Remo anuncia paraguaio Morínigo para comandar o time na temporada

Depois de novo tropeço no Campeonato Paraense, a diretoria do Remo anunciou nesta segunda-feira a contratação do técnico paraguaio Gustavo Morínigo, de 47 anos, para o restante da temporada. Com passagens por clubes como Libertad, Coritiba e Ceará, o treinador e sua comissão técnica desembarcam em Belém nesta terça-feira, 5.

“Muito feliz com esse novo desafio na minha carreira. Agora vamos iniciar os trabalhos para conquistar os objetivos do Rei da Amazônia”, disse o treinador logo após a confirmação do acerto com o Remo.

É o primeiro trabalho de Morínigo na Região Norte do país e em um clube que disputa a Série C do Brasileiro. Natural de Assunção, iniciou no futebol como jogador, atuando no Libertad, Guaraní, Cerro Porteño e Nacional.

Seu bom desempenho o levou até a Copa do Mundo de 2002, quando defendeu o Paraguai contra a África do Sul, no empate por 2 a 2 em Busan, na Coreia Sul. Depois de pendurar as chuteiras em 2012, ele iniciou carreira como técnico. Inicialmente, Morínigo assumiu o comando do Nacional-PAR, levando o time à inédita final da Libertadores – perdeu o título para o San Lorenzo.

Desembarcou no Brasil na temporada 2021 para comandar o Coritiba, onde conquistou o acesso à Série A e o título do Campeonato Paranaense. Comandou também o Ceará e o Avaí, sua última equipe antes de assumir o Remo.

Papão absoluto no Parazão

POR GERSON NOGUEIRA

A primeira fase do Campeonato Paraense foi inteiramente dominada pelo PSC. Conquistou 20 pontos e não deu chance a nenhum adversário. Segue invicto, com oito vitórias e dois empates. Confirmou essa condição dominante com um triunfo categórico sobre o Castanhal, ontem, na Curuzu, por 3 a 0. E poderia ter sido 5 ou até 6 a 0. Quem impediu uma contagem mais larga foi o goleiro Xandão, que fez defesas portentosas.

Jean Dias abriu o placar aproveitando um rebote na área. Depois, Nicolas aproveitou cruzamento de Kevyn e marcou de cabeça, antecipando-se à defesa. Gol típico de Nicolas, cuja especialidade é o jogo aéreo. O centroavante fecharia o placar em 3 a 0, marcando um belo gol no segundo tempo, aproveitando o espaço permitido pela zaga castanhalense.

A vitória foi maiúscula. A produção ofensiva foi excelente, depois de um jogo travado e improdutivo contra o Ji-Paraná no meio da semana. Robinho voltou a jogar em grande estilo e municiou o ataque em diversas oportunidades. Nicolas, Jean Dias e o próprio Robinho tiveram chances, mas pararam nas mãos do goleiro do Japiim.

É bem verdade que a zaga castanhalense estava completamente exposta, permitindo seguidas oportunidades ao ataque do Papão. Empenhado em ir ao ataque para buscar a vitória, único resultado que garantiria sua classificação, o Castanhal se expôs em demasia.

Com a postura habitual de se impor contra qualquer adversário, o Papão começou adiantando a marcação e provocava seguidos erros do Castanhal. Os laterais subiam, transformando-se em atacantes e o meio-de-campo também se engajou no esforço para chegar ao gol. Esse comportamento inibiu o Castanhal e garantiu o êxito do Papão já na primeira etapa.

Depois de estabelecer o placar de 2 a 0, o Papão veio para o segundo tempo mais tranquilo, embora sem desprezar a tática da pressão em cima da defesa adversária. Foi assim que surgiu o terceiro gol, com os bicolores explorando as subidas desesperadas do Castanhal ao ataque.   

Um lançamento longo apanhou Nicolas entre dois zagueiros. Ele só precisou disparar, dominar a bola e tocar rasteiro na saída do goleiro. Lance simples, eficiente e mortal. Houve tempo para a entrada do ágil Esli Garcia, muito festejado pela torcida.

Uma vitória que carimba a melhor campanha do PSC no Parazão e aumenta a confiança na conquista do 50º título estadual. O time está encaixado e, apesar de problemas no setor de armação, tem obtido resultados que permitem afirmar que é a melhor equipe da competição até aqui.

Na próxima fase, encara o Bragantino, um oponente aguerrido, que deu trabalho jogando na Curuzu e que acaba de superar o Remo em seus domínios. Apesar disso, o favoritismo bicolor é incontestável.

Leão abusa dos erros e cai diante do Bragantino

Era jogo para 0 a 0, tamanha a ineficiência dos atacantes dos dois lados, mas um erro monumental da defesa remista permitiu ao Bragantino o gol que assegurou a importante vitória, ontem, no estádio Diogão. O Edicleber, revelado na base azulina, fez um gol improvável.

