POR GERSON NOGUEIRA
As declarações da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sempre pairando entre a indignação e o insulto, traduzem o estado geral de temor dos donos do futebol no Brasil com as denúncias de John Textor, proprietário da SAF Botafogo, apontando indícios e evidências de manipulação de jogos nas duas últimas edições do Campeonato Brasileiro (2022 e 2023). De certo modo, isso não surpreende ninguém, afinal historicamente os principais beneficiários de erros de arbitragem no Brasil são os maiores e mais ricos clubes do país. Leila não utiliza nem argumento para invalidar as acusações. Prefere responder com ofensas, deboche e xenofobia.
A reação que mais impressiona é a da imprensa esportiva, célere em atacar o denunciante e abafar a investigação, hoje concentrada na CPI instalada no Senado. Nomes ilustres da crônica queimam o próprio filme com argumentos mirabolantes para blindar um esquema que desperta suspeitas há décadas. Alguns flertam com a leviandade ao garantir que não há corrupção no futebol brasileiro. É como se o escândalo Edilson Pereira de Carvalho tivesse sido sugado pelo túnel do tempo.
Por dever de ofício, jornalistas devem se dedicar a apurar os fatos, o que significa investigar denúncias e suspeitas. No Brasil atual, a quase totalidade da mídia esportiva decidiu abrir mão do esforço investigatório, aliando-se aos dirigentes e empresários que combatem qualquer insinuação de apuração de atos de corrupção. Nomes respeitados juntam-se a oportunistas na apaixonada defesa do atual sistema, o que significa um habeas corpus preventivo a tudo que envolva maracutaias e armações nas competições nacionais.
Muitos alvejam Textor pelo simples fato de ser um dirigente estrangeiro ousando, veja só, “manchar” a sacrossanta imagem dos árbitros nacionais, como se os erros de todo fim de semana não tivessem maior importância. Ou, ainda, como se o VAR fosse uma instituição aceita e louvada por todos, imune a questionamentos.
Aliás, sobre o VAR, a CPI do Senado ouviu nesta quinta-feira o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme. Seu depoimento, recriminando as denúncias feitas por Textor, foi marcado pela espantosa declaração de que o árbitro de vídeo não é obrigado a mostrar todos os ângulos de um lance ao árbitro de campo. Foi a admissão tácita de que a cabine do VAR pode manipular interpretações a seu bel-prazer. Muitos erros graves e recentes podem ser explicados por esse estranho “protocolo” adotada na utilização do VAR no Campeonato Brasileiro.
Apesar da gravidade da afirmação de Seneme (vídeo acima), a mídia tradicional ignorou por completo o assunto, como vem ignorando olimpicamente todas as denúncias apresentadas por John Textor. Não parece ser do interesse dos donos do futebol mexer em temas inconvenientes, como a manipulação de resultados e o favorecimento histórico a alguns poucos clubes. O gringo, ao expor os podres da estrutura do futebol, virou a Geni da velha canção de Chico Buarque.



