Papão faz bom jogo, mas perde para o Goiás e segue na zona de rebaixamento

Com boa atuação no 1º tempo, quando teve duas chances de gol – botou uma bola na trave – e equilibrou as ações, o PSC acabou derrotado na tarde deste sábado pelo Goiás e permanece na lanterna da Série B, com 22 pontos. Foi o 10º jogo sem vitória da equipe paraense, que agora depende de um milagre para escapar do rebaixamento – terá que vencer oito dos 11 jogos que restam.

A partida foi disputada no estádio da Serrinha, em Goiânia, valendo pela 27ª rodada. A etapa inicial foi marcada por ataques agudos entre os dois times. Com três zagueiros e a presença de Rossi no lado direito do ataque, o time não permitiu que o Goiás tomasse conta da partida.

Logo aos 13 minutos, Garcez puxou um contra-ataque, se livrou da marcação e chutou na trave esquerda de Tadeu. Aos 20′, o goleiro do Goiás vacilou, mas Garcez furou o cabeceio e desperdiçou a chance. O PSC teve bons momentos, criando situações perigosas na área goiana.

Com apoio da torcida, o Goiás driblou a ausência de oito desfalques e também criou boas oportunidades, através de Rodrigo Andrade, Juninho e Jajá. Nos acréscimos, Garcez cabeceou no canto direito, mas Tadeu saltou e defendeu.

No 2º tempo, o equilíbrio permaneceu, mas o Goiás passou a pressionar com mais intensidade, principalmente com a movimentação de Esli García, Wellington e Jean Carlos na linha de ataque, o que criou dificuldades para o sistema defensivo do PSC.

Quase aos 30 minutos, um chute rasteiro de Maurício Garcez bateu no zagueiro Lucas e o árbitro deu pênalti. Chamado ao VAR, anulou a penalidade, pois a bola tocou no ombro do jogador do Goiás. A partida prosseguiu e, após bela manobra de Juninho pela direita, a bola ficou com Jean Carlos, que chutou rasteiro e marcou o único gol da tarde, aos 41 minutos.

Denunciado pelo VAR, o zagueiro Thalysson foi expulso por agressão, sem bola, ao atacante Esli García. O próximo jogo do PSC será contra o Novorizontino, terça-feira (23), na Curuzu. Com o resultado, o Goiás sobe na tabela e assume a liderança provisória da Série B, com 48 pontos.

A noite é do Inferno Azul

POR GERSON NOGUEIRA

Nunca a participação do torcedor azulino foi tão importante e decisiva nesta Série B como no confronto com o Atlético-GO, neste sábado (20h30), no Baenão. Com 39 pontos e na 7ª colocação, o Remo precisa vencer para continuar no pelotão de frente. Os três pontos não garantem um lugar no G4, mas mantêm vivo o sonho do acesso.

Mudanças pontuais no meio-campo e no ataque devem turbinar as ações ofensivas, tornando o time mais agressivo. É com essa pegada que o técnico Antônio Oliveira pretende cativar o torcedor, ainda ressabiado com a tímida campanha como mandante.

Régis, ao que tudo indica, deverá ser o articulador, responsabilizando-se pela criação de jogadas para o trio Marrony-João Pedro-Pedro Rocha. Pode dar certo, desde que haja equilíbrio no meio e marcação segura na zaga.

Dono da terceira melhor defesa da competição e com apenas cinco derrotas, o Remo só não está entre os quatro melhores pelo excesso de empates (12) – sete deles na gestão de Antônio Oliveira.

A perda de tempo com Diego Hernández na função de meia-armador comprometeu a dinâmica da equipe nas últimas quatro partidas. Depois de abusar da teimosa, Antônio Oliveira parece ter observado melhor as opções disponíveis. Régis, meia de ofício, é a mais visível delas.

Bom passador e hábil na condução de jogo, Régis pode funcionar como o maestro que Jaderson prefere não ser. De qualquer maneira, a presença de ambos na mesma faixa do campo só pode trazer benefícios à equipe.

Um outro fator pode contribuir para uma grande atuação: a presença de Marrony no ataque. Poucos entendiam a insistência do treinador em deixá-lo na suplência, sendo que é um dos mais produtivos na conexão com Pedro Rocha, podendo ainda ser um avançado pela direita ou jogar mais centralizado, atuando ao lado do centroavante João Pedro.

Com o barulho que a torcida se prepara para fazer – o tal Inferno Azul prometido –, o Remo terá, neste retorno ao Baenão, as condições ideais para se impor e sufocar o Atlético desde os primeiros minutos. Sem dúvida, é a melhor maneira de usar o caldeirão para vencer. (Foto: Lívia Alencar)  

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião nos debates. A rodada 27 da Série B é o principal assunto em pauta. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.

Após dois meses de jejum, Papão quer a vitória

Diante de um Goiás bastante desfalcado – oito jogadores estão fora de combate –, o PSC tenta fazer as pazes com a vitória depois de dois meses de jejum. A partida, prevista para a tarde deste sábado (16) no estádio da Serrinha, em Goiânia, tem todos os ingredientes de drama e complexidade que marcam a trajetória do Papão neste Brasileiro.

Como tudo começa e termina na meia-cancha, o PSC deve ter novidades para mudar a rotina de problemas técnicos no setor de criação. Sem outras alternativas, Márcio Fernandes decidiu escalar Leandro Vilela, Ramon Vinícius e Gustavo Nicola, jogador recém-contratado.

Satisfeito com o rendimento de Edinho na partida contra o América-MG, decidiu continuar com ele no ataque, ao lado de Diogo Oliveira e Maurício Garcez. Se tudo funcionar conforme o planejado, o Papão terá finalmente um ataque conectado com o meio-de-campo.

Com isso, Garcez e Diogo precisarão percorrer distância menor do que vêm fazendo. Permanecendo mais tempo junto à área adversária, estarão mais perto do gol e criando mais problemas para a defesa adversária.

Ao mesmo tempo, caso as escalações de Nicola e Edinho se confirmem, Márcio deixa claro que não conta com Marlon e Rossi, pelo menos por enquanto. 

O primeiro saiu vaiado nas últimas duas apresentações em casa. O segundo, ainda respeitado pelo currículo, sofre os efeitos da longa recuperação e o desgaste natural de ter ficado ausente de 14 das 26 partidas da competição.   

Fla mostra força na Conmebol ao reverter expulsão

O Flamengo deu prova insofismável de forte poder nos bastidores do futebol sul-americano. A Conmebol decidiu reverter na sexta-feira (19) a expulsão do atacante Plata, ocorrida aos 37 minutos do 2º tempo da partida com o Estudiantes, pela Libertadores, no Maracanã.

André Rojas entendeu que o rubro-negro entrou de sola e cometeu falta. Como já estava amarelado, Plata recebeu o vermelho e foi excluído, para indignação da torcida e da cúpula flamenguista. (Aliás, uma das cenas mais hilárias do futebol é ver torcedor do Fla queixando-se de roubo).

Em movimentação rápida, o clube pressionou a Conmebol e obteve a reversão, algo raro em relação a clubes brasileiros. Antes, a entidade só havia “perdoado” o zagueiro Dedé, quando jogava pelo Cruzeiro. 

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 20 e 21)

Orgulho do Brasil, SUS completa 35 anos

Sistema mudou a realidade do acesso à saúde, elevou a qualidade de vida e segue como principal rede de assistência de 76% da população brasileira.

Nesta sexta-feira, 19 de setembro, o Sistema Único de Saúde – SUS completa 35 anos e se consolida como um dos maiores sistemas públicos, gratuito e universal de saúde do mundo. Resultado do movimento histórico da 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), o SUS ganhou forma na Constituição de 1988, que definiu a saúde como direito de todos e dever do Estado. Em 1990, a Lei nº 8.080 regulamentou o sistema em todo o território nacional.  

