Paragominas x Paissandu (comentários on-line)

Campeonato Paraense 2014 – Semifinais do turno.

Paragominas x Paissandu – Arena Verde, Paragominas.

Rádio Clube _ IBOPE _  Sábado e Domingo _ Tablóide

Na Rádio Clube, Carlos Gaia narra, Carlos Castilho comenta. Reportagem – Dinho Menezes.

Leão Azul, 109 anos de glórias!

Remo 1972

Um dos mais tradicionais e queridos clubes do futebol brasileiro, o Remo festeja hoje seus 109 anos de fundação. A agremiação surgiu no dia 5 de fevereiro de 1905 sob a denominação de Grupo do Remo, a partir de uma dissidência do Sport Club do Pará. Em 1914, seria rebatizado como Clube do Remo, seu nome definitivo. Conhecido popularmente como Leão Azul, em referência ao mascote e à cor oficial (azul marinho). Sete baluartes (Victor Engelhard, Raul Engelhard, José Henrique Danin, Eduardo Cruz, Vasco Abreu, Eugênio Soares e Narciso Borges) foram os idealizadores do novo clube, inicialmente voltado apenas para a disputa de regatas. Com o apoio de outros desportistas de Belém, fundaram o Grupo do Remo, por sugestão de Engelhard, que era admirador do Rowing, um clube inglês que conheceu durante estudos na Europa. 

machado-saltao-marcalA estrutura legal foi consolidada com a publicação dos estatutos no Diário Oficial do Estado, ano XV, nº 4.049, de 0 de junho de 1905. Do documento constavam os nomes dos 20 fundadores: José Henrique Danin, Raul Engelhard, Roberto Figueiredo, Antonio La Roque Andrade, Victor Engelhard, Raimundo Oliveira da Paz, Antonio Borges, Arnaldo R. de Andrade, Manoel C. Pereira de Souza, Ernestino Almeida, Alfredo Vale, José D. Gomes de Castro, José Maria Pinheiro, Luiz Rebelo de Andrade, Manoel José Tavares, Basílio Paes, Palmério Pinto, Eurico Pacheco Borges, Narciso Borges (1º presidente do clube) e Heliodoro de Brito.

A data de 15 de agosto foi estabelecida para a inauguração oficial do novo clube, como homenagem à adesão do Pará à Independência. No dia 1º de outubro, o Grupo do Remo promoveu a inauguração oficial da sede náutica, localizada à rua Siqueira Mendes, na Cidade Velha, às margens da baía do Guajará. A sede foi alugada à Intendência Municipal e, na mesma ocasião, foi efetuado o batismo e lançamento ao mar da primeira embarcação azulina, a baleeira denominada “Tibiriçá”.

grupo-do-remo-agosto-1911Personagem símbolo da reorganização da agremiação, em 15 de agosto de 1911, Cândido Jucá é lembrado até hoje como exemplo de desportista elegante, de boas maneiras e extremamente dedicado à causa azulina. “Seu” Jucá, como era carinhosamente tratado, notabilizou-se não só como atleta de remo, mas por integrar o grupo de nomes históricos dos primórdios do Leão Azul. Continuou a apoiar e a frequentar a vida do clube até o final dos anos 1970.

Em 1913, foi criado o departamento de futebol e a primeira partida ocorreu no campo da praça Floriano Peixoto, em São Brás, contra o Guarany, no dia 21 de abril. O resultado foi um empate em 0 a 0. Primeira escalação azulina: Bernardino; Valrreman e Eurico; Dudu, Aimeé e Mamede; Galdino, Mário, Antonico, Dudu 2º e Rubilar. Uma segunda partida foi disputada no dia 13 de maio, com vitória remista por 4 a 1. Coube ao atacante Rubilar, um dos fundadores do Grupo do Remo, a autoria do primeiro gol.

Clube_do_RemoDepois de inscrito no campeonato da Liga Paraense, o Remo sagrou-se vitorioso depois de 5 jogos, com 4 vitórias e 1 empate. O Remo ainda viria a conquistar os próximos seis campeonatos, sagrando-se heptacampeão paraense. Na célebre campanha dos sete títulos (1913/1919), o clube fez 51 jogos, com 43 vitórias, seis empates e somente uma derrota, para a União Sportiva, em 1916. Dos sete títulos, seis foram vencidos de forma invicta.

