A conexão maior do Nação Zumbi com o rock se estabeleceu através da guitarra diferenciada de Lúcio Maia, subestimado instrumentista que moldou o som da banda pernambucana criada por Chico Science. “Um Sonho”, a canção deste Rock na Madrugada, é uma pequena obra-prima composta em homenagem ao próprio Chico, inspirada num sonho que o vocalista e compositor Jorge Du Peixe teve com o amigo e antigo líder do Nação.
Quando o Nação Zumbi passou por Belém no Festival Pissica, no início deste mês, veio junto com várias outras atrações musicais, de diversos gêneros, sem tempo suficiente para passar a limpo o belíssimo repertório de três décadas de estrada. Bem que merecia uma apresentação exclusiva para mostrar do que é capaz, mesmo sem o craque Lúcio Maia, que deixou a banda em 2022.
O Nação Zumbi surgiu em 1991, na periferia de Recife, misturando o pós-punk da banda Loustal com o samba-reggae do bloco Lamento Negro, que pertencia a Chico Science. Com a união de músicos de perfis e influências diferentes, o Nação fundou o movimento manguebeat (um combo dos tambores do maracatu, das levadas do reggae e das guitarras do rock) com os discos “Da Lama ao Caos” e “Afrociberdelia”, firmando-se com trabalhos consistentes com e sem Science, que morreu em 1997.
A balada-rock “Um Sonho” retrata o processo de constante renovação do Nação, sem jamais perder o sotaque pernambucano. Abaixo, um trecho da letra:
Estão comendo o mundo pelas beiradas / Roendo tudo, quase não sobra nada / Respirei fundo achando que ainda começava / Um grito no escuro, um encontro sem hora marcada / Ontem eu tive esse sonho / Nele encontrava com você / Não sei se sonhava o meu sonho / Ou se o sonho que eu sonhava era seu / Um sonho dentro de um sonho / E eu ainda nem sei se acordei / Desse sonho quero imagem e som / Pra saber o que foi que aconteceu.
