A sina dos eternos enjeitados

POR GERSON NOGUEIRA

O problema vem de longa data e aparentemente não tem remédio. Todos os anos ocorrem situações que reforçam a certeza de que jogadores nativos não recebem o mesmo tratamento por parte dos técnicos de PSC e Remo, o que implica em poucas oportunidades para mostrar serviço e talento. Quando são lembrados, normalmente a casa está caindo ou já caiu.

As poucas exceções só confirmam a regra. No Remo atual, Ronald, Felipinho e Paulinho Curuá são escalados de vez em quando, conforme a tábua das marés e o humor do treinador. No PSC, nem isso.

Dois bons exemplos desse descaso em relação a valores locais são o meia Juninho e o centroavante Kanu. No Papão, Juninho teve aproveitamento até razoável em 2023, entrando no decorrer de vários jogos da Série C. Em 2024, teve poucas chances no Campeonato Paraense. Mesmo assim, marcou presença com um golaço no jogo contra o Bragantino.

Foi a última vez que a torcida viu Juninho em campo. Sem lesões que o impedissem de ser escalado, foi simplesmente esquecido entre as quatro dezenas de atletas que compõem o elenco do PSC na Série B.

Nem mesmo quando surge uma necessidade, como na partida contra o Botafogo de Ribeirão Preto, no último sábado, o meia paraense é escalado. Sem os dois meias normalmente utilizados no time titular, Robinho e Biel, o time jogou com três volantes e passou apertos no setor de armação por não contar com a presença de um especialista.

Juninho poderia ter sido aproveitado, como meia de criação ou até mesmo como meia-atacante recuado, fazendo a articulação de jogadas com Edinho pela direita ou com Ruan Ribeiro, que substituiu Nicolas no ataque.

O fato é que, sem um jogador habilidoso para comandar o processo criativo, o PSC sofreu bastante, abrindo espaço para que o Botafogo executasse uma transição rápida e eficiente. Na prática, a bola não era trabalhada e não permanecia por muito tempo no setor ofensivo, acarretando problemas para a marcação.

A disputa tornou-se perigosamente aberta, como queria o Botafogo, em grande medida pelas fragilidades do PSC no meio-de-campo. Essa situação marcou o 1º tempo e, espantosamente, não foi corrigida para a segunda etapa, com riscos constantes para a defesa bicolor. Juninho teria sido extremamente útil, jogando junto com Esli García, por exemplo.

Fica a sensação de que, se não foi aproveitado numa situação óbvia de carência na equipe, Juninho dificilmente terá chance de ser escalado.

Do outro lado da Almirante Barroso, o problema de falta de oportunidades castiga diretamente um atacante oriundo da base. Vinícius Kanu é hoje o centroavante mais preparado dentro do elenco remista, mas não tem o reconhecimento necessário.

Quando entra é sempre nos minutos finais, quando o jogo já está definido ou o desespero toma conta do time. Dificilmente um atacante vai render nesse tipo de cenário. Na Copa Verde, com 10 minutos de tempo para se apresentar, fez um golaço contra o Trem-AP.

Na sequência de clássicos com o PSC foi deixado de lado. Entrou somente na final do Parazão para jogar como volante (!). A esquisitice se explica porque falta critério na utilização por falta de conhecimento acerca das qualidades do jovem centroavante.  

Diante do Volta Redonda, na abertura da Série C, o técnico Gustavo Morínigo chegou a escalar um falso centroavante (Sillas), demonstrando insatisfação com as peças disponíveis. Kanu viu, sentado no banco de reservas, Sillas desperdiçar uma chance incrível na pequena área.

Domingo, em São João Del Rei, Kanu foi lançado no segundo tempo, quando o time já perdia por 2 a 0. Quase marcou um gol, mas visivelmente sentiu a falta de uma estrutura de meio-campo para criar situações na área.

Nos jogos sob o comando de Morínigo, os centroavantes utilizados sempre foram Ribamar, que não faz gol, e Ytalo, cujas condições físicas não permitem jogar os 2 tempos. Kanu hoje é mais completo (e jovem) que ambos, merecendo uma chance entre os titulares.

Como os salários dos jogadores costumam pesar nas escolhas dos titulares em PSC e Remo, é quase certo que Juninho e Kanu passarão a temporada em branco, o que é uma pena. Talvez venham a entrar nas últimas rodadas, quando os atletas mais badalados já demonstram enfado e exaustão.

Tricolor vem forte para duelo com o Águia

O São Paulo, adversário do Águia na próxima quinta-feira, 2, no estádio Mangueirão, empatou em 0 a 0 ontem com o Palmeiras pelo Campeonato Brasileiro, demonstrando que vem fortalecido para o embate válido pela terceira fase da Copa do Brasil.

A equipe tricolor mostrou organização e encarou de igual para igual o Palmeiras de Abel Ferreira. Mudanças na maneira de jogar do São Paulo, formuladas por Luis Zubeldía, estão dando resultado.  

Não há informação sobre o time que o técnico argentino pretende escalar em Belém, mas é bem possível que entre com força máxima. Daqui o São Paulo viajará para Salvador, onde enfrenta o Vitória no domingo, 5, pela Série A.

Em seguida, viaja para Santiago do Chile, onde enfrenta o Cobresal pela Taça Libertadores, na quarta-feira, 8. Mesmo que utilize alguns reservas, será uma equipe difícil de ser batida. Um tremendo desafio para o Águia, que estreou com derrota (para o River) na Série D.

Perema faz gol em cabeceio do meio-de-campo

O veterano zagueiro Perema (ex-PSC), jogando pelo modesto Concórdia-SC, marcou presença na rodada de domingo da Série D com uma jogada impressionante: acertou um cabeceio praticamente do meio de campo, lance raro e que requer força e impulso.

A bola veio alta e Perema se lançou no ar, à altura do grande círculo. O cabeceio saiu forte, para tirar proveito da posição adiantada do goleiro. A bola quicou antes de chegar ao arqueiro, que ainda pulou atrasado. Uma falha que não tira os méritos de Perema na tomada de decisão.

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 30)

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