POR GERSON NOGUEIRA
Com o título brasileiro ganho ontem por antecipação, Cuca desfaz em definitivo os últimos questionamentos sobre sua capacidade de montar times vencedores e afugenta a antiga fama de pé-frio. Já havia sido assim no Atlético-MG, vencedor da Taça Libertadores, mas o fracasso no Mundial de Clubes quase ofuscou aquela grande conquista.
Desta vez, após rápida incursão pelo futebol chinês, Cuca levou a cabo um feito quase heroico. Precisava em pouco tempo formatar um Palmeiras competitivo a partir de um elenco repleto de jogadores medianos.
Havia um astro – Gabriel Jesus – na companhia, cercado de vários operários, alguns experientes e rodados (Fernando Prass, Arouca, Zé Roberto, Jean, Alecsandro, Rafael Marques, Edu Dracena, Cleyton Xavier etc.). Dessa mescla de jogadores, conseguiu em pouquíssimo tempo formar um time razoavelmente forte para o Campeonato Brasileiro.
Os bons resultados iniciais deram força e entusiasmo ao grupo, a partir da confiança que o torcedor foi adquirindo com as vitórias em sequência. Como a competição é longa, sujeita a solavancos e desacelerações, temeu-se que o ainda pouco confiável Palmeiras não aguentasse o ritmo.
Não só aguentou bem as provações, como aos poucos foi assimilando um jeito muito pragmático de encarar o Brasileiro. Cuca estruturou seu esquema na velocidade e no talento da dupla de ataque, Gabriel Jesus-Dudu. Para municiar os atacantes, apostou em Roger Guedes e Moisés.
Foi encaixando as demais posições a partir das características desses atletas. E foi extremamente feliz nas escolhas. Até Zé Roberto, do alto de seus 42 anos, encontrou refúgio na lateral-esquerda, sua posição de origem. Como a confirmar o acerto da escalação por ali, Zé foi um dos mais ativos defensores da equipe diante da Chapecoense, posicionando-se algumas vezes até na cobertura da dupla central de zagueiros.
Guedes e Moisés se afinaram com Dudu e Gabriel, tendo como suporte na marcação Jean e Tchê Tchê, grata revelação do campeonato.
Nada revolucionário ou inovador, apenas um time brigador, incansável na busca pela vitória (dentro e fora de sua arena) e um espírito de agregação que permitiu que veteranos graduados aceitassem numa boa o papel de coadjuvantes.
Por todas essas virtudes, Cuca é o grande símbolo deste Palmeiras campeão após 22 anos de espera, superando até Gabriel Jesus em importância para o desfecho satisfatório da campanha. Sem a sabedoria na escolha das peças e a determinação demonstrada pelo técnico, o título dificilmente iria ficar com o Palestra.
O futebol não foi magistral, nem de encher os olhos, mas a métrica dos pontos corridos é implacável. Nenhum time chega à bandeirada final sem apostar na regularidade e na força do conjunto. Cuca foi quem teve neste ano a melhor leitura sobre as características da competição, e se deu bem.
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Papão e a necessidade de transformação
Dos debates travados no blog campeão, selecionei a análise de dois bicolores juramentados sobre a participação do Papão na Série B e as perspectivas para 2017. Miguel Carvalho, crítico ferrenho de Dado Cavalcanti, avalia que os dirigentes precisam extrair lições da campanha que findou na sexta-feira.
“Creio que a permanência Bicolor mais um ano na segunda divisão brasileira venha para amadurecer a instituição e que, ao subir, não faça como o Joinville, o Santa Cruz e o América-MG. Que se espelhe na Chapecoense, um clube com orçamento fechado, ciente do que pode gastar e de que não é necessário ficar refém de empresas ou empresários que só visam o lucro próprio enfiando jogadores medíocres em clubes que vivem caçando os tais jogadores de expressão”.
Jorge Paz Amorim tem pensamento contrário. “Sou dos poucos que não culpa o elenco pelo pífio desempenho do clube no campeonato. É verdade que alguns jogadores renderam menos do que seus respectivos currículos recomendavam, porém até isso me deu a impressão de ser fruto de fatores extracampo,ou seja, falta de comando que permitiu disputas nada saudáveis entre jogadores e comportamentos notívagos incabíveis a um atleta profissional”.
Quanto à próxima temporada, Jorge chama atenção para algumas particularidades da Série B, que deverá deixar de ser disputada apenas por times do Nordeste e do Centro-Oeste, passando a exigir viagens mais longas com a provável inclusão do Internacional: “Ao todo, serão onze deslocamentos ao eixo Sul-Sudeste. Ora, isso exigirá, além da qualificação técnica para a disputa, dedicação, preparo físico, profissionalismo e espírito coletivo acima do medíocre e recorrente cacoete de muitos jogadores que disputam a competição – o de que ela não passa de ‘exposição em vitrine’. E isso demanda comando altamente enérgico da futura comissão técnica, bem como uma direção administrativa firme e apta a apagar incêndios provocados por labaredas oriundas dessas torpes fogueiras de vaidades”.
(Coluna publicada no Bola desta segunda-feira, 28)