Como um sopro

POR GERSON NOGUEIRA

Muito já foi noticiado e analisado sobre a tragédia de Medellín, e será assim por muito tempo ainda. Não vou seguir nessa toada porque outros jornalistas e pessoas anônimas já se manifestaram, alguns até brilhantemente. O fato irreversível é que a Chapecoense, jovem e vitorioso clube catarinense, cravou um lugar na história como protagonista do mais traumático episódio envolvendo o futebol brasileiro.

As imagens do time se despedindo no aeroporto, esbanjando alegria ao embarcar na fatídica aeronave, tornam a lembrança ainda mais sombria. O aspecto mais doloroso de tudo é que o futebol foi sempre associado a instantes de felicidade e explosões de contentamento. Nos estádios, celebra-se a vida, não a morte.

unnamedA queda do avião na Colômbia abala e assusta pela força do inesperado, pela impotência humana e a confrontação com a dor. Traz de volta a eterna questão filosófica sobre quem somos e para onde vamos. Por isso, diz respeito a todos, não apenas aos amigos e parentes das vítimas. O sofrimento é coletivo.

Os jornais antigos relatam a comoção nas ruas da Itália em 1949 quando o avião que transportava o timaço do Torino se chocou contra a catedral de Superga, em Turim, vindo de Lisboa. A mesma catarse tomou conta da torcida inglesa, em 1958, com a queda em Munique do avião que levava o time do Manchester United.

Cito apenas dois dos casos mais célebres, que, apesar do sofrimento que causaram, não podem ser comparados à tragédia da Chapecoense pois naqueles tempos a comunicação era precária. O mundo ficou menor com a internet e as notícias chegam a todos os lugares ao mesmo tempo, o que confere ao desastre de ontem mais impacto e repercussão.

Desde a madrugada, o mundo tomou conhecimento do ocorrido e, junto com a tristeza dele decorrente, surgiram as primeiras manifestações de solidariedade. Ao longo do dia, multiplicaram-se propostas de efeito simbólico, como a de fazer com que os clubes atuem com o uniforme da Chape nos jogos da rodada final do Campeonato Brasileiro.

Racing e Huracán, clubes argentinos, já divulgam nos sites de notícias o escudo da Chape estampados em suas camisas. Partidas serão interrompidas no mundo inteiro para reverenciar os mortos.

Aqui e ali, despontam sugestões de natureza prática, como a possível doação de atletas dos outros 19 clubes da Série A brasileira para reconstruir o elenco da Chapecoense em 2017. Flamengo e Corinthians lideram mobilização para que a CBF não rebaixe o clube catarinense pelos próximos três anos.

São gestos que confortam, capazes de ajudar a remediar as terríveis perdas, mas é preciso que se pense a sério no futuro das famílias dos jogadores e da comissão técnica. Que ninguém se iluda, a tradição brasileira é de esquecimento rápido nessas situações. Quando a comoção for diminuindo e o noticiário se tornar mais esparso, restará apenas o vazio dos que ficaram sem pais, irmãos ou filhos.

“Agora mesmo tudo pode estar por um segundo”, diz a velha canção de Gilberto Gil, sinalizando para a necessidade compreensão de momentos de grande tormenta e perda. É a chave de tudo, pois resume e alerta para a necessidade de aceitação plena da natureza das coisas.

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Leão diante de um caminho desconhecido e perigoso

O Remo se encaminha para a eleição, ainda sob risco de novo adiamento, sob a ameaça de conflitos e tumultos. A baixaria não foi atenuada e os ataques pessoais proliferam, de lado a lado. Longe de representar a esperança de reconstrução do clube, o pleito de sábado (3) pode acentuar as profundas divisões internas.

Ressentimentos e mágoas irão sobreviver à votação, pois os bombeiros – poucos, é verdade – não foram bem sucedidos na missão de apaziguar os litigantes. O clima é de confronto, não de pacificação.

O que surpreende é que, engalfinhados na busca pelo êxito eleitoral a qualquer preço, as chapas concorrentes não percebem que o vencedor terá muito pouco a comemorar. Além de todas as mazelas acumuladas ao longo da última década, o Remo é hoje um campo minado de ambições cegas e egocentrismo explícito.

Em nome desses interesses, quase sempre de ordem pessoal, deixa-se de lado as urgências que se impõem para o clube. É preocupante que o Remo, com mais de 100 anos de história, dependa hoje exclusivamente da lealdade de sua numerosa e apaixonada torcida.

Não há outro caminho para impedir a insolvência financeira a não ser o apelo à contribuição (que nunca faltou) da parte do torcedor. O problema agora é que, cansada de observar a fogueira das vaidades, a massa torcedora já não confia nas promessas e delírios de grandeza.