O famoso hino do Clube do Remo nasceu de uma adaptação feita pelo poeta Antonio Tavernard da marcha carnavalesca criada por Emílio Albim para o bloco Cadetes Azulinos, criado em 1933 e que era formado por atletas, associados, dirigentes e torcedores, que percorriam as ruas de Belém durante a quadra momesca. Tavernard trocou 30 palavras da marcha para criar o Hino dos Atletas Azulinos, publicado pela primeira vez no jornal O Estado do Pará, edição de 4 de novembro de 1941.

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Três anos depois, foi escolhido o mascote oficial do Remo por iniciativa do jornalista Edgard Proença, fundador da Rádio Clube do Pará, a quarta emissora de rádio do país. O Remo havia acabado de derrotar o São Cristovão (RJ) por 1 a 0, no dia 30 de janeiro de 1944, e o jornalista referiu-se ao triunfo da seguinte forma no jornal “O Estado do Pará”:

“Como um verdadeiro Leão Azul de garras aduncas, o Clube do Remo foi a própria alma da cidade”. 

A partir daí, o leão se tornaria mascote oficial do clube, adotado por seus torcedores até hoje. Uma estátua foi instalada anos depois junto ao gramado do estádio Evandro Almeida, onde permanece até hoje.

imagesAo longo de sua história, o Remo acumulou inúmeras conquistas. Foi campeão brasileiro da Série C em 2005, conquistou um torneio Norte-Nordeste e 3 Torneios do Norte. Foi 42 vezes campeão estadual. Tem 14 participações na Série A do Campeonato Brasileiro desde 1971, duas participações na antiga Taça Brasil, 21 na Série B e 22 vezes na Copa do Brasil – tendo sido semifinalista em 1991, até hoje a melhor performance de um clube nortista na competição. 

Grandes jogadores vestiram a camisa azulina ao longo da história, como Mesquita, China, Rubilota, Nelinho, Jorge Baleia, Artur, Aderson, Neves, Alcino, Casemiro, François, Bira, Belterra, Darinta, Jorge de Castro, Cuca, Caíto, Peri, Dico, Alemão, Geovanni, Jambo, Rosemiro, Aranha, Augusto, Copeu, Luiz Miller, Amoroso, Ageu Sabiá, Júlio César Uri Gheller, Luciano Viana, Clemer, Agnaldo, Ruy Azevedo, Alberto, Marinho, Edil, Roberto Diabo Louro, Elias, Mendes, Edson Cimento, Pagani, Mego, Biro-Biro, Alex Dias, Marajó, Dadinho, Assis, Landu e Mauricinho, entre outros.  

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Dentre as equipes da Região Norte, detém uma das maiores e mais apaixonadas torcidas, conforme atestam pesquisas do Ibope e do jornal Lance! Na Série C de 2005, estabeleceu um recorde nacional nas três divisões, com média superior a 34 mil torcedores por jogo. Nos recentes campeonatos paraenses, têm sido recordista de público e arrecadação.  

Conselho técnico da CBF exclui Portuguesa

Do Blog do Perrone

A CBF decidiu convocar o Conselho Técnico do Campeonato Brasileiro da Série A sem a presença da Portuguesa e com o Fluminense. O encontro será nesta quinta, no Rio, com o objetivo de discutir detalhes do campeonato. A exclusão da Portuguesa contraria decisão da 42ª Vara Cível de São Paulo que devolve ao clube os quatro pontos retirados pelo STJD como punição pela escalação de Héverton, suspenso, na última rodada do Brasileiro do ano passado. O castigo rebaixou a Lusa. Procurado pelo blog, Carlos Miguel Aidar, advogado da CBF, confirmou que a entidade decidiu chamar o Fluminense e deixar a Portuguesa de fora da reunião.

