A imprensa não era o alvo do rojão

Por Marco Antonio Araújo (do R7)

Diante da avalanche de oportunismo, dos editoriais hipócritas, das manifestações demagógicas, da falta de respeito à inteligência, uma coisa precisa ser dita sobre a morte do cinegrafista Santiago Andrade: não, o rojão não foi lançado contra a imprensa brasileira.

Não, o jornalismo não nos representa como principal vítima desse momento trágico. Nossa mídia não tem envergadura moral para pleitear isso. O alvo não era esse. Provavelmente, não havia alvo. Foi uma explosão aleatória, que poderia ter atingido um cidadão anônimo ou um policial igualmente violento.

Não estou desmerecendo o ofício. Dezenas de jornalistas, de fato, expõem suas vidas ao perigo, em uma militância sincera e corajosa. Santiago era um desses profissionais que merecem todo o nosso respeito.

O que desperta desprezo nessa história é a forma como se eleva um discurso de ocasião. A cobertura que tem sido dada às manifestações é, grosso modo, preconceituosa e dirigida, como quase tudo que envolve política e violência.

Black blocs são assassinos em potencial, nunca titubeei diante disso. Mas também existe uma revanche, por conta da falta de confiança da população (e não de meia dúzia de anarquistas de butique) sobre as verdadeiras intenções que mobilizam as equipes de reportagem dos grandes veículos.

Desde as “Diretas Já”, os manifestantes perceberam do que são feitas uma primeira página de jornal, uma capa de revista e uma escalada de telejornal. O povo não é bobo.

Santiago é bem mais que um excelente cinegrafista morto em meio a uma batalha campal. Ele é um mártir do povo brasileiro. Não tirem isso dele.

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