Por Cláudio Santos

Nosso segundo Bate-Papo é com Vágner Benazzi, técnico experiente, 59 anos. Passou por muitos clubes do futebol brasileiro, como Bragantino, Portuguesa-SP, Fortaleza, Figueirense e Paysandu, entre outros. É conhecido como “rei do acesso” por ter levado muitos clubes a esse feito, principalmente em São Paulo, onde conquistou vários títulos nas divisões A2, A3, B1. Foi campeão e vice da Série B, com Gama e Figueirense, respectivamente; vice-campeão da Série C com o Marília-SP. Em 2007, ficou na 3ª posição no Brasileiro da Série B com a Portuguesa. Benazzi chegou a ser sondado pelo Remo para assumir o time no Parazão deste ano, mas revelou que acabou de firmar contrato com o Comercial-SP para disputar a Série A1 do Paulista.
1 – Qual o tempo necessário para um técnico realizar seu trabalho num clube de futebol e conseguir seus objetivos. Isso, claro, com condições de trabalho?
Não existe uma regra e nem uma fórmula para um técnico realizar um bom trabalho. Para conseguir alcançar os objetivos, é importante que o técnico tenha um bom grupo, formado por 15 – 16 jogadores de mesmo nível, infraestrutura completa para os jogadores se prepararem fisicamente, nutricionista, médico, preparador físico, auxiliares técnicos e boas condições de treinamento. Com estas condições para atuar o técnico consegue desenvolver um bom trabalho. É evidente que o tempo conta muito, quando se inicia um projeto do zero, o resultado tem que ser pensado a médio-longo prazo. Não se constrói um time vencedor em 2 meses.
2 – Qual a maior dificuldade que encontrou no Paysandu?
Não enfrentei muitas dificuldades. Quando assumi o time, havia alguns jogadores machucados e outros fora de forma. Tivemos que desenvolver um plano emergencial para conseguir superar as dificuldades e os jogadores entenderam o desafio de nossa missão.
3 – Teve problema com algum jogador do elenco do Papão?
Eu procuro sempre focar no trabalho e no objetivo a ser conquistado. Gosto de jogadores que assimilam o meu estilo e que, assim como eu, estejam focados. Não tive nenhum problema com jogador do elenco, trato o assunto de forma direta, gosto de atleta que tenha garra, força de vontade. Quem está empenhado em enfrentar as dificuldades junto comigo será sempre bem-vindo.
4- Vandick e sua diretoria deram todas as condições para que o senhor realizasse seu trabalho?
Sim, eles sempre estiveram presentes e prontos para atender as necessidades da comissão técnica.
5 – O sr. quebrou alguns tabus, como vencer fora de casa, conseguir 2 vitórias seguidas, coisa que os outros técnicos que passaram pelo Paysandu na Série B 2013 não haviam conseguido. O que deu errado, até culminar com o rebaixamento do Paysandu? Houve falta de comprometimento do grupo de jogadores ou de parte deles?
Como eu disse, nós assumimos um compromisso com os jogadores, procuramos injetar força e mostrar para eles que eram capazes de se superar e alcançar as vitórias. Todos estavam comprometidos, tanto que conseguimos quebrar alguns tabus. O resultado em 2013 foi o reflexo do que foi realizado antes de minha chegada ao clube.
6 – Em uma entrevista o sr. disse: “Quem fazia confusão já foi embora. Quem era só blá blá blá, papo furado… já tinha ido embora”. Deu pra perceber que o sr. se referia ao Iarley, que tinha acabado de deixar o clube. Por que?
Não estava me referindo a nenhum jogador específico. Como digo, quero do meu lado aquele que briga por mim e pelos companheiros, que vai até a última consequência para atingir um objetivo.
7 – Jogador derruba técnico?
Se o grupo não estiver comprometido e acreditar em seu comandante, é mais fácil dispensar uma pessoa do que o time inteiro.
8 – Como o sr. recebeu a equipe das mãos do técnico Arthurzinho?
Eu não falo a respeito do trabalho de outros técnicos. O Paysandu vinha de resultados negativos e precisava acreditar em seu potencial. Trabalhamos duro durante todos os períodos até fazer o elenco acreditar e reencontrar a vitória.
9 – Técnico Arturzinho, seu antecessor, saiu dizendo que nem Guardiola daria jeito no Paysandu, pois o problema não era técnico. O sr. viu desse jeito, também?
Se eu não acreditasse no potencial do time eu não teria aceitado a proposta. Já enfrentei muitos desafios e isso faz parte da minha carreira.
10 – Existia aquela famosa “panelinha” de alguns jogadores, para rebaixar o clube?
Se existia eu não tive conhecimento. Não perco tempo do meu trabalho para administrar “panelas”. Deixo claro sempre em minha chegada aos clubes que quem não estiver contente deve conversar comigo e ir procurar algo melhor. Do meu lado eu quero sempre quem está comprometido.

