Como dois e dois são cinco

Por Gerson Nogueira

É de impressionar a animação quase carnavalesca que contagia a todos – torcidas, jogadores, técnicos, imprensa – na semana do Re-Pa. Quase um mini Círio. As pessoas são tomadas de um entusiasmo quase juvenil, como se a simples existência do clássico tivesse o condão de apagar as mazelas e desfazer as amarras do nosso maltratado futebol.

A analogia com o Carnaval não é gratuita. Cada vez que o choque-rei se aproxima traz junto uma certa angústia, como se duas velhas escolas de samba estivessem fazendo seus últimos desfiles.

unnamed (32)Não que a paixão louca que envolve o culto aos rivais seja algo nefasto. Pelo contrário. Deve ser mais valorizada ainda, pois é o que resta dos tempos de fartura. Tão forte que ainda consegue disfarçar a pindaíba reinante, com um campeonato que gera prejuízos superiores a R$ 100 mil por rodada.

O mundo de ilusão que domina a cena futebolística paraense teve início ali pelo final dos anos 90, ganhando força a partir da derrocada do Paissandu na Série A e do canto de cisne do Remo representado pelo título da Série C 2005.

Há uma cultura enraizada de atribuir todas as culpas aos dirigentes. Nós mesmos, da imprensa, temos essa mania recorrente. Sim, eles são perdulários, imprevidentes, ordenam gastanças que jamais permitiriam em seus negócios ou casas. Claro que têm forte responsabilidade no descalabro, mas não estão sozinhos.

Encaremos os fatos. Todos têm sua parte neste latifúndio. Federação, governos, políticos, dirigentes, sócios/conselheiros, imprensa e torcida. A derrocada aconteceu diante de todos: jovens e talentosos atletas surgiram e se perderam pelo caminho, bons negócios foram negligenciados, patrimônios foram dilapidados, parceiros de peso ignorados. E ninguém agiu de verdade para interromper o processo.

A realidade se impõe e revela um quadro exasperante. Não há nada a comemorar. O Pará perdeu espaço nas divisões de elite, o que se reflete na queda no ranking das federações. As gangues uniformizadas aterrorizam estádios e arredores. O Paissandu caiu da Série B para a C. O Remo segue sem divisão. O Águia, terceira força, está fora do Parazão. A Tuna, tradicional e centenária, também.

O campeonato se interiorizou, mas é deficitário e chato, disputado em estádios mambembes, com gramados ridículos – a penosa exceção é o Mangueirão. Os times do interior são sucatões de veteranos e raramente revelam um jogador mediano. É natural que o torneio não sensibilize patrocinadores privados. Só atrai o torcedor apaixonado por Remo e Paissandu porque a paixão é cega.

A recém-criada Copa Verde pode representar o pulo do gato, mas a sobrevivência depende do amor incondicional de duas torcidas, que ocupam seu tempo trocando insultos entre si, e o sustento financeiro vem da subvenção oficial. A referência ao decadente carnaval paraense não é mera coincidência.

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Onde a lógica não tem lugar

O primeiro clássico evidenciou as diferenças de estilos. O Paissandu, sem um meia-armador de ofício, foi acima de tudo marcação e rapidez na saída para o ataque. Com objetividade e disciplina, garantiu a vitória. Operário, investiu na transpiração e se deu bem.

O Remo, com dois armadores especialistas, concentrou suas apostas em jogadas triangulares e tentativas de ir à linha de fundo. Não fez nenhuma coisa nem outra, principalmente porque não foi capaz de superar o bloqueio adversário e nem teve inspiração para achar alternativas.

Os remistas perderam o jogo no primeiro tempo. Frágil na marcação, cometeu falhas muitíssimo bem aproveitadas pelo Papão. No tempo final, veio a reação, com força e intensidade, mas sem o apuro necessário para garantir a igualdade no placar.

Espera-se hoje uma espécie de tira-teima. Os times evoluíram depois daquele confronto e hoje se conhecem mais. Pela ordem natural das coisas, a partida tende a ser equilibrada e o empate surge como resultado mais provável.

Como a tensão é parte obrigatória do duelo, os erros terminam por aparecer. E aí sempre prevalece quem está mais organizado. A vantagem na decisão pertence ao Remo, o que dá a Charles Guerreiro a opção de esperar. Já o Paissandu terá que ir ao ataque para reverter a situação. É o que diz a lógica, mas quem disse que futebol precisa de lógica para sobreviver?

