Mudanças que atrapalham

POR GERSON NOGUEIRA

Para entender melhor o que aconteceu sábado à tarde em Maceió é preciso voltar um pouco no calendário. Quando efetivou Souza como titular, a partir do jogo contra o Bahia (0 a 2, em Salvador), o técnico Dado Cavalcanti viu-se obrigado a alterar a forma de o time jogar. Como precisava reforçar as ações ofensivas, passou a usar um segundo armador, Edinho. A mudança não deu certo. Nem Souza se tornou o homem de referência do ataque, nem Edinho fez o time ficar mais criativo.

Na verdade, a única vitória do Papão nos últimos seis jogos foi contra um desfalcado Bahia no Mangueirão (3 a 0). Triunfo importante, mas enganoso quanto a rendimento técnico. Os visitantes foram superiores no primeiro tempo. As coisas só melhoraram com Misael em campo no segundo tempo. Com os gols e a empolgação, houve até quem avaliasse como positiva a nula participação de Souza.

Todas as demais partidas, incluindo a de sábado, revelaram um Papão desorganizado e instável, sujeito a apagões, até mesmo no antes aclamado sistema defensivo. Foi assim contra o Macaé (1 a 2), Sampaio (1 a 1), Bahia (0 a 2) e CRB (3 a 0). Nem sombra da confiança e objetividade que marcaram a bela sequência de oito partidas invictas na Série B.

Em Maceió, diante de um CRB pressionado pelos maus resultados, o Papão acabou vitimado por suas próprias inseguranças, agravadas pelas alterações em dois setores estratégicos da equipe. Sem contar com Fahel e Ricardo Capanema, Dado escalou Augusto Recife e Jonathan. Pôs Pikachu como segundo armador, deixando Luís Felipe na ala direita, obcecado com a questão da altura na defesa.

Foi o quadrado de meio-campo mais habilidoso que o Papão já usou na competição. Recife é quase um meia-armador, pela facilidade do passe e precisão nos chutes. Jonathan movimenta-se como um apoiador. Pikachu dispensa comentários e Carlinhos é o organizador.

Na prática, porém, nada funcionou. Recife e Jonathan não deram conta de marcar meias e atacantes do CRB, Pikachu não combatia nem apoiava e Carlinhos mal pegou na bola. Todos erraram muitos passes, comprometendo o equilíbrio coletivo do time.

Além do desajuste que as modificações trouxeram ao setor defensivo, o Papão teve pela frente um CRB preocupado em ocupar espaços e imprimir correria. Nas palavras do próprio Dado, o CRB mostrava disposição de finalista e o Papão parecia disputar uma pelada de fim de semana.

O cansaço decorrente da batalha do meio de semana em Salvador também influiu no ânimo geral, mas é justo dizer que o CRB fez por merecer a vitória. Armado pelo ex-bicolor Mazola Jr. com praticamente três atacantes – Canhete, Kanu e Zé Carlos –, os alagoanos tomaram conta do jogo, sufocando e buscando o gol desde o primeiro minuto.

Marcaram logo aos 13 minutos, em cobrança de escanteio. Bola no primeiro pau, com desvio para o lado oposto, onde Zé Carlos recebeu com liberdade para bater no canto de Emerson. O que já era ruim na armação do Papão piorou com a tentativa desastrada de ir à frente, pois ampliou ainda mais o espaço para os contra-ataques do CRB.

Foi assim que veio o segundo gol, aos 21 minutos. Kanu conduziu a bola até junto à grande área, tocou para Canhete e este lançou Zé Carlos, que fechava pela direita. Marcado em linha pelos beques do Papão, o artilheiro teve tempo e tranquilidade para bater cruzado, sem chances para o goleiro.

No fim do primeiro tempo, em sua única jogada digna de menção, João Lucas desviou cruzamento e a bola resvalou em Souza antes de entrar. O árbitro assinalou o gol do Papão, mas desmarcou em seguida. Teria sido avisado pelo quarto árbitro sobre um toque de mão que não aconteceu. O lance foi normal. Criou-se um tumulto, Dado foi expulso e o Papão voltou para o segundo tempo com duas mudanças.

Carlos Alberto substituiu a Carlinhos. Wellington Jr. a Luís Felipe. Por alguns minutos, com o adversário administrando a vantagem, o Papão pareceu determinado a reagir. Mera ilusão.

Com Maxwell e Peri alimentando os contra-ataques, o CRB logo chegaria ao terceiro gol. Em avanço rápido pela direita, a bola chegou até Zé Carlos, que mandou para as redes. Foi acompanhado à distância por Tiago Martins (depois do jogo, soube-se que o zagueiro teria sido ameaçado de prisão no intervalo). A partida terminou ali, pois o Papão não tinha força nem disposição para tentar mais nada. O CRB estava satisfeito. Resultado justo.

