Assassinato de famintos em Gaza e a falta de pudor do Jornal Nacional

Os grandes veículos de mídia minimizam a matança promovida em território palestino

Por Chico Alves (*), no ICL Notícias

Por muitas vezes, a imprensa brasileira foi cúmplice em episódios vergonhosos que marcaram história no noticiário local e também internacional. No âmbito doméstico, logo vem à lembrança a campanha sensacionalista contra Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio; o apoio inicial ao golpe militar de 1964; a parceria nas atrocidades jurídicas da Lava Jato e a naturalização do extremista Jair Bolsonaro, que facilitou sua chegada ao poder.

No campo internacional, a imprensa local fez várias manchetes elogiosas a Hitler, no início de sua trajetória; apoiou o assassinato promovido pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã e avalizou a falsa versão do governo norte-americano de que o Iraque foi o responsável pelo ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001.

A nova vergonha em curso é a cobertura do massacre que Israel impõe à população civil de Gaza, usando os métodos mais cruéis de extermínio contra mulheres, crianças e doentes. Desde 7 de outubro, quando os terroristas do Hamas invadiram Tel Aviv, matando mais de mil pessoas e fazendo reféns cerca de 200, os grandes veículos de mídia minimizam a matança promovida em território palestino pelo governo de Benjamin Netanyahu.

Ontem, testemunhas relataram a ação de militares israelenses que atiraram contra palestinos famintos na fila da comida. Atingidas pelos disparos ou pisoteadas pela multidão que fugiu do ataque, 112 pessoas morreram.

O episódio chocou o mundo, mas não os responsáveis pelo principal telejornal brasileiro. Líder de audiência, o Jornal Nacional, chamou dessa forma a notícia em sua abertura, na voz de Renata Vasconcelos:

“Um tumulto na entrega de ajuda a palestinos deixa dezenas de mortos e feridos na Faixa de Gaza”. Isso mesmo, um “tumulto” foi o motivo das mortes, para o Jornal Nacional. Aparentemente um mero problema de logística causou a tragédia.

Na apresentação da matéria, o mesmo “tumulto” voltou a ser acusado pelas mortes. Nos 3 minutos e 30 segundos da reportagem, a fala do porta-voz do governo de Israel prevaleceu amplamente e apenas três frases foram concedidas a autoridades que acusaram as forças israelenses pelo massacre, rápidas citações ao Hamas, a Mahmoud Abbas e ao embaixador palestino nas Nações Unidas. Mais de 90% do tempo foi dedicado a desviar o foco do horror causado pela matança.

O jornal Estado de São Paulo seguiu esse caminho ignominioso e estampou a chamada na primeira página segundo a qual “Morte na fila da ajuda em Gaza trava possível trégua, diz Biden”. O texto abaixo começa dizendo que “segundo Israel, vítimas morreram pisoteadas”.

O Globo optou por caminho diferente do Jornal Nacional e manchetou que “Mais de cem palestinos são mortos ao buscar ajuda humanitária” e, de forma correta, cita no texto que Hamas e testemunhas acusam ataque a tiros de Israel.

A abordagem mais condizente com a crueldade do episódio foi a da Folha de São Paulo, que não teve meias-palavras: “Israel atira em multidão à espera de comida em Gaza”.

Infelizmente, como sabemos, a maior parte da população brasileira se informa através da TV. O número de leitores que buscarão pela leitura nos jornais impressos ou mesmo redes sociais os detalhes do assassinato de palestinos na fila da comida é bem menor do que o número de telespectadores que assistiram ontem à apresentadora e a repórter do JN se desdobrando para minimizar o fato.

E assim, mais uma vez, gigantes da imprensa nacional (a TV Globo e o Estadão) atuam para desinformar o público brasileiro sobre um importante momento da história.

Pode-se dizer que são cúmplices da barbárie?

