POR GERSON NOGUEIRA
O futebol se apequena a cada intervenção canhestra do STJD, corte suprema da justiça desportiva no Brasil. Ao contrário de seus similares da Europa, o tribunal se notabiliza pela política da acomodação e do conchavo. Decisões que valem para clubes de determinado naipe já não servem para outros menos poderosos.
Exemplo vivo dessa conduta parcial foi a risível decisão adotada ontem pelo tribunal no julgamento dos incidentes violentos entre torcedores do Corinthians e policiais militares no jogo realizado a 23 de outubro, no Maracanã, pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Na ocasião, a briga entre corintianos e soldados da PM carioca provocou a prisão de 40 desordeiros, conduzidos ao presídio de Bangu.
A pancadaria vitimou policiais militares de serviço no estádio e as imagens da desordem correram o mundo, causando indignação. Pois o STJD, sem qualquer constrangimento, decidiu aplicar multas pecuniárias aos clubes, livrando-os de qualquer perda no aspecto técnico.
Significa que, apesar do que diz a legislação esportiva a respeito de brigas de torcidas nos estádios, Fla e Corinthians continuarão a utilizar normalmente suas praças oficiais como mandantes, como se nada tivesse acontecido no Maracanã.
O escárnio é ainda mais acintoso porque o tribunal estabeleceu multas risíveis para dois dos clubes mais poderosos, financeiramente inclusive, do Brasil. O Corinthians, cuja gangue uniformizada foi quem começou a baderna, foi “castigado” com R$ 50 mil de multa e o fechamento do setor Norte da Arena Itaquera por cinco partidas.
Para dar um lustro de rigor, o tribunal também proíbe o clube paulista de comercializar ingressos para as “organizadas” e não terá direito a carga de ingresso como visitante, como já havia estabelecido a liminar expedida sobre o caso. Ah, sim, os baderneiros presos no Rio estão proibidos – segundo o STJD – de entrar em estádios por seis meses.
O Corinthians, que ninguém esqueça, é o clube que congrega aquela falange selvagem que disparou rojões e matou um garoto boliviano durante a Copa Libertadores. É também o clube cujas gangues organizadas espalharam terror em confronto com o River Plate, em 2003, no Pacaembu e recebeu como castigo a interdição do estádio! Caso único no planeta de praça esportiva responsabilizada pela ação de delinquentes.
Quanto ao Flamengo, que briga ainda pelo título nacional da temporada, o STJD foi mais brando ainda. Foi condenado a perder 20% da carga de ingressos por um jogo apenas, mas sem perda de mando de campo. A pena vai valer somente para o jogo contra o Coritiba (36ª rodada da Série A), marcado para 20 de novembro, no Maracanã.
O inflexível tribunal lembrou ainda de multar o clube da Gávea em R$ 10 mil por arremesso de garrafa e em R$ 10 mil pela troca de sopapos entre os barra-bravas corintianos e soldados.
Flamengo e Corinthians foram denunciados no artigo 213, “por deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto e invasão do campo ou local da disputa do evento desportivo”, mas a punição a ambos foi extremamente condescendente.
Fico a imaginar o que seria do Papão, por exemplo, caso uma desordem daquele porte acontecesse na Curuzu ou no Mangueirão. Levaria, com certeza, cinco ou mais jogos de gancho, como já aconteceu outras vezes. O Remo foi penalizado, por um tumulto no estádio de Bragança, com a perda de quatro mandos, que comprometeram financeiramente toda a temporada.
Durante o julgamento, o relator Adilson Simas desceu a ripa nas organizadas, dizendo que são “antros de bandidos”, mas amofinou depois e acabou por concordar com o abrandamento da pena. No final, os interesses foram devidamente aquinhoados e todos saíram felizes.
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Castanhal brilha e Desportiva decepciona na Segundinha
Com nove pontos em três jogos, o Castanhal já pavimentou a classificação à próxima fase do torneio de acesso ao Parazão 2017. Na verdade, o time da estrada sobra na competição. Marcou 14 gols nas três rodadas e tem os dois principais goleadores – João Vítor, 7 gols, e Edcléber, 4.
Vênus, Sport Belém e Pinheirense também estão bem posicionados no torneio, apesar das limitações de seus elencos.
No outro extremo, aparece a Desportiva, já eliminada, com duas derrotas e apenas um ponto ganho. A Tuna vive situação muito parecida, mas ainda tem remotas chances de passar à próxima etapa.
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Marin: um ano de solidão e silêncio na prisão de luxo
José Maria Marin, o popular Marin das Medalhas, emplacou nesta semana o primeiro ano como enjaulado de luxo em Nova York, depois de ter sido preso pelo FBI na Suíça e conduzido aos Estados Unidos como um dos implicados no escândalo de propinas que dominava a Fifa na gestão de Joseph Blatter.
Marin segue em prisão domiciliar, usa tornozeleira eletrônica e espera o julgamento, que deve ocorrer até o começo de 2017. Por ora, tem se mantido leal aos amigos e não dedurou ninguém, para alívio de figuras como Marco Polo Del Nero, Ricardo Teixeira e da Globo, a grande parceira de negócios da CBF.
(Coluna publicada no Bola deste sábado, 05)