Com bastante atraso, Toffoli anula provas e diz que prisão de Lula foi erro histórico

Por Anna Satie, do UOL

O ministro do STF Dias Toffoli decidiu hoje anular todas as provas obtidas a partir de delações da Odebrecht e considerou a prisão do presidente Lula (PT) como “um dos maiores erros judiciários da história do país”. Toffoli reconheceu pedido da defesa de Lula e declarou que as provas obtidas a partir do acordo de leniência da Odebrecht são imprestáveis, por terem sido obtidas por meios “heterodoxos e ilegais”.

Ministro disse que agentes se valeram de “verdadeira tortura psicológica, um pau de arara do século XXI, para obter “provas” contra inocentes”, como já tinha dito em julgamento anterior. Para ele, a prisão de Lula pode ser chamada de “um dos maiores erros judiciários da história do país”.

Tratou-se de uma armação fruto de um projeto de poder de determinados agentes públicos em seu objetivo de conquista do Estado por meios aparentemente legais, mas com métodos e ações contra legem [contra a lei].

Ministro disse ainda que prisão de Lula foi “ovo da serpente dos ataques à democracia e às instituições que já se prenunciavam em ações e vozes desses agentes contra as instituições e ao próprio STF”. “Ovo esse chocado por autoridades que fizeram desvio de função, agindo em conluio para atingir instituições, autoridades, empresas e alvos específicos”, continuou.

Esses agentes desrespeitaram o devido processo legal, descumpriram decisões judiciais superiores, subverteram provas, agiram com parcialidade e fora de sua esfera de competência.

Toffoli ainda disse que as decisões decorrentes desse acordo de leniência “destruíram tecnologias nacionais, empresas, empregos e patrimônios públicos e privados”. “Atingiram vidas, ceifadas por tumores adquiridos, acidentes vascular cerebral (sic) e ataques cardíacos, um deles em plena audiência, entre outras consequências físicas e mentais”, disse ele, sem especificar a quem se refere. A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu em 2017 vítima de um AVC.

Ministro determinou ainda que a PF apresente todo o conteúdo obtido pelo acordo de leniência e pela Operação Spoofing, sem qualquer corte ou filtro, em até dez dias, sob pena de crime de desobediência.

Uma das advogadas do presidente é Valeska Teixeira Zanin Martins, esposa do atual ministro do STF Cristiano Zanin. O senador Sergio Moro (União Brasil-PR) disse que não irá comentar a decisão.

LULA FICOU PRESO POR 580 DIAS

Então ex-presidente foi preso em 7 de abril de 2018, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por decisão do ex-juiz Sergio Moro.Ele foi solto em 8 de novembro de 2019, depois que o STF derrubou a prisão em segunda instância —ou seja, a pessoa só pode cumprir pena depois que todos os recursos forem esgotados. Toffoli, à época, foi um dos votos contrários a prisão em segunda instância.

Dois anos depois, em 2021, a Segunda Turma do STF anulou todas as condenações de Lula. Os ministros entenderam, por oito votos a três, que a 13ª Vara de Curitiba não era a esfera competente para julgar o caso, e que Sergio Moro foi parcial em sua avaliação.

Com isso, Lula tornou-se ficha limpa e pôde se candidatar às eleições de 2022, que venceu com mais de 60 milhões de votos.

Dias Toffoli foi advogado-geral da União no segundo mandato de Lula, antes de ser indicado pelo petista ao STF. Ele atuou também como advogado do PT, sendo assessor jurídico na Câmara dos Deputados. Presidente do STF de 2018 a 2020, Toffoli demorou a autorizar que Lula, então preso em Curitiba, comparecesse ao velório do irmão, o que não permitiu que o atual presidente participasse da cerimônia.

Ainda como presidente do STF, Toffoli chegou a receber Bolsonaro em sua residência, o que gerou ira de apoiadores do ex-presidente. Em 2019, foi de Toffoli o voto decisivo que proibiu a prisão de condenados em 2ª instância. A decisão da maioria do Supremo permitiu que Lula deixasse a prisão após 580 dias preso.

A frase do dia

“Prisão de Lula é um dos maiores erros da história do pais. Tratou-se de uma ARMAÇÃO de agentes de poder, com métodos ilegais.”

Dias Tofolli, ministro do Supremo Tribunal Federal

Alegria e pavulagem com a Seleção

POR GERSON NOGUEIRA

É sempre um acontecimento quando a Seleção Brasileira joga em Belém ou em qualquer capital. A cidade muda de feição. Sim, o futebol tem dessas coisas. Mexe com paixões, sentimentos, afetos. Alguém vai dizer, até com razão, que o futebol brasileiro não tem feito por onde inspirar mais tanta alegria e fervor junto ao torcedor.  

Os últimos anos, as frustrações, as campanhas meia-boca em duas Copas seguidas, a chatice insuportável de um técnico metido a filólogo, o visível recuo técnico do futebol praticado por aqui. Tudo isso forma um caldo de mágoas que afeta muita gente.