Em uma postagem nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sintetizou a importância do sistema para o país: “O SUS é motivo de muito orgulho para brasileiras e brasileiros: nenhum outro país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes tem um sistema universal, capaz de oferecer atendimento gratuito a todos, independente de poder ou não pagar uma consulta ou plano de saúde”, escreveu.  

Na postagem, o presidente cita uma série de investimentos do Governo Federal para fortalecer o SUS desde o início da gestão, em 2023. Ações que permitiram ao Mais Médicos dobrar de tamanho e chegar hoje a 26,8 mil profissionais. Políticas como o Brasil Sorridente, retomada, hoje com 34 mil equipes e com o reforço de 400 Unidades Odontológicas Móveis já entregues. Recomposição do Farmácia Popular, que beneficiou 22 milhões de pessoas somente neste ano com a disponibilidade gratuita dos 41 medicamentos e itens do programa. Aposta no Agora Tem Especialistas, programa lançado para garantir não só o atendimento, mas os exames e os tratamentos necessários a todos os brasileiros. “O SUS nasceu da luta de nosso povo pelos seus direitos. Cresceu, se aprimorou. Sobreviveu aos ataques daqueles que tentaram sucateá-lo. Agora, tem de volta a atenção que merece e está batendo recordes atrás de recordes”, disse Lula. 

Eu espero que nos próximos anos tenhamos um SUS cada vez mais forte, que ele chegue a cada pessoa e tenha cada vez mais um olhar para além da saúde.”
Eleuza Procópio Martinelli, enfermeira, 65 anos, atua há 30 anos no SUS

2,8 BILHÕES DE ATENDIMENTOS – Antes do SUS, apenas trabalhadores formais vinculados à Previdência Social tinham atendimento garantido nos hospitais públicos. Na prática, apenas 30 milhões de pessoas eram beneficiadas. Para o restante da população, a alternativa era a caridade, serviços filantrópicos ou o pagamento. Hoje, toda a população tem direito aos atendimentos – 76% dependem diretamente do SUS. Por ano, o SUS realiza 2,8 bilhões de atendimentos e conta com cerca de 3,5 milhões de profissionais. 

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – Uma das ações que consolidou o cuidado integral no SUS foi a Estratégia Saúde da Família (eSF). Lançada em 1994, é um modelo inovador da Atenção Primária à Saúde (APS), que coloca a saúde no centro das necessidades da pessoa, da família e do território. As equipes estão presentes em todas as regiões com ações de promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento em UBS das cidades, mas também em áreas remotas, fluviais, consultórios na rua e territórios indígenas. 

CONFIANÇA – “Foi na Unidade Básica de Saúde que fiz meu pré-natal, recebi todas as vacinas e meu filho nasceu com segurança. Hoje, quando ele adoece, sei que posso contar com o SUS.” O depoimento é da técnica de enfermagem Ana Célia dos Santos, moradora da área rural de São Raimundo Nonato (PI). Ela traduz em palavras o que o Sistema Único de Saúde (SUS) representa na vida de milhões de brasileiros: confiança e acolhimento.

MAIOR REDE DE TRANSPLANTES – O Brasil tem a maior rede pública de transplantes do mundo. Em 2024, o país bateu recorde histórico no SUS, com 30 mil procedimentos. Além de realizar, gratuitamente, serviços de altíssima complexidade como transplantes, a rede pública fornece os medicamentos imunossupressores, necessários para toda a vida dos transplantados. 

“O SUS ME DEVOLVEU A VIDA” – Robério Melo, brasiliense de 52 anos, descobriu em 2017 que 90% de seu fígado estava comprometido por uma doença rara. Ouviu dos médicos que teria apenas três dias de vida. No terceiro dia, graças ao SUS, recebeu um transplante de fígado no Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF. Hoje, Robério dedica sua vida a apoiar pacientes e a fortalecer a cultura da doação de órgãos. “Eu renasci. O SUS me devolveu a vida. Essa segunda chance me transformou e hoje dedico minha trajetória a mostrar que doar órgãos é doar vida, e sou a prova viva de que a solidariedade salva”, afirma Robério. 

COVID 19 – A luta contra a Covid-19 deixou marcas de superação e o SUS teve um papel decisivo no período. “Eu acredito muito na força do coletivo. Me recordo que, durante a pandemia, a gente viu que nós podemos realizar e cuidar de forma eficaz da saúde do povo. A atenção primária foi essencial durante a pandemia e ela é essencial para que o SUS funcione!”, relembra a agente comunitária de saúde de Natal (RN), Cintia Fernanda de Lima, que atua há 26 anos no SUS. Rodrigo Silva Souza, 27 anos, morador de Paracatu (MG), foi diagnosticado com Covid-19 em abril de 2021, quando acreditava ter apenas uma dor de garganta. Em Brasília, a mãe percebeu a gravidade e o levou ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), onde ficou internado por quase uma semana, dependente de oxigênio. “Cheguei a ter 50% do pulmão comprometido. Mesmo com o hospital lotado e gente chegando toda hora, o SUS cuidou de mim com atenção. Foi o que salvou minha vida”, recorda Rodrigo. 

EMERGÊNCIAS – Tragédias como a da Boate Kiss, em 2013, mostraram a força do SUS em emergências. A Força Nacional do SUS (FN-SUS) montou um núcleo de atenção psicossocial em Santa Maria (RS), apoiou o resgate e organizou a transferência de pacientes para hospitais de referência. Nas enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024, o SUS garantiu o atendimento em hospitais de campanha, com reforço à vacinação e apoio psicossocial a milhares de pessoas.

YANOMAMI – Em janeiro de 2023, o Ministério da Saúde decretou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) na terra Yanomami – a maior crise humanitária em território indígena. Dois anos depois, os dados do primeiro trimestre de 2025 apontam uma redução de 33% no número de óbitos. Neste período, o número de óbitos em relação a doenças respiratórias caiu 45%, a queda por malária foi 65% e 74% por desnutrição.

VACINAÇÃO – O SUS conta com o maior programa público de vacinação da América Latina, o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Hoje, disponibiliza 48 imunobiológicos, sendo 31 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas. As ações contribuíram para marcos como a erradicação da poliomielite, em 1994, até resultados mais recentes como a recertificação de país livre de sarampo pela OPAS. Além disso, o Brasil foi pioneiro na oferta de vacina contra a dengue. 

POLÍTICAS – A trajetória de fortalecimento do SUS é marcada também pela criação do SAMU 192 (2003), do Brasil Sorridente (2004), do Farmácia Popular (2004), da Hemobrás (2004), da Rede Cegonha – atual Rede Alyne (2011), do Programa Mais Médicos (2013), do Brasil Saudável (2024), do Agora Tem Especialistas (2025) e tantas outras políticas e programas. 

COMPLEXO INDUSTRIAL – Desde 2023, o Governo Federal retomou a agenda voltada ao fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde com medidas para reduzir a dependência do Brasil. A expectativa é que, em até dez anos, 70% das necessidades do SUS em medicamentos, equipamentos e vacinas sejam produzidos no país. 

AGORA TEM ESPECIALISTAS – Para enfrentar um dos desafios históricos que é o tempo de espera na rede pública, o Ministério da Saúde lançou o programa Agora Tem Especialistas, com foco em seis áreas estratégicas: oncologia, cardiologia, ginecologia, ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia. A expansão da telessaúde, que pode reduzir em até 30% o tempo de espera por atendimento especializado no SUS, é um dos eixos do programa. Em 2024, foram 2,5 milhões de atendimentos em telessaúde. 

