Perdemos um dos nossos

Por Fernando Molica (*)

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Aos que ainda acham que a bagunça e a morte de alguém vão mudar o rumo das coisas, vão fazer o Brasil melhorar, vão fazer as autoridades repensarem suas atitudes, sugiro que leiam a “carta” da coleguinha Vanessa Andrade, filha do Santiago, o cinegrafista da Band morto enquanto trabalhava. Ela fala de um amor que se foi. A transformação, meus caros, não precisa de sangue… Muito menos desse.

Como jornalista, sinto tudo isso como um duro golpe, um golpe capaz de atingir a esperança. Força, Vanessa Andrade e família!

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“Meu nome é Vanessa Andrade, tenho 29 anos e acabo de perder meu pai.

Quando decidi ser jornalista, aos 16, ele quase caiu duro. Disse que era profissão ingrata, salário baixo e muita ralação. Mas eu expliquei: vou usar seu sobrenome. Ele riu e disse: então pode!
Quando fiz minha primeira tatuagem, aos 15, achei que ele ia surtar. Mas ele olhou e disse: caramba, filha. Quero fazer também. E me deu de presente meu nome no antebraço.
Quando casei, ele ficou tão bêbado, que na hora de eu me despedir pra seguir em lua de mel, ele vomitava e me abraçava ao mesmo tempo.
Me ensinou muitos valores. A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava.
Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada em seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar da minha mãe e meus avós. Ele estava quentinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu.
Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade.
Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha.
Obrigada a todos. Ele também agradece.
Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai.”

(*) Fernando Molica é jornalista.

5 comentários em “Perdemos um dos nossos

  1. Lamento a morte do Sr. Santiago, como lamentaria a morte de qualquer ser humano, mas pelo título do texto nem o li, jornalista é um ser diferente???
    Essa barbárie tem que acabar, chega de manifestações sob encomenda, o caldo entornou de vez, me espantou a eficiência da policia carioca, punição exemplar à todos os envolvidos, apesar das frouxas leis existentes no brasil…(nessa hora minusculo mesmo)

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  2. O que me incomoda é o discurso que se ver nas redes sociais. Ninguém quer falar da morte desse profissional, da dor da família, do homicídio e da punição aos culpados. Só se fala da perseguição da globo contra os black blocks, daqui a pouco vão dizer que a culpa é da vitima.

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  3. Um trabalhador exercendo dignamente o seu ofício, ser barbaramente vitimado por esses criminosos que se intitulam defensores de causas. Nada justifica atitudes como essa. As instituições brasileira tem que parar essa gente nefasta.

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