A bola veio da esquerda, após Gileard aplicar um drible desmoralizante no zagueiro Bruno Bispo. Não foi um cruzamento tão alto, mas apanhou a zaga aberta, Ícaro não cortou a bola e esta se ofereceu ao baixinho Edicleber. Para completar a lambança, o goleiro Marcelo Rangel saiu catando coquinhos e deixou a bola entrar.

O lance decisivo ocorreu aos 15 minutos do 2º tempo, sacudindo um jogo monótono e pobre em jogadas de área até então. O Remo havia ameaçado apenas uma vez, num chute de Marco Antônio que forçou o goleiro Henrique a defender duas vezes.

Várias bolas foram cruzadas para Ribamar, mas o centroavante mostra uma inquietante falta de jeito para finalizar as jogadas. Ele só acertou um cabeceio no gol, mas nas mãos do goleiro, e bateu rasteiro nos minutos finais, sem que nenhum companheiro aproveitasse o rebote.

Logo depois de sofrer o gol, o interino Mariozinho decidiu finalmente mexer na equipe. Botou Camilo e Matheus Anjo, acertando em 50%. Matheus jogou bem, quase marcou um golaço. Camilo, visivelmente desmotivado, pouco participou das articulações ofensivas.

Ronald também entrou e acabou deslocado para a ala esquerda quando Kanu foi lançado (no lugar de Raimar) nos minutos finais. Quase se arrastando em campo, o Bragantino conseguiu segurar a vantagem até o final e comemorou muito a suada classificação às quartas de final.

Os azulinos iniciam a semana sob a expectativa da contratação do novo técnico. As especulações apontam para o nome do paraguaio Gustavo Morinigo, ex-Coritiba e Ceará. Seja quem for o comandante, o trabalho será árduo para transformar o amontoado atual num time competitivo. Tarefa das mais indigestas com os jogadores disponíveis.

Histórias de superação e fracasso dos times interioranos

Caeté, Bragantino, São Francisco e Santa Rosa foram os representantes interioranos que mais se destacaram na primeira fase da competição. As decepções ficam por conta de Cametá e Castanhal, alijados das quartas de final após derrotas na oitava rodada. Na verdade, a eliminação de ambos foi construída ao longo da campanha.  

Em Marabá, com gol de Yuri Tanque, o Águia despachou o Cametá. Em Castanhal, o Caeté de Artur Oliveira foi buscar um empate (2 a 2) quando tudo indicava uma nova vitória da invicta Tuna.

Já o Santa Rosa de Netão passou pelo Tapajós, no estádio Baenão, com um gol de cabeça quase ao final da partida. E o São Francisco de Samuel Cândido confirmou o bom momento, derrotando o Canaã por 2 a 0, no estádio do Souza.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 04)

Então você acha que pode distinguir paraíso de inferno?

Por Milly Lacombe, no UOL

Começa com esse verso a canção “Wish you were here” (“Gostaria que você estivesse aqui”), do Pink Floyd: So you think you can tell heaven from hell?

Você é capaz de distinguir céu azul de dor? Um sorriso de um véu? Fizeram você trocar seus heróis por fantasmas? Fumaça por árvore? Ar quente por uma brisa?

Esses versos estão na música composta na metade dos anos 70. A letra fala da falta de capacidade de perceber a realidade ao nosso redor e aponta para as trocas que somos encorajados a fazer na vida. Fala de entorpecimento, de fuga, de quebras, de rompimento.

Pensei nela assistindo ao dilacerante “Zona de Interesse”, que conta a história da família do diretor geral de Auschwitz e de sua casa ao lado do campo de concentração: jardins, piscina, muitos empregados, luxo, fartura. Ao fundo, as chaminés queimam com vidas humanas e ninguém se importa. A existência segue com as crianças correndo na grama, vinho gelado sendo servido ao ar livre num fim de tarde. Gritos e gemidos de morte são escutados ao fundo. Não importam. Não são pessoas que estão morrendo, são coisas, gente abaixo da humanidade.

Quando o filme terminou eu estava catatônica.

Escrevi sobre ele nesse texto aqui (“Fomos Cúmplices”), mas ainda sem conseguir alcançar o que sentia. Finalmente, escutando Pink Floyd, entendi: nós somos a família alemã ao lado do campo de concentração.

Somos as pessoas que não se importam com os assassinatos na Baixada Santista. Que naturalizam discursos abjetos como o do governador de São Paulo explicando com frieza tétrica por que essas operações policiais são necessárias, construído a ideia do inimigo que precisa ser eliminado, o outro absoluto, abaixo da humanidade.