Há, porém, uma reserva afetiva que cerca a Seleção como instituição nacional. Isso independe de momentos ruins, dos desmandos corporativos, das gestões toscas de CBF e clubes. O torcedor, por mais castigado que tenha sido pelos insucessos do escrete, resiste.

É que a memória que prevalece é a da Seleção vitoriosa, pentacampeã do mundo, celeiro de grandes craques da bola. É o orgulho por 1958, que revelou Pelé ao mundo; por 1962, do apogeu de Garrincha; por 1970, do espetáculo de tática e técnica; por 1994, o título da objetividade; e por 2002, do time dos 4 Rs (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos).

Ao reverenciar a Seleção, apesar dos recentes embaraços pela utilização perniciosa da camisa canarinho como símbolo politiqueiro, o torcedor está expressando a imensa veneração histórica pela equipe mais vitoriosa do mundo. É um orgulho torcer pelo escrete, independentemente da fase boa ou ruim.

Observei isso nas quatro Copas que cobri. O orgulho pelos feitos brasileiros nos gramados não se restringe aos brasileiros. Há muita gente espalhada por outros países que nutre sincera admiração pela Seleção. Na África do Sul, em 2010, a torcida local estava quase sempre do nosso lado.

Na Alemanha-2010 e no Qatar-2022, a Seleção era sempre recebida com uma expressão de carinho. A simples menção ao Brasil desperta gestos naturais de simpatia, o que é uma façanha e tanto para um país (ainda) de Terceiro Mundo.

É, portanto, inteiramente natural que o paraense esteja feliz por saber que por toda esta semana a Seleção Brasileira “mora” no Pará, desfrutando de sabores e delícias que só a Cidade das Mangueiras oferece. Hospedar os principais jogadores do país é motivo de sobra para o belemense estufar o peito, exibindo a pavulagem.

No primeiro treino, Diniz não faz mistérios

No primeiro treino da Seleção no estádio Jornalista Edgar Proença, houve a repetição daqueles exercícios para movimentar jogadores com roda de bobo e troca de passes. Fernando Diniz estreou no comando com a prática da tarde de ontem, mas não exibiu nenhuma grande diferença em relação ao estilo habitual como treinador de clube.

Apenas Gabriel Jesus não participou do treino, pois chegaria somente à noite. Os demais 22 jogadores, incluindo Neymar, foram conhecer o gramado do Mangueirão. A novidade é que Diniz permitiu que os jornalistas acompanhassem o treinamento por 30 minutos. Na era Tite, de tantos mistérios e lorotas, o tempo era mínimo.

A partir de hoje, com o elenco completo, é provável que o treinamento seja mais dedicado a orientações táticas. É justamente aí que reside a grande curiosidade do torcedor em relação ao trabalho de Diniz.

O técnico surpreendeu positivamente, mas o assessor Rodrigo Paiva resolveu bancar o VAR da coletiva de Danilo e Lucas Perri, com interferência desnecessária em pergunta dirigida ao goleiro botafoguense. 

Um sucesso inesperado na lateral esquerda do Papão

Kevyn tem sido um lateral-esquerdo eficiente, vigoroso e goleador. Encaixa como luva no Paysandu e é, ao lado do meia Robinho, o principal destaque do time de Hélio dos Anjos no quadrangular da Série C. Com entusiasmo e muita presença ofensiva, tornou o time menos dependente das ações pelo meio.

No domingo, foi decisivo ao marcar o gol de empate contra o Volta Redonda. O jogo estava enrolado, o visitante havia feito 1 a 0 e a torcida começava a ficar impaciente. No primeiro bom cruzamento na área, Kevyn estava lá para desviar a bola para as redes.

Um gol que representou alívio e evitou a derrota na estreia em casa. Mais ou menos no mesmo grau de importância do gol marcado pelo lateral contra o Náutico. Um salto, de peixinho, garantiu o empate em jogo duríssimo na Curuzu.

De repente, para surpresa de todo mundo, Kevyn vem se tornando o jogador mais letal em situações de tensão. Essa importância aumenta ainda mais ante os desafios que o time terá pela frente no quadrangular, a começar pelo jogo em Manaus, sábado, contra o Amazonas.

O empate frustrou um pouco a expectativa da torcida, que contava com uma estreia vitoriosa para alavancar a caminhada rumo ao acesso.

Mas, tendo ainda cinco jogos pela frente, o Papão segue com boas chances desde que consiga uma vitória fora de casa e vença seus jogos em Belém, contra Botafogo-PB e Amazonas.

Kevyn tem se sobressaído porque se beneficiou do trabalho de recondicionamento físico do elenco. Tem aproveitado para mostrar eficiência no lado defensivo e muito empenho nas ações ofensivas, aparecendo para cruzar bolas e também para finalizar. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 06)

Rock na madrugada – Marcelo Gross, “Dança das Almas”

Marcelo Gross toca “Dança das Almas” acompanhado pela banda Jogo Sujo no Bar Ocidente, em Porto Alegre/RS. Show realizado em janeiro de 2021. Gross é guitarrista, compositor e co-fundador do Cachorro Grande, uma das maiores bandas do rock gaúcho.