Por Renato Maurício Prado
É, menino moicano, já estás na Argentina mas os ecos de tua conquista no Pacaembu ainda são ouvidos pelos quatro cantos do país e do continente. O mundo dos esportes está aos teus pés. Teus retratos estampam as páginas de todos os cadernos esportivos do planeta e as inevitáveis comparações com o Rei Pelé evidenciam o assombro e a admiração com que te olham.
Sim, eu sei, o próprio Rei te aconselha a partir. Acha que deves ir logo, rumo a um dos melhores e mais ricos times do universo: o galáctico Real Madrid — um dos quatro clubes que, segundo as
palavras do presidente do Santos, no curto espaço de ontem pra hoje, já se mostraram, oficialmente, dispostos a pagar até o último centavo do valor da tua milionária multa rescisória. Aí é que mora o perigo. E por isso cometo a ousadia de te escrever. Sim, eu sei. Os gringos virão com caminhões de dinheiro. E se quitarem o que está estipulado no teu contrato, os cartolas nada poderão fazer. A decisão estará toda em tuas mãos. Mas ainda podes dizer não! Por que? Pensemos juntos. Já está mesmo na hora de deixar o Brasil e o Santos? Logo agora que se tornou palpável a possibilidade de um espetacular confronto com o Barcelona, pelo título mundial interclubes (possibilidade, sim, pois não devemos nos esquecer dos “mazembes” da vida…). Imagina em quanto valorizará o teu passe se, sob a tua batuta, o Santos derrotar o esquadrão de Messi e Cia.? Difícil, é claro. Mas vais me dizer que não adoras um desafio destes? Pois é…
E a Copa no Brasil? Daqui até 2014, quantos milhões podes faturar no nosso mercado publicitário? Será que indo para o exterior, realmente, ganharias mais? Até onde sei, já recebes (graças à última renovação, quando do interesse do Chelsea, no ano passado) um salário no nível dos grandes craques europeus. E agora, após o título da Libertadores, a tendência é que os patrocínios aumentem exponencialmente…
Levando ainda em consideração que, se cumprires o teu contrato com o Santos, até o final de 2015 (quando terás apenas 23 anos), os teus direitos econômicos e federativos te pertencerão integralmente (ou seja, poderás vendê-los por algo em torno de US$ 80 e 100 milhões), acho que a questão financeira, decididamente, não deve ser um grande fator motivador.
Claro, encontrarás quem diga que é mais seguro embolsar logo uma bolada — “vai que acontece uma contusão mais séria, uma perna quebrada”, grasnarão as eternas aves de mau agoro. Ah, moleque travesso, não tema nada! Encara esse momento de decisão com a coragem e o talento que sempre demonstrastes em campo. Pra cima deles! Driblando!
Ainda não é chegado o momento de comparar topetes com gente marrenta como o superastro Cristiano Ronaldo — que poderá te receber com um muxoxo e uma ponta de desprezo. Nem tampouco vale a pena correr o risco de, no primeiro tropeço, acabar colocado no banco pelo, igualmente mascarado, técnico José Mourinho — e ainda correr o risco de ser chamado de “cai-cai”. Fica, menino. Teu destino — que já começa a ser cumprido — é devolver ao nosso futebol a alegria perdida na evasão constante de nossos melhores jogadores, desde o início dos anos 80 até agora.
Fica, como símbolo de que podemos voltar a ser grandes e, realmente, merecedores não somente de sediar, mas também de vencer uma Copa por aqui, jogando um futebol vistoso e alegre, digno de gigantes que sempre fomos, não de anões, como nos portamos no último Mundial.
Fica e só vai para lá, se um dia quiseres, como protagonista absoluto, carregado numa liteira, como Pelé fez nos EUA e Zico, no Japão. Não vale a pena ir tão cedo para te expor, sem estar totalmente pronto, ameaçando a própria carreira — olha o que aconteceu com dois de teus antecessores, Diego e Robinho! No frescor de seus 19 anos, não te iludas, ainda terás altos e baixos (à medida que o tempo for passando, cada vez mais altos e menos baixos).
Fica onde tais oscilações jamais farão com se questione o valor do teu futebol — pois lá fora, na primeira má fase não faltarão críticos para te diminuir e te desvalorizar, pondo em dúvida o teu imenso talento. Eles morrem de inveja dele. Fica onde ninguém jamais te atirará uma banana.
Fica por aqui e dê uma banana aos milhões com que te acenam. Pelo menos até a Copa de 2014, ganharás muito mais no Brasil — em todos os sentidos. E nós, fãs incondicionais do teu futebol ganharemos também.
Fica, menino moicano! E, se puderes, convence também o Ganso…
IMAGINE… Já pensou se as duas últimas grandes gerações do Santos (a de Diego e Robinho e a de Neymar e Ganso) ainda estivessem juntas, na Vila? Com certeza, o Santos formaria um daqueles esquadrões para entrar na história do nosso futebol como dos maiores de todos os tempos. Timaço para se ombrear ao Santos de Pelé; o Botafogo de Mané; o Flamengo de Zico; o Cruzeiro de Tostão; o Inter de Falcão e uns poucos mais.