Papão tropeça (de novo) em casa

POR GERSON NOGUEIRA

É provável que os passadores de pano usem a expulsão do zagueiro Quintana, aos 10 minutos do 2º tempo, como justificativa para mais uma atuação confusa do PSC no Brasileiro da Série B. Ao longo da etapa inicial, o time abdicou de pressionar. No período final, conformou-se com o empate.

A fraca produção ofensiva voltou a ser destaque negativo no PSC. Nicolas, que voltava à equipe, teve atuação discreta, sem participar diretamente de nenhuma investida ao gol catarinense. Os dois homens de lado, Jean Dias e Edinho, erraram quase todas as jogadas de infiltração na área.

O meio-campo ficou apenas na transpiração, sem vestígio de vida inteligente ao longo de toda a partida. João Vieira, Leandro Vilela e Val Soares, volantes de ofício, pouco fizeram para dar opções ao ataque. Entregaram-se a uma postura tão conservadora quanto desnecessária, pois o Avaí claramente não veio disposto a se arriscar.  

A igualdade no placar se desenhou desde a metade do 1º tempo pela absoluta ineficiência do setor ofensivo do Papão e pela indolência dos atacantes do Avaí. A bola ficava presa a uma disputa interminável na área central do campo.

Os 9 mil espectadores (7 mil pagantes) não tiveram sequer a chance de vibrar com lances de perigo. As jogadas quase sempre morriam no nascedouro, com passes errados e tentativas bisonhas de finalização.

Os dois melhores momentos ficaram por conta do time visitante. Giovani recebeu passe dentro da área, mas chutou por cima da trave. Depois, Garcez chegou a balançar as redes do Papão, mas Pottker estava adiantado e em impedimento.

Nos instantes finais, o PSC voltou a rondar a área. Edinho cruzou da direita e o goleiro César espalmou. Leandro Vilela aproveitou para emendar de primeira, mas a bola explodiu na defesa catarinense.

Depois do intervalo, a partida recomeçou em clima morno. Na primeira arrancada do Avaí, Giovani lançou Pottker no centro do ataque. O atacante avançou em direção à área, mas foi agarrado por Quintana, último homem da zaga. A expulsão do zagueiro mexeu na estrutura defensiva e enfraqueceu o ataque do PSC.

Jean Dias foi substituído por Luan Freitas, que entrou para recompor a defesa. Curiosamente, apesar da vantagem numérica, o Avaí seguiu cozinhando o galo, sem partir decisivamente em busca do gol.

Essa postura facilitou as coisas para o PSC, que correu poucos riscos e ainda teve duas boas oportunidades no ataque, com Esli García e Juninho, melhor figura da segunda parte do confronto.

É importante observar que o time paraense foi sempre muito hesitante, como se estivesse com receio do Avaí. Com isso, deixou passar um tempo precioso sem propor jogo, perdendo-se em toques improdutivos.

As coisas ensaiaram evoluir quando Juninho entrou e aplicou alguns bons dribles, mas o time estava ocupado demais em segurar o empate. No fim das contas, o 0 a 0 premiou a incompetência geral. Resultado justo.

Na lanterna, Leão joga para debelar a crise

Não adianta fingir que as coisas estão normais no Evandro Almeida. A campanha pífia na Série C coloca o Remo quase na mesma situação do ano passado, quando perdeu as quatro primeiras partidas do campeonato e praticamente deu adeus à chance de brigar pelo acesso. Tudo o que não podia acontecer neste ano era a repetição do calvário de 2023.

Para desespero do torcedor, o time resolveu reprisar o filme do verão passado. Foram dois jogos até agora, com duas derrotas para Volta Redonda e Athletic. Atuações pavorosas nas duas ocasiões, por conta principalmente do pífio funcionamento do setor de criação.

Sem criatividade não há ataque que se imponha. Quando a bola chega à frente é sempre na forma dos manjados cruzamentos. Não por acaso, os dois gols marcados (por Jaderson e Sillas) resultaram da troca de passes dentro da área. É um caminho óbvio a ser seguido.

Talvez seja esse o objetivo de Gustavo Morínigo ao insistir com Jaderson, Pavani e Matheus Anjos na meia-cancha. Através da repetição, pretende dar entrosamento e fazer com que as jogadas criativas comecem a aparecer.

Outra esperança de gols é o atacante Mateus Lucas, reforço que veio do Boavista-RJ e que estreia diante do Botafogo-PB, neste domingo. Ele terá Sillas e Cachoeira como companheiros de ataque. Todo mundo preferia ver Ronald e Felipinho nas extremas, aproveitando o provável cenário da partida, com o Remo explorando o contra-ataque.

Morínigo, porém, tem suas convicções e continua firme no propósito de escalar um time diferente a cada jogo. Foi assim no fiasco diante do Voltaço, na derrota para o Athletic e agora contra o Botafogo.

A zaga terá Ícaro e Ligger, dupla que ainda não jogou nesta Série C, e o estreante Helder na lateral esquerda. Que as experimentações funcionem desta vez. Caso contrário, é certo que a casa vai cair.

Bola na Torre

O programa vai ao ar às 22h, na RBATV, com apresentação de Guilherme Guerreiro e participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em debate, a campanha dos clubes paraenses no Campeonato Brasileiro. A edição é de Lourdes Cezar.

Palavras de um esteta do futebol

O craque Eduardo Galeano partiu há nove anos – morreu em 15 de abril de 2015. Deixou, porém, um baú de ensinamentos sobre (e além) futebol, com a humildade dos gigantes: “Não passo de um mendigo do futebol, ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: – Uma linda jogada pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece”. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 04/05)

Valente, Águia cai diante do São Paulo

POR GERSON NOGUEIRA

Apesar da utilização de um time completamente reserva, o São Paulo não teve maiores dificuldades para derrotar o Águia (3 a 1) e encaminhar classificação à próxima fase da Copa do Brasil. Com um grande público no estádio Jornalista Edgar Proença, o Azulão fez o que era possível frente a uma equipe mais qualificada.