NOVO PAC – Com o Novo PAC Saúde, o Governo do Brasil garante novas obras, equipamentos e veículos para fortalecer o SUS em todo o país. São novas UBS, salas de teleconsulta, unidades odontológicas móveis, policlínicas, maternidades, Centros de Atenção Psicossocial e novas ambulâncias do SAMU 192. A meta é universalizar o serviço de emergência até o final de 2026 e ele agora está presente, também, em território indígena, com atendimento 24h e profissionais bilíngues. 

ALÉM DOS HOSPITAIS – O SUS vai muito além dos hospitais e unidades de saúde. Ele está no copinho de água que você bebe, no alimento seguro que consome, na ambulância que chega em minutos, no controle de epidemias e até na regulação de medicamentos. Não é apenas hospital: é rede, prevenção, ciência e proteção social.

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

O que é o Centrão?

Por Rudá Ricci

O Centrão se apresenta como o bloco político mais persistente da política nacional. Está em qualquer governo, da extrema-direita à esquerda acanhada, mas não consegue eleger Presidente da República. Envolve partidos de direita e flerta com a extrema-direita e gosta de se dizer de centro-direita. 

Estamos diante de um enigma da esfinge. Afinal, é a marca do humano, como respondeu Édipo. Mas, no caso, é a imagem de um humano muito específico: o brasileiro.

Vamos por partes. 

A primeira parte se apoia em entender como o Centrão se faz poder. Minha tese é que se trata de um bloco político que alia os herdeiros da Arena, o partido da ditadura militar, com o que há de mais fisiológico e pragmático na política brasileira, o baixo-clero. Se há freios e contrapesos na política nacional, ela está no Centrão. O lado Arena deste bloco avança nos sinais. Se aproxima do bolsonarismo, chantageia os governos de plantão, aceita o apadrinhamento do alto empresariado nacional, instrumentaliza a ordem democrática. Mas, logo aparece o seu grilo falante, o baixo-clero. O baixo-clero é pragmático e desdenha estratégias gerais ou propostas nacionais. Seu campo de atuação é o local, o território municipal. Ali está seu séquito de apoiadores liderados pelo prefeito de plantão. Prefeito é cabo eleitoral do baixo-clero. 

Aqui, vamos para a segunda parte. Se o lado Arena do Centrão é mais coeso e nacionalizado, o seu lado baixo-clero é disperso e pouco ideologizado. Ele se amolda ao relevo social e político do território nacional. Como era o PMDB (voltarei a esta analogia logo mais). E se espraia pelo sistema partidário. Darei um exemplo: o PT tem seu baixo-clero, embora o que apareça para o mundo externo é a história aguerrida do que um dia era a expressão das lutas por direitos coletivos em nosso país. PT era a expressão das demandas dos de baixo. Era. Um dos exemplos de baixo-clero petista é Odair Cunha, um dos doze deputados federais que votou pela PEC da Blindagem. 

Odair Cunha vem da Renovação Carismática, a ala meio Centrão da igreja católica brasileira. Inspirada na crença pentecostal, como parte dos evangélicos. Odair foi secretário de governo de Fernando Pimentel, quando governador de Minas Gerais. Antes, como deputado federal, chegou a comandar e alimentar 150 prefeituras mineiras. Atendia todas as prefeituras governadas pelo PT no sul de Minas Gerais e mais algumas governadas pelo PSDB e PMDB. Era um dos príncipes da fase de ouro do segundo governo Lula, quando os chineses começaram a importar minério de ferro e resolveram fazer investimentos diretos na terra do pão de queijo.

O governo Lula tinha montado toda estrutura rooseveltiana, do Bolsa Família ao PAC, chegando ao Minha Casa, Minha Vida e distribuição de patrulhas mecanizadas e estações de tratamento de esgoto. Os prefeitos procuravam deputados federais que os encaminhassem e defendessem seus pleitos junto aos ministérios e outras agências estatais em busca de convênios. Os deputados federais se tornaram a face mais atuante no cotidiano da nossa república. E Odair era um dos príncipes desta lógica cartorial que tomou parte do PT. 

Odair é pragmático. Sua ascensão tem relação direta com a queda do então maior representante da igreja católica no PT mineiro: Patrus Ananias.  Sua trajetória política, de certa maneira, indica a mudança interna que o PT sofreu a partir de 2007. O PT se tornou mais pragmático e mais vinculado às prefeituras que passou a atender. E nasceu a vertente baixo-clero petista. Aliás, daí também nasceu outra ala, a que encosta no bolsonarismo, liderada pelo petista fluminense, o Quaquá.

Chegamos, então, na última parte desta análise: a cultura popular que é atraída pelo Centrão. Afinal, qual seria o motivo para o Centrão eleger tantos deputados, mas não conseguir firmar um líder nacional e elegê-lo Presidente da República. A resposta está na lógica peemedebista (roubando o conceito de Marcos Nobre). 

O PMDB viveu exatamente este dilema em sua longa vida política. No auge da sua liderança, logo após a promulgação da Constituição de 1988, Ulysses Guimarães se lançou à Presidência da República. Em 1989, como candidato a presidente, recebeu minguados 4,74% dos votos, ganhando em 98 municípios no país (tendo Lajedão-BA como o seu município mais votado com 65,52% dos votos). Em 1990, foi reeleito deputado. O PMDB era o partido mais forte do espectro partidário brasileiro. 

Em 1994, o PMDB lançava outro candidato à Presidência da República. Outro paulista: Orestes Quércia, o governador das rodovias e estradas vicinais. Foi o quarto colocado naquela eleição, com apenas 4,38% dos votos, atrás de Enéas Carneiro (Prona). 

O que acontecia com o PMDB? Ele tinha parlamentares e prefeitos às pencas. Tinha alas mais progressistas, como no Paraná ou Minas Gerais, mas tinha uma ala conservadora em São Paulo e em Minas Gerais. Enfim, era um partido que se amoldava às peculiaridades regionais e locais. Assim, se tornava popular. Mas, internamente, havia um equilíbrio tenso entre as inúmeras diferenças que carregava. Daí vinha sua dificuldade para impor um Presidente porque significaria que algum cacique local deveria ser aceito como futuro rei do partido. Um partido-mosaico como o PMDB não dava lugar a um rei. Todos os caciques eram príncipes e deveriam ficar assim. Desse modo, o PMDB sempre rachava no apoio a um candidato mais à direita e outro, mais à esquerda, e cristianizava o candidato a presidente de seu próprio partido. Era a forma de manter o equilíbrio interno neste partido. O equilíbrio entre caciques regionais. 

Este é o dilema do Centrão. Se avança com seus caciques herdeiros da Arena, se prende no pragmatismo do seu baixo-clero. O pragmatismo aponta para acordos com os governos de plantão para abastecer suas bases territoriais. A ala Arena se aproxima dos blocos mais à direita e gosta das ameaças e traições para abalar os governos progressistas. 

Assim, a cultura popular que o Centrão atrai é a pragmática, destituída de ideologias e marcadas pela vida frustrada. É aquela base social descrita por Sérgio Buarque de Holanda que precisa tocar no líder local e regional. É esta base que coloca um bilhetinho no bolso do paletó do deputado da região, pedindo um emprego para um parente, cimento para uma construção doméstica ou algum favor pequeno, plausível, porque este cidadão não confia em grandes projetos ou mudança real de sua vida. Afinal, seus pais, avós e ancestrais viveram uma vida muito parecida com a sua. Ele continua parte dos “de baixo”. As poucas chances que têm vem desta troca de favores que aumenta suas chances em períodos eleitorais. 

