de muitos adolescentes e adultos amantes de mangá de todo o mundo desde sua estreia na década de 1980. Então, qual é a ordem cronológica dos das séries de Dragon Ball? Confira abaixo a sequência correta:

Onde assistir

  • Dragon Ball (1986) — Claro Vídeo, Now e Crunchyroll
  • Dragon Ball Z (1989) — Prime Video e Crunchyroll
  • Dragon Ball GT (1996) — Crunchyroll
  • Dragon Ball Kai (2009) — Max
  • Dragon Ball Super (2015) — Crunchyroll
  • Super Dragon Ball Heroes (2018) — Não está disponível em streaming

Akira Toriyama, autor de Dragon Ball, morre aos 68 anos

Autor de um dos mangás mais importantes de todos os tempos morreu em decorrência de um hematoma subdural

Por Gabriel Sales – IGN Brasil

Luto profundo no mundo dos animes e mangás. O criador de Dragon Ball, Akira Toriyama, faleceu no dia 1º de março e teve sua morte revelada na madrugada desta sexta-feira (8). Autor de uma das obras mais importantes e populares da história da cultura pop, Toriyama morreu em decorrência de um hematoma subdural, uma espécie de coágulo que se forma entre o cérebro e o crânio, ocasionado na maioria dos casos por pancadas ou lesões na cabeça. Em um comunicado publicado no site oficial de Dragon Ball, obra mais célebre do mangaka, foi informado que Toriyama continuava trabalhando e tinha projetos em andamento antes de seu trágico falecimento.

“É com profunda tristeza que informamos que o autor de mangás Akira Toriyama faleceu no dia 1º de março devido a um hematoma subdural. Ele tinha 68 anos. É com grande pesar que percebemos que ele ainda tinha várias obras em andamento, com grande entusiasmo. Além disso, ele ainda tinha muitas outras coisas para conquistar. No entanto, ele deixou muitos títulos de mangá e obras de arte para este mundo. Graças ao apoio de tantas pessoas ao redor do mundo, ele pôde continuar suas atividades criativas por mais de 45 anos. Esperamos que o mundo único de criação de Akira Toriyama continue sendo amado por todos por muito tempo”, diz o comunicado.

Lenda no mundo dos mangás, animes e games

Nascido em 5 de abril de 1955, na cidade de Nagoya, Akira Toriyama iniciou sua carreira como autor de mangás em 1977. Seus primeiros dois trabalhos, Awawa World e Mysterious Rain Jack, foram enviados a um concurso da revista Monthly Young Jump, mas acabaram não sendo publicados à época. Em 1978, Toriyama teve seu primeiro one-shot (mangá de um único capítulo) publicado: Wonder Island.

No entanto, foi em 1980 que Toriyama se tornou um dos autores de mangás mais prestigiados do Japão, antes mesmo de Dragon Ball. Dr. Slump, publicado entre 1980 e 1984, se tornou uma verdadeira febre no Japão e vendeu 35 milhões de cópias mundialmente em 18 volumes publicados, uma média de quase 2 milhões de mangás vendidos a cada nova edição.

Pouco após a conclusão de Dr. Slump, Toriyama, agora com o nome consolidado como um dos mangakas mais importantes do Japão, iniciou a publicação de um das obras mais importantes da história da cultura pop: Dragon Ball. Publicada originalmente no Japão entre 1984 e 1995, a história de Goku se tornou um verdadeiro fenômeno de popularidade global e, ao longo de 42 volumes, vendeu mais de 260 milhões de cópias.

Até hoje, Dragon Ball é o quarto mangá mais vendido de todos os tempos, abaixo apenas de One Piece, com 523 milhões, Golgo 13, com 300 milhões, e Case Closed / Detective Conan (270 milhões). A obra mais popular de Toriyama, porém, tem a melhor média de vendas por volume entre todos esses mangás do top 4 de todos os tempos, com impressionantes 6,19 milhões de cópias comercializadas por volume. Para efeito de comparação, apenas Devilman, que vendeu 50 milhões de cópias em em 5 volumes (média de 10 milhões), e Demon Slayer, com 150 milhões de mangás vendidos em 23 volumes (média de 6,52 milhões), superam Dragon Ball nesse quesito.

O sucesso da obra mais célebre de Akira Toriyama nos mangás se expandiu para o mundo dos animes. A primeira fase do mangá de Dragon Ball, focada na infância e adolescência de Goku, rendeu a adaptação de um anime de mesmo nome, exibido originalmente entre 1986 e 1989 pela Fuji TV e posteriormente exportado para o mundo inteiro. A adaptação de 153 episódios, porém, era só o começo.

