Rock na madrugada – The Rolling Stones, “Jumpin’ Jack Flash”

POR GERSON NOGUEIRA

Quando alguém desembarcar de uma galáxia distante e perguntar o que é esse tal de rock’n’roll, a resposta óbvia e ululante terá que ser “Jumpin’ Jack Flash”, mega sucesso e hino oficial do gênero desde os idos de 1960. Acima, o registro definitivo da música pelos Rolling Stones em filmagem dirigida por Michael Lindsay-Hogg, à época o queridinho dos roqueiros, requisitado só pelos maiorais, incluindo os Beatles.

Produzidos entre 1967 e 1968, os vídeos oficiais de “Jumpin’ Jack Flash” (um com maquiagem e outro sem) foram dirigidos por Lindsay-Hogg (The Rolling Stones Rock and Roll Circus, Let It Be) e filmados ao longo de um único dia no Olympic Studios, em Londres, na primavera de 1968. Anos depois, a tecnologia permitiu que fossem restaurados fielmente em resolução 4K.

Essência do rock arrasa quarteirão, com seu riff arrebatador e inconfundível, a canção foi toda trabalhada a partir de uma linha de guitarra desenvolvida por Keith Richards, com letra de Mick Jagger. Seria incluída no disco The Rolling Stones Child of the Moon, lançado em 24 de maio de 1968. À época, a banda ainda mantinha a estrutura básica de sua fundação: Charlie Watts, Bill Wyman, Keith Richards, Mick Jagger e o renegado Brian Jones.

A letra é demolidora, no melhor estilo pé na porta que os Stones tiveram a primazia de inaugurar no rock. Nenhuma banda da época se atreveu a cuspir versos tão fortes e pontiagudos.

Eu nasci em um furacão de fogo
E uivava para minha mãe no meio da chuva
Mas agora está tudo bem, na verdade, é o maior barato
Mas tudo bem, eu sou o Jumpin’ Jack Flash
E isto é o maior barato!

Eu fui criado por uma uma velha feia, banguela e barbuda
Fui ensinado levando chibatada no lombo

Eu me afoguei, fui arrastado e deixado para morrer
Eu caí aos meus pés e vi que eles sangravam
Eu desprezei as migalhas de casca de pão
Eu fui coroado com espinhos bem na minha cabeça
Mas agora está tudo bem, na verdade, é o maior barato

Reza a lenda que a composição nasceu na casa de campo do guitarrista Keith Richards, em Redlands (Sussex, Londres), em 1967, quando ele e Mick Jagger tentavam criar novas músicas. Tomaram todas e acabaram dormindo no sofá da sala. Foram acordados na manhã seguinte com o barulho das botas de Jack Dyer, jardineiro da residência de Keith.

“O que é isso?”, perguntou Jagger. “É só o Jack saltitando”, foi a resposta do guitarrista. Mick então completou, brincando: “É o ágil Jack!”. Naquela mesma manhã, o vocalista redigiu a letra, que não cita o jardineiro, mas tem refrão e nome baseados no papo inicial sobre “Jack Flash”.

Jagger nunca confirmou, mas teria se inspirado no poema “The Mental Traveller”, de William Blake, para desenvolver “Jumpin’ Jack Flash”. Com a música, os Stones alcançariam no dia 22 de junho de 1968 pela 7ª vez o topo das paradas na Inglaterra e a 3ª posição nos Estados Unidos. Um resultado animador para quem tinha amargado críticas pesadas com o disco anterior, “Their Satanic Majesties Request”, de 1967.

Desde então, a música-hino integra obrigatoriamente o setlist de shows da banda, junto com “Satisfaction”, “Start me Up”, “Sympathy For The Devil” e “Gimme Shelter”. Muito justo.