É verdade que nem todos pensam assim. Há momentos que percebem que há algum movimento ou líder político que realmente tenta quebrar as barreiras que fazem da estrutura social brasileira algo que se parece com castas. Mas, mesmo quando creem, ainda há um forte traço de pragmatismo. As beneficiárias do Bolsa Família descreveram nitidamente esta cultura quando suas falas foram registradas no livro “Vozes do Bolsa Família”, apontamentos da pesquisa realizada por Walquiria Domingues Leão Rego e Alessandro Pinzani. Elas diziam que Lula era igual a qualquer outro político, com uma diferença: na infância, sentiu a dor da fome. O passado de Lula criava um fio de esperança de que seria diferente. Mas, não tanto. As frustrações da vida levavam aquelas mulheres a desconfiarem das elites políticas porque sabia que eram marcadas por interesses negociados entre eles. Eles se mantinham no poder através desses acordos feitos longe dos olhos dos cidadãos. Já tinham visto muitos casos assim, envolvendo lideranças e partidos diferentes ao longo de anos. Muitos casos contados por seus pais e avós que revelavam “mais do mesmo”. 

O Centrão, neste caso, é a força política que se aproxima mais do desencanto popular com a política brasileira. Vez ou outra, este desencanto transforma a frustração e ressentimento em raiva e aí surgem movimentos políticos mais agudos e raivosos. Mas, em condições de pressão e temperatura normais, é o estilo Centrão que possibilita pequenas vitórias e benefícios. 

É este jogo de favores que gera o lastro na política nacional. Uma âncora que faz tudo mudar para que tudo fique como está. Para os “de baixo”, mas também para o Centrão, que assim como o PMDB, sempre está no poder, mas não consegue eleger Presidente da República.

Vivi para ver

Por Frei Betto

Eu tinha 19 anos em junho de 1964. Morava no Rio, em uma “república” de estudantes dirigentes da Ação Católica. Na madrugada de 5 para 6 daquele mês, agentes do serviço secreto da Marinha, o Cenimar, invadiram nosso apartamento armados de metralhadoras. Fomos todos levados para o Arsenal da Marinha. Aos socos e pontapés me torturaram, convencidos de que eu era Betinho, líder da Ação Popular, uma organização de esquerda,  e anos depois da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. 

Entre o cárcere militar e a prisão domiciliar, fiquei retido um mês. Não houve processo ou reparação. Nem sequer o direito a um advogado. Dei-me conta do que é uma ditadura.

Cinco anos depois fui novamente preso em Porto Alegre por favorecer a fuga do Brasil de perseguidos pelo regime militar. Trazido para São Paulo, presenciei torturas, perdi companheiros e companheiras assassinados por militares e policiais civis. Ao longo de quatro anos, transitei entre oito cárceres diferentes. Fiquei dois anos entre presos políticos e mais dois na condição de preso comum com narcotraficantes, assaltantes de bancos, assassinos contumazes, estelionatários e estupradores. 

Ao completar quatro anos de cárcere, o STF reduziu minha pena para dois anos… Manteve, porém, a cassação de meus direitos políticos por 10 anos. Nenhum de meus torturadores, juízes ou carcereiros jamais respondeu à Justiça pelos crimes e abusos praticados. Foram todos beneficiados pela aberração da “anistia recíproca” decretada pelo general Figueiredo.

Tudo que vivi e sofri sob a ditadura está contido em meus livros “Cartas da Prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de Sangue” e “Diário de Fernando” (ambos da Rocco). 

Agora, sinto certo alívio ao ver Bolsonaro e seus cúmplices de organização criminosa condenados pelo STF por atentarem contra o Estado Democrático de Direito. Alívio, não por vingança, e sim por reparação simbólica que restitui à vida um sentido. Ver o direito prevalecer sobre a barbárie pode ser, para quem já peregrinou longos anos, a confirmação de que o mundo não é inteiramente injusto.

Esperar é um exercício de resistência. Carreguei a dor em silêncio e envelheci sem jamais perder a esperança de, um dia, ver militares golpistas punidos pela Justiça. Suporto a cada dia o vazio deixado pela perda de tantos companheiros e companheiras, como frei Tito, meu confrade na Ordem Dominicana; Heleny Guariba, colega de teatro e cárcere; Jeová de Assis Gomes, Carlos Eduardo Pires Fleury, Aderbal Coqueiro e tantos outros(as) a mim irmanados na prisão e na resistência à ditadura. 

O escritor grego Ésquilo afirma, em “Agamêmnon”, que “A dor é a mestra mais verdadeira” . A mim, a dor não apenas ensinou; moldou décadas de sobrevivência, sustentadas pela esperança de que um dia arautos da ditadura responderiam por seus atos.

O tempo muitas vezes é cruel. Paradoxalmente, amadurece os frutos da Justiça. Miguel de Cervantes escreveu em “Dom Quixote”: “A verdade pode andar sufocada, mas jamais morre”. Assim, mesmo encoberta por manobras jurídicas, recursos e adiamentos, permanece viva e aguarda a hora de se impor.

Disse Sêneca, filósofo romano: “A justiça não consiste em ser neutra entre o certo e o errado, mas em encontrar o certo e sustentá-lo contra o errado”. Para mim, o tribunal que agora condena os cabeças da intentona golpista de 2023 representa exatamente isto – a recusa em ser neutro diante da barbárie.

Não há sentença capaz de devolver vidas perdidas em 21 anos de democracia sonegada, mas há decisões que devolvem dignidade a quem ficou. Hannah Arendt, ao refletir sobre o mal e a responsabilidade, lembrava que “a justiça deve estar sempre presente, ainda que o mundo acabe”. Sinto-me, agora, amparado pelo peso ético de uma instituição democrática, o STF, que cumpriu seu dever.

Meu estado de tranquilidade não nasce da alegria, mas da paz. Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração, escreveu em seu “Em busca de sentido”: “A felicidade deve brotar como efeito colateral da dedicação pessoal a uma causa maior”.

Punir Bolsonaro e sua organização criminosa significa preservar a memória de tantos que fomos e somos vítimas de 21 anos de ditadura. Ao ver a Justiça reconhecer oficialmente os culpados de agressão à democracia, percebo que o exemplo de resistência de Marighella, Lamarca e tantos que lutaram contra o arbítrio, não foi apagado pelo esquecimento. A sentença eterniza suas ausências como presenças.

Um idoso como eu, ao ver golpistas punidos, resgato a confiança – ainda que tardia – no poder humano de distinguir o justo do injusto, o bem do mal. O que sinto não é euforia, mas reconciliação com a vida e a democracia.

  • Frei Betto é escritor, autor do romance sobre massacre de indígenas na Amazônia, “Tom vermelho do verde” (Rocco)*, entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org  

Baixas do Goiás animam o Papão

POR GERSON NOGUEIRA

O momento vivido pelo PSC na Série B é tão complicado que qualquer boa notícia é logo saudada efusivamente. Neste momento, as sete baixas que o Goiás terá no jogo de sábado, incluindo o artilheiro Anselmo Ramon e o meia Wellington Rato, turbinam as esperanças dos bicolores na conquista de um bom resultado dentro da capital goiana.

É óbvio que a partida seria difícil de qualquer maneira, mas é inegável o prejuízo causado ao time goiano pelas expulsões e advertências ocorridas no confronto com o Coritiba na 26ª rodada.

Em função dos desfalques, o Goiás entrará com um time completamente modificado, repleto de reservas que não vinham atuando. Oportunidade para que o Papão se imponha como visitante e tente conquistar uma vitória que seria crucial para a arrancada em busca da permanência na Série B.

Quando goleou o líder Coritiba no estádio Couto Pereira, ainda com Claudinei Oliveira no comando, a façanha surpreendeu a todos, até ao próprio time. Não seria despropósito acreditar na possibilidade de um novo triunfo heroico, agora diante do vice-líder do campeonato.