“Existe decisão no Rio que mantém o Fluminense na primeira divisão. E derrubamos três liminares que davam razão para a Portuguesa em São Paulo. Estamos trabalhando para derrubar as outras. Agora, temos que seguir uma decisão ou outra. A CBF não poderia chamar os dois porque a reunião teria 21 clubes para um campeonato de 20. Depois ela poderia ser considerada nula. A decisão da 42ª Vara de São Paulo é tão absurda que pune a CBF em R$ 500 mil por dia se ela cumprir o que manda a Justiça do Rio”, declarou Aidar.

Ele não vê risco de a confederação ser punida pela Justiça por não incluir a Portuguesa no conselho.

Em tese, o conselho pode discutir uma nova fórmula para o campeonato, a fim de acabar com o impasse.  O estatuto da CBF diz que ele tem, entre outras, a incumbência de fazer sugestões sobre a forma de disputa da competição. A entidade, no entanto, nega a possibilidade de virar a mesa para acomodar Lusa e Fluminense.

Segundo Aidar, a tabela do Nacional precisa ser divulgada até o dia 17 de fevereiro para não ferir o Estatuto do Torcedor.

Futebol fora-da-lei

Por Humberto Miranda (do Blog do Juca Kfouri)

O caso da “invasão” dos torcedores ao CT do Corinthians sintetiza bem o problema do futebol brasileiro como organização, ou seja, a ausência de leis republicanas formais e de instituições que as levem à prática. É um mundo marginal.

Quanto mais se mexe, mas fica evidente que o mundo do futebol é um mundo apartado. Não se submete à Constituição Federal promulgada em 1988 e, acho, nem à primeira constituição republicana, de 1891, redigida por um político liberal, Ruy Barbosa de Oliveira.

Veja você: os jogadores do Bom Senso FC juntamente com o Sindicato vão pedir licença para decretar greve. Senti-me no Brasil Império.

Império da Cartolagem de José Maria Marin I, nosso Old-Infante. A falta de conhecimento de leis, a falta de cidadania e a falta de participação política do coletivo de jogadores (o sentido de classe) marcam a vida dos profissionais do futebol, embora eu elogie e admita que o Bom Senso FC seja a expressão coletiva do “sentimento de classe”, noção atribuída ao historiador E. P. Thompson: os trabalhadores, ao vivenciarem essa experiência de luta comum, adquirem consciência de classe, que, nesse caso, não é algo abstrato. Mas não é só isso.

O futebol é um mundo das grandes transações financeiras, dos super salários, das arenas padrão-Fifa e ao mesmo tempo da superexploração, do coronelismo paternalista, de existência de trabalho escravo e maus tratos.

Vive à margem das leis e a sua marginalidade penetra nas instâncias legais.

O ilegal e o ilícito convivem com o legal e lícito, pois quando são eleitos ex-jogadores e dirigentes a deputado, vereador etc. espera-se que contribuam para elevar a cidadania do mundo futebolístico em especial, mas serve, em boa medida, para o oposto: aumenta e reitera-se, em geral, as ilicitudes.

Reforçam-se também o próprio sentido marginal das políticas estatais.

É impressionante como o cotidiano do futebol como organização é avesso à vida cidadã. É mundo só se oficializa e obriga-se a sair da marginalidade quando tem dívidas para serem perdoadas. Só aí que se tem alguma pressão para reduzir o poder de barganha da cartolagem frente à esfera pública. Isso acontece na América e na Europa, não é privilégio brasileiro, mas aqui a sua marginalidade é mais “institucionalizada” (é a regra do jogo).

Dirigente de confederação, de federações, de clubes… ministros… secretários…. de esporte, ninguém assume nada.

É um mundo marginal socialmente consentido e os meios de comunicação jogam um papel muito grande na massificação desse consenso quando são poucos os seus críticos.

E quando eles existem são logo tratados como ameaça e sujeitos a processos judiciais até que venham a falir financeiramente ou, em casos extremos, são calados à bala, como acontece no Pará, no Maranhão e outros estados com menor visibilidade.

A imprensa livre ajuda a protegê-lo nesse caso. Até o Estatuto do Torcedor, que deveria ser um guia fundamental para melhorar as vida futebolística no Brasil, torna-se um estorvo.