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Bola na Torre

O clássico será jogado à tarde, mas o terceiro tempo será no Bola na Torre (RBATV), depois do Pânico na Band. Guilherme Guerreiro comanda o programa, ao lado de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 16)

121 comentários em “Como dois e dois são cinco

  1. Penso, Gerson e amigos, que o Paysandu tem 180 minutos pra fazer 1 x 0 e levar o título.. Ao Remo, esse sim, tem que aproveitar os desfalques do Paysandu, hoje, e aumentar essa diferença… Aliás, se não aumentar hoje, não aumenta mais… Papão, vai com 3 sérios desfalques( Matheus, Ricardo Capanema e Zé Antônio) Ou seja, sem os 2 melhores marcadores do time e sem seu melhor goleiro… Aí é difícil…
    Torcedor do Papão, que se segure ao técnico que tem e ao técnico(s) que o Remo não tem, e que os jogadores possam fazer tudo que o Mazola pedir, com eficiência. Ao torcedor do Remo, resta o time mostrar toda aquela disposição do jogo passado e não deixar o Paysandu impor seu jogo, caso contrário, poderá contar com um insucesso, no Mangueirão…
    Resumindo o meu ponto de vista sobre o clássico:

    1- Se o Paysandu não impuser seu jogo e o Remo jogar com aquela vontade da última partida contra o PFC, o Remo sai do Mangueirão como vencedor;
    2- Se o Paysandu conseguir impor seu jogo, um abraço.. Sai do mangueirão com a vitória, mesmo com os desfalques.

    É a minha opinião.

    Provável PAYSANDU: Paulo Rafael, Djalma, Charles, João Paulo(Pablo) e Airton. Vanderson, Augusto Recife, Bruninho, Yago e Héverton. Lima
    Banco:João Gabriel, Pablo(João Paulo), Murilo, Líneker, Héliton, Dennis e Leandro Carvalho

    Provável REMO: Fabiano, Levy, Max Lellis, Rogélio e Alex Ruan(Rodrigo Fernandes). Dadá(Ilaílson), Jhonatan, Ratinho e Eduardo Ramos. Thiago Potyguar e Leandrão
    Banco:Até agora, não divulgado

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  2. Meu filho de um ano e oito meses me perguntou e eu não soube responder.

    Papai, se os petistas arrecadam tanto dinheiro honestamente em tão pouco tempo, por que eles se envolveram em corrupção?

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  3. Já que o assunto é futebol e carnaval. Mutatis mutantis, como diria um grande jurista aqui do Ver-o-Peso. O Paysandu estaria para o Rancho não Posso Me Amofinar e o Remo para o Arco Iris…

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  4. Se o futebol paraense tem um nível ruim, então o que dizer do time do Náutico de Roraima? A credito que o nosso nível não é tão ruim quanto pregam. Precisamos de mais organização e estrutura fora dos gramados, mas temos talentos suficiente que não deixam a desejar a maioria dos clubes brasileiros da série B, Precisamos acabar com esse complexo de Gabriela. Não vamos ser sempre assim. Otimismo.

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  5. Instaurou-se a divergência aqui no Veropa, um colega que é de Macapá, disse que na cidade Capital do Meio do Mundo, o Paysandu seria o Unidos da Xexênia e o Clube do Remo, Unidos do Pau Grande!

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  6. Rosivan, nosso nível é melhor que os da região norte. Semelhantes a alguns da região nordeste, talvez até um pouco acima. E abaixo dos grandes centros do Sul e Sudeste e, também, dos grandes do Nordeste. Mas temos condições de crescer, pois futebol só termina quando se perder o torcedor, para não perder o torcedor precisamos de infra-estrutura, tal qual nosso estado.

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  7. Gerson, os campeonatos estaduais em todo o Brasil são deficitários. Isso não é exclusividade do Pará.

    Concordo com sua comparação, futebol x carnaval, vale dizer que o futebol paraense está agonizando e a tão propagada interiorização veio as três porradas, com palcos horrorosos e clubes de prefeituras (vale dizer que isso é a cara do Brasil).

    Penso que não é hora de caçar as bruxas (gostei do seu texto exatamente por trazer todos os envolvidos e não apenas dirigentes) é hora de reorganizar, romper com a federação e montar uma liga independente a fim de fortalecer o futebol.

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  8. Certamente que não teremos a grana do Sudeste, mas podemos ter melhor organização. A Copa Verde é uma alternativa que precisa ser valorizada. Espero que o Remo suba logo para a C, assim a Copa Verde será ainda mais credenciada ao sucesso, sendo o centro das atenções. Nosso futebol, pela torcida paraense, precisa mostrar sua cara e seu valor no gramado, pois fofa dele já somos respeitados.

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  9. Além dos semáforos, alguns trechos de vias deveriam ser terminantemente proibido qualquer tipo de estacionamento, por exemplo, na Avenida Duque de Caxias entre a José Malcher e Antonio Barreto, e na Antonio Barreto, entre a Duque de Caxias e Alcindo Cacela.

    Outra questão que não parece ter lógica, são os retornos da Duque de Caxias que são próximos dos semáforos. Quando o sinal está fechado e alguém quer somente dar o retorno na via, tem que aguardar o sinal abrir porque geralmente tem carro na frente que impede dar o retorno, bastaria ou mudar de local o retorno ou recuar o meio fio.

    Ainda sobre o trânsito, incrível como a sinalização poderia ser melhor aproveitada, vejam que a sinalização horizontal indicando alguma curva ou vire a direita ou vire a esquerda, é feita de forma tão pequena e tão em cima do cruzamento que pouco educa o motorista, por que não aumentam as setas e não pintam na pista com maior antecedência?

