Remo 0 x 0 Paissandu (comentários on-line)

Campeonato Paraense 2014 – decisão do 1º turno

Remo x Paissandu – estádio Mangueirão, 16h

Rádio Clube _ IBOPE_ Segunda a Sexta _ Tabloide

Na Rádio Clube, Ronaldo Porto narra, João Cunha comenta. Reportagem – Paulo Caxiado, Hailton Silva.

Como dois e dois são cinco

Por Gerson Nogueira

É de impressionar a animação quase carnavalesca que contagia a todos – torcidas, jogadores, técnicos, imprensa – na semana do Re-Pa. Quase um mini Círio. As pessoas são tomadas de um entusiasmo quase juvenil, como se a simples existência do clássico tivesse o condão de apagar as mazelas e desfazer as amarras do nosso maltratado futebol.

A analogia com o Carnaval não é gratuita. Cada vez que o choque-rei se aproxima traz junto uma certa angústia, como se duas velhas escolas de samba estivessem fazendo seus últimos desfiles.

unnamed (32)Não que a paixão louca que envolve o culto aos rivais seja algo nefasto. Pelo contrário. Deve ser mais valorizada ainda, pois é o que resta dos tempos de fartura. Tão forte que ainda consegue disfarçar a pindaíba reinante, com um campeonato que gera prejuízos superiores a R$ 100 mil por rodada.

O mundo de ilusão que domina a cena futebolística paraense teve início ali pelo final dos anos 90, ganhando força a partir da derrocada do Paissandu na Série A e do canto de cisne do Remo representado pelo título da Série C 2005.

Há uma cultura enraizada de atribuir todas as culpas aos dirigentes. Nós mesmos, da imprensa, temos essa mania recorrente. Sim, eles são perdulários, imprevidentes, ordenam gastanças que jamais permitiriam em seus negócios ou casas. Claro que têm forte responsabilidade no descalabro, mas não estão sozinhos.

Encaremos os fatos. Todos têm sua parte neste latifúndio. Federação, governos, políticos, dirigentes, sócios/conselheiros, imprensa e torcida. A derrocada aconteceu diante de todos: jovens e talentosos atletas surgiram e se perderam pelo caminho, bons negócios foram negligenciados, patrimônios foram dilapidados, parceiros de peso ignorados. E ninguém agiu de verdade para interromper o processo.

A realidade se impõe e revela um quadro exasperante. Não há nada a comemorar. O Pará perdeu espaço nas divisões de elite, o que se reflete na queda no ranking das federações. As gangues uniformizadas aterrorizam estádios e arredores. O Paissandu caiu da Série B para a C. O Remo segue sem divisão. O Águia, terceira força, está fora do Parazão. A Tuna, tradicional e centenária, também.

O campeonato se interiorizou, mas é deficitário e chato, disputado em estádios mambembes, com gramados ridículos – a penosa exceção é o Mangueirão. Os times do interior são sucatões de veteranos e raramente revelam um jogador mediano. É natural que o torneio não sensibilize patrocinadores privados. Só atrai o torcedor apaixonado por Remo e Paissandu porque a paixão é cega.

A recém-criada Copa Verde pode representar o pulo do gato, mas a sobrevivência depende do amor incondicional de duas torcidas, que ocupam seu tempo trocando insultos entre si, e o sustento financeiro vem da subvenção oficial. A referência ao decadente carnaval paraense não é mera coincidência.

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Onde a lógica não tem lugar

O primeiro clássico evidenciou as diferenças de estilos. O Paissandu, sem um meia-armador de ofício, foi acima de tudo marcação e rapidez na saída para o ataque. Com objetividade e disciplina, garantiu a vitória. Operário, investiu na transpiração e se deu bem.

O Remo, com dois armadores especialistas, concentrou suas apostas em jogadas triangulares e tentativas de ir à linha de fundo. Não fez nenhuma coisa nem outra, principalmente porque não foi capaz de superar o bloqueio adversário e nem teve inspiração para achar alternativas.

Os remistas perderam o jogo no primeiro tempo. Frágil na marcação, cometeu falhas muitíssimo bem aproveitadas pelo Papão. No tempo final, veio a reação, com força e intensidade, mas sem o apuro necessário para garantir a igualdade no placar.

Espera-se hoje uma espécie de tira-teima. Os times evoluíram depois daquele confronto e hoje se conhecem mais. Pela ordem natural das coisas, a partida tende a ser equilibrada e o empate surge como resultado mais provável.

Como a tensão é parte obrigatória do duelo, os erros terminam por aparecer. E aí sempre prevalece quem está mais organizado. A vantagem na decisão pertence ao Remo, o que dá a Charles Guerreiro a opção de esperar. Já o Paissandu terá que ir ao ataque para reverter a situação. É o que diz a lógica, mas quem disse que futebol precisa de lógica para sobreviver?

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Bola na Torre

O clássico será jogado à tarde, mas o terceiro tempo será no Bola na Torre (RBATV), depois do Pânico na Band. Guilherme Guerreiro comanda o programa, ao lado de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)

Poesia que virou hino

“Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação?
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração”

“Será” (Renato Russo – Legião Urbana)