A embalar o sonho há o fato de que o PSC, ao contrário do adversário, estará completo diante do Goiás. E contando com um reforço para o meio-de-campo: Gustavo Nicola, que foi rebaixado com o CSA na Série C, mas tem a confiança do técnico Márcio Fernandes, com quem já trabalhou.

Nicola deve estrear, jogando ao lado de Leandro Vilela e Edinho. É o segundo jogador a ser aproveitado dentre os cinco que foram contratados na última janela. O primeiro foi o centroavante Denilson, que entrou nos minutos finais contra o América-MG.

A estratégia bicolor é iniciar diante do Goiás a reação para sair da lanterna. Um triunfo funcionaria como estímulo, ao time e à torcida, para a partida da próxima semana, contra o Grêmio Novorizontino, na Curuzu.

Os treinos evidenciaram a preocupação do técnico em reativar o poder de fogo da dupla Diogo Oliveira e Maurício Garcez. Peças fundamentais na boa sequência inicial de Claudinei, ambos caíram de rendimento por duas razões básicas: são pouco acionados pelo setor de meio-campo e passaram a ser marcados com atenção pelas outras equipes.

A chance de uma grande atuação em Goiânia, amanhã, passa necessariamente pelo desempenho da dupla de atacantes.

Novidades devem tornar Leão mais agressivo

Na série de treinos ministrados pelo técnico Antônio Oliveira para o jogo contra o Atlético-GO, amanhã à noite, no Baenão, tem incluído novidades que a torcida há muito tempo vinha cobrando. Marrony apareceu como titular na maior parte do tempo e Régis treinou ao lado de Caio Vinícius e Jaderson, podendo pela primeira vez começar um jogo nesta Série B.

De cara, a presença de Marrony e Régis significa que o Remo terá postura mais agressiva, buscando envolver o adversário desde os primeiros movimentos. Reconhecidamente decisivo para as pretensões de acesso, o jogo terá outro aspecto diferente: a pressão da torcida no Baenão, bem mais forte e intensa do que normalmente é no Mangueirão.

A provável escalação de Régis pode resolver o drama azulino na construção de jogadas. Dono da terceira melhor defesa do campeonato, o Remo sofre com a falta de vida inteligente no meio-campo. Habilidoso, dono de bom passe, o meia sempre faz a equipe crescer quando entra no 2º tempo.

Durante algum tempo, a reserva foi atribuída à ausência de condicionamento para atuar 90 minutos. Ao que parece, esse é um problema vencido. Melhor para o Remo.

A proximidade com o campo – nas laterais, a torcida fica a menos de 2 metros dos jogadores – faz com que o clima de caldeirão afete o comportamento do time. Às vezes, o impacto é positivo, funcionando como incentivo extra. Em outros momentos, porém, a coisa pode se tornar contraproducente, fazendo com que a cobrança se volte contra a equipe.

Dos titulares, somente Marcelo Rangel e Jaderson sabem como é jogar no Baenão lotado – Pavani, que está fora da partida, e Léo Lang também já atuaram no estádio. Sem esquecer que a última atuação foi o empate (com derrota nos pênaltis) frente ao S. Raimundo-RR, pela Copa Verde.

Ocorre que um time popular não pode jamais temer a presença do seu torcedor. O Leão é conhecido e temido justamente pela força de sua torcida, uma das mais participativas da atual Série B.

Dupla Re-Pa está devendo mais transparência

Paysandu e Remo estão entre os três clubes das duas divisões principais do Campeonato Brasileiro que descumprem norma estabelecida pela Lei Geral do Esporte, que prevê a publicação do balanço financeiro até 30 de abril do ano seguinte ao exercício em curso, por meio do site oficial do clube.

Ao lado do Amazonas, a dupla Re-Pa ainda não cumpriu essa norma legal. Os últimos balanços publicados pelos dois clubes se referem a 2023.

O PSC chegou a publicar relatórios financeiros de 2024 no Portal da Transparência, mas, diante da evidência de um prejuízo de R$ 18,8 milhões, retirou os documentos postados no site oficial.

O Remo não publicou nenhum relatório. Tudo o que se sabe é que o clube arrecadou R$ 12.013.951,94 ao longo de 2024, com valores referentes às rendas de jogos válidos pela Série C, segundo informações divulgadas pela própria diretoria.   

A desobediência à lei pode provocar punições administrativas e financeiras. As informações foram apuradas pelo repórter Lucas Quirino, do DOL.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 19)

Supremo abre investigação contra Bolsonaro e filhos por incitação durante a pandemia de Covid

Inquérito no STF mira ex-presidente, aliados e ex-ministros com base no relatório da CPI da Covid

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu um novo inquérito que coloca Jair Bolsonaro (PL), três de seus filhos e 20 aliados na mira da Polícia Federal. A decisão foi assinada pelo ministro Flávio Dino, que acolheu pedido feito a partir das conclusões da CPI da Covid, instaurada em 2021. O grupo é suspeito de incitar a população a desrespeitar medidas sanitárias e adotar condutas nocivas ao enfrentamento da pandemia.

Entre os investigados estão o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), além das deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF). Ex-ministros do governo Bolsonaro, como Onyx Lorenzoni, Ernesto Araújo e Ricardo Barros, também foram incluídos na lista de alvos da apuração.

Dino destacou que existem elementos jurídicos suficientes para iniciar a investigação e fixou prazo inicial de 60 dias para diligências da PF. O relatório da CPI já havia apontado possíveis crimes não apenas de incitação, mas também suspeitas de desvios de verbas públicas, fraudes em licitações e contratos superfaturados com empresas de fachada.

O caso chegou ao STF ainda em novembro de 2021, após a entrega do relatório final da CPI. O processo passou pelas mãos de Luís Roberto Barroso e Rosa Weber antes de ser redistribuído a Dino. Em setembro de 2024, o ministro abriu espaço para que a PF e a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentassem manifestações.

Na época, a PF pediu formalmente a instauração do inquérito, com autorização para ouvir os citados e realizar outras diligências. Já a PGR havia aberto dez apurações preliminares sobre o caso, mas apenas quatro seguiam ativas até então — as demais foram arquivadas ou transferidas para outras instâncias.

O relatório da CPI recomendava o indiciamento de Bolsonaro e mais 65 pessoas, atribuindo ao ex-presidente nove crimes. Bolsonaro, por sua vez, rejeitou todas as acusações e chamou o documento de “absurdo”. (Do ICL Notícias)

Após PEC da Blindagem, Câmara aprova urgência para projeto de anistia a golpistas

Transcrito do Meio

Um dia depois de aprovar a PEC da Blindagem, a Câmara dos Deputados aplicou mais uma derrota ao governo e aprovou de maneira folgada o requerimento de urgência para o projeto de lei que prevê anistia a todos os envolvidos nos atos golpistas após a eleição de 2022. Na prática, a decisão dos deputados acelera a tramitação do projeto, que não precisará mais passar pelas comissões da Câmara antes de ir ao plenário. O pedido de urgência foi aprovado por 311 votos a 163. Ao anunciar a decisão, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que nomeará um relator, responsável por conduzir a discussão e apresentar um texto que conte com o apoio da maioria da Casa.

