A força começa na defesa

POR GERSON NOGUEIRA

No clima de euforia que tomou conta da torcida azulina depois da classificação à segunda fase da Série C, alguns pontos ficaram um pouco de lado nas discussões sobre a campanha do Remo e a arrancada nas rodadas finais. Um aspecto que passou quase despercebido foi a evolução do setor defensivo do time, depois de falhas que atrapalhavam a caminhada e intranquilizavam o torcedor.

Com o sistema 3-4-3 adotado desde a estreia de Rodrigo Santana, contra o Sampaio Corrêa (2 a 1), em São Luís, o Remo ganhou uma estrutura tática. Algo inexistente no período em que o time foi dirigido por Gustavo Morínigo. Foi uma mudança drástica e necessária.

Ao definir os três zagueiros – revezando inicialmente Ligger, Rafael Castro, João Afonso e Bruno Bispo –, Santana procurou dar mais segurança defensiva e ao mesmo tempo aumentar a força ofensiva pelos lados, com o aproveitamento de Diogo Batista e Raimar nas alas.

Apesar de boas performances no sistema de três zagueiros, o Remo sofria com a instabilidade no meio-de-campo, onde faltava movimentação e intensidade. A marcação ficou entregue a Pavani, Paulinho Curuá e Jaderson, mas depois passou a ter eventualmente Adson como opção.

Não era o encaixe perfeito, mas o Leão foi avançando. Ganhando jogos e acumulando algumas derrotas inesperadas, como diante do São Bernardo no Baenão e diante de ABC e Ferroviária lá fora. Nas circunstâncias, a equipe podia ter vencido.  

O que foi inicialmente um período de incertezas acabou se tornando depois uma fase de consolidação do esquema tático e das escolhas para cada função. Nesse sentido, o meia Jaderson teve papel fundamental, desdobrando-se entre uma intermediária e outra para ligar o meio ao ataque e até aparecer para finalizar algumas jogadas.

Foi uma peça importantíssima pela liderança técnica. Aquele tipo de jogador que recebe e assina todas as bolas, ajustando alguns lances e corrigindo outros. Com o crescimento de Diogo Batista e Raimar pelos lados, o time tornou-se mais forte pela variação de jogadas na frente.

Esse repertório foi desenvolvido a partir da confiança em torno do trabalho da última linha de zagueiros e da funcionalidade dos jogadores de meio, Pavani e Jaderson à frente. Quando Bruno Silva foi contratado, o equilíbrio entre marcação e criação foi se estabelecendo, a cinco rodadas do final.

Apesar de atuar mal na estreia diante da Aparecidense e vacilar diante do Confiança, cometendo um pênalti bobo, o volante deu à equipe um toque de experiência e liderança que até então fazia falta.

Bruno Silva e Ligger não jogam amanhã, mas o time tem hoje um setor defensivo firme, que saberá encarar o duelo com o Botafogo-PB com os substitutos que forem escalados. Ao mesmo tempo, dizer que o Remo é apenas forte na defesa não conta a história toda. O ataque também evoluiu, mas falaremos sobre isso amanhã. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)

Papão contabiliza 9 baixas para jogo com o Goiás

O confronto de domingo, no estádio da Serrinha, em Goiânia, é um dos mais importantes da campanha do PSC na Série B. Por várias razões, a começar pelo fato de que é um momento de virada de página na competição e o time acumula sete jogos sem vencer, aproximando-se cada vez mais da zona de rebaixamento.

A partida é importante também porque pode inspirar uma jornada de superação, pois chega a nove o número de jogadores lesionados e suspensos. Cazares (suspenso) e os lesionados Lucas Maia, Nicolas, Edinho, Léo Pereira, Kevyn, Paulinho Boia, Jean Dias e Borasi.

Contra um Goiás sempre difícil de ser batido em seus domínios, o Papão terá que se desdobrar com os possíveis substitutos. Ruan Ribeiro, Netinho, Yony González, Esli García, Val Soares, Robinho e Bryan.  