Foi a segunda fase do mangá de Dragon Ball, concentrada em revelar a origem de Goku e mais detalhes da raça Saiyajin, que transformou a obra de Toriyama em um dos maiores fenômenos da história da cultura pop. Dragon Ball Z, dividida em quatro sagas principais – Saiyajins, Freeza, Cell e Majin Boo – tornou-se uma verdadeira febre mundial e colocou Toriyama no Olimpo do universo dos animes e mangás.

Dragon Ball Z teve um total de 291 episódios exibidos originalmente entre abril de 1989 e janeiro de 1996 no Japão, mas se tornou um verdadeiro fenômeno mundial no Brasil no começo dos anos 2000, quando o anime foi exibido por emissoras como Band e Globo, na TV aberta, e Cartoon Network, na TV fechada. Mesmo após a conclusão do mangá de Dragon Ball, ele continuou trabalhando em diversos outros projetos de menor duração, como Kowa, Kajika, Neko Majin e Sand Land.

Em 2015, Akira Toriyama começou a trabalhar em uma continuação de Dragon Ball em mangá, ao lado do artista Toyotarou. Toriyama criou os conceitos e argumento geral do universo de Dragon Ball Super, com Toyotaru sendo o responsável por fazer as ilustrações e escrever os diálogos do mangá, que já teve 22 volumes publicados, um anime de 131 episódios, exibido entre 2015 e 2018, e 2 filmes: Dragon Ball Super: Broly (2018) e Dragon Ball Super: Super-Herói. Além disso outros dois longas ligados ao universo de DB Super foram aos cinemas antes mesmo do começo a publicação do mangá: Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses e Dragon Ball Z: A Ressurreição de Freeza, ambos com roteiro de Toriyama.

Além do sucesso no mundo dos mangás, animes, cinema e, consequentemente, na venda de itens como roupas e brinquedos, Akira Toriyama também foi uma figura célebre no universo dos games. Para além dos próprios jogos de Dragon Ball, Toriyama foi designer de personagens ao longo de toda a história da franquia de RPGs Dragon Quest, uma das séries de videogames mais populares do Japão. Fora a participação em Dragon Quest, Akira Toriyama também foi o artista por trás do design de personagens de Chrono Trigger, presença constante em listas de melhores jogos de todos os tempos, e do RPG Blue Dragon, lançado em 2006 para o Xbox 360. Além disso, uma adaptação do mangá Sand Land para os videogames chega no dia 26 de abril para PlayStation 5, Xbox Series X, Xbox Series S, PC e PlayStation 4. O título é desenvolvido pelo estúdio ILCA e publicado pela Bandai Namco.

A morte de Toriyama é uma das mais impactantes da história da cultura pop, visto a enorme influência que Dragon Ball teve para a popularização dos animes e mangás no mundo inteiro nos últimos 40 anos. Justamente por isso, a obra do autor sobreviverá pelas próximas décadas e continuará inspirando novas gerações de autores e fãs.

Rock na madrugada – CPM22, “Um Minuto para o Fim do Mundo”

POR GERSON NOGUEIRA

Banda representativa do rock Brasil geração 90/2000, época de transição entre a explosão do gênero no país e a fase de decadência. Algumas boas bandas acabaram engolidas pelo viés de baixa do período. O CPM22 é uma delas, com alguns trabalhos decentes e pelo menos um hit de primeira linha: “Um Minuto para o Fim do Mundo” (do disco Felicidade Instantânea, 2005). Letra forte e urgente, rock vibrante, como nos bons tempos.

Formada em 1995 na cidade de Barueri (SP), a banda sofreu mudanças, mas o fundador Badauí segue nos vocais, junto com Luciano Garcia, Phil Fargnoli, Ali Zaher e Daniel Siqueira. Contemporâneo do Charlie Brown Jr., o CPM22 amargou a resistência de quem via no rock sinais de total paralisia. É fato também que a indigência criativa de vários grupos contribuiu para a má fama das novas bandas – como NX Zero, LS Jack e outras bombas, turma famosa pelo excesso de pose e a pobreza de talento.

Um aspecto curioso marca a cena roqueira no Brasil. Quem aprendeu a curtir rock nos anos 80/90 com Legião Urbana, Barão Vermelho, Titãs, Paralamas, Plebe Rude 7 cia. sofre um choque ao ouvir o trabalho das gerações posteriores. Pitty, Los Hermanos, Skank e Raimundos foram honrosas exceções, fazendo discos de qualidade e obtendo sucesso. O CPM22 enfrentou estoicamente o azedume da crítica, mas sobreviveu com certa dignidade.