Golpe de 8 de janeiro: “Me queriam preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”, diz Moraes

Um dos principais alvos dos bolsonaristas, juntamente com Lula, Alexandre de Moraes conta detalhes dos atos golpistas de 8 de Janeiro e fala do receio de que o movimento se alastrasse pelo país com a adesão das PMs.

Por Plínio Teodoro, na revista Fórum

Um dos principais alvos dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), juntamente com Lula, nos atos golpistas de 8 de Janeiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmou que um dos planos dos bolsonaristas em 8 de janeiro de 2022 era enforcá-lo na Praça dos Três Poderes.

Segundo Moraes, financiadores do acampamento em frente ao Quartel-General (QG) do Exército haviam determinado três destinos para ele, que à época estava em viagem com a família pela Europa. 

“Eram três planos. O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes. Para sentir o nível de agressividade e ódio dessas pessoas, que não sabem diferenciar a pessoa física da instituição”, disse o ministro em entrevista ao jornal O Globo.

Ele adianta que as investigações confirmam que os golpistas pretendiam forçar a adoção da chamada GLO, a Garantia da Lei e da Ordem, para tentar cooptar as forças armadas a aderirem ao golpe.

“Nas investigações e nos interrogatórios de vários desses golpistas, temos que os discursos nos quartéis onde estavam acampados diziam que deveriam vir para Brasília. De vários financiadores, (a ordem era que) deveriam vir, invadir o Congresso e ficar até que houvesse uma GLO para que o Exército fosse retirá-los. E, então, eles tentariam convencer o Exército a aderir ao golpe. O que mostra o acerto em não se decretar a GLO, porque isso poderia gerar uma confusão maior, e sim a intervenção federal. Não que o Exército fosse aderir, pois em nenhum momento a instituição flertou (com a ideia). Em que pese alguns dos seus integrantes terem atuado, e todos eles estão sendo investigados”, disse.

Moraes ainda aponta como “o grande erro doloso” a permissão da entrada dos golpistas na Esplanada dos Ministérios. “O 8 de Janeiro foi o ápice do movimento: a tentativa final de se reverter o resultado legítimo das urnas”, afirma.

O ministro do STF ainda falou do receio de que o movimento se espalhasse pelo país, principalmente com a adesão das forças policiais e diz que a prisão de Anderson Torres, ex-ministro e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, de Fábio Augusto Vieira, comandante-geral da Polícia Militar, e o afastamento de Ibaneis Rocha (MDB) do governo local, além da prisão em flagrante dos golpistas, foram essenciais para que isso não ocorresse.

“Se tivéssemos deixado mais pessoas em frente a quartéis (no dia seguinte), poderia gerar mais violência, com mortes e distúrbios civis no país todo. Se não houvesse a demonstração clara e inequívoca de que o Supremo Tribunal Federal não iria admitir nenhum tipo de golpe, afastaria qualquer governador que aderisse e prenderia os comandantes de eventuais forças públicas que aderissem, poderíamos ter um efeito dominó que geraria caos no país”, contou.

Segundo Moraes, que foi ministro da Justiça e secretário da Segurança Pública de São Paulo, 
“o que chocava era a inação da Polícia Militar”. “Afirmo sem medo de errar: não precisaria de cem homens do Batalhão de Choque para dispersar aquilo”, disse.

Bernstein escreveu prefácio de livro sobre os Beatles e chamou Lennon e McCartney de santos

Por Silvio Osias, no Jornal da Paraíba

Em 1982, quando a editora Melhoramentos publicou no Brasil o livro The Beatles, fazia 20 anos do lançamento do primeiro single do grupo e 12 da separação. Tudo ainda era muito recente. O texto do livro era de Geoffrey Strokes, e a capa, de Andy Warhol.

O prefácio – sim, o prefácio! – era do maestro Leonard Bernstein, que nós cultuávamos com profunda admiração. A opinião de Bernstein, sendo o gigante que ele era na música erudita, chancelava os Beatles e cortava o barato dos que insistiam em não compreender a dimensão do quarteto.

Comprei o livro em 1982 e o mantenho íntegro no meu acervo. Agora, aproveitando o momento em que o nome de Leonard Bernstein está outra vez em evidência por causa do filme Maestro, transcrevo o prefácio escrito no final da década de 1970.

