Por Gerson Nogueira
A notícia que concentrou atenções na véspera da segunda partida do Brasil na Copa foi a contusão de Hulk. A bem da verdade, um problema de menor importância e quem acompanha futebol (e a Seleção Brasileira) sabe disso. Perder Hulk não tem a importância estratégica que muitos tentam dar à história. Jogador mediano, atacante de estilo rude, sua utilidade está muito mais relacionada à capacidade de ajudar na marcação – vocação natural do atleta.

Contra a Croácia, Hulk teve atuação apagada e sua saída no segundo tempo deu ao time uma consistência maior, principalmente no meio-de-campo, pois Ramires entrou com mais autoridade e ajudou a organizar o setor. A simples opção de Ramires, um volante, para substitui-lo dá bem a ideia de como Felipão vê o papel de Hulk na Seleção.
Chegará o dia em que todos concordarão comigo: Hulk é um zagueiro mal escalado no ataque. Sua vocação é defensiva, a começar pela facilidade para o trabalho de destruição.
Ao largo da falsa aflição pela contusão de Hulk, há a concreta preocupação com o animado México, que há várias Copas sonha em sair do pelotão dos azarões e adentrar no seleto clube dos grandes. Apesar das limitações, é um time formado por bons jogadores, principalmente na meia-cancha.
Geovane dos Santos, Guardado e Herrera são jogadores de boa técnica, capazes de criar problemas para zagas desavisadas. Herrera atua mais pelo lado direito, ajudando na construção de jogadas. Habilidoso, Guardado serve de escolta para Geovane, que muitas vezes aparece na área para finalizar, mas cuja função original é de aproximação com o artilheiro Peralta.
No ano passado, aqui mesmo em Fortaleza, o México foi derrotado pela Seleção Brasileira por 2 a 0. Há dois anos, em Londres, os mexicanos superaram a Seleção olímpica de Mano Menezes. Nas duas situações, muito equilíbrio e uma crescente confiança por parte deles. Os últimos cinco confrontos, com três triunfos brasileiros e dois mexicanos, atestam a evolução mexicana.
É contra esse time, que sonha com voos mais altos e em conquistar respeitabilidade no cenário mundial, que o Brasil tentará conseguir sua segunda vitória na Copa. Não parece um adversário historicamente temível, mas já inspira cuidados.
Em relação à Croácia, apresenta um contra-ataque menos perigoso, pois utiliza pouco as laterais. Mas, pelo centro do campo, pode ser envolvente. Por essa razão, a provável entrada de Ramires deve ajudar a compor a barreira de marcação – junto com Paulinho e Luiz Gustavo – para que Oscar possa transitar por ali sem a obrigação de vigiar os meias adversários.
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Portugal e CR atropelados pela Alemanha
A seleção de Portugal tem um craque jogando ao lado de 10 operários. No futebol moderno, poucos times podem se dar ao luxo de ter um craque, o que já representa uma tremenda vantagem para os lusos. Essa combinação funciona contra times medianos, mas geralmente sucumbe contra pesos-pesados.
E não poderia um adversário mais complicado para Portugal de um homem só do que a Alemanha e seus jovens craques. Ozil, Lahm, Kroos, Gotze e Khedira fizeram o trabalho necessário para que Thomas Müller pudesse brilhar no ataque. E brilhou à sua maneira, sem grandes mesuras ou dribles desnecessários.
Müller é o atacante moderno por excelência. Não perde tempo mostrando habilidade, apenas executa fundamentos básicos. Passa muito bem, ocupa espaços e finaliza com extrema perícia.
Jovem ainda, tem fôlego para atormentar defesas ao longo dos 90 minutos. Graças a ele, a tarefa alemã diante de Portugal foi bastante facilidade. Pouco vigiado, recebeu bolas preciosas dentro e fora da área.
Quando o placar chegou a 2 a 0 foi a vez de brotar a conhecida truculência de Pepe, um dos piores beques do mundo que adquiriu status de intocável em Portugal. Violento, chegou a ser advertido pelo árbitro momentos antes de enfiar a mão na cara de Müller.
Sua expulsão abriu um buraco ainda maior no setor defensivo de Portugal e o terceiro gol, também de Müller, aconteceu ainda no primeiro tempo.
A segunda metade do jogo foi quase um treino de luxo para os alemães, que se esmeraram em desperdiçar contra-ataques e passaram a maior parte do tempo tocando bola no meio. As tentativas lusitanas, puxadas por Nanny e Coentrão, resultavam em chutes perdidos e na base do desespero. Rui Patrício ainda daria um presentaço em rebote que Müller mandou para as redes.
Cristiano Ronaldo, cuja presença foi notada apenas nos instantes iniciais e em cobrança de falta na etapa final, afundou junto com seus coadjuvantes. O melhor do mundo passou longe de Salvador ontem. E, para que Portugal tivesse chances reais diante da forte e sólida Alemanha, ele precisaria apresentar um rendimento acima da média.
Como a Holanda, a Alemanha exibiu de cara suas credenciais. É favorita séria ao título, como sempre.
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A caminho do grande recorde
Grande destaque do time alemão, Müller alcançou a marca de oito gols em sete partidas de Copas do Mundo. É um feito que o coloca entre os candidatos naturais a superar o recorde de Ronaldo Fenômeno – 15 gols.
Os próprios companheiros de seleção dizem que ele tem tudo para repetir a façanha de seu compatriota Gerd Müller, que sustentou durante 32 anos a liderança na artilharia do Mundial.
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Muro baixo desafia o padrão Fifa
O Comitê Organizador da Copa enfrentou um problema inesperado. Justamente no estádio considerado mais bem policiado de todas as sedes, o Maracanã, um grupo de torcedores quase conseguiu se instalar nas cadeiras sem ter ingresso, no jogo Argentina x Bósnia.
Todos conseguiram o muro externo e chegaram a uma das entradas, mas foram contidos na triagem. Nove foram detidos e encaminhados à Polícia.
O resultado imediato da audácia é que a fiscalização vai ficar ainda mais rigorosa para os portadores de ingressos em todos os estádios.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 17)