Isto porque o mundo marginal (em relação a leis) é propenso à formação de grupos de interesse de todo tipo, máfias, facções de torcida, sindicatos de faxada, familismo amoral (ou oligarquias), empresários postiços, agentes cuja conduta não tem limites perante o estado, enfim, um mundo fragmentado onde não se consegue separar torcedor de marginal, lícito de ilícito; tem com códigos de conduta e regras próprias feitos sob medida para atender ao jogo político paroquial das facções, como é o STJD.

É também um mundo economicamente marginal com regras e condutas obscuras, onde a vida familiar e futebolística é misturada e apostada num contrato (Neynar), é um mundo ao mesmo tempo rico e miserável, que atrai os socialmente deserdados e os “Eike Maravilha” endinheirados, onde se compra voto descaradamente à despeito da rigidez do estatuto eleitoral do TSE, das recomendações de TCU e TCEs, de interpretações do STF e decisões do STJ.

A vida pública tem a cidadania cada ver mais tutelada e a vida privada é cada vez mais promíscua. Num, a cidadania é cada vez mais judicializada; noutro, pode-se tudo. Qual a diferença afinal entre Paulo Maluf e Marco Polo Del Nero? Se cabe algum bom senso nesse mundo do futebol é o de torná-lo submisso às leis do país, às regras democráticas (o exemplo do EC Bahia é uma exceção que pode ter vida curta) e ao respeito à cidadania (o Estatuto do Torcedor obedecido). Isso está explícito.

As coisas mudam muito lentamente, mas os problemas ganham uma cumulatividade explosiva. A invasão do CT do Corinthians pareceu mais um consentimento do que uma ação marginal. A PM estava lá.

A mesma PM que entrou na USP baixando o pau, supostamente, em “estudante maconheiro”, muda de comportamento no CT do clube de futebol; câmeras são desligadas para se criar a versão oficial ou as inúmeras versões sobre o ocorrido; jogadores, treinadores e dirigentes tratam o direito de greve, que está na Constituição, como anomalia, quando é uma regra do Estado Democrático de Direito!

Isso tudo para dizer que os jogadores podem e devem fazer greve. Só se preocupa em “legalizar” movimento grevista quem vive na marginalidade das leis. Isto é um precedente perigoso para a democracia. Feita a greve, como de praxe, a justiça se manifestará depois de acionada pelos patrões.

Mas nesse mundo de assessores, de diretores disso e daquilo, de agentes desse e daquele… nem sabemos quem é patrão. Ele é uma figura postiça, diluída entre o torcedor, o cidadão e a trapaça política da cartolagem. Uma greve ajudaria a arrancar essas máscaras uma a uma.

O futebol como organização não pode continuar no feudalismo, onde os “donos do futebol” criam as regras, tomam as decisões e julgam as pessoas, que pedem permissão para reclamar.

Os jogadores continuarão servos desse antigo regime? É hora de bater o pênalti da democracia. Afinal, um dia ele ganhou um adjetivo próprio ao ser chamada de corintiana. Olhando daqui, vemos o quanto precisamos dela no sentido geral para o futebol brasileiro.

* Humberto Miranda é professor de Economia da Unicamp.

Azulinos em festa pelos 109 anos de fundação

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Começou oficialmente nesta segunda-feira, 3, a programação de aniversário do Clube do Remo, que no próximo dia 5 completará 109 anos de existência. Durante toda a semana, a sede social do clube na avenida Nazaré será palco de torneios, exposições, festas, celebrações religiosas, jantares e recepção a ídolos do passado. Quase todos os eventos terão entrada gratuita, começando pela exposição “Conheça e viva o Clube do Remo”, reunindo troféus, medalhas, uniformes antigos, vídeos especiais e barcos do departamento náutico. Nesta quarta-feira, 5, acontece a missa em ação de graças pelos 109 anos de fundação da agremiação e jantar especial para 200 convidados, com apresentação da escola de samba Embaixadores Azulinos. Denominado “Jantar do Leão”, o evento terá cobrança de ingressos a R$ 50,00.

