Enquanto aguarda uma resposta do técnico Roberto Fernandes quanto à sua permanência no clube, a diretoria do Remo confirmou a contratação dos primeiros reforços para a disputa da Série D 2014: Rafael Paty, ex-Santa Cruz de Cuiarana, e Robinho, meia-armador do Cametá.
Dia: 10 de junho, 2014
Capa do Bola, edição de terça-feira, 10
Na capital mais anti-Copa do país
Por Gerson Nogueira
A quatro dias da abertura da Copa, São Paulo viveu ontem um dia turbulento, com a gigantesca cidade mergulhada no caos provocado por protestos e a greve dos trabalhadores do metrô. Ao mesmo tempo, a madrugada nos bairros periféricos foi carregada de tensão pela prática de incendiar ônibus. Por mais que se procure entender a urgência de algumas reivindicações, fica claro que a Copa do Mundo se transformou em muleta para muita gente. Há quem pretenda resolver questões salariais, há quem busque dividendos políticos com o desgaste do governo federal e há simplesmente quem aproveita para surfar na onda.
Por essas e outras, não podia ter sido mais infeliz a escolha de São Paulo para sediar a abertura daquela que o mundo espera que venha a ser a Copa das Copas. É verdade que outras capitais também enfrentam manifestações. Mas na capital econômica do país tudo se torna grandioso, para o bem ou para o mal. Qualquer tumulto adquire proporções tsunâmicas, com repercussão correspondente. Além disso, é aqui que se concentra a maior população de viés claramente oposicionista no país, o que ajuda a entender a virulência dos tumultos e a agenda de greves que vem sendo cumprida nas últimas semanas.
Na fila para o credenciamento, no finalzinho da tarde, depois de um dia em que o transporte público praticamente não existiu na cidade, jornalistas uruguaios, franceses e indianos – dos quase 8 mil que já se encontram no Brasil – se preparavam para a cobertura dos protestos, excitados com a pauta extra-futebol. A fotógrafa francesa admitia que estava se credenciando, mas que o seu interesse estava centrado nas escaramuças de rua. E que ninguém reclame dessas intenções, pois jornalismo é isso. Privilegia-se os fatos, doa a quem doer. E os fatos conspiram contra um torneio que deveria ser o melhor dos últimos 45 anos, talvez no mesmo nível da inesquecível Copa de 70, no México.
Há quatro dias, em Lisboa, em evento promovido pelo setor turístico, fui seguidamente perguntado sobre o mundial. A maioria dos operadores estava impressionada com as notícias oriundas do Brasil. E, com boa dose de lógica, mostravam-se surpresos com a efervescência política, levando em conta os índices econômicos ostentados pelo país. Soa estranho a quem não é familiarizado com as tradições brasileiras. Nós, jornalistas presentes, tivemos que fazer um longo preâmbulo para tentar contextualizar os atuais problemas, quase nenhum deles diretamente relacionados com o presente.
Dentre as mazelas atuais, obviamente, pontificam os atrasos na entrega das obras da Copa, produto óbvio da velha mania nacional de complicar para obter lucros. Até o começo da noite de ontem, operários se empenhavam em concluir passarelas e calçamentos no entorno do Itaquerão, palco da abertura oficial do torneio na próxima quinta-feira.
Nas áreas internas, muita correria e confusão quanto a locais de atendimento, situações não muito diferentes do que testemunhei há quatro anos na África do Sul. Lá, com mais gravidade, principalmente quanto ao acabamento de prédios administrativos ao lado dos grandes estádios. Ao lado do Soccer City, por exemplo, onde começou e se encerrou a Copa, a Fifa viu-se obrigada a erguer enormes tendas para recepcionar os jornalistas.
Lá, porém, os imensos problemas relacionados com a má aplicação das verbas e o atraso nas obras não explodiu em descontentamento – sincero ou forçado – nas ruas. Talvez pela singela razão de que na África não havia uma eleição presidencial a balizar as emoções e interesses.
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Verde-amarelo quase invisível
Ao contrário de outras cidades, São Paulo tem pouquíssimos lugares engalanados para a Copa do Mundo. O verde-amarelo, que andou tímido em Belém até há algumas semanas, aqui continua invisível. Um ou outro camelô arrisca oferecer alguns produtos relacionados com a Copa. Nos shoppings, somente as lojas de material esportivo exibem as camisas das seleções, mas chama atenção a ausência de destaque para o uniforme canarinho. Em outros tempos, ruas estariam inteiramente decoradas e vitrines já se vestiriam das cores varonis desde o final de maio.
O próprio tratamento frio dado à chegada da delegação brasileira em várias capitais traduz um pouco desse desinteresse pelo escrete. O lado saudável disso é que a frieza impõe pressão aos jogadores e atiça a vontade de vencer. Sempre foi assim.
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O trio de ouro da Croácia
A Croácia, vítima da Seleção Brasileira na abertura da Copa de 2006, surge modificada e fortalecida oito anos depois. Reconhecida pela qualidade de seus meio-campistas, a seleção famosa pela camisa tipo toalha de mesa parece disposta a cumprir a velha tradição de tropeços dos donos da casa em aberturas de mundiais.
Rakitic, Modric e Kovacic, jogadores de boa técnica e muita resistência física, formam a meia-cancha e constituem o motor da equipe croata. Deles dependerá a sorte da seleção na Copa. Não chegam a ser futebolistas geniais, mas têm grande entrosamento e adoram o futebol de passes rápidos e curtos.
Sob o comando de Niko Kovac, o trio esbanja criatividade e intensidade. De maneira geral, as dificuldades que o Brasil sentiu diante da Sérvia, mesmo sendo um jogo amistoso, dão bem a medida do que poderá ser a batalha de estreia. Sérvios e croatas têm estilos parecidíssimos de jogar.
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Neymar e o fantasma das lesões
O susto com a queda de Neymar no treino de segunda-feira, na granja Comary, reacendeu o medo que ronda a Seleção nos dias que antecedem a estreia. Exemplos como o de Rogério, Romário, Emerson e Edmílson são sempre evocados nesses momentos. Ocorre que, ao contrário de todos os citados, Neymar vive o começo da carreira, não sofreu até hoje lesões mais sérias e é um atleta de rápida recuperação. São qualidades que, se não o tornam imune a acidentes de percurso, permitem acreditar que conseguirá disputar a primeira Copa de sua vida no auge da forma atlética.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 10)



