A triste briga com a realidade

POR GERSON NOGUEIRA

No afã de se “reforçar” na reta final da etapa de classificação da Série C, não satisfeito com os incontáveis erros de planejamento e contratação, o Remo anunciou gloriosamente na terça-feira o atacante Thiaguinho, de 25 anos, e de passagem obscura pelo clube na temporada passada. É como se o jogador estivesse sendo premiado pelo que não fez da primeira vez.

Trata-se da 25ª contratação do Remo na temporada. Thiaguinho chega para jogar quatro partidas – Volta Redonda, Manaus, CSA e Altos –, caso esteja em plenas condições de ser escalado. Vai disputar um lugar pelos lados do ataque com Ronald, Renanzinho, Vítor Leque e Jean Silva. Tem chances de entrar no time, pois, com exceção de Ronald, os outros só fazem figuração.

A vinda de mais um jogador de ataque para dar a Ricardo Catalá a opção de explorar os lados do campo torna ainda mais incompreensível a liberação de Ricardinho, revelação da base azulina. Sem oportunidades com o treinador, ele foi cedido por empréstimo ao Santa Rosa para disputar a Segundinha do Parazão.

Ricardinho, apesar de iniciante, é muito superior a Leque e Renanzinho. Por incrível que pareça, ninguém teve coragem ou argumentos para mostrar a Catalá uma situação óbvia: com o jovem ponta no elenco, ele não precisaria ir atrás de jogadores em outros clubes. E jogadores de nível técnico questionável.

Baiano de Riachão, Thiaguinho defendeu Bahia, Vitória, ABC, Vila Nova, Taubaté e Jacuipense, onde estava jogando. Na Série C passada, ele entrou em apenas dois jogos, sem maior destaque.

Já o PSC, que se mostra imbatível em gastança na temporada, anunciou ontem o meia Ronaldo Mendes, 30 anos, para encarar os últimos quatro jogos da fase classificatória. O meio-campo é um dos setores mais frágeis do time nesta Série C, principalmente no setor de criação, onde apenas o veterano Robinho atua como armador.

Insaciável, o clube já sinaliza que ainda vai contratar mais nas próximas semanas. Caso se classifique para a fase dos quadrangulares, novos reforços serão anunciados. Os contatos já foram iniciados e a lista de contratações deve facilmente superar a casa dos 50 nomes.

É o Pará boleiro exportando visão estratégica e técnicas gerenciais revolucionárias sobre como gastar dinheiro a rodo sem ter o devido retorno. (Foto 1: Samara Miranda/Ascom Remo; foto 2: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

Fiasco na Copa feminina não pode virar linchamento

Já se assanham os vorazes inimigos do futebol feminino para atirar pedras nas atletas da Seleção Brasileira, após a eliminação na primeira fase da Copa do Mundo. É injusto e hipócrita criticar os muitos problemas exibidos pelo time dirigido por Pia Sundhage.

Sob a desculpa de que a equipe teve apoio e infraestrutura do mesmo nível que é oferecido à seleção masculina, muita gente se sente no direito de reclamar do desempenho de Marta & cia. É pura ignorância.

Há uma questão histórica que não pode ser esquecida ou subestimada. O futebol feminino só passou a existir de verdade no Brasil nas últimas quatro décadas, mesmo assim se sustentando em torneios paupérrimos, sem apoio de ninguém, principalmente de dona CBF.

Não há como revelar grandes atletas sem a massificação do esporte. O Brasil corre na contramão de Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Dinamarca e Espanha, onde o futebol feminino é febre entre as meninas desde os primeiros anos de estudos.

A associação entre esporte e educação é um símbolo dos países mais evoluídos. No Brasil, prevalece a tese tacanha de que o talento irrompe naturalmente, como capim na rua. Por conta disso, fenômenos como Sissi, Formiga e Marta surgem só muito de vez em quando, quase por acidente.

É, portanto, um atentado à inteligência exigir conquistas e façanhas de uma seleção formada por jogadoras comuns e liderada por uma veterana de muito talento. Para piorar, a avassaladora campanha de marketing de uma rede de TV agravou a situação, criando uma falsa expectativa.

A partir daí, todos os pachecos e pachecas passaram a acreditar que Pia e suas atletas iriam atropelar as adversárias e rumar para o título. As matérias apelavam diariamente para o patriotismo de chuteiras, mesclando inverdades estatísticas com apelos libertários. Uma bobagem.

Futebol é, desde sempre, dominado por quem joga melhor, sabe trocar passes e faz gols mais que os adversários. Sem isso, não se chega a lugar nenhum, por mais que o barulho midiático indique o contrário.