Na quinta-feira, serão apresentados os novos uniformes para a temporada, a partir das 19h, seguido da exibição em telão do jogo contra o Cametá, válido pela semifinal do primeiro turno. Na sexta-feira, será realizada a “Noite do Leão”, a partir das 22h, com ingressos a R$ 20,00. No sábado, haverá torneio de natação e apresentação das equipes de nado sincronizado, a partir das 10h. No domingo, haverá o grito de carnaval do Leão e festejos especiais antes da partida com o Cametá, no estádio Jornalista Edgard Proença, às 16h.

O passado é uma parada…

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Douglas Fairbanks segurando Charlie Chaplin na frente da multidão, em Manhattan (Nova York), para promover o filme “Liberty Bonds”. Em 1918. (by History in Pictures) 

Tribuna do torcedor

Lisis Neto (lisis_neto@hotmail.com)

Será que você, por ter meios de comunicação maiores com o Paysandu ou com a empresa Puma, poderia falar sobre a minha tristeza quanto a camisa do Paysandu, não pela camisa, pois ela está realmente linda, mas pelos tamanhos que eles as fazem, infelizmente, torcedores como eu, acima do peso (gordinhos) não tem a possibilidade de utilizar essa camisa, pois o maior tamanho que eles possuem é projetado para magros de barriguinha de chopp (rsrsrsrs). Agora gordinhos como eu que estão bem acima do peso não tem a possibilidade de ter camisas com tamanhos especiais, o único modelo, até hoje, que vi com camisa em tamanhos especiais (GGG e GGGG) foram as camisas da Wilson. Eu resolvi escrever sobre isso, pois tenho certeza que muitas pessoas passam por isso, eu gostaria muito de ter uma camisa do Paysandu, de um tamanho que eu possa usar e me sentir bem, com a camisa do clube que amo! 

Impactos e legados

Por Alberto Reinaldo Reppold Filho (*)

O Brasil é considerado pelos especialistas a nova Meca dos megaeventos esportivos. Em poucos anos, o país saltou da periferia ao centro do cenário esportivo mundial. Nenhuma nação obteve igual sucesso em atrair eventos dessa magnitude em tão curto tempo. No ensaio que segue são destacados alguns impactos e legados dos megaeventos, com especial atenção aos deslocamentos e reassentamentos urbanos e às ações governamentais em ciência, tecnologia e informação na área do esporte.

Por que as cidades se candidataram a sediar a Copa do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos? Quem ganha e quem perde com esses eventos? O que podemos aprender com os eventos esportivos realizados em outros países? Que ensinamentos retiramos da organização dos Jogos Pan-Americanos e da Copa das Confederações? Essas são algumas perguntas a que os estudiosos dos megaeventos esportivos procuram responder.

As respostas não são fáceis. Os megaeventos esportivos são fenômenos complexos e multifacetados, cuja compreensão exige, muitas vezes, que os pesquisadores transcendam os olhares disciplinares e adotem perspectivas multi e interdisciplinares.

Nas últimas duas décadas, os megaeventos esportivos foram estudados por pesquisadores de diferentes disciplinas. São significativas as contribuições da economia, da administração, da geografia e da sociologia. Mais recentemente, especialistas em planejamento urbano, em turismo e meio ambiente ampliaram a compreensão desses eventos.

Atualmente, os estudos multidisciplinares experimentam um crescimento considerável. Nas pesquisas sobre impactos e legados de megaeventos esportivos, é comum pesquisadores de diferentes disciplinas trabalharem de maneira colaborativa, compartilhando ideias e informações, embora mantendo-se dentro dos limites conceituais e metodológicos das suas disciplinas.

As interrogações atuais sobre os impactos socioambientais dos megaeventos esportivos, por exemplo, estão a exigir que os pesquisadores atravessem fronteiras disciplinares em busca de abordagens mais integradoras. Em face desse desafio, a interdisciplinaridade se coloca como uma possibilidade. A característica essencial da interdisciplinaridade é a integração de conceitos, terminologias, métodos e dados em conjuntos mais amplos, favorecendo, assim, uma visão holística do objeto em questão.

