Uma análise do caso Master

Por Renato Janine Ribeiro (*)

Demorei a ter uma opinião sobre o caso do Banco Master e do ministro Alexandre de Moraes, mas, por tudo que vi até agora, estou convencido do seguinte:

Primeiro, que as acusações a ele expressas por alguns jornalistas, sobretudo do Rio de Janeiro, carecem de base — especialmente depois dos esclarecimentos prestados pela repórter Daniela Lima, que é uma das grandes jornalistas brasileiras.

Segundo, que a comparação entre esse caso e o caso Watergate, sugerida por Pedro Dória (a quem admiro muito como historiador), não se sustenta. No caso Watergate, as denúncias que apareceram na imprensa se confirmaram, e o caso só se tornou exemplar, inclusive com o filme que mostra os dois jovens repórteres que se tornaram heróis da mídia, porque a apuração rigorosa da Justiça comprovou o que havia sido apontado pelos repórteres. Portanto, o que podia ter ficado como mero boato, rumor ou furo de reportagem se tornou verdade testada em juízo — o que está muito longe de acontecer aqui, e por enquanto não há sinais de que vá suceder.

Terceiro ponto: estou convicto de que toda essa divulgação e celeuma em torno disso tem por efeito ocultar o fato de que o principal problema na liquidação do Banco Master não é qualquer envolvimento do ministro Alexandre de Moraes no caso, mas sim o fato de que o governador bolsonarista do Distrito Federal estava prestes a comprar uma péssima mercadoria, usando os supostos ativos do referido banco com dinheiro bom dos brasilienses, numa conta que acabaria sendo espetada em todos os brasileiros. Assim, me parece haver uma tentativa de passar uma conta da extrema-direita para o ministro do Supremo que mais defendeu a democracia nos últimos anos.

Finalmente, se eu estiver errado nisso tudo, peço desculpas — mas duvido que esteja tão errado. E se jornalistas podem fazer insinuações sem ter provas, e até se gabam de não ter necessidade de produzi-las, creio que posso sugerir uma interpretação com os dados que estão disponíveis.

(*) Ex-presidente da SBPC; ex-ministro da Educação (2015); professor de Ética e Filosofia Política na USP

A lenda Maria da Conceição Tavares

Por Tom Cardoso

Minha mãe foi casada cinco vezes. Um jornalista. Um economista. Um baterista do Raul Seixas. Um físico nuclear. Um artista plástico. Na casa do marido economista, conheci a Conceição Tavares. Uma vez por semana, ela chegava, sentava no sofá, acendia um cigarro, pegava o copo de uísque e começava a falar. Pelos cotovelos.

Pra mim, aquela portuga falava chinês. Boiava total.

No verão de 1990 eu tinha 17 anos e ainda cursava a oitava série. Se tinha dificuldades com o bê ao quadrado menos quatro acê, imagina para entender o economês da época.

Uma cena e uma frase naquele sofá nunca saíram da minha cabeça. A Conceição Tavares com o dedo na cara de uma loira dentuça, gritando:

– Você vai é fuder com os pobres!!

– Você vai é fuder com os pobres!!

E um tiozinho de óculos, tentando evitar que a portuga batesse na dentuça.

Muitos anos depois, me dei conta que a dentuça era ninguém menos que a então Ministra Zélia Cardoso de Mello, responsável pelo pacote econômico batizado de Plano Collor – que, entre outras barbaridades, determinou o bloqueio das cadernetas de poupança.

O tiozinho: João Manuel Cardoso de Mello, primo da ministra da Fazenda e cunhado do meu padrasto.

Passaram-se 35 anos.

Fui entrevistar a portuga do sofá para o Valor, no apartamento dela.

E com quem ela falava, por telefone, aos berros?

Fernando Haddad.

“Ô Bonitão, os brasileiros estão morrendo de fome!!! . Déficit zero de cu é rola! ”

Parece história de pescador, mas não é. Desde que comecei na profissão, com 17 anos, presencio momentos assim.

Foi pra mim, num encontro com um amigo em comum, Marcelo Yuka, que Mariele contou pela primeira vez que estava sendo ameaçado de morte por Carlos Bolsonaro, seu colega de Câmara.

Deve ser sorte. Ou azar.

Maria da Conceição Tavares é personagem do meu livro “Vida de Gado – 30 anos pastando no jornalismo”, separado por verbetes de entrevistas que fiz e tentei fazer.

Quem quiser comprar diretamente com o autor é só dar um alô.