(*) Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro ‘Paraíso Armado’, sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

Massacre de pessoas famintas em Gaza choca o mundo

O ataque a civis palestinos que tentavam receber ajuda humanitária na Faixa de Gaza e que, segundo o Hamas, provocou mais de 100 mortes foi mais uma demonstração de como Benjamin Netanyahu deteriora a imagem de Israel, afirmou o colunista Josias de Souza. Na mesma linha, o jornalista Reinaldo Azevedo comenta sobre a gravidade do ataque. Enquanto isso, Israel faz cara de paisagem diante do caos e diz que não se pode responsabilizar seu Exército pelos pisoteamentos e atropelamentos. O caos é responsabilidade do gabinete do Netanyahu.

Esse massacre de palestinos famintos, numa cena de distribuição caótica de suprimentos humanitários, ficará no enredo dessa guerra desproporcional de Israel em Gaza, como um marco do desprezo aos valores humanitários.

“Além dos palestinos, Netanyahu está matando o que restava da imagem de Israel em Gaza. Essa é uma guerra sem vitoriosos.”, disse Josias de Souza, colunista do UOL. Para ele, a resolução da crise humanitária em Gaza não depende mais de um cessar-fogo, mas da investigação, julgamento e condenação daqueles que permitiram o agravamento da situação.

“Não há como Israel sair bem dessa cena. Cabe à força que ocupa um determinado território organizar a distribuição de suprimentos. No caso de Gaza, são insuficientes e as pessoas estão morrendo de fome. Era preciso ordenar o caos. Não se promove a ordem disparando contra pessoas famintas e que estão à procura de alimentos”.

“Não há mais que falar em cessar-fogo, que seria algo insuficiente. É hora de iniciar a investigação dos inquestionáveis crimes de guerra e encaminhar as punições. É esse cenário que vivemos hoje”, observa Josias de Souza.

Meleca na catraca

Por Heraldo Campos (*)

Aos setentinha, confesso que minha memória começa a ratear. Mas, se não estou fazendo confusão, nos anos 70/80 do século passado, tinha uma peça de teatro que rolava no centro velho de São Paulo chamada “Tem meleca na catraca”. Será que, pelo título, era uma picante peça de teatro, em pleno anos de chumbo da ditadura? Fica aqui a dúvida. Pesquisando na internet, com esse engraçado e sugestivo título, que pego carona, em parte, para dar nome ao presente texto, não foi encontrada qualquer referência sobre essa peça ou espetáculo teatral, lembrando que nesse período a informação era divulgada em cartazes de papel, pregados em postes e nas paredes das calçadas públicas.
Assim, a partir desses cacos de memória e da frase atribuída ao famoso físico, Albert Einstein, que “A vida é igual a andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento.”, aqui vão ser expostas três colocações. A primeira é que uma bicicleta boa, para pedalar e rodar, tem que estar com a corrente e as catracas bem limpas e, de preferência, bem azeitadas. Se tiverem com meleca, cheia de areia e de outros resíduos urbanos, o desprendimento da corrente da bicicleta pode ocorrer. Um tombo é quase certo e os danos físicos são proporcionais.

A segunda é que, diferentemente dos cuidados necessários com a engrenagem de uma bicicleta, na vida temos algumas outras melecas que aparecem e temos que resolver. A água é um direito da população e um precioso recurso hídrico que deve ter boa qualidade para as necessidades dos humanos e de todos os seres vivos.

Segundo dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de domicílios brasileiros com acesso à rede de coleta de esgoto melhorou, alcançando 62,5% em 2022, aumentando 18,1% em relação a 2000. Porém, falta bastante, ainda, alcançar uma meta razoável no saneamento básico, porque cerca de um terço da população brasileira continua dasassistida. A esse triste cenário, acrescenta-se, lamentavelmente, a dificuldade de se acabar com o garimpo ilegal e criminoso de ouro na Amazônia, que contamina os solos e os rios com o mercúrio na manipulação do vil metal, abalando, sensivelmente, a saúde dos povos indígenas e das populações ribeirinhas que ali vivem desde o descobrimento do Brasil.

