Muvucas típicas de pré-decisão

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Por Gerson Nogueira

A primeira sexta-feira sem jogo na Copa acabou jogando luzes sobre os preparativos finais dos times que abrem a fase eliminatória. Brasileiros, chilenos, uruguaios e colombianos estão no centro das atenções mundiais. Óbvio que é sobre o Brasil, favorito ao título e anfitrião, que se concentram as maiores expectativas. Ciente disso, o técnico Felipão preferiu encher linguiça na entrevista do dia e foi buscar nos desvios do tempo um personagem desconhecido. Falou de Paulo César Tatu, um obscuro boleiro dos anos 70, com quem jogou nos tempos de zagueiro.

Mais um dos truques de Felipão para descontrair a entrevista coletiva obrigatória e tentar escapar de perguntas inconvenientes. Aliás, Tatu entrou e saiu da conversa sem maiores explicações. Mas deve se entender como inconveniência a obrigatoriedade de comentar a tremenda responsabilidade sobre as costas da Seleção Brasileira e abordar a pressão que os chilenos estão fazendo em cima da arbitragem.

Felipão foi direto sobre a ansiedade e as cobranças sobre os jogadores. Não fugiu do pau. Bem ao seu estilo, disse aos jornalistas que lotavam a área de imprensa que existe o risco de eliminação precoce nas oitavas, mostrou respeito pelo Chile e considerou que o grupo está preparado psicologicamente para as dificuldades embutidas nas fases eliminatórias.

Sobre as insinuações quanto a possível favorecimento dos árbitros à seleção anfitriã, Felipão se armou para responder, mas foi prontamente interrompido pelo assessor da CBF Rodrigo Paiva, que fez um breve discurso em tom irritado. Disse, em resumo, que o Brasil pentacampeão do mundo merece respeito e que a pressão do Chile não se justifica. Exagerou um pouco ao avaliar que o povo brasileiro teria sido ofendido pelos chilenos.

Mais do que as arengas naturais de véspera de decisão, Felipão tem mesmo que se preocupar é com a arrumação do time que vai pegar seu maior desafio no torneio até agora. Com a entrada de Fernandinho já definida, resta confirmar se Maicon entra na lateral direita e se David Luiz (que não terminou o treinamento do dia) terá ou não condições de jogo.

Sem David Luiz, Dante entra na zaga e altera bastante a maneira de atuar da Seleção ali atrás. David sai mais, chegando a contribuir com tentativas de lançamento. Dante joga mais fixo, como Tiago Silva. O dado positivo é que acrescenta um potencial agressivo nas bolas aéreas.

De todas as modificações possíveis, a entrada de Fernandinho é a que mais interfere no jeito de atuar da Seleção. Ao contrário de Paulinho, que ficava mais recuado na versão atual, o volante do Manchester avança e sai bastante para o jogo. Vai tornar o time mais agudo e vertical, embora menos reforçado na marcação, obrigando Hulk a voltar para guarnecer suas subidas.

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Chile vai concentrar marcação em Neymar

Do lado chileno, Jorge Sampaoli foi bem menos explícito que Felipão. Com as protocolares palavras de respeito pelo Brasil, o argentino deixou claro que sua preocupação é mesmo em relação a Neymar. Não menosprezou os demais brasileiros, mas elegeu o camisa 10 como alvo de sua atenção. Deu a pista de que pode impor marcação individual ao craque da Seleção, observando que se movimenta muito e flutua por todas as faixas do campo.

O técnico do Chile projeta um jogo diferente do que seu time vem praticando na Copa. Como o Brasil verticaliza jogadas, mas pouco valoriza a posse de bola no meio, avalia que o embate será amarrado no meio e que os contragolpes devem decidir a parada. Penso como ele, mas considero que a pressão inicial da Seleção pode mudar radicalmente o panorama do confronto. Um gol logo nos primeiros minutos servirá para alterar toda a programação da véspera.

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Dilma acerta em comparecer à final

Sem medo de vaias ou xingamentos, que tanto constrangimento provocaram por ocasião da abertura da Copa do Mundo na Arena São Paulo, a presidente do Brasil vai mesmo entregar a taça aos campeões do mundo, depois da partida final, dia 13 de julho, no Maracanã. Não haverá discurso, apenas a presença da principal autoridade do país na entrega do troféu ao capitão da seleção vencedora.

Sem as manifestações que tantos profetas davam como certas para bagunçar a Copa, Dilma Rousseff irá cumprir o ritual que historicamente é cumprido nos mundiais de futebol. Faz muitíssimo bem. Representará todos os brasileiros, na condição de legítima presidente de um país democrático. Além disso, a mulher que enfrentou tantas violências físicas e psicológicas na luta contra a ditadura militar não pode amofinar diante de um grupelho de mal-educados.

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Imprensa enaltece hospitalidade brazuca

Com destaque crescente na análise dos grandes veículos da mídia internacional, a aprovação à amabilidade do povo brasileiro é publicamente explicitada em pesquisa divulgada ontem. O levantamento indica que 30% dos jornalistas que cobrem a Copa no Brasil. Alegria, sensação de segurança, clima e beleza natural são outros itens destacados pelos profissionais estrangeiros. Eles responderam à pergunta sobre o que mais agradou aos visitantes.

De negativo, há queixas quanto a preços de serviços e produtos, além de um quase unânime queixume sobre o trânsito nas cidades-sede do Mundial, com ênfase para São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.

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Valcke receita tratamento; Tabarez ganha aplausos 

O secretário geral da Fifa surpreendeu com uma frase coerente em relação a Luis Suárez. Indagado sobre a pena aplicada ao jogador pela mordida em Chiellini, o francês Jerôme Valcke disse que o atacante precisa de tratamento. Ninguém tinha tocado nesse delicado tema ao abordar o caso, mas Suárez parece ter de fato problemas de agressividade e dificuldades de sociabilidade, fazendo por merecer já há algum tempo assistência especializada.

Valcke só não explicou os motivos da desumana cena de expulsão do jogador da concentração uruguaia. A virulência do ato de oficialização de seu desligamento é, desde já, o momento mais triste desta Copa das Copas.

Recebido como herói pela torcida uruguaia, Suárez continua sem admitir ter errado. Seu silêncio estimula o sentimento de que foi vítima de uma ação orquestrada, como defendem até jornalistas sérios do Uruguai. Por sorte, o professor (é mestre de verdade) Oscar Tabarez foi o primeiro a reconhecer que seu jogador teve uma conduta inadequada, embora criticando o excesso de rigor da pena.

Informou que o Uruguai vai entrar forte hoje contra a Colômbia, sem sentir os efeitos emocionais da perda de seu principal jogador. Figura de fino trato, Tabarez merece todos os aplausos ao final do pronunciamento à imprensa.

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Nas Gerais, clássicos reverenciam o futebol

O clima pré-jogo em Belo Horizonte é dos mais animados, justificando a fama de cidade que ama futebol, dividida que é entre duas paixões centenárias. Cruzeirenses e atleticanos terão a oportunidade rara de unir forças e vozes hoje à tarde na Arena Mineirão. E devemos ter, pela primeira vez, uma torcida com bom gosto para a trilha sonora do espetáculo, afinal vêm de Minas algumas das canções brasileiras mais inspiradas sobre futebol.

A já clássica “Uma partida de futebol”, do Skank, é apenas parte de uma coleção admirável, que inclui a belíssima “Bola de meia, bola de gude” (Milton Nascimento/Fernando Brant) e “País do futebol”, que o próprio Milton celebrizou. Se depender de música para seguir em frente, a Seleção pode se considerar muito bem servida.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 28) 

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