Felipão, Hulk e outras ilusões perdidas

Desde aquele trágico 7 a 1, em 2014, Felipão perdeu o bonde. E não era para menos. Quase todo mundo imaginou que iria largar o ofício, mas ele teimosamente insistiu em continuar trabalhando. Um direito, obviamente, mas uma afronta ao estado natural das coisas.

Campeão do mundo com o Brasil em 2002, o melhor caminho a tomar era a aposentadoria honrosa, na esperança de que a surra histórica para os alemães fosse perdendo impacto com o passar do tempo.

Passou pelo Palmeiras, enganando com um título meio acidental, depois saiu de cena. Reapareceu como diretor técnico do Atlético-PR, mas não resistiu aos acenos (e à grana) do Atlético-MG para voltar a ser treinador.

Até podia dar certo. O elenco é um dos melhores e mais caros do Brasil, embora tenha como símbolo um jogador limitado, poucos degraus acima de um perna-de-pau. Hulk só joga no Brasil hoje. Não tem mais mercado na Europa, talvez nem na Ásia.

Vive das trombadas, empurrões e disparos lá de longe. É o tipo do jogador que deve ser deixado sozinho com a bola, pois ele mesmo se marca. Felipão e Hulk são a dupla face de um Galo que briga com a realidade e é fiel representante dos clubes gastadores que o Brasil gerou nos últimos anos.

A tranquila vitória palmeirense, ontem, apenas confirma o que muitos não querem ver. Felipão deixou de ser técnico e Hulk é um jogador caro e comum.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 03)

Empate com Jamaica elimina o Brasil da Copa do feminina na fase de grupos

O Brasil voltou a ser eliminado na fase de grupos da Copa do Mundo Feminina depois de 28 anos. Pela primeira vez desde 1995, a equipe caiu ainda na etapa inicial da disputa. A queda precoce veio depois do empate por 0 a 0 com a Jamaica, em Melbourne. É a terceira vez que a seleção brasileira, que disputou as nove edições de Copa, deixa a competição ainda na primeira fase. O time acabou eliminado também nas edições de 1991 e 1995.

Na primeira edição do Mundial, na China, quando apenas 12 seleções participavam, o Brasil ficou em terceiro lugar do Grupo B e não avançou. Estados Unidos liderou, seguido da Suécia e a única vitória brasileira foi em cima do Japão, lanterna do grupo, por 1 a 0, gol de Elane.

Em 1995, o Brasil caiu novamente em um grupo com Suécia e Japão e foi o lanterna com apenas uma vitória, justamente sobre a anfitriã sueca. O placar também foi de 1 a 0, e o gol foi de Roseli. Na última edição, na França, com 24 seleções, o Brasil terminou a fase de grupos na terceira colocação no grupo com Itália, Austrália e Jamaica, mas avançou às oitavas como melhor terceiro colocado.

Em 2023, diferente de outros anos, a eliminação precoce da seleção feminina na Copa do Mundo não entra na conta da falta de estrutura ou de apoio à modalidade. Mesmo que o cenário ainda esteja longe do ideal, os últimos quatro anos foram transformadores para a modalidade no país – clubes, campeonatos e seleção.

Hoje, podemos e devemos focar no que aconteceu nas quatro linhas – os treinamentos, as escolhas táticas, a escalação, as substituições… Essa nova realidade – trazer o olhar para dentro e não mais para fora de campo – talvez seja a melhor notícia de uma Copa aquém da expectativa. E a análise do que ocorreu nas quatro linhas é incontestável: a seleção brasileira fracassou e decepcionou na Austrália.

Em 2019, Marta proferiu o seu famoso discurso após a derrota para a França cobrando, mais uma vez e mais enfática do que nunca, que o futebol feminino acordasse para o fato de que ela não jogaria para sempre. Quatro anos depois, ela ainda estava lá, mas seu adeus ocorre em momento menos desalentador para a modalidade.

Nesta quarta, Marta estava triste na sua despedida das Copas, claro. Mas seus olhos marejados enxergam um caminho que, enfim, começou a ser pavimentado. Este ano, seu foco não foi cobrar mudanças, mas proteger um legado.

– Essas meninas têm um futuro muito longo aqui na seleção. A jornada delas está apenas começando. A Marta não vai jogar outra Copa, obviamente, mas elas vão – afirmou.

A base para os próximos desafios, a começar por Paris-2024, está feita, com nomes como Letícia (28 anos), Antônia (29), Kathellen (27), Ary Borges (23), Kerolin (23), Adriana (26), Geyse (25), Bia Zaneratto (29), Bruninha (21), Lauren (20), Duda Sampaio (22), e Angelina (23).

Mas isso é o futuro. Hoje, é preciso entender o que ocorreu para que um time com jovens talentosas e jogadoras experientes não conseguisse furar a previsível retranca jamaicana, dando adeus à Copa na fase de grupos, o que não acontecia havia 28 anos.