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Prós e contras

Até a década de 1980, havia uma convergência de opiniões entre comunidade acadêmica, administradores públicos e investidores privados, de que sediar megaeventos esportivos era um risco financeiro e administrativo para a cidade e para as instituições organizadoras. Essa visão reforçava-se pelos prejuízos financeiros nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, e nos de Montreal, em 1976. Entretanto, os lucros atingidos nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, chamaram a atenção para a possibilidade de esses eventos trazerem benefícios econômicos e sociais para as cidades-sede.

Os estudos sobre megaeventos esportivos demonstram que, quando bem planejados, esses eventos oferecem importantes vantagens para as cidades e os países-sede, deixando como legado instalações esportivas, promovendo estímulo à economia e à construção civil e incrementando o turismo. Esses eventos representaram também um incentivo para melhorias urbanísticas e na infraestrutura. Além disso, a exposição continuada na mídia melhora substancialmente a imagem da cidade, nacional e internacionalmente.

Entretanto, estes estudos deixam também importantes lições que, por seus aspectos negativos, necessitam ser consideradas pelas cidades quando da candidatura e organização de eventos esportivos desta natureza. Sob o ponto de vista da opinião pública, ocorrem críticas de que as candidaturas e a organização dos Jogos não são suficientemente discutidas com a comunidade e que as informações relevantes ficam restritas a pequenas parcelas da população. Além disso, e talvez mais importante, estes estudos têm apontado que as comunidades carentes e com menos capacidade de organização política são as que mais perdem com os megaeventos esportivos.

Alguns exemplos

Os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, são exemplo de planejamento e organização de um megaevento esportivo. Os Jogos foram pensados como forma de realizar alterações profundas na infraestrutura urbana e de transformar a cidade em um centro internacional de turismo e de negócios. Para que isso se efetivasse, houve um enorme investimento de recursos públicos, cerca de 7 bilhões de dólares, bem como um apoio efetivo da população. A cidade até hoje colhe os frutos do evento.

Passados quase 20 anos desde a sua organização, os Jogos Olímpicos de Atlanta, realizados em 1996, fornecem importantes lições para as cidades que pretendem sediar eventos com dimensões similares. No geral, os Jogos trouxeram benefícios para a cidade. Os resultados indicaram que houve um estímulo econômico de curto prazo e de médio prazo. Além disso, o legado em termos de instalações esportivas e de imagem foi significativo. Todavia, o evento não provocou o impacto social esperado, atingindo de maneira negativa a população mais pobre.

A experiência dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, deixou sérias dúvidas sobre a capacidade do país em organizar eventos esportivos de grande magnitude. Mesmo sendo um acontecimento menor quando comparado à Copa do Mundo de Futebol e aos Jogos Olímpicos, o Pan 2007 deixou uma ideia dos desafios a serem enfrentados: gastos acima dos previstos, suspeitas de desvio de recursos e de superfaturamento nas compras, instalações subutilizadas, para mencionar apenas os problemas mais conhecidos do público. Por essa razão, a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, na época recebida com entusiasmo pelas lideranças políticas e esportivas do país, hoje é vista com resistência e ceticismo por uma parcela significativa da população brasileira.

Em resumo, os megaeventos esportivos representam uma oportunidade para fazer alterações na cidade e no país-sede, tanto em infraestrutura, como em projetos sociais. Entretanto, as deficiências de planejamento e organização, entre outros fatores já mencionados, podem transformar esses eventos em um peso para os governos e para a população.

Um ponto crítico

Os deslocamentos e reassentamentos de populações urbanas decorrentes de obras da Copa do Mundo de Futebol e dos Jogos Olímpicos são um dos pontos críticos da realização dos megaeventos esportivos. Aqui é necessário todo cuidado. As pessoas estão nas suas regiões da cidade, levando suas vidas, algumas estabelecidas nesses locais há vários anos. Vivem ali, articuladas com a sua comunidade, seus vizinhos, seus amigos, seu trabalho, seus espaços de lazer. Em razão dos megaeventos, essas pessoas são deslocadas para outras regiões da cidade.

