POR GERSON NOGUEIRA
Poucas vezes o rock foi tão decentemente tributado numa canção quanto nesta do Primal Scream (aliás, que puta nome para uma banda). Aqui, o registro ganha vigor e balanço nas guitarras com a participação luxuosa de Paul Weller, “the Modfather”. A filmagem captura bem o clima de uma espelunca apropriada para uma noite roqueira nos subterrâneos de Glasgow.
“Traficantes continuam traficando/ Ladrões continuam roubando. Prostitutas continuam prostituindo, trastes continuam contando. O comércio está no suporte da carne. Strippers se dobrando, vagabundas continuam vagabundeando. Palmas coçando”.
Estes são os versos iniciais de “Rocks” (1994), típico produto da inquietação criativa do Primal, banda de rock alternativo surgida em 1984, em Glasgow (Escócia). Inicialmente, era apenas o duo Bobby Gillespie e Jim Beattie, cuja inspiração para escolha do nome é a famosa teoria do grito primal, inventada pelo médico Arthur Janov nos anos 60.
Atualmente, o Primal é formado por Gillespie, Andrew Innes, Martin Duffy, Debbie Googe, Darrin Mooney e Bobby Gillespie. Antes de tomar coragem para formar a própria banda, Gillespie se aventurou como baterista do The Jesus and Mary Chain.
“Screamadelica”, o belíssimo terceiro disco do Primal, alavancou a carreira do grupo num tempo em que quase todo mundo só falava em Nirvana e grunge. O álbum conectou o público indie ao mundo das raves e, no sentido inverso, a house music para os pubs do som underground.
“Garoto do Cortiço”, escrito (muito bem) por Gillespie, é um livro excelente e revelador, lançado em 2022. Narra a sua história desde a época de dureza nas ruas (e cortiços) de Glasgow e a relação com os pais, pertencentes à classe operária. Vale a leitura.
Agora algumas palavras sobre Paul Weller, que foi responsável pela sobrevivência do estilo Mod no rock britânico do final dos anos 70 até meados de 80. Por isso, ganhou o apelido de “pai dos mods”, trabalhando com afinco no revival do subgênero consagrado pelo The Who.
Weller foi integrante do The Jam, que surgiu no auge do punk e da explosão de Sex Pistols e Clash. Por ser contemporâneo, o Jam foi confundido com uma banda de punk rock, embora tivesse obviamente mais apuro técnico na execução das músicas. Sobreviveu de 1977 a 1982. Em seguida, Weller fundou o Style Council. Produtivo e experimental, o grupo durou seis anos. Hoje, Weller segue carreira solo de grande prestígio.