O texto base, de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), prevê anistia a todos que tenham participado de manifestações de caráter político ou eleitoral entre 30 de outubro de 2022 e a entrada em vigor da lei, incluindo pessoas que apoiaram os atos por meio de contribuições financeiras, doações, apoio logístico, prestação de serviços ou publicações em redes sociais. A expectativa é de que o texto original seja modificado pelo relator e apresente uma proposta mais próxima de uma redução das penas do que de uma anistia propriamente dita. (UOL)

Voto a voto. Veja como cada deputado votou na sessão que aprovou a urgência para o projeto de lei da anistia. (g1)

Folha afirma que partidos do Centrão, sob a liderança de Motta, fecharam um acordo com ministros do STF para votar um texto alternativo à anistia ampla e irrestrita que bolsonaristas querem levar ao plenário. De acordo com a reportagem, o acordo prevê a redução de penas pelos atos golpistas e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) cumpra sua sentença desde o início em regime domiciliar. Em contrapartida, o texto não trará a possibilidade de qualquer perdão aos crimes julgados pelo Supremo. Ministros do STF e líderes do Centrão negam o acordo. (Folha)

Em outra manobra do Centrão, a Câmara reintroduziu na PEC da Blindagem a votação secreta para autorizar a abertura de investigação contra parlamentares, que havia sido derrubada na madrugada de ontem. A proposta foi aprovada por 314 votos a 168, e partidos de esquerda falam em recorrer ao STF. A PEC seguiu para o Senado, onde enfrenta forte resistência. (UOL)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que vetará uma anistia ampla e irrestrita. “Se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria”, disse Lula. Ele criticou a aprovação da PEC da Blindagem, mas buscou se esquivar das alegações de que tenta interferir, ainda que sem sucesso, nas decisões do Parlamento. “O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votar a anistia, isso é um problema do Congresso”, disse Lula, para em seguida negar ter comemorado a condenação de Bolsonaro. (BBC Brasil)

Nas asas da esperança

POR GERSON NOGUEIRA

O goleiro Matheus Nogueira, que teve participação na jornada de reação do Paysandu na Série B de 2024, garantindo a permanência tranquila a partir da chegada do técnico Márcio Fernandes, declarou em boa hora que o elenco bicolor segue acreditando na salvação e que “ninguém jogou a toalha”. O pensamento não pode ser diferente.

É fundamental que a confiança se mantenha viva entre os atletas, pois a pior receita em momentos de dificuldade é um grupo emocionalmente devastado. A parte técnica tem se mostrado deficiente e longe das tradições do Paysandu, mas há a lendária raça a embalar as esperanças da torcida.

A prolongada permanência na zona de rebaixamento, por 23 rodadas, exige nervos de aço e uma excepcional campanha de superação nas 12 rodadas finais do Brasileiro. Por enquanto, o Papão segue na lanterna, com 22 pontos, a 6 pontos do primeiro time fora da zona.

Os números negativos marcam a trajetória do PSC nesta Série B, como em nenhuma outra edição anterior. Foi a equipe que menos venceu – apenas quatro partidas – e uma das que mais sofreu derrotas, 12.

Caso encontre força e qualidade para conquistar 22 dos 36 pontos restantes, o Papão chegará a 44 e estará garantido na divisão, com um aproveitamento de 61%, acima do desempenho do líder Coritiba, que tem 60%.

Em casa, o PSC fará ainda seis jogos – Novorizontino, Cuiabá, Remo, Avaí, Coritiba e Amazonas. Para escapar, terá que vencer todos os adversários e buscar mais quatro pontos como visitante, contra Goiás, Criciúma, Botafogo-SP, Ferroviária, Atlético-GO e Athletic.

Nem tudo é pessimismo. Para embalar os sonhos de recuperação, cabe dizer que em 2024 o CRB se salvou com 43 pontos. A Ponte Preta foi a primeira do Z4 com 38 pontos. Em 2023, a Chape escapou da queda com pontuação ainda menor, 40 pontos; o Sampaio Corrêa foi o 17°, com 39.

Para fortalecer o elenco, o clube apresentou uma nova contratação. Quando ninguém mais esperava, foi anunciado ontem o meia Gustavo Nicola (foto), 26 anos, que foi rebaixado com o CSA na Série C deste ano. Ele foi contratado após o fim da janela de transferências, que fechou no dia 2 de setembro, porque já estava livre no mercado.

Vem se juntar a outros jogadores oriundos das Séries C e D: Carlos Eduardo, João Marcos e Denilson. Coincidência ou não, nenhum emplacou até o momento. De qualquer forma, Nicola é uma alternativa para o esquálido setor de criação, que conta apenas com Denner no momento.

Jaderson precisa ter mais liberdade para jogar 

Segundo volante de formação com habilidades de meia-armador, Jaderson foi o maior destaque do Remo na campanha do acesso em 2024, mas não conseguiu se firmar na equipe titular na Série B. Depois de sofrer contusão grave no Re-Pa da decisão do Campeonato Paraense, permaneceu longe dos gramados por mais de um mês, o que comprometeu seu rendimento no retorno ao time.

Ocorre que Jaderson costuma ter participação intensa nas partidas e precisa de liberdade para transitar entre uma área e outra – um dos raros jogadores capazes de fazer isso no futebol paraense atual. Preso às determinações de Antônio Oliveira, com quem trabalhou no Atlético-PR, ele não tem tido chance de colocar em prática suas principais qualidades.

A capacidade de sair rapidamente de uma situação defensiva para a articulação ofensiva, característica de Jaderson, fica travada pelas obrigações de recompor pelos lados. Foi o que aconteceu contra o Vila Nova, quando precisou fazer a escolta de Sávio.

Disciplinado taticamente, Jaderson precisou se sacrificar para cobrir um setor enfraquecido pelo mau rendimento do lateral esquerdo. Ironicamente, foi um dos primeiros a ser substituído na segunda etapa, enquanto Sávio, o causador do problema, seguiu em campo – e jogando muito mal.

É fundamental que, nos próximos e decisivos jogos do Remo, Oliveira encontre espaço ou dê liberdade para Jaderson fazer o que sabe: ajudar na marcação, sem deixar de contribuir com a armação de jogadas.

Taekwondo do Pará brilha no Brasileiro

Com apoio do Governo do Pará, atletas paraenses subiram ao pódio do Super Campeonato Brasileiro de Taekwondo 2025, realizado em Aracaju (SE), conquistando cinco medalhas, sendo duas de ouro, uma de prata e duas de bronze. Com 25 atletas inscritos na competição, o Estado teve sua melhor participação no torneio, que reuniu mais de 2 mil atletas das categorias cadete ao master de todas as regiões.

O apoio do Governo do Pará, por meio da Seel, assegura aos atletas custeio de passagens, hospedagem e alimentação em competições nacionais e internacionais, visando fortalecer o esporte de alto rendimento no Estado.

Os atletas medalhistas do Pará são: Alice Batista Martins, categoria cadete, vencedora do ouro. Ivete Dias, da categoria master 8, também ficou com o ouro. Júlia Cristina Nascimento, cadete, conquistou a prata. Davi Savino, cadete, faixa colorida, ficou com o bronze. Breno Torres, categoria faixa preta, master 2, também ganhou o bronze.

Pela categoria principal (faixa preta), os atletas Artur Cruz, Isadora Ferreira dos Anjos, Vitória Andrade e Leonardo Alves chegaram a disputar medalhas, mas terminaram na quinta colocação.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 18)

Obrigação de triunfar em casa

POR GERSON NOGUEIRA

Desde que Antônio Oliveira foi contratado, o Remo faz uma campanha brilhante e inédita fora de casa nesta Série B, com 62% de aproveitamento – três vitórias e quatro empates. É um percentual superior à campanha do Coritiba na competição. Apesar disso, o técnico ainda não caiu nas graças da torcida porque só venceu uma vez dentro de casa.

Uma das receitas de sucesso para quem disputa a Série B é triunfar nos jogos em casa. Os melhores mandantes sempre estarão bem posicionados e, invariavelmente, obtêm o acesso. O Remo, apesar da boa campanha, não vai bem nesse quesito sob o comando de Antônio Oliveira.

Só conseguiu derrotar o Avaí. Nas demais apresentações no Mangueirão, empatou três vezes e perdeu três – PSC, Ferroviária, Criciúma. É um índice baixíssimo de aproveitamento: 28%. Percentual de rebaixamento. Quase igual ao do PSC em toda a competição.