Com grande festa e vibração da torcida nas arquibancadas, o time tricolor sentiu-se em casa no Mangueirão. Com cinco atletas formados em suas divisões de base, o São Paulo mostrou uma distribuição em campo eficiente e um interessante jogo de ocupação de espaços.

O Águia entrou com um sistema 3-4-3 com o objetivo claro de fechar o meio-campo e policiar as laterais, sem perder força ofensiva. A intenção não encontrou amparo na realidade. O time paulista se movimentava com intensidade, montando acampamento no setor de defesa marabaense.

De cara, o meia Galoppo se infiltrou entre as linhas de marcação, criando chances claras e abrindo espaço para as subidas de Erick e Patrick. Arriscou em dois momentos e a bola passou muito próximo. Aos 17 minutos, o ataque mais agudo do São Paulo: Luiz Gustavo acertou a trave direita de Axel Lopes. No rebote, Juan acertou o poste esquerdo.

O jogo era dominado pelo São Paulo, que teve até 75% de posse de bola, mas os momentos decisivos ocorreram após os 30 minutos. Wander acertou um pontapé no rosto de Patrick e acabou expulso após o árbitro ser acionado pelo VAR.

Apesar da inferioridade numérica, o Águia não esmoreceu. Minutos depois, em ação rápida na área tricolor, Wender pegou a sobra e encheu o pé para abrir o placar, aos 34’. Um golaço que renovou as esperanças ao Águia.

Pena que o empate veio dois minutos depois. Galoppo, um dos melhores em campo, recebeu passe de Erick e cruzou para Juan cabecear para o fundo das redes, levando a melhor sobre o trio de zagueiros do Águia.

Aos 46’, Juan encaixou outro cabeceio certeiro em nova falha de marcação da zaga. O jogo ainda teve dois ataques fortes do São Paulo, com Erick e Nestor, mas o placar de 2 a 1 se manteve.

No 2º tempo, o VAR acionou o árbitro para a possibilidade de um pênalti sobre Michel Araújo, mas as imagens revelaram uma falta anterior sobre Bruno Limão. A pressão do São Paulo continuou e, aos 17 minutos, Luiz Gustavo aproveitou uma bola rebatida e fez o terceiro gol. A bola ainda tocou no travessão antes de entrar.

O ritmo da partida arrefeceu nos 20 minutos finais. William Gomes ainda teve a chance do quarto gol, mas esbarrou na segurança de Axel Lopes.

O confronto de volta da 3ª fase será no dia 22 de maio, às 21h, no estádio Morumbis, na capital paulista. A vantagem tricolor é expressiva: pode perder por até um gol de diferença.

Para avançar às oitavas, o Águia terá que vencer por três gols de diferença. Tarefa dificílima contra um adversário reconhecidamente superior.

Papão tem a chance de arrancar primeira vitória

Por incrível que pareça, o futebol paraense continua sem vitórias nas três divisões do Campeonato Brasileiro. Foram cinco derrotas e um empate, obtido pelo PSC contra o Botafogo-SP na 2ª rodada da Série B. Remo (Série C), Cametá e Águia (D) não conseguiram nem isso. É seguramente o pior início de campanha dos representantes do Estado no Brasileiro.

Hoje à noite, na Curuzu, contra o Avaí (SC), o Papão pode finalmente quebrar a escrita. A derrota na estreia para o Santos, com atuação razoável, criou junto à torcida uma expectativa positiva para a segunda partida. O empate (1 a 1) com o Botafogo, porém, reabriu as desconfianças quanto às ambições do PSC na Série B.

Sem Nicolas e Robinho, o time para encarar o Avaí deve ter o retorno de Biel ao meio-campo. Kevin substitui Bryan Borges, suspenso. O ataque permanece com o trio Jean Dias, Gabriel Santos e Edinho. Esli García, xodó da torcida e autor da belíssima jogada que resultou em gol contra o Botafogo, corre por fora na briga por uma vaga na linha ofensiva.  

O Avaí, que demitiu o técnico Barroca após perder para o Santos na rodada passada, será dirigido por Marquinhos, ex-jogador e ídolo do clube. Sem pontuar até o momento, os catarinenses vêm em busca de um resultado que devolva a confiança e tire a equipe da zona de rebaixamento.

Ex-promessa da base vai buscar espaço no CSA

Depois de elogiado pela comissão técnica na campanha do PSC na Série C 2023, o atacante Roger, de 21 anos, oriundo da base, está se transferindo por empréstimo para o CSA (AL). O vínculo do atleta com o Papão vai até 2026. Rápido e habilidoso, era apontado como promessa e teve uma tarde de glória contra o Náutico, na Curuzu.

Marcou o quarto gol, fechando brilhantemente a goleada que alavancou a campanha do acesso. A partida começou com amplo domínio do Náutico, mas o Papão conseguiu a virada.  Roger entrou no segundo tempo, mostrando personalidade e presença ofensiva.

Ao todo, Roger atuou em 12 partidas, mas não teve oportunidades nesta temporada, a exemplo de Juninho. Fora dos planos do clube, ganha a chance de mostrar qualidade no alviceleste alagoano.  

Um outro jogador também se despediu ontem: o zagueiro Naylhor, de 36 anos, rescindiu contrato com o PSC. Depois de boas atuações na Série C do ano passado, ele perdeu espaço com a chegada de reforços para o setor defensivo.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 03)