Sobre a Venezuela e o papel pífio da grande mídia brasileira

Por Luis Nassif, no X

Antes de ontem, uma enxurrada de palpites manchetados sobre a posição de Lula-Itamarati em relação à Venezuela. Todos críticos e todos com o mesmo bordão. Nem se deram conta que as eleições atuais decorreram de um acordo, mediado por Celso Amorim, para garantir eleições livres no país. Aí Biden entra em contato, México e Colômbia assinam um comunicado com o Brasil, a chancelaria argentina recorre à brasileira, depois que foi expulsa de Caracas, e envia uma nota de agradecimento.

Aí, todas as notícias sobre o tema somem da home de O Globo. Ontem, bons comentaristas da Globonews ressaltavam o sucesso da diplomacia brasileira e um diplomata aposentado me indagava: o que será que os colunistas de O Globo dirão amanhã? Mirian Leitão disse: “Efeito colateral do radicalismo de Nicolás Maduro é ter permitido um bom momento entre Lula e Milei”.

Ou seja, a medida nasceu do nada, como um bebê de Rosemary. Não se admite que foi fruto do trabalho diplomático do país, de se colocar como mediador, sem tomar lado. Qual o problema de elogiar o que Lula faz de certo, e criticar o que faz de errado?

Rock na madrugada – Creedence Clearwater Revival, “Fortunate Son”

POR GERSON NOGUEIRA

“Algumas pessoas nascem para balançar a bandeira,/ Ooh, Elas são vermelhas, brancas e azuis,/ E quando a banda toca ‘Saúde o Chefe’/ Ooh, eles miram o canhão para você, Senhor./ Não sou eu, não sou eu, / Eu não sou filho do senador,/ Eu não sou o afortunado, não”.

“Fortunate Son” (Filho afortunado) é um dos grandes êxitos do Creedence Clearwater Revival. Com ironia, sem mencionar diretamente o repúdio à guerra do Vietnã, a canção questiona os privilégios dos filhos da elite norte-americana, que eram poupados do alistamento militar e não eram obrigados a defender a pátria nos campos de batalha.

Na biografia não-oficial “Bad Moon Rising” (mesmo título da canção), escrita por Hank Bordowitz, John Fogerty conta que se inspirou em David Eisenhower, neto do ex-presidente americano Dwight D. Eisenhower. David se casou com a filha de Richard Nixon, outro ex-presidente, em 1968. E, claro, não foi à guerra.

Existem bandas de rock e existe o Creedence. Liderado pelo cantor e guitarrista John Fogerty, o Creedence foi uma banda diferente de todas as demais que surgiram nos anos 60/70. Responsável por um punhado de clássicos, praticava um rock cru e básico, .

O sucesso alastrou-se pelo mundo, liderando paradas e encantando plateias. Não foi apenas “Fortunate Son” que alavancou o CCR aos píncaros da glória. A banda produziu, em tempo relativamente curto, canções de forte apelo popular que sobrevivem muito bem até hoje.

No começo, predominava o rock psicodélico, que se tornaria depois um country rock assumidamente estradeiro e despojado até evoluir para um hard rock de primeira linha, sempre coerente com as ideias musicais de John e seus companheiros.

Formada em 1959, em El Cerrito (California, EUA), o CCR era formado por John, Tom Fogerty (seu irmão), Stu Cook e Doug Clifford. Durou até 1972. A partir daí, devido a sérios desentendimentos internos e com empresários picaretas, a banda se esfacelou.

John ainda foi obrigado a aceitar a humilhante situação de ser processado por tocar em shows as canções que compôs. O problema só foi solucionado em 2023, após uma batalha judicial que durou 50 anos.

“Sim, algumas pessoas herdam olhos com brilho das estrelas,/ Oh, Eles te enviam para a guerra, Senhor,/ E quando você os questiona, o quanto devemos dar,/ Ooh, eles apenas respondem, mais, mais, mais, sim./ Não sou eu, não sou eu/ Eu não sou filho do militar”.

“Fortunate Son” (do álbum Willy and the Poor Boys) foi lançada como single no final de 1969, com “Down on the Corner” como lado B. Foi eleita em enquete da revista Rolling Stone a 99ª melhor música de todos os tempos e está no Top 10 de qualquer roqueiro decente.

Enfim, um herói de verdade

POR GERSON NOGUEIRA

“Foi difícil desde o dia que eu fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado, e falei para o meu pai que havia decidido ser marchador. E ali eu larguei para esse dia. São quatro Olimpíadas. Terminei carregado em uma cadeira de rodas em 2012. E agora sou medalhista olímpico. Esse momento é eterno. Tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética. Mas valeu a pena pagar o preço. Hoje eu pude falar para os meus pais ‘nós somos medalhistas olímpicos’”.

Palavras fortes e honestas de um campeão valente, que venceu obstáculos até mais difíceis do que a prova olímpica de ontem. Caio Bonfim conquistou a medalha de prata histórica nas Olimpíadas correndo na marcha atlética de 20km. Ficou em 2º lugar e se tornou o primeiro atleta brasileiro a alcançar o pódio na modalidade.