Com as pretensões que o Remo tem quanto ao acesso, é forçoso mudar a chave de imediato. O primeiro desafio será neste sábado (20h30), no estádio Baenão, contra o Atlético-GO. Na 7ª posição, o Leão terá a força de pressão da torcida para arrancar uma vitória e quebrar a escrita em relação às partidas em Belém.

O próprio Oliveira admite que esta é a falha maior na sua gestão. O ponto que respalda as críticas do torcedor ao seu trabalho. É uma questão matemática: nenhum time obteve o acesso fracassando como mandante.

Para o confronto com o Atlético, o Remo contará com o retorno de Caio Vinícius, primeiro volante que não atuou contra o Vila Nova. Sua ausência no setor de marcação foi determinante para o mau desempenho defensivo da equipe. Foi substituído por Luan Martins e Nathan Camargo, e nenhum conseguiu dar combate às investidas ofensivas do Vila.

Caio Vinícius tem limitações, principalmente quanto ao passe, mas é forte no duelo físico. Não ganhou a titularidade por acaso. Terá, provavelmente, a companhia de Cantillo, que deve retornar ao time no jogo deste sábado. É uma garantia de normalização do setor. Caio Vinícius marca, Cantillo faz o passe fluir para o setor ofensivo.

Além de fortalecer o meio-de-campo, Antônio Oliveira pode ter novidades no setor de criação, com o possível aproveitamento do grego Panagiotis e de Nathan Pescador, que entrou nos minutos finais do jogo com o Vila.

Para o ataque, Nico Ferreira parece ter adquirido espaço pela direita, com João Pedro centralizado e Pedro Rocha avançando pela esquerda. É um time que tem plenas condições de quebrar o jejum de vitórias em casa. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Papão se prepara para ‘jogo da vida’ em Goiânia

A situação do PSC é tão delicada e surreal na tabela de classificação que o técnico Márcio Fernandes parece mais empenhado em cobrar melhorias no gramado da Curuzu do que em observar alternativas para a escalação. É como se, de alguma forma, buscasse evitar enfrentar diretamente os principais problemas do time. Uma fuga diante das adversidades.

O maior desafio é melhorar o desempenho do setor de meio-de-campo, com falhas sérias de marcação e ausência de criatividade. O jogo com o América-MG, sábado, expôs muito essa situação crítica.

Márcio Fernandes assumiu há uma semana e tem um limitado raio de ação. Não pode mais ter reforços e terá que ajustar o time com as peças disponíveis, nenhuma indicada ou aprovada por ele.

Insistir com Marlon, jogador contratado no ano passado a pedido do próprio Márcio, não tem sido uma boa ideia. O meia-atacante já vinha produzindo pouco sob a orientação de Claudinei Oliveira. Como alternativa, Márcio talvez só tenha Edinho para colaborar com a armação de jogadas mesmo sem atuar como um meia clássico.

Apesar de não ser a função original do atacante, a boa participação dele no 2º tempo contra o América criou expectativas positivas para a decisiva partida de sábado contra o Goiás, em Goiânia.

Para o ataque, é provável que o técnico busque uma alternativa pelo lado direito, pois Rossi entrou muito mal nas duas últimas partidas. Marcelinho, rápido e habilidoso, pode ganhar oportunidade, formando o tridente ofensivo com Diogo Oliveira e Garcez.

Padroeira ganha homenagem especial dos clubes

Pela primeira vez na história, um clube não paraense junta-se às homenagens dos grandes clubes do Pará feitas à Nossa Senhora de Nazaré por ocasião do Círio. O Vasco da Gama está lançando uma camisa oficial em branco marcante, com detalhes dourados simbolizando luz, devoção e fé. O escudo surge ao lado de uma ilustração da Virgem de Nazaré.

Os gozadores de plantão irão dizer que o tributo vascaíno à maior procissão católica do mundo tem a ver com a sofrência a que o time tem sido submetido nos últimos anos. Seria, por assim dizer, um movimento natural apelar à Nossa Senhora em favor da Cruz de Malta.

Na realidade, o Vasco está iniciando um inteligente movimento de valorizar e se conectar a tradições culturais brasileiras, aproximando-se de manifestações populares como forma de ressaltar sua vocação histórica de inclusão e integração. Ontem à noite, o modelo especial vascaíno foi apresentado em Nazaré junto com as camisas de PSC, Remo e Tuna.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 17)

Morre Robert Redford, gigante do cinema que achava que a beleza prejudicava sua carreira

Um dos grandes astros da segunda era de ouro de Hollywood, entre os anos 1960 e 1990, o ator e diretor Robert Redford morreu nesta terça-feira (16), aos 89 anos. Teve uma carreira repleta de clássicos e sucessos de bilheteria, como Butch Cassidy (foto acima), Golpe de Mestre, Proposta Indecente e Todos os Homens do Presidente.

A agente de Robert Redford, Cindi Berger, disse que o ator morreu em sua casa “em Sundance, nas montanhas de Utah — o lugar que ele amava, cercado por aqueles que amava”. “Sentiremos muita falta dele”, disse Berger, acrescentando que a família pediu privacidade.

Redfford recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator em 1973 por sua atuação em Golpe de Mestre. Em 1980, estreou como diretor, com o filme Gente como a Gente, que ganhou quatro Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor.

Redford também era conhecido por ter fundado o Festival de Cinema de Sundance, em Utah, promovendo filmes independentes desde o final dos anos 1970. Em 2014, ele marcou sua presença no Universo Marvel com o papel de Alexander Pierce no filme Capitão América 2 : O Soldado Invernal. Em 2018, anunciou que o filme O Velho e a Arma seria seu último papel nas telas.

Ícone das telas, Redford será lembrado por ter atuado em mais de 50 filmes de Hollywood, por ter ganhado um Oscar como diretor e por ter sido um defensor de cineastas independentes, fundando o Festival de Cinema de Sundance. O sucesso permitiu que Redford escolhesse livremente seus projetos, muitos deles alinhados com suas visões politicamente progressistas. Ele também fez campanha por questões ambientais e pelos direitos dos nativos americanos.

Sua beleza tipicamente americana não podia ser ignorada. Redford já foi descrito como “um pedaço do Monte Rushmore colocado em jeans desbotados”. Outro crítico disse que ele tinha “uma graça física fluida e um brilho interior que às vezes o faz parecer iluminado por dentro”.

Mas, no geral, Redford achava que sua beleza era mais um obstáculo do que uma ajuda para sua carreira — e disse que o carma havia trazido tragédias à sua vida familiar para puni-lo por sua boa fortuna física. Charles Robert Redford Jr. nasceu em Santa Monica, no Estado da Califórnia, em 18 de agosto de 1936, filho de um leiteiro que mais tarde trabalhou como contador na Standard Oil.

Na escola, ele se juntou a uma gangue de rua e chegou a ser preso por “pegar emprestado um carro que continha joias roubadas no porta-malas”. Ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade do Colorado graças à sua habilidade com beisebol, mas foi expulso após 18 meses, por embriaguez. Na mesma época, a mãe faleceu, com apenas 40 anos.

A partir de então, ele seguiu uma vida sem rumo, encontrando trabalho nos campos de petróleo da Califórnia, antes de viajar para Paris e Florença, onde estudou arte. Sua estadia na Europa o encorajou a adotar uma nova abordagem em relação aos EUA: “Comecei a olhar para o meu país de outro ponto de vista”, disse tempos depois.

De volta ao país, matriculou-se na Academia Americana de Arte Dramática com a ambição de se tornar cenógrafo, mas rapidamente migrou para a atuação. Como muitos atores no final da década de 1950 em Nova York, Redford conseguiu pequenos papéis no palco e na televisão, incluindo séries populares como Os IntocáveisPerry Mason Dr. Kildare.

