Drama, teu nome é Botafogo

Por Syanne Neno

Antes que me joguem pedras como a Geni do futebol, que troca de time como uma meretriz do afeto, esclareço: sou Fluminense de pai, mãe e pó de arroz na cara. Mas a mística da Estrela Solitária me inspira, me entorpece em bons sentimentos. E, definitivamente, não posso sossegar os dedos sem escrever, sobre o que poderá ser a maior “pipocada” do futebol brasileiro.

Nesta quinta-feira, o Botafogo amargou a segunda derrota seguida, de virada, pelo mesmo placar: 4×3. Semana passada, no jogo mais traumático do ano no futebol brasileiro, a Estrela Solitária perdeu para o Palmeiras depois de estar vencendo de 3x 0 no primeiro tempo.

Desta vez coube ao Grêmio, com 3 gols de Suaréz, o papel do algoz de um combalido Botafogo. Foi a quarta derrota seguida dos alvinegros, e o segundo revés, em uma semana, com requintes de crueldade. Esse time, completamente desconfigurado emocionalmente e com uma explícita falta de comando, é o mesmo que chegou a liderar o campeonato com 13 pontos de vantagem. O 13 que já esteve nas costas de Loco Abreu e Zagallo, dois dos maiores ídolos do clube, marcou o início da derrocada botafoguense.

Ser Botafogo nunca foi fácil. A irremediável vocação para o sofrimento, para a falta de sorte, sempre acompanhou a torcida. Para deleite dos rivais, que cantarolam o “ninguém cala esse chororô…”, nas arquibancadas.

“Oh, céus, oh, vida, oh, mundo cruel…” como aquela hiena do desenho animado, o torcedor botafoguense vivia a se debulhar em lamúrias. Eram jogos perdidos nos últimos minutos, arbitragem contra, heróis derrotados na vida real, coisas que só aconteciam ao Botafogo, resumia sabiamente o jornalista e Mestre Armando Nogueira, o maior dos alvinegros.

Mas neste ano, com o inventivo do vil metal , do empresário estadunidense John Textor, o time que carrega a fama de azarado disparou na liderança do Brasileiro. Mas há 4 jogos, o Botafogo voltou a ser Botafogo. Um gauche da pátria de chuteiras, um menino de rua perdido na poética dramaticidade do futebol brasileiro.

Nelson Rodrigues já vaticinou que sem paixão, não se chupa nem um picolé. Pois bem, senhores, o supersticioso Botafogo desta vez nem padece da falta de sorte. Sofre mesmo é da falta de alma. A começar pela apática figura do técnico, Lucio Flavio.

Após reviver pesadelo, Botafogo busca substituto para Lucio Flavio

Como precisamente definiu o Felipe Neto, Lucio Flavio traz o sonolento perfil de treinador que grita: “foi falta, CARAMBA!” Mas sejamos justos, ele não é o único culpado. Se o Botafogo perder esse título, pode colocar também na conta da equipe e diretoria, que decidiram pela efetivação do treinador que era interino, depois da saída de Bruno Lage. No momento mais glorioso do time, desde o título brasileiro de 95, o grupo decidiu se fechar em torno de um profissional sem a fúria vitoriosa.

Armando Nogueira, Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Clarice Lispector…poetas e escritores botafoguenses que não morreram. Viraram estrela, como todo torcedor alvinegro que parte dessa vida de expiações futebolísticas.

Tomara que essa trupe celestial esteja empenhada em um plano, lá por cima, junto aos deuses do futebol. Para fazer o brilho da Estrela Solitária voltar a resplandecer, em meio ao caos emocional que reina em General Severiano.

Nessas seis ultimas rodadas, teremos várias finais nesse campeonato que vem sendo o mais disputado dos últimos tempos. Grêmio, Palmeiras, Red Bull e agora, o Flamengo, estão na briga. Mesmo depois de quatro derrotas, duas delas sanguinárias, o Botafogo segue líder. Uma estrela solitária o conduz. Sorte de quem tem um símbolo celestial em seu escudo. A conduzir seu destino com a magia do imponderável.

Este texto é dedicado a todo torcedor botafoguense. Especialmente aos amados Gabriel e Simone Neno, filho e irmã, aos queridos Francisco Rocha, advogado, Daniela Damaso e Gerson Nogueira, jornalistas, e ao médico Rogerio Frahia. Todos com a alma impregnada de poesia parnasiana. E visceral, como todo bom botafoguense.

Nota do blogueiro:

Syanne, sensível como só ela pode ser, escreveu essas inspiradas palavras depois do jogo do Botafogo nesta quinta-feira. Teve a extrema gentileza de enviar ainda na madrugada, sabedora das angústias que todos os botafoguenses sentiam na longa noite pós-Suarez. As lágrimas desceram quando li; até aquele momento resistia bravamente, bancando o durão. Foi bom aceitar a tristeza aguda que só o futebol pode proporcionar. Obrigado.