POR GERSON NOGUEIRA

O Natal chegou e as notícias não são boas. É inevitável constatar que o golpismo está de pé, mais vivo do que nunca, insistente e perigoso. O Brasil foi sacudido em 8 de janeiro de 2023 por ações violentas de ruptura do processo democrático, com invasão e depredação de prédios dos três poderes da República. A Justiça agiu com presteza e respeito à Constituição, processando e condenando os responsáveis pelos atos golpistas em Brasília.
Foi um trabalho exaustivo, sério e minucioso, que resultou na condenação de generais que detinham cargos importantes no governo de Jair Bolsonaro. Pela primeira vez, militares de alta patente foram julgados e sentenciados ao cumprimento de penas em regime fechado.
O que deveria ser motivo de orgulho pela demonstração de solidez democrática do país está, aos poucos, virando sentimento de preocupação com os persistentes ataques às decisões do Supremo Tribunal Federal contra os golpistas – à frente Bolsonaro e quase todo o primeiro escalação de seu governo, incluindo ministros militares.
Nem mesmo o fato de que o Congresso Nacional foi um dos alvos (junto com o STF e o Palácio do Planalto) da violência dos militantes bolsonaristas sensibilizou a atual composição do parlamento brasileiro quanto à necessidade de respeitar a decisão judicial que colocou na prisão golpistas graúdos e miúdos.
Em manobra urdida com a participação do ex-presidente Michel Temer, ele próprio responsável pelo golpe que depôs a presidente Dilma Rousseff em 2016, sem provas ou acusações consistentes, o Congresso Nacional pôs em marcha o famigerado projeto de lei da dosimetria – palavra técnica que, em português raso, significa anistiar, passar pano para golpistas – com especial preocupação em livrar a cara do líder de toda a tentativa de sublevação, Jair Bolsonaro.
O PL, aprovado furtivamente na Câmara dos Deputados e vergonhosamente acatado pelo Senado, vai para as mãos de Lula, que deixou claro que irá vetar. Não poderia ser outra a sua posição. A anistia é uma autêntica bofetada na Lei, uma agressão à democracia, sob protesto e rejeição da maioria da população brasileira. É, acima de tudo, um convite a novos golpes, fardados ou não.
Em completo descompasso com a missão institucional que receberam nas urnas, deputados e senadores se acovardam e abraçam a via da malandragem, relevando crimes gravíssimos praticados pelo núcleo principal do golpismo, incluindo um insano plano (Punhal Verde-Amarelo) para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Não satisfeitos com a mobilização rasteira junto ao Parlamento, os golpistas de plantão se articulam num movimento que remete à farsa engendrada pela Operação Lava Jato, a mesma que levou Lula injustamente à prisão e pavimentou o caminho para eleger Bolsonaro em 2018.
Através de reportagens veiculadas pelos jornalões do Sudeste, baseadas no manjado truque das fontes fantasmas e sem provas, como ensinou Sérgio Moro e seus cúmplices da “república do Paraná”, o alvo da vez é o ministro Alexandre de Moraes, responsável maior pela apuração e condenação dos crimes de Bolsonaro e seus aliados.
Xandão, como passou a ser popularmente conhecido, é a pedra no sapato do golpismo pelo destemor em defesa da Constituição. É objeto diário do ódio dos militontos que infestam as redes sociais e da fúria dos engravatados que deram sustentação ao bizarro governo Bolsonaro. O ministro já tinha sido peça fundamental no respeito às normas legais quando presidiu a Justiça Eleitoral durante a campanha e a eleição de 2022.
Agora, após o escândalo do banco Master, que gerou um rombo superior a R$ 12 bilhões, e cujo proprietário já se esgueirou da prisão e nem sequer foi julgado, pipocam na mídia hegemônica matérias com insinuações e inconsistências, com o indisfarçado objetivo de demolir a imagem de retidão que Moraes construiu no Supremo.
O jornalismo, em crise no Brasil há décadas, com destaque maior para a constrangedora cumplicidade dos jornalões e redes de TV com a Lava Jato, volta a servir de alavanca para tramoias forjadas nos porões. Os interesses econômicos são postos à frente de qualquer sentido de nação.
A campanha rasa inaugurada nesta semana por reportagem do jornal O Globo cumpre o propósito de desacreditar a Justiça (e Moraes) em benefício de um punhado de gatunos que manipulam dinheiro público, enganam gente inocente e atropelam os ritos constitucionais.
O consolo é que, depois de todas as sujeiras perpetradas por Moro, Deltan & cia., não é mais tão fácil fazer com que pacotes forjados sejam impostos goela abaixo das pessoas. Denúncias precisam ser comprovadas, com provas consistentes, antes que reputações sejam enxovalhadas.
A banda boa e lúcida do Brasil, o que inclui os partidos progressistas, tem que resistir e reagir a esses novos bombardeios tramados pelas elites que dominam os bancos e as bancadas. O que fizeram com Lula lá atrás tentam reproduzir agora contra Xandão porque ambos são obstáculos aos planos de dominação que a direita adiou depois da derrota em 2022.
É preciso estar atento e forte. Os dias de luta não têm fim.
