Melhor com ele

Por Flávio Gomes
 
Lewis Hamilton bateu em quatro pilotos nas últimas duas corridas. Em Mônaco, acertou Felipe Massa na Loews e Pastor Maldonado na Saint Dévote. Sobreviveu aos dois incidentes e suas vítimas abandonaram, desolados. No Canadá, deu em Mark Webber na primeira curva e em Jenson Button na reta dos boxes. Sua sorte em Montreal foi bem diferente. O australiano rodou, voltou e ainda terminou no pódio. O companheiro venceu a prova. E ele, com um pneu furado e uma suspensão aparentemente avariada, voltou a pé para os boxes.
Como se vê, Lewis não tem preferência por adversário. Com diferentes graus de culpabilidade, como diria Tite, alvejou uma Ferrari, uma Williams, um Red Bull e uma McLaren. Foi punido pelos comissários e, pelo menos foi o que deu para ver na TV, levou uma chamada de Ron Dennis às margens da raia olímpica canadense. E agora dizem que está conversando com a Red Bull. É o que afirma a revista inglesa “Autosport”. Seria interessante vê-lo sob o comando rubrotaurino, tendo como parceiro alguém da mesma geração e tão explosivo como Sebastian Vettel. São dois dos mais legítimos representantes da boa geração pós-Schumacher. E tanto Hamilton quanto Vettel, hoje, correm ao lado de pilotos, digamos, da paz — Button o perdoou e ainda assumiu a responsabilidade pela batida de Montreal, dizendo que não viu o companheiro atrás; Mark, depois da Turquia no ano passado, virou um canguru perneta.
Lewis é da McLaren praticamente desde que nasceu. Está na quinta temporada na F-1 e já foi campeão uma vez, em 2008, depois de um ano de estreia excepcional, em 2007. Mudar de ares? Sempre é bom. Relações se desgastam. Muitas vezes acabam. Mas não vai acontecer. Justamente porque manter dois pilotos do mesmo nível é algo sempre temerário em qualquer time, e mais ainda quando têm temperamentos parecidos. Hamilton com Alonso não deu certo. Prost com Senna quase saíram no tapa várias vezes. Mansell com Piquet resultou em título perdido. É legal para o público. Dificílimo para qualquer equipe.
Hamilton tem uma característica marcante, a agressividade. Que às vezes esbarra no exagero, como domingo na disputa com Button — era a terceira volta da corrida sob bandeira verde, chovendo, uma tentativa desnecessária. Mas a pergunta é: quando uma tentativa de ultrapassagem é desnecessária? Vendo pela TV, é fácil dizer. Estando dentro de um carro de corrida, menos. Hamilton percebeu uma possibilidade e foi. Em geral, é melhor do que ficar uma corrida toda ensaiando e estudando. Para quem está vendo, pelo menos. Para quem é abalroado, não. E os entendidos dizem que paciência é virtude que cai bem em algumas ocasiões na pista.
Lewis precisa dosar o pé? Talvez. Emerson Fittipaldi, por exemplo, acha que sim. Mas se começar a dosar o pé será o mesmo Hamilton? Talvez não. Eu gosto do estilo. E acho que quando passa do limite do razoável, tem de ser punido. Existem comissários para isso. Mas não crucificado. E é um pouco o que tem acontecido com o rapaz. Desde que não coloque a vida de ninguém em risco, algo que não me lembro de ter acontecido, não vejo mal algum em pilotos combativos como Hamilton. Melhor um só como ele do que dez cordeirinhos bem-comportados. E o que não falta é cordeirinho correndo.

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