Pep, City e o futebol ganham muito com volta do Oasis

Na terça-feira, 25, os irmãos Liam e Noel Gallagher assombraram o mundo do rock com o anúncio da volta do Oasis para 14 shows no Reino Unido em 2025, após uma pausa de 15 anos na carreira. Pegas de surpresa, a internet e a grande mídia foram imediatamente inundadas pelas notícias sobre a banda de Manchester e a lembrança de seus grandes hits.

Um dos vídeos mais postados não mostra Liam e Noel em ação, mas o técnico Pep Guardiola nos vestiários do Manchester City em plena celebração de uma vitória, cantando (muito bem) o hit “Don’t Look Back in Anger” (“Não olhe para trás com rancor”).

A identificação de Pep e do City com a banda é histórica. Os irmãos são vistos sempre nos jogos e a presença de Noel é obrigatória nas comemorações pelos muitos títulos conquistados na era Guardiola.

Com o Oasis de volta à cena, novas manifestações de carinho dos jogadores e do público devem se repetir, como nas ocasiões em que músicas da banda foram entoadas pela torcida nas arquibancadas do Etihad Stadium.

Pep é amigo pessoal de Noel, que é o mais expansivo torcedor da dupla, embora Liam também seja fanático pelo City. Ao desembarcar na Inglaterra para assumir o comando do time, o técnico foi entrevistado pelo próprio guitarrista, que mostrou amplo conhecimento sobre futebol.  

O retorno coincide com o aniversário de 30 anos do lançamento do disco de estreia, “Definitely Maybe” (1994), fundamental na história do Oasis, com vários sucessos definitivos. “Rock ‘n’ Roll Star”, “Shakermaker”, “Supersonic”, “Live Forever” e “Cigarettes & Alcohol”.

Em recentes shows de sua carreira solo, Noel Gallagher mantém um totem de Guardiola no palco, em tributo ao técnico e ídolo do clube. O que dá bem a dimensão do fanatismo pelo City.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 30)

Papão precisa afugentar a crise

POR GERSON NOGUEIRA

O baixo astral que assola o PSC nas últimas semanas, em função da sequência de sete jogos sem vitória, começa a afetar o ambiente do clube, como provam as cenas de pancadaria dentro do estádio da Curuzu depois do empate diante do Mirassol, na última segunda-feira.

Clubes de grandes torcidas sofrem mais do que os outros, pois precisam prestar contas. E, no futebol, esse tipo de prestação só é pago com vitórias, justamente o que anda faltando na campanha bicolor na Série B.

É bem verdade que o PSC teve um começo ruim na competição. Ficou exatamente sete partidas sem vencer – três derrotas e quatro empates –, o que gerou desconfianças quanto ao verdadeiro potencial do time.

O jejum foi quebrado, em grande estilo, contra o América-MG, que era então o melhor time do campeonato. Por 2 a 0, o PSC saiu vitorioso diante da Fiel torcida na Curuzu, mostrando força e organização.

Depois disso, a equipe viveu seu melhor momento, acumulando sete jogos de invencibilidade. Foi quando o Papão chegou à 9ª colocação, ensaiando uma arrancada rumo às primeiras posições. Ficou na vontade.

Logo em seguida, o time voltou a declinar tecnicamente, passando a sofrer nas partidas como visitante e também dentro de casa. Uma série de desfalques, por contusões e suspensões, prejudicou o desempenho, mas não explica por completo a derrocada que perdura até hoje.

A atual má fase está diretamente vinculada aos problemas extracampo, expostos pela primeira vez pelo lateral Edilson, à saída de campo após a derrota por 3 a 1 para o Grêmio Novorizontino, na Curuzu.