Dado precisa repensar a estratégia empregada nos últimos jogos e reavaliar o papel de Souza no time, para não botar em risco tudo o que foi conquistado com a boa campanha inicial.

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Em dia de estreias, brilho da prata-da-casa

Cacaio observou e gostou do rendimento dos laterais Gabriel e Rodrigo Soares, aprovou também a movimentação de Leandro no meio e de Léo Paraíba no ataque, ontem, no amistoso contra a seleção de Castanhal. Mas deve ter ficado impressionado mesmo com a produção do meio-atacante Edkléber, garoto oriundo da base azulina.

Quando Eduardo Ramos foi substituído no intervalo, assim como vários titulares, brilhou a estrela de Edkléber. Além dos gols marcados, foi o jogador mais participativo na ligação com o ataque. Na avaliação de quem viu o jogo, como o companheiro Magno Fernandes, Edkléber passa a brigar por posição no time titular.

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Ouro para o Brasil, méritos de um argentino

Foi um fim de semana rico em comemorações para o Brasil no Pan de Toronto. Vitórias maiúsculas no futebol feminino e no handebol. Como fã de basquete, destaco a ressurreição da modalidade com o ouro conquistado em cima dos donos da casa, em partida realizada no sábado. Antes, a seleção treinada por Rubén Magnano havia superado, com sobras, o time olímpico norte-americano, favoritíssimo ao primeiro lugar.

Sem as estrelas da NBA, que decepcionam quando jogam também quando esnobam a seleção, os novatos mostraram um desembaraço surpreendente. Méritos para Magnano, que parece cada dia mais senhor da situação, reinando absoluto – como deve ser – na condução do basquete masculino.

Que ninguém se engane: nossas últimas chances de voltar aos tempos de glória passam por este tranquilo e competente argentino. Tomara que ninguém atrapalhe o homem.

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(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 27)

O passado é uma parada…

PKT5334-392367 MICK JAGGER SINGER 1969 Rolling Stones' lead singer Mick Jagger an dhis friend actress Marianne Faithful. Later they made a short appearane at Marlborough Street Court on a charge of possessing cannabis and where remanded on bail until june 23. They were arrested at their home in Cheyne Walk, Chelsea, last night and later released on bail.
Mick Jagger com a namorada Marianne Faithful, atriz e cantora. Londres, 1969. Neste domingo, Jagger completou 72 anos de idade. 

Leão vence amistoso em Castanhal

Em amistoso disputado na manhã deste domingo em Castanhal, o Remo derrotou a seleção do município por 3 a 1. Edcléber (2) e Welthon marcaram para o Leão e Jefferson, de pênalti, descontou para Castanhal. O jogo serviu para que o técnico Cacaio observasse os laterais estreantes Gabriel e Rodrigo Soares, ambos com bom rendimento. Na etapa final, o técnico fez várias alterações na equipe.

O que explica o ódio assassino da Abril a Lula

POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

Os franceses têm uma frase para a investigação de crimes: “Procure a mulher.” Você pode adaptá-la para o Brasil de hoje. “Procure o dinheiro.” É o que você deve fazer caso queira entender o ódio desumano da Veja pelo PT, expresso mais uma vez na capa desta semana.

Isso vale não apenas para a Veja, é bom acrescentar.

O jornalista Ricardo Kotscho, que fez parte da equipe de Lula em seus primeiros tempos, conta uma história reveladora. Roberto Civita queria uma audiência com Lula, algum tempo depois de sua posse. E pediu a Kotscho que a arranjasse. O objetivo não era discutir os rumos do Brasil e do mundo. Era pedir dinheiro para o governo, na forma de anúncios.

Ou mais dinheiro.

As coisas não correram como Roberto esperava. As consequências editoriais estão aí. Nem a morte de Roberto deteve a fúria assassina da Veja. É um paradoxo. As mesmas empresas liberais que condenam o Estado são visceralmente dependentes do dinheiro público que ele canaliza para elas.

Sem esse dinheiro, elas simplesmente não sobreviveriam.

Não é errado dizer que o Estado brasileiro financia as grandes empresas jornalísticas. É, para elas, um Estado Babá. Não é apenas dinheiro de anúncios, embora seja este o grosso. Ele vem de outras formas.

Poucos anos atrás, quando ainda tinha resultados contábeis expressivos, a Abril levou cerca de 25 milhões de reais do BNDES para uma obra que deveria ter sido bancada por ela mesma, e não pelo contribuinte: um arranjo em seu sistema de assinaturas.

É um dado público.

Parêntese: se na CPI do BNDES for aberto um capítulo para as relações da mídia com o banco, teremos informações sensacionais.

Em 2009, quando a Veja já abdicara de qualquer honestidade no ataque ao PT, a Abril levou 50