11 – Dizem que técnicos experientes como o sr. não dão mais certo no futebol paraense. Sempre falo que por aqui se faz o contrário, ou seja: dá-se tempo a um técnico local (às vezes, até 7 meses) e quando a lambança está concretizada, só aí o bom técnico é lembrado, para chegar e comandar um grupo que ele não formou. É contratado como salvador dos erros dos dirigentes. Se salvar, é bom, caso contrário… É por aí, professor?
O técnico precisa de liberdade para montar o seu elenco com as peças que acredita e que sabe que vão se encaixar. É sempre muito mais complicado arrumar algo que está indo mal em um curto espaço de tempo do que começar do zero. Além disso, sai muito mais caro para o clube.
12 – Pelo que o sr. observou houve erro no início da preparação física e na montagem do elenco do Paysandu?
Como não sou preparador físico fica difícil de analisar. Eu acredito nos profissionais de minha comissão e quando chegamos ao clube fui informado que a situação não era das melhores. Quando isso acontece, o técnico tem que deixar de dar treino tático e montar a equipe para a realização de um trabalho de preparação física para que os jogadores consigam aguentar a maratona de jogos.

13 – No seu trabalho, o senhor prioriza: coletivos ou treinos táticos? Por quê?
Os dois possuem grande importância. O coletivo é para dar ritmo de jogo e colocar em prática o que foi realizado no treino tático. Já o tático é fundamental para armar o posicionamento do time em campo e armar as principais jogadas, contra-ataques e etc.
14 – Quando o sr. chegou ao Paysandu, indicou o Zulu, atacante do Juventude. Faltou um pouco mais de empenho da diretoria para lhe dar esse jogador?
A diretoria foi atrás do jogador, mas o negócio não deu certo. Tenho certeza de que eles esgotaram todas as chances para contratá-lo. A diretoria do Paysandu sempre foi muito honesta comigo.
15 – Quando assumiu o Paysandu, o sr. disse que encontrou um grupo desunido. Como assim?
Os jogadores não estavam focados em um objetivo único e a consequência disso é a falta de confiança em atingir os resultados. Trabalhamos muito firme essas questões para trazer a autoestima de volta ao grupo.
16 – Gostaria que o sr. definisse 2 jogadores do elenco do Paysandu, em relação a comprometimento e profissionalismo, com o clube, durante sua passagem pelo clube: Iarley e Eduardo Ramos.
Ambos procuraram ajudar o elenco e demais jogadores. O Iarley achou melhor não continuar no clube e eu respeitei a posição dele. O Eduardo Ramos era o nosso homem de criação, lutou e foi até o fim com o grupo.
17 – Qual jogador do Paysandu, do elenco de 2013, o sr. não levaria para um time em que estivesse trabalhando?
Não levo comigo jogadores descompromissados e pouco interessados em trabalhar em grupo. Quem me conhece e já trabalhou comigo, sabe: se está disposto a cooperar e dar o sangue pelo companheiro, sempre terá chance de ser aproveitado no futuro.
18 – Considero o sr. um dos melhores técnicos brasileiros. O que faltou para treinar um time de ponta, como Cruzeiro, Grêmio, Corinthians, Flamengo?
Obrigado pelo elogio. Eu já passei por equipes de grande importância no cenário nacional e fiz bons trabalhos. Talvez o que tenha faltado seja um convite, constantemente sou chamado para assumir clubes por todo o Brasil, e não posso descartar a chance de trabalhar em grandes equipes. Para assumir um time de grande importância é preciso ter bagagem, uma história de realizações dentro do futebol e isso eu tenho. Estou sempre pronto para assumir grandes desafios.
19 – Existe técnico de série A, B, C, D… de pelada? Todo técnico tem seu limite?
Não acredito que a profissão de técnico deve ser rotulada. Cada técnico tem a sua importância dentro de seu trabalho e é preciso saber que ninguém chega ao sucesso sem passar por algumas etapas. No inicio de minha carreira tive que encarar divisões menores até chegar à elite do futebol nacional.
20 – O que falta para o futebol paraense crescer no cenário brasileiro?
Se organizar ainda mais para fortalecer o futebol do estado. Os times são rivais dentro de campo, mas fora dele devem conversar para pensar como um todo, se espelhar em grandes exemplos e buscar soluções que vão beneficiar a todos.
Obs.: Neste mês, o focalizado foi Vágner Benazzi por ser um profissional conceituado e conhecedor do futebol paraense. Pode não ter dado certo no Paysandu, mas sabemos que ele foi o menos culpado em tudo que aconteceu. Espero que os amigos tenham gostado. Em março tem mais. Teremos um técnico que já passou pelo Remo. Os amigos certamente irão gostar.
(Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)