A terceira colocação está no campo da catraca que move a política no nosso dia a dia e que precisamos ficar atentos. A juntação de gente na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25/02/2024, pode ser muito bem um sinal de que se quer colocar meleca, mais uma vez, na democracia brasileira, como em outros tenebrosos tempos. Ressalta-se que o anfitrião dessa
aglomeração adestrada, conhecidamente, nunca foi muito simpático e chegado a esse sistema
de governo. Registros históricos existem e não são poucos. Não podemos ficar parados.

“A democracia não pretende criar santos, mas fazer justiça.” (Paulo Freire).

(*) Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

Primeira convocação de Dorival Junior com três surpresas e sem meias de ofício

Saiu nesta sexta-feira (1º) a primeira convocação do novo técnico da Seleção Brasileira, Dorival Júnior, após assumir o comando da equipe. Destaques para o atacante Endrick, do Palmeiras, e o retorno do meia-atacante Lucas Paquetá, do West Ham, que ficou de fora das últimas listas por estar sob investigação da FA (Associação de Futebol da Inglaterra) por suposto envolvimento ilegal com apostas esportivas.

Justamente por isso, ele não foi chamado por Fernando Diniz, treinador anterior do Brasil, mas retornou à lista agora com a chegada da Dorival. As surpresas são o atacante Savinho (Girona), o volante Andreas Pereira (Fulham), o zagueiro Murilo, do Palmeiras; além de dois do São Paulo: o goleiro Rafael e o volante Pablo Maia.

GOLEIROS

LATERAIS

ZAGUEIROS

MEIO-CAMPISTAS

ATACANTES


A estreia de Dorival no comando da Seleção será em 23 de março, contra a Inglaterra, no “templo sagrado” de Wembley, em Londres. Logo a seguir, em 26 de março, a equipe canarinho enfrenta a Espanha em mais um amistoso, desta vez no estádio Santiago Bernabéu, em Madri.

Antes da disputa da Copa América, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) também já deixou outras duas partidas agendadas. Em 8 de junho, o Brasil encara o México no Kyle Field, o gigantesco estádio de futebol americano da Texas A&M University. Depois, em 12 de junho, será a vez da seleção enfrentar os Estados Unidos no Camping World Stadium, em Orlando, na Flórida.

Papão administra bem e obtém vaga

POR GERSON NOGUEIRA

Como era previsível, o jogo foi fraco, de baixa intensidade e com poucos lances de perigo nas duas áreas durante todo o primeiro tempo. Com a posse da bola, o PSC forçou mais as ações no ataque, mas sem encaixar finalizações mais agudas e abusando dos passes errados. Melhorou um pouco no 2º tempo, mas não o suficiente para vencer, mas garantiu o 0 a 0 e a vaga na próxima fase.

Limitado, o time do Ji-Paraná ficou sempre recuado e só se animou a ir à frente quando percebeu os espaços proporcionados pelo PSC no meio-de-campo e nas laterais. Mesmo quando saía em contra-ataque, tinha dificuldade em fazer a bola chegar aos atacantes Douglas e Goduxo.

O PSC impôs uma certa correria até os 20 minutos, explorando as subidas de Edilson e Kevyn para apoiar Jean Dias e Bryan, mas os cruzamentos não chegavam a Nicolas dentro da área. Aos poucos, a equipe foi arrefecendo as tentativas e se acomodou, preferindo trocar passes laterais e inofensivos.

Robinho, à saída de campo, reclamou do excesso de erros na tentativa de verticalizar o jogo. Quando os homens de lado passaram a ser vigiados, o meio-de-campo teimava em jogar pelo meio, mas sem inspiração ou objetividade.

Nos poucos momentos em que o Ji-Paraná se apresentou no ataque, com Douglas, a zaga do PSC chegou a se atrapalhar para marcar, pois apenas Lucas Maia guarnecia o centro da defesa. O resto do time, incluindo os volantes Val Soares e Gabriel Bispo, estavam adiantados.

Somente aos 47 minutos, Nicolas apareceu com algum perigo, em bola alçada por Robinho, mas o goleiro Lupita se esticou e tocou para escanteio. Muito pouco para 45 minutos de pleno domínio dos bicolores (71% de posse de bola).   