Sua estreia no cinema ocorreu em 1960, com um papel secundário em Até os Fortes Vacilam, onde atuou ao lado de Jane Fonda. Não foi um começo promissor para sua carreira cinematográfica. O filme fracassou. No entanto, marcou o início de uma amizade para toda a vida com Fonda, que mais tarde admitiu ter se apaixonado por ele sempre que trabalhavam juntos.

Em 1965, ele ganhou um Globo de Ouro de estreante mais promissor por seu papel no filme À Procura do Destino, com Natalie Wood. Mas ele foi rejeitado para o papel de Benjamin Braddock em A Primeira Noite de um Homem porque o diretor Mike Nichols o considerou bonito demais — o que deixou Redford com medo de ser estereotipado por sua aparência.

A fama mundial veio em 1969 com Butch Cassidy.

A interpretação do ator de 33 anos como o relaxado Sundance Kid, em contraste com o falante Butch, de Paul Newman, provou ser uma das grandes parcerias de Hollywood. Ironicamente, Redford quase perdeu o papel. Um executivo do estúdio disse: “Ele é só mais um loiro de Hollywood. Atire um pedaço de pau pela janela em Malibu e você vai acertar outros seis como ele.”

O estúdio fez de tudo para evitar a contratação de Redford, mas Newman — na época já um astro consagrado — interveio e insistiu. Os dois atores descobriram que compartilhavam o amor pelo teatro e permaneceram amigos até a morte de Newman em 2008.

“Pregávamos peças um no outro”, disse Redford sobre seu relacionamento com Newman. “Quanto mais sofisticada a piada, melhor”. Em 1973, a química natural entre eles na tela os fez se unirem novamente em Golpe de Mestre. Redford foi indicado ao Oscar por seu papel como Johnny Hooker, um vigarista que se une ao personagem de Newman para enganar um chefão do crime.

O filme, com sua trilha sonora de ragtime, acabou ganhando sete Oscars, incluindo o de Melhor Filme — embora Redford tenha sido superado na categoria de Melhor Ator por Jack Lemmon. Foi a única vez que Redford foi indicado na categoria de Melhor Ator no Oscar, embora viesse a ganhar o prêmio como diretor — e receber um Oscar honorário em 2002 pelo conjunto da obra.

Os papéis de Redford como ator foram prolíficos ao longo dos anos 70, embora sua interpretação como o enigmático personagem principal em O Grande Gatsby tenha recebido críticas favoráveis e desfavoráveis, e ele tenha sido ofuscado por Barbra Streisand em Nosso Amor de Ontem.

Mas em 1974, Redford comprou os direitos de filmagem de Todos os Homens do Presidente, um relato do escândalo de Watergate por Bob Woodward e Carl Bernstein — os dois repórteres do Washington Post que revelaram a história. “O Washington Post estava muito nervoso conosco — que aquilo era Hollywood e poderia prejudicá-los”, lembrou ele.

Lançado em 1976, com Redford interpretando Woodward ao lado de Dustin Hoffman como Bernstein, o filme foi um sucesso de crítica, ganhando 4 Oscars — incluindo o para melhor roteiro adaptado e melhor ator coadjuvante para Jason Robards. Quatro anos depois, Redford estreou na direção com Gente como a Gente, de 1980, um estudo sobre o colapso de uma família de classe média após a morte de um dos filhos. Isso lhe rendeu seu primeiro e único Oscar — como diretor.

Robert Redford
Como o misterioso Gatsby na adaptação cinematográfica de 1974 do livro de Scott Fitzgerald

Com o reconhecimento, veio a riqueza.

Redford usou grande parte de seus ganhos para comprar um resort de esqui em Utah, Estado natal de sua esposa, Lola, que ele rebatizou de Sundance, em homenagem a um de seus papéis mais famosos, no filme Butch Cassidy. Na mesma época, fundou o Instituto Sundance para fornecer apoio criativo e financeiro a cineastas independentes. Ele se tornou presidente do Festival de Cinema de Utah/EUA, mais tarde renomeado para Festival de Sundance.

Em termos de atuação, houve sucessos e fracassos nas últimas duas décadas do século 20. O drama prisional Brubaker foi um sucesso comercial e de crítica, e houve uma recepção positiva para os dramas O Encantador de Cavalos e Proposta Indecente.

Entre Dois Amores ganhou alguns prêmios, mas Havana foi mal recebido e deu prejuízo. Ao mesmo tempo, Redford seguiu dirigindo filmes, incluindo Nada é para Sempre — que deu um impulso à carreira do novato Brad Pitt — e Lendas da Vida, o último filme com Jack Lemmon.

A recepção de Leões e Cordeiros foi discreta, com o reencontro com Meryl Streep, de Entre Dois Amores. No entanto, houve muitos elogios ao seu papel no inovador Até o Fim – sobre um velejador idoso sozinho em seu barco danificado no Oceano Índico. “Não há diálogos, nenhum. E eu sou o único ator em tela durante todo o filme”, ​​disse Redford.

Ele também estrelou como o agente da S.H.I.E.L.D. Alexander Pierce em Capitão América 2: O Soldado Invernal, um filme bem diferente de sua carreira normal. “Gosto da ideia de entrar em novos territórios”, disse ele ao jornal LA Times em 2013. “Este é o tipo de filme que eu adoraria ter visto quando criança.”

DEFENSOR DO MEIO AMBIENTE

Fora do estúdio, Redford tornou-se um proeminente defensor do meio ambiente. “O nosso planeta está doente por causa do nosso comportamento com ele”, disse o ator em uma entrevista em 2014.

Redford casou-se com Lola Van Wagenen em 1958, e o casal teve quatro filhos. O filho mais novo, Scott, morreu de síndrome da morte súbita infantil aos dois meses de idade. Em entrevistas, Redford disse acreditar que o carma o havia punido por possuir magnetismo sexual e levar a vida hedonista de um ator.

“Parecia uma retribuição”, diz ele. “Sempre tive essa coisa de que a morte estava nos meus ombros, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Meus cachorros, quando criança. Minha mãe. Meu primogênito.”

O casal se divorciou em 1985, e Redford teve longos romances com a atriz brasileira Sonia Braga e a assistente de figurino Kathy O’Rear. Ele se casou com Sibylle Szaggars, uma artista nascida na Alemanha, em 2009. Em 2020, seu filho, David, morreu aos 50 anos devido a complicações de um câncer. Ele sofria com doenças desde o nascimento e havia passado por dois transplantes de fígado. Em 2019, Redford anunciou sua aposentadoria da atuação logo após sua participação especial em Vingadores: Ultimato.

Aproximando-se dos 90 anos, ele voltou atrás alguns anos depois, aparecendo em vários episódios de Dark Winds, a história de dois policiais navajos que tentam solucionar um duplo assassinato. Redford frequentemente evitava os holofotes de Hollywood.

Apesar de nunca ter ganhado um Oscar de atuação, a Academia homenageou sua obra com um prêmio pelo conjunto da obra em 2002. No fim das contas, Redford preferia personagens um pouco excêntricos — em sintonia com sua paixão pelo cinema independente.

Mas ele sempre insistiu que sua boa aparência o atrapalhava, em vez de ajudá-lo, como ator. “A noção de que você não é exatamente um ator, mas sim alguém com boa aparência. Isso sempre foi difícil para mim”, disse.

“Sempre me orgulhei de qualquer papel que interpretasse; eu seria aquele personagem.”

O passado é uma parada

O craque Gerson, o Canhotinha de Ouro, leva as filhas à escola no Rio, em 1968. Ele era titular do Botafogo e futuro maestro do meio-campo da Seleção Brasileira.