É necessário que surja alguém que se importe, de verdade, com os destinos do clube, abrindo mão de suas vontades e caprichos.

(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 30)

Rock na madrugada – Noel Gallagher, Don’t Look Back In Anger

https://www.youtube.com/watch?v=jBbyc3t-Ctc

Ilha da fantasia

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Dois mundos distintos. Enquanto a PM baixa o cassetete e soltava bomba nos estudantes à frente do Congresso, reprimindo os protestos contra a PEC 55, nos salões da casa rolava um coquetel grã-fino oferecido a autoridades e convidados. (Foto: Gisele Arthur)

Vitória vence Coritiba e afunda o Inter

https://www.youtube.com/watch?v=sI4mGT-X3MA

Brasília: imagens da repressão

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Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Final da tarde. Tumultos provocados pela repressão à manifestação dos estudantes contra a PEC 55.

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Governo reprime protesto de estudantes contra a PEC do Fim do Mundo

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Com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, a Polícia reprimiu na tarde desta terça-feira uma manifestação pacífica de estudantes em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, causando tumulto e deixando várias pessoas feridas.

O protesto, organizado pela UNE, era contra a aprovação no Senado da PEC 55 (ou PEC do Fim do Mundo), que congela gastos com educação e saúde por 20 anos. Estudantes de todo o país foram convocados para o ato.

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Um clube jovem e vitorioso

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A Associação Chapecoense de Futebol, sediado na cidade de Chapecó, Santa Catarina, foi fundada em 10 de maio de 1973. A partir de 2009, quando disputou a Série D do Campeonato Brasileiro, empreendeu uma ascensão vertiginosa, chegando à Série A em 2014 e classificando-se para a Sul-Americana em 2016. Chegou à final depois de eliminar o San Lorenzo (Argentina). Um trajeto dos mais gloriosos em 43 anos de existência.

Como ser verdadeiramente solidário com a Chape

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POR JUCA KFOURI

De tantas boas idéias que surgem a cada momento para exprimir solidariedade ao luto da Chapecoense, duas se sobressaem:

1. que todos os times entrem em campo e joguem na última rodada do Brasileirão com os uniformes da Chape.

Seria bonito e tocante;

2. que os 19 clubes da Série A deem um de seus jogadores para a Chape, evidentemente alguém promissor e que esteja de acordo com a atitude.

Sob a supervisão de Tite, então, ficaria ainda melhor.

Além de bonito, seria eficaz; mais que gestos simbólicos, mas generosos de verdade.

Emissoras lamentam perda de jornalistas

A Fox Sports confirmou na manhã desta terça-feira (29) que seis de seus profissionais, que estavam no avião que levava a delegação da Chapecoense a Medellín para a disputa do jogo de ida da final da Copa Sul-Americana. Assinada pelo Carlos Martinez, presidente da Fox da América Latina, a mensagem informa que o narrador Deva Pascovicci, os comentaristas Mário Sérgio e Paulo Júlio Clement, o repórter Victorino Chermont, o cameraman Rodrigo Santana e o coordenador de externa Lilácio Júnior viajavam na aeronave que caiu na Colômbia.

mario_09O mesmo aconteceu com a Globo. Em nota oficial, a emissora lamentou a perda de dois funcionários no acidente. “Os nossos repórteres Guilherme Marques e Guilherme Laars e o repórter cinematográfico Ari de Araújo Jr. estavam no voo com o time da Chapecoense. Eles preparavam uma matéria especial para o Esporte Espetacular. Neste momento de dor e expectativa, aguardamos notícias oficiais das autoridades colombianas e prestamos toda a solidariedade às famílias de nossos colaboradores e amigos”, falou.

A RBS, afiliada da Globo no sul do país, também divulgou uma nota lamentando a morte de seus funcionários. Cinco membros catarinenses estavam no voo. “A RBS lamenta informar que os profissionais André Podiacki, Giovane Klein, Bruno Silva, Djalma Araújo Netto e Laion Espíndula estavam no voo que levava a delegação da Chapecoense para a Colômbia. As empresas, em Santa Catarina (Grupo NC) e no Rio Grande do Sul (Grupo RBS), estão oferecendo apoio às famílias neste momento e seguem na busca por informações oficiais sobre a situação dos colaboradores”, disse o canal.

De acordo com as informações das autoridades colombianas, 75 dos 81 passageiros e tripulação do avião morreram na tragédia na cidade de La Unión, próxima à Medellín, destino do voo. Um número inicial de 76 mortos havia sido divulgado, porém a contagem reduziu após o zagueiro Neto ser encontrado com vida.