Passam a viver com pessoas que têm tradições, hábitos e histórias de vida, por vezes, completamente diferentes dos seus. As dificuldades de adaptação a essas novas circunstâncias são dramáticas. Os impactos desses deslocamentos, sobretudo em crianças, são similares aos experimentados pelos desabrigados e foragidos de guerras e catástrofes naturais. Dentro de um modelo de cidade que valoriza a cidadania, estas pessoas não podem ser deslocadas para regiões que apresentam condições ainda piores daquelas onde vivem. Um aspecto fundamental é garantir um reassentamento com infraestrutura, em condições adequadas, com acesso à escola, à saúde, ao transporte, aos espaços de esporte e lazer.

Outro ponto a considerar é de que a indenização seja feita de acordo com o valor do imóvel. É importante o aviso prévio e que seja dado o tempo necessário para que as pessoas organizem sua mudança. São muitos os casos em que a legislação é flexibilizada diante da urgência que cerca os megaeventos e as pessoas ficam anos lutando na justiça para garantir os seus direitos. Em áreas pobres, muitas pessoas não detêm a posse dos locais onde moram e a indenização se torna difícil. Há que se garantir o direito dessas pessoas. Existem vários registros de violações neste sentido decorrentes dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo de Futebol.

Por fim, é importante mencionar que estas comunidades, quando percebem que serão atingidas diretamente pelas obras necessárias para a realização dos megaeventos esportivos, já não conseguem se organizar e arregimentar força política para fazer valer os seus direitos.

Ciência, tecnologia e informação na área do esporte

Em ciência, tecnologia e informação esportiva, vários projetos estão em andamento motivados pelos megaeventos que acontecerão no país. O Ministério do Esporte, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), está realizando o Diagnóstico Nacional do Esporte (Diesporte). O projeto vem sendo implementado por uma rede de universidades federais e visa a atender a uma demanda da comunidade esportiva brasileira apresentada nas três conferências nacionais do esporte. O Diesporte apresentará um perfil do praticante de atividade esportiva no país, organizado por sexo, faixa etária, escolaridade, nível socioeconômico, entre outras variáveis. Além disso, fornecerá um conjunto de informações sobre os tipos de atividades esportivas mais praticadas e sobre os motivos, a frequência e os locais dessas práticas. O estudo abrange também o não-praticante, identificando os fatores que inibem a sua participação em atividades esportivas. O projeto prevê também um levantamento da legislação, do financiamento e da infraestrutura esportiva no país. Os resultados do Diesporte servirão para a formulação de políticas públicas, cujo objetivo é a democratização do acesso às atividades esportivas no país. O Diagnóstico pode ser considerado um legado científico, tecnológico e de informação, uma vez que a sua elaboração envolve produção de conhecimento, desenvolvimento de metodologia de coleta e armazenamento de dados, e sistema para a disponibilização de informações para diferentes segmentos do esporte brasileiro.

O Projeto Referências é outra iniciativa do Ministério do Esporte que, em 2016, quando finalizado, deixará um legado para o esporte brasileiro, em especial para as futuras gerações olímpicas e paraolímpicas. O Projeto tem por objetivo realizar um mapeamento das modalidades olímpicas e paraolímpicas no país nos seguintes aspectos: financiamento, modelos de gestão, infraestrutura e equipamentos, recursos humanos (atletas, treinadores, árbitros, gestores e dirigentes), suporte ao atleta, apoio científico e tecnológico ao esporte, programas de identificação de talentos esportivos, participações e desempenho em competições nacionais e internacionais. Os resultados servirão para subsidiar o plano nacional de esporte de alto rendimento. O Projeto exige o desenvolvimento de uma metodologia de mapeamento, com o uso de diferentes tecnologias. A equipe de trabalho é composta por pesquisadores de universidades brasileiras. O Projeto Referências deixará um legado de conhecimento significativo nas diferentes áreas das ciências do esporte.