Nos bastidores, porém, a fogueira das vaidades estava a pleno vapor. No centro da confusão, um conflito explícito entre o técnico Hélio dos Anjos e o executivo Ari Barros. Diante do ultimato feito pelo treinador, a diretoria decidiu se livrar do executivo.

Por consequência, todos os poderes passaram a ser encampados pelo técnico, para o bem e para o mal. As divisões hierárquicas no futebol do clube ficaram nubladas, e desde então seguem do mesmo jeito.

Em campo, maus resultados têm o condão de aquecer ainda mais a temperatura. Nos três últimos jogos, o time sofreu com a ausência de titulares importantes. Derrotas (Brusque, Novorizontino, Santos e Avaí) e empates (Vila Nova, Botafogo-SP e Mirassol) empurram o Papão para a parte inferior da tabela e irritam o torcedor.    

Para o jogo que pode exorcizar a crise, domingo, contra o Goiás em Goiânia, os desafios começam pelo excesso de baixas. Cazares está suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Lucas Maia, Léo Pereira, Borasi, Edinho, Jean Dias, Nicolas, Kevyn e Paulinho Boia estão lesionados.

As opções para compor meio e ataque são Yony González, Esli García, Ruan Ribeiro, Juninho, Robinho, Netinho e Brendan.

Superar as ausências, montar um time competitivo e surpreender o Goiás. É tudo o que o PSC precisa para conter o clima de insatisfação que já ameaça até a posição de intocável do técnico Hélio dos Anjos. (Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

Incertezas na defesa preocupam o Leão

A evolução técnica que conduziu o Remo à classificação passa indiscutivelmente pelo desempenho da defesa, que se tornou uma das mais sólidas da Série C nas rodadas decisivas da primeira fase. O que antes era motivo de intranquilidade se tornou o ponto alto da equipe – apenas 2 gols sofridos desde a 14ª rodada.

Com os cartões recebidos por Ligger e Bruno Silva, o equilíbrio do sistema defensivo fica ameaçado, dependendo de novas configurações para que a equipe não sofra diante do 3º melhor ataque da Série C. O Botafogo-PB marcou 33 gols em 19 partidas.

A princípio, dependendo ainda dos treinos da semana, o Remo terá Bruno Bispo substituindo a Ligger e Paulinho Curuá (ou Adson) no lugar de Bruno Silva. Bispo foi titular em boa parte do campeonato, mas perdeu espaço com a chegada de Rodrigo Santana.

Curuá entra regularmente na equipe e já chegou a ser testado na linha de três zagueiros, em função do jogo aéreo. Para encarar o Botafogo sem modificar o sistema 3-4-3, é provável que o técnico prefira as substituições óbvias, entrando com Bispo e Curuá.   

Record volta à Série A após acordo com Liga Forte

Um anúncio da Rede Record, anteontem, abalou as estruturas do modelo de transmissão de jogos da Série A. A emissora firmou acordo com a Liga Forte União para transmitir os jogos do Brasileiro a partir de 2025. Com contrato válido até 2027, Record volta à cobertura da maior competição do futebol brasileiro depois de 19 anos. Estimado em R$ 210 milhões anuais, o contrato cobrirá a transmissão de 38 partidas por ano.

Os principais times se dividem em dois blocos: a Liga Forte União e a Libra. A LFU inclui Atlético-PR, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Botafogo, Corinthians, Chapecoense, Ceará, Coritiba, Criciúma, CRB, Cruzeiro, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Sport, Vila Nova e Vasco.

A Libra tem acordos com ABC, Atlético-MG, Bahia, Brusque, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Paysandu, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo e Vitória. Caso o acordo com a Record se concretize, a Globo perderá a exclusividade na transmissão do Brasileiro.

Outra novidade: a Livemode, empresa que intermediou o acordo, negocia com o YouTube a transmissão das partidas em modelo pay-per-view. A Record, por sua vez, planeja montar uma equipe fixa de esportes a partir de janeiro de 2025. 