As duas análises, do amanhã que traz esperança e do pesadelo desta noite fria de quarta-feira no Estádio Retangular de Melbourne, passam pelo mesmo nome: Pia Sundhage.

Desde a chegada da treinadora, em agosto de 2019, a seleção feminina viveu uma renovação bem estruturada, gradual, com respeito a processos dentro e fora de campo. Mesmo após o tropeço nas Olimpíadas de Tóquio, também precoce, nas quartas de final, o Brasil não perdeu o rumo. Este ano, fez bons jogos contra Inglaterra e Alemanha.

Então, por que foi eliminada tão precocemente? Voltamos a Pia Sundhage. Será sobre seus ombros que recairá a maior carga de responsabilidade. Um pouco pela nossa tradição de apontar o dedo para treinadores nas derrotas. E também porque ela não contribuiu para que fosse diferente. Tirando a – hoje sabemos – ilusória goleada sobre o frágil Panamá, a seleção não encontrou seu futebol na Copa.

Exagero dizer que a culpa da eliminação é da treinadora sueca apenas. Atletas que eram fundamentais para fazer o jogo brasileiro fluir não tiveram boa atuação, como Debinha, Adriana, Ary Borges e Kerolin – algumas não só contra a Jamaica. O time, em geral, não soube colocar a bola no chão e os nervos no lugar.

TREINADORA ADMITE DEMORA NAS MUDANÇAS

Mas Pia, à beira do gramado, também parecia impotente para alterar um panorama que já soava preocupante no primeiro tempo nesta quarta. Após o jogo, a própria treinadora reconheceu que demorou a agir.

No intervalo, ela fez uma boa troca: Bia Zaneratto no lugar de Ary Borges. Mas esperou até os 35 do segundo tempo para voltar a mexer no time, lançando de uma só vez três novas jogadoras, em um movimento que soava mais a desespero do que planejamento. A demora para tomar decisões já tinha sido um problema contra a França, o resultado que abriu caminho para a eliminação.

– Essa é sempre uma pergunta que a gente se faz, quando a gente vê que não funcionou. Algumas das situações ali no segundo tempo poderiam ter sido melhores. Quando vemos o resultado, percebemos que foi um pouco tarde – admitiu Pia.

(Com informações de O Globo, UOL, ESPN e Lance)

Carla Zambelli é alvo de operação da PF e hacker da Vaza Jato é preso

A Polícia Federal prendeu na manhã de hoje, em Araraquara, Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato. A deputada Carla Zambelli (PL) é alvo de busca e apreensão. A corporação cumpre determinação assinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

A PF investiga a atuação de Zambelli e Delgatti na invasão aos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão). A PF cumpriu um mandado de prisão contra Delgatti em Araraquara, em São Paulo. Há mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete de Zambelli. São dois mandados de busca em São Paulo e três no Distrito Federal.

Moraes determinou que a PF recolha armas, computadores, tablets e o passaporte de Carla Zambelli em todos os endereços relacionados à deputada. Na decisão, o ministro do STF pede para averiguar se há cômodos secretos nos locais.

Os fatos investigados configuram os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Em nota, a defesa de Carla Zambelli informou que a deputada nega cometimento de qualquer crime e que está disposta a cooperar com autoridades.

Advogado de Walter Delgatti, Ariovaldo Moreira, informou ao UOL que seu cliente está preso na PF de Araraquara, mas não deu detalhes sobre os próximos passos que a defesa tomará. É a terceira vez que o hacker é preso em operação da PF. As outras duas ocorreram em 2019, na Operação Spoofing. Solto em 2020 usando tornozeleira eletrônica, foi preso novamente em junho de 2023 por descumprir as medidas judiciais, já que afirmou que cuidava das redes sociais de Carla Zambelli, o que era proibido.

Delgatti estava sob uso de tornozeleira eletrônica desde 10 de julho por decisão da Justiça.

MANDADO DE PRISÃO FALSO CONTRA MORAES

Delgatti e Zambelli conseguiram invadir os sistemas do CNJ e BNMP usando credenciais falsas obtidas de forma ilícita entre 4 e 6 de janeiro de 2023. Foi inserido um mandado de prisão falso contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que dizia: “Expeça-se o mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L”.

Também foram inseridos 11 alvarás de soltura de presos por motivos diversos nos sistemas do CNJ e de outros tribunais do Brasil.

Delgatti já admitiu que ele foi o autor da invasão ao CNJ e do falso mandado de prisão contra Moraes a pedido de Carla Zambelli. A invasão seria uma espécie de prêmio de consolação para a deputada, que queria, na verdade, que ele hackeasse as urnas eletrônicas e as contas de Moraes.

O ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) comentou a operação nas redes sociais.

(Com informações do UOL)