Existe um legado considerável de conhecimento sobre o planejamento e a organização de megaeventos esportivos, em particular sobre os seus impactos e legados. Nesse sentido, o Ministério do Esporte vem apoiando com recursos financeiros a realização de eventos e publicações sobre o assunto. Em parceria com universidades, sociedades científicas, organizações profissionais e entidades esportivas, importantes documentos foram produzidos. Os estudos mais significativos foram: Atlas do Esporte no Brasil (2005) e Legados de Megaeventos Esportivos (2008). Essas obras contaram com a participação de pesquisadores de instituições do país e do exterior.

Em 2013, o Ministério da Educação e o Ministério do Esporte instituíram um grupo de trabalho interministerial para elaborar o projeto da Universidade do Esporte. Conforme a Portaria Interministerial, a Universidade será “voltada à excelência esportiva e ao esporte de alto rendimento, tendo como referência o legado da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016”. A iniciativa brasileira exige uma análise detalhada da experiência de outros países que possuem instituições congêneres. A Universidade de Esportes de Colônia, na Alemanha, representa o modelo mais bem sucedido desse tipo de instituição universitária. Criada em 1970, tem contribuído de maneira significativa para o ensino e a pesquisa em diferentes áreas das Ciências do Esporte. Com cerca de 5.500 estudantes de graduação e pós-graduação, exige investimentos financeiros de grande porte para manter sua infraestrutura e pessoal. O exemplo mais recente é o da Universidade Olímpica Internacional da Rússia (RIOU), criada na cidade de Sochi, em 2009. A RIOU foi concebida como um legado dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 e tem como objetivo dar formação para ex-atletas e auxiliá-los a construírem uma carreira após deixarem de competir. Trata-se da primeira universidade estabelecida em parceria com o Comitê Olímpico Internacional. Conforme o jornal The Moscow Times a construção da universidade custou 500 milhões de dólares. O Brasil, com mais de 850 cursos de graduação em educação física e com programas de mestrado e doutorado já consolidados, deve pensar com cuidado a criação de uma universidade desse tipo. Uma alternativa menos onerosa e talvez mais eficiente seria buscar uma articulação maior entre as universidades já existentes no país, criando uma rede de ensino e pesquisa. O ensino à distância, da mesma forma que utilizado para outras áreas, pode ser utilizado para a formação de pessoal para o esporte.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também tem promovido ações que podem ser caracterizadas como um legado de conhecimento para o esporte. Em 2012, o XXVI Prêmio Jovem Cientista – cujos objetivos são promover a reflexão e a pesquisa, revelar novos talentos e investir em jovens pesquisadores – teve como tema a Inovação Tecnológica nos Esportes. Entre as linhas de pesquisa propostas aos participantes encontravam-se temas de considerável importância para o esporte no país: gestão esportiva empreendedora e inovadora; tecnologias de comunicação e informação aplicadas aos esportes; materiais sustentáveis, eficientes e duráveis para infraestrutura e edificações esportivas; produtos inovadores em tecnologia e design de vestuários esportivos, entre eles os chamados “tecidos inteligentes”. Neste ano, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia tem com tema: Ciência, Saúde e Esporte. Até o momento, estão previstas 86 ações, no Distrito Federal e em 17 estados.

Considerações finais

A escolha das cidades e dos países como sedes de megaeventos esportivos é geralmente comemorada pelos governantes nacionais e locais como um grande feito. Esses eventos são vistos como oportunidades para investimentos que melhorarão a vida dos seus habitantes. Isso, contudo, nem sempre se confirma na prática. Nem sempre bancar os custos desses eventos é bom negócio.

Esse parece ser o maior desafio do governo brasileiro frente à Copa do Mundo de Futebol e aos Jogos Olímpicos. O volume substancial de recursos públicos envolvidos exige do governo transparência, controle e eficiência quanto ao uso desses recursos. Tal postura será fundamental para que esses eventos tenham impacto positivo e deixem legados de longo prazo para o país.

*Alberto Reinaldo Reppold Filho é diretor da Escola de Educação Física e coordenador do Centro de Estudos Olímpicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em Educação pela Universidade de Leeds, no Reino Unido

Referências bibliográficas – DACOSTA, Lamartine (org.). Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. __________. et al (org.) Legado de Megaeventos Esportivos. Brasília: Ministério do Esporte, 2008.