A Liga Forte União sugere que as plataformas abertas exibam os jogos às quartas-feiras, às 19h30, ou aos sábados, às 16h. Além disso, a Record expressou interesse em explorar o filão dos domingos.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 29)

Oasis nos torna (de novo) jovens e invencíveis, mas não ingênuos

Por Fabiana de Carvalho, no Splash/UOL

Imagem: Samir Hussein/Getty Images

‘Ei, se mantenha jovem e invencível, porque sabemos exatamente o que somos. E venha o que vier, somos imparáveis, porque sabemos o que somos’*, diziam eles. O ano era 1997, e o disco, ‘Be Here Now’, o suposto ponto final do britpop.

Àquela altura, o Oasis era a maior banda do mundo — o Blur até podia ser melhor, mas o Oasis sempre foi muito mais legal, vai — e parecia que não tinha erro: a gente ia, sim, se manter jovem e invencível para sempre. O Liam, o Noel, o Oasis. Meus amigos. Eu.

Mas aí começaram os discos mais ou menos. As brigas deles começaram a ficar mais sérias e sem graça. O show em São Paulo em 1998 foi ótimo, o do Rock in Rio em 2001 já nem tanto, mesmo tendo um ex-Ride de verdade no baixo.

Admito que passei uns anos sem ligar tanto, existem várias músicas que eu mal conheço ou nem sei direito de que discos são. Me empolguei com o primeiro disco e até fui a um show da banda nova do Noel, mas tudo isso antes de ele virar um senhor patético defensor do Brexit e que fala mal da Escócia.

Já o Liam, esse só melhorava. De babaca mor a melhor respondedor (de entrevistas a desaforos) e dono de discos solo que rejuvenescem mais do que procedimentos cirúrgicos, ‘our kid’ nos lembrava que ficar mais velho não precisa ser ficar mais chato.

Imagem: Jose Jordan/AFP

Certas músicas ou certas bandas são trilhas sonoras para acontecimentos, fases ou mesmo sentimentos muito específicos na vida da gente. Oasis nunca foi minha banda favorita. Nunca foi top 5. Mas é quem faz passar aquele ‘filminho’ na mente. Sempre foi.

Quando eu comecei a prestar atenção de verdade em música, todo moleque (inglês) queria ter uma banda e ser os novos Smiths. O Noel, com uma guitarra que ganhou do próprio Johnny Marr, não. Ele chegou dizendo — e tendo certeza — que não precisava disso porque era melhor. Acima do Oasis? Só os Beatles. E olhe lá também.

Claro que, racionalmente, não é bem assim. Mas, ah, quando você estava na sua pista favorita, quando você colocava para tocar os CDs (antigamente era assim, não tinha streaming) ou quando eles subiam no palco, quando você ouvia bem alto “aquelas” guitarras e “aquele” vocal anasalado e aquelas loooongas sílabas como ninguém mais faz igual… ‘quem quer estar sozinho quando a gente pode se sentir vivo em vez disso?’**

Oasis é a banda de quando a gente era jovem. E invencível. E imparável. E tinha a vida toda pela frente. Todas as possibilidades e chances. O mundo inteiro para explorar, um milhão de escolhas e ninguém podia nos deter. ‘Quando eu era jovem eu achava que tinha minha própria chave’***, eles cantavam ainda em 1994, lembra?

Lógico que ninguém é ingênuo e é tudo por dinheiro. Mas e daí? Não é pra isso que estamos todos aqui no final das contas?

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  • * “Stay Young” é um b-side de “D’You Know What I Mean”, do terceiro disco do Oasis, “Be Here Now”, e foi lançada em 1997
    ** “Acquiesce” é um b-side de “Some Might Say”, do segundo disco do Oasis, “What’s the Story (Morning Glory)”, e foi lançada em 1995
    *** “Fade Away” é um b-side de “Cigarettes & Alcohol”, do primeiro disco do Oasis, “Definitely Maybe”, e foi lançada em 1994