Nascido em Sobradinho (DF), há 33 anos, Caio percorreu a prova em 1h19m09 – atrás do equatoriano Brian Daniel Pintado (1h18m55), que levou o ouro. O bronze ficou com o espanhol Álvaro Martín (1h19m11).

Ao final da prova, o brasileiro apontou um certo favorecimento dos árbitros ao aplicar punições para os atletas nascidos na América do Sul. Na marcha atlética, em caso de um atleta erguer os dois pés ao mesmo tempo, será advertido; em caso de três punições, precisa ficar parado por 2 minutos, o que pode custar um grande número de posições.

No afunilamento da corrida, o brasiliense tomou sua segunda punição. Receoso de perder mais posições, preferiu não apertar o passo para tentar alcançar o equatoriano Brian Pintado, o líder da prova.

“Eu brinco que o Brasil tem dois esportes. Um é o futebol e o outro é ‘o que está ganhando’. Se você quer aparecer, tem que estar nesse outro que está ganhando. Eu sempre sofri com o preconceito. Você vê que, na câmera de chamada, eles chamam cinco atletas, quatro são europeus. Querem uma prova europeia. E aí tem dois sul-americanos liderando a prova, algum deles tinha que tomar a punição”, comentou. 

A conquista lhe renderá um prêmio de R$ 210 mil, concedido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que pagará esta quantia aos atletas que conseguirem a prata nas provas individuais em Paris. Quem ganhar o ouro fica com R$ 350 mil. O bronze será premiado com R$ 140 mil.

Vitórias como a de Caio adquirem um sabor especial pelo grau de dificuldade natural que cerca a modalidade. Alvo de preconceitos pelo jeito peculiar da caminhada, a marcha atlética exige fibra, estoicismo e uma capacidade mental à prova de todo tipo de pancadas.

As Olimpíadas têm sido marcadas por momentos emocionantes, vitórias de superação e grande esforço pessoal. Há também espaço para o marketing excessivo de algumas modalidades.

Mas, em meio a tudo, o esporte triunfa e elege um campeão de verdade, como Caio Bonfim, um legítimo herói brasileiro. Sem oba-oba.

Dupla titular volta para arrumar a zaga do Papão

Nos dois últimos jogos, o PSC sofreu quatro gols e marcou um. Duas derrotas consecutivas. É o pior momento da equipe na competição. Antes dessa súbita queda, o time esteve a poucos pontos do G4. Parecia inevitável que alcançasse o pelotão de cima.

De repente, duas partidas fora da curva frustraram a expectativa de evolução. O jogo com o Brusque foi o primeiro sinal de que algo ia mal. O PSC teve pela frente um dos piores times do campeonato e, ainda assim, mostrou insegurança defensiva e pouca agressividade no ataque.

Tudo bem que a partida teve algumas particularidades, como o pênalti discutível logo aos 8 minutos, que provocou a expulsão do zagueiro Lucas Maia. O PSC ainda perdeu Nicolas, por lesão, e não teve capacidade de reação para buscar pelo menos o empate.

No jogo seguinte, em casa, contra o Grêmio Novorizontino, mostrou um cenário ainda mais preocupante. Reforçado pela presença de Nicolas e de João Vieira, o time foi pressionado o tempo todo, até saiu na frente, mas depois sucumbiu ao melhor futebol do visitante.

Os gols sofridos pela equipe evidenciaram falhas graves de combate e cobertura na última linha. Com Wanderson e Carlão, o setor permitiu espaços para que o Novorizontino pudesse manobrar à vontade. No primeiro gol, Wanderson perdeu um duelo direto e foi obrigado a cometer pênalti.

Nos dois gols do final da partida, os zagueiros foram recuando e esqueceram de bloquear o avanço dos atacantes. Resultado: dois chutes de fora da área, disparados com tranquilidade e sem marcação.

Contra o Vila Nova, na segunda-feira (5), a dupla titular Quintana-Lucas Maia voltará a atuar, fazendo crer que a defesa terá finalmente segurança e condições de resistir ao ataque do 4º colocado na Série B.

Nem a torcida mais feliz do país atura derrotas em série

O Palmeiras é nos últimos o time mais vitorioso do país. Disputou finais de Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, vencendo a maioria das decisões. Nem isso segurou a ira da torcida, que ontem resolveu bater na porta do clube para cobrar resultados e protestar contra o quase intocável técnico Abel Ferreira.

O estopim foi a sequência de tropeços. Foram três derrotas no Brasileiro – Vitória, Fluminense e Botafogo – e uma na Copa do Brasil, para o Flamengo. Mal acostumados, os palmeirenses se aborreceram com a situação. O protesto foi civilizado, mas mostrou que o amor acabou.

Não houve invasão ou agressão. Um grupo de integrantes da maior torcida organizada do clube ficou em frente ao portão da Academia de Futebol, por onde passam os carros dos jogadores e da comissão técnica.

A fim de evitar contato dos torcedores com os atletas ou com Abel Ferreira, o Palmeiras montou um esquema de segurança e ameaçou chamar a Polícia, mas pode ficar pior. Nas próximas semanas, o time terá a segunda partida contra o Flamengo pela Copa do Brasil e encara um novo mata-mata na Libertadores, contra o Botafogo. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 02)