Somos as pessoas que assistem ao Jornal Nacional produzido no dia em que 112 palestinos famintos foram assassinados enquanto esperavam que a esmola humanitária fosse arremessada sobre suas cabeças e não têm impulso de quebrar o aparelho de TV de tanta raiva testemunhando a naturalização do horror através daquelas vozes tão familiares, que falam de modo tão manso, quase doce.

Como noticiar com pompa e verniz, conferindo espaço para a naturalização do horror, aquilo que só poderia ser devidamente comunicado com o fígado e com lágrimas. Tivemos uma aula.

Não nos perguntamos como exatamente tanques, armas e bombas conseguem entrar por terra mas a esmola humanitária precisa ser jogada do céu criando ainda mais angústias, medos, aflições e terror entre os que esperam a comida cair sobre suas testas.

Existe entre os médicos-heróis que seguem trabalhando em Gaza uma nova nomenclatura para alguns pacientes: WCNSF. Quer dizer Criança Ferida Sem Família Sobrevivente (Wounded Child No Surviving Family)

A Tv não mostra, não fala, não revela.

Pessoas morreram durante a confusão por comida, é o que nos dizem com suas vozes sérias mas ainda bastante amenas.

Vai começar a novela? Tá demorado esse Jornal Nacional de hoje, nossa. Ah, acabou. Ufa.

A fúria com que se tenta fabricar consenso, como coloca o linguista Noam Chomsky, é comovente. O que mais se produz no norte global é plástico e consenso. Arremessam sobre nossas cabeças as histórias que precisam vingar para que sigamos sem conseguir distinguir céu de inferno. Aceitamos. A vida é corrida. Trabalho. Pagar boletos. Tentar resistir.

Seria o caso de começarmos a falar de fake news de forma mais alargada.

O que acontece nas favelas e periferias do Brasil exatamente? Por que a polícia tem o direito de entrar atirando? Por que aceitamos tão passivamente que pessoas sejam assim exterminadas? Não nos enojamos que a televisão fale na cara dura do direito de ir e vir de manifestantes de inclinações nazi-fascistas mas não ligue que jovens negros não possam circular livremente pelos bairros ricos desse país à noite? Não nos importamos que mulheres não possam circular livremente pela cidade, pelo transporte público, em suas casas, sem correr o risco de serem abusadas? A TV se importa com o direito de ir e vir dos manifestantes indo para a Paulista defender a tortura e com nada mais. Deixem os fascistas circularem em paz!

Não somos capazes de olhar para o passado e tirar dele o exato momento em que precisamos nos levantar e berrar? Nos achamos assim tão diferentes dos oficiais nazistas, dos sul-africanos brancos do Apartheid, dos senhores e das sinhás de pessoas escravizadas, das mulheres dos oficiais nazistas que seguiam servindo o jantar em louça chinesa enquanto ali ao lado judeus eram queimados vivos? Dos colonizadores que invadiram as Américas e aniquilaram culturas e civilizações?

Será que conseguimos distinguir um nazi-fascista de um político de dentes muito brancos e terno de corte fino que fala mansamente as piores coisas? Uma manifestação que bajula tortura e torturador de atos democráticos?

Qual é o exato momento do levante? Quando diremos basta? Em que momento a água de nossa humanidade finalmente ferverá? Quando entenderemos que se alguns de nós já estão no inferno então todos estamos?

Rock na madrugada – AC/DC, “You Shook Me All Night Long”

POR GERSON NOGUEIRA

Keith Richards disse certa vez que o público argentino é o mais insano que existe. Não mentiu. A plateia (quase 100 mil pessoas) reunida no estádio do River Plate para cantar e celebrar com o AC/DC é de cair o queixo. O show é de dezembro de 2009. Difícil ver fãs tão ensandecidos, interessados exclusivamente no show, focados na música, pulando o tempo inteiro em completo arrebatamento. Não se vê nem mesmo aquela turma xarope que liga o celular e esquecer de curtir o espetáculo.

É bem verdade que o AC/DC faz um show contagiante. É o tipo da banda que se agiganta no palco. Os vocais rasgados de Brian Johnson e a guitarra de Angus Young garantem a festa, sem firulas. Nada de mudar arranjos ou de reinventar o som. Executam as músicas como foram gravadas, numa prova de respeito ao público.

Tenho alergia a bandas que se metem a alterar o ritmo com improvisos desnecessários que desfiguram as canções. Registros definitivos não podem ser alterados. Sou chato com isso. “You Shook Me All Night Long” é do discaço Back in Black (1980).

Cabe lembrar que o AC/DC é uma banda multinacional na origem. É australiana porque foi formada Sydney, em 1973, mas os fundadores – Malcolm e Angus Young – são escoceses. O estilo musical é normalmente classificado como hard rock, mas ganhou fama tocando metal pesado. Angus, quando insistem muito, resume bem essa definição: “rock and roll”. Direto e reto.