“Me apaixonei pela música dos Beatles (e, ao mesmo tempo, por aquelas quatro caras cum persone) junto com meus filhos, duas meninas e um garoto, ao descobrir aquele falsete fabuloso gritado-sussurrado, aquela batida irresistível, a entonação perfeita, as letras completamente novas, a torrente schubertiana de invenção musical e a nonchalance tipo Danem-se esses Quatro Cavalheiros do Nosso Apocalipse. Jamie tinha doze anos, Alexander, nove, e Nina, dois. Juntos, nós vimos A Visão, em nossas formas inevitavelmente distintas (eu tinha 46 anos!), mas vimos a mesma Visão, e ouvimos o mesmo Pássaro-da-Manhã, Trombeta-do-Elefante, Fanfarra-do-Futuro. Que futuro? Cá estamos nós, quinze anos se passaram, aquilo passou. Porém, durante uma década mais ou menos, ou ainda menos, aquilo permaneceu a mesma Visão-Clarim, cada vez mais concludente e irrefutável, mais clara, mais amarga – e melhor.

Talvez o mais claro, mais amargo (e quem sabe melhor) foi um disco chamado Revolver (pace Sgt. PepperAbbey Road et al). Nesse álbum, a melhor coisa, talvez, era uma musiquinha chamada She said she said; pensar nela, lembrar-se dela traz imediatamente à memória toda a beleza daquelas Veias Varicosas Vietnamitas. As notas cicatrizavam, a letra incomodava; ou talvez fosse vice-versa. Mas alguma coisa incomodava, e alguma coisa cicatrizava, ano após ano, Rigby após Rigby, Paperback após Norwegian, talvez expressa às últimas consequências na verdade vislumbrante e triste de She’s leaving home.

Enquanto isso, aparecia um volume fino, de pura genidalidade verbal de um ator novo, chamado John Lennon: in his own write. Como se isso não bastasse para a lenda, ainda havia as notas (e a voz de sereia-sílfide) de um tal McCartney. Esses dois formavam uma dupla que incorporou uma criatividade quase nunca igualada naquela década feliz. Ringo – um ator-instrumentista adorável. George – um talento místico irrealizado. Porém, John e Paul, São João e São Paul, eram, e fizeram, e aureolaram, beatificaram e eternizaram o conceito que será sempre conhecido, lembrado e profundamente amado como The Beatles.

E, se os depois foram simplesmente isso, os quatro foram O Todo. Essa interdependência deixava atônito, chapava, às vezes dava pavor; vamos mesmo precisar disso tudo Quando Tivermos 64 Anos? Bem, hoje estou beirando os 64, e três compassos de A day in the life bastam para me sustentar, rejuvenescer, excitar meus sentidos e sensibilidades.

Nina, que tinha dois anos em 64, agora tem dezessete; e ainda na semana passada pegamos aquele livro grosso e infeliz de partituras mal tiradas dos Beatles para ficar relembrando no piano. Nós choramos, e demos pulos de alegria com as redescobertas (She’s a woman) – só nos dois, durante horas (Ticket to rideA hard day’s nightI saw her standing there)…

Isso foi a semana passada. Os Beatles não existem mais. Mas esta semana ainda estou pulando, chorando, recordando uma época boa, uma década de ouro, bons tempos, bons tempos…

LEONARD BERNSTEIN/9 de outubro de 1979″

Rock na madrugada – Humble Pie, “30 Days in the Hole”

Sem adereços eletrônicos para disfarçar erros, sem efeitos excessivos. Tudo no vídeo acima remete a uma reunião de talentos. O Humble Pie fez muito sucesso na Inglaterra dos anos 70, embora sem estourar nas paradas mundiais. Com Steve Marriott à frente, era uma verdadeira máquina de afinação. Em menos de dois segundos após o acorde inicial, a banda ataca ao mesmo tempo, tudo devidamente sincronizado.

“30 Days In The Hole” é do álbum Smokin, de 1972. Um brilhante guitarrista passou pela escola rítmica do Humble Pie: Peter Frampton, de carreira solo muito bem sucedida nos anos 80.