    Pra finalizar, há os motoristas burros, que adoram fechar cruzamento e outros que insistem em parar em fila dupla.

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  10. Entrei no site da remostore pra comprar a camisa oficial do Remo, considerada uma das mais lindas do planeta e não tem pra venda. Solicitaram o meu e.mail pra avisar quando estiver disponível. Aproveito para elogiar o site do Remo, está muito bom, parabéns!

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  11. Gerson,como falei a vc domingo passado,estou em ALTAMIRA,e assim que finda o panico na TV a RBA local daqui sai do ar,e nos Belenenses que queremos assistir o bola na torre,ficamos chupando o dedo…Pergundo a vc,foi sanado esse problema aqui de Altamira?
    O primeiro classico foi assim,domingo passado foi assim e espero que hoje a tv local libere o bola na torre…Brigadão meu amigo,saudades de Belém.

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  12. Bomba! Lima vai ser intimado hoje durante o jogo de hoje para comparecer no Tribunal do Juri de Joinville, onde está respondendo pelo crime de aborto! Oficial de Justiça recebeu a Carta Precatória na Sexta e resolveu citar o réu hoje antes de entrar em campo.

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  13. Alô Gerson , por favor me confirme se essa ofensa cruel ao profissional Dinho Menezes pelo Pirão é verdade. Não estou sabendo de nada e não quero ser injusto com ninguém e tecer comentários precipitados

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  14. Sabemos que o futebol do Norte só ainda é falado porque o Paysandú ainda disputa a série C, queiram ou não, ainda é o único clube do Norte do Brasil que é bem visto nos demais centros.
    O Remo fica apenas no estadual porque Copa do Brasil com as atuais modificações ficou no perfil dos times do Sul e Sudeste, e agora com o surgimento da Copa Verde tem a chance de modificar sua história.
    E a pergunta que faço aos amigos do blog é se o Remo já está na série D pois alguns amigos falam na subida do time para a série C como se a vaga da quarta divisão nacional pertencesse ao time da Antônio Baena. Tudo bem que não vejo concorrente ao escrete azulino neste ano, mas daí achar que “a Inês está morta”, é subestimar demais participantes.
    Meu placar para hoje: Paysandú 3 x 0 Remo!

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  15. Manoel Lima quem está em eterno pesadelo não é o time do Paysandú ou você quer dizer que o Remo disputa alguma divisão nacional todos os anos? Pelo que eu saiba o teu time vive a seis anos lutando por uma vaga na quarta divisão nacional e no estadual não ganha nada durante o mesmo período!
    O Paysandú nestes cinco anos foi campeão paraense três vezes, o Independente uma e o Cametá outra e o resto não precisamos nem falar porque é chover no molhado!

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  16. Charles Guerreiro disse que só sai do mangueirão com uma vitória. Arrumem um colchão pro CG que ele vai dormir no mangueirão hoje. Vai ser uma lavada! Paysandu 4 x 0 Remo.

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  17. ESCALAÇÕES:

    PAYSANDU: Paulo Rafael, Charles, João Paulo e Pablo. Djalma, Augusto Recife, Bruninho, Heverton e Airton. Yago e Lima

    Técnico: Mazola Jr.

    Banco: João Gabriel, Murilo, Líneker, Héliton, Dennis e Leandro Carvalho

    REMO: Fabiano, Levy, Rogélio, Max Lelis e Alex Ruan. Dadá, Ilaílson, Jhonatan e Eduardo Ramos. Thiago Potyguar e Leandrão.

    Técnico: Charles Guerreiro

    Banco: Maicky Douglas, Diogo Silva, Rodrigo Fernandes, Athos, Ratinho, Val Barreto, Leandro Cearense e Zé Soares

    Árbitro: Francisco Carlos do Nascimento – AL

    Aux.1: Alessandro Rocha Matos – BA
    Aux.2: Bruno Boschilia – PR

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    1. Jogo muito equilibrado até aqui, duas boas chances para cada lado. Heverton quase fez em 2 ocasiões, Leandrão e Val Barreto desperdiçaram as oportunidades azulinas. Ilaílson é a grande surpresa no meio-campo, desdobrando-se na marcação de Heverton e não permitindo que o jogo chegue até Lima.

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    1. Problemas com conexão novamente aqui no Mangueirão impossibilitaram fazer a postagem dos comentários antes da partida. Queiram desculpar, amigos baluartes.

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  18. Boa tarde a todos.
    Jogo muito disputado, com pequena vantagem do Paysandu, pois chega de maneira mais organizada. Remo na base do chutão pra frente, campo não ajuda.

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  19. Clube do Remo jogando muito bem taticamente, excelente atitude do CG em colocar o Ilailson, joga muito, se fosse técnico de fora não faria isso. Grande jogo! Vamos leãaaaaaaaaaaaaaaaaaoooooooooooo!

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