Para a etapa final, os times voltaram sem alterações. O jogo seguiu na mesma pisada, sem maior pressão bicolor no ataque. Com a vantagem do empate, o PSC evitava excessos na busca pelo gol. As primeiras mudanças só viriam aos 24 minutos, com Michel e Vinícius Leite substituindo Edilson e Bryan Borges.

A aproximação melhorou, mas o repertório não mudou. Cruzamentos para Nicolas, que desviou duas bolas pela linha de fundo, e para Lucas Maia, que cabeceou nas mãos do goleiro Lupita.

Robinho, cansado, foi trocado por Biel aos 29’. O Papão passou a concentrar o jogo mais no centro do campo, evitando dar espaço para contragolpes do Ji-Paraná e administrar a vantagem concedida pelo regulamento. Com Vinícius Leite ao lado de Nicolas, algumas situações foram criadas, mas sem ameaçar diretamente o gol de Lupita.

Nos instantes finais, o PSC tratou de se resguardar e o Ji-Paraná ensaiou uma pressão, mas sem maiores consequências. Papão classificado para enfrentar o Juventude-RS na 2ª fase.

Ídolo da galera vai comandar Leão em Bragança

Quando o técnico Ricardo Catalá foi demitido, após o jogo com o São Francisco, até o leãozinho de pedra do Baenão sabia que o substituto natural seria Agnaldo de Jesus. E só podia ser ele mesmo. Nos últimos anos, nenhum outro ex-atleta do clube tem tanta identificação com a torcida quanto ele.

Deveria ter sido o treinador interino na final do Parazão 2023, em substituição ao dispensado Marcelo Cabo, mas por razões burocráticas não pôde ficar ao lado do gramado e o Remo deixou de ter um comandante vibrante ao lado da equipe.

Para a partida de domingo em Bragança, Agnaldo terá Mariozinho como auxiliar. A escalação deve mudar em relação às últimas partidas. É improvável que Seu Boneco, que foi um grande volante, vá apostar em Daniel, o pior dos homens de marcação do time.  

No ataque, depois das oito chances desperdiçadas contra o São Francisco, Ribamar pode perder a posição para Ytalo ou Kanu. Nas outras posições, poucas mudanças. Jaderson, Camilo, Thalys, Ícaro e Vidal devem jogar.

Acima de tudo, independentemente de nomes, o Remo precisa ter uma postura mais competitiva e organizada. Não pode se apresentar de forma desleixada como na quarta-feira. É hora de iniciar a reação no campeonato.

O Remo se movimenta para contratar o novo treinador até amanhã, mas contra o Tubarão está confirmado que o time será dirigido por Agnaldo.   

Nas mãos de Dorival, a chance de uma nova Seleção

Quase ninguém acredita na possibilidade de Dorival Junior surpreender na primeira convocação do escrete para os amistosos de março. Não custa sonhar, mas o vazamento da pré-lista de selecionados deixou uma impressão negativa sobre as escolhas do novo comandante.

Caso quisesse de fato impor um novo rumo à formação do elenco nacional, Dorival teria que buscar nomes menos óbvios e evitar a todo custo repetir as opções de Fernando Diniz. Seria a maneira adequada de impor um posicionamento autoral e desconectado de seus antecessores.

Na prática, é o primeiro ato concreto do novo técnico. Por isso, há um simbolismo na relação de nomes que serão anunciados. Pode mostrar o alinhamento com a vontade da CBF e a influência dos empresários, tão execradas pela torcida. Ou romper com tudo isso, optando por uma lista mais pessoal.

Dorival vai chamar 26 jogadores para os amistosos contra a Inglaterra, no dia 23, em Londres, e a Espanha, no dia 26, em Madri. A quantidade maior se deve a um acordo da CBF com a Real Federação Espanhola de Futebol, que permite colocar mais jogadores à disposição do técnico na partida que será realizada no Santiago Bernabéu.

Será o mesmo número de atletas que Tite levou para a última Copa do Mundo, no Qatar, por conta dos impactos da pandemia de covid-19. A Fifa permitiu que três nomes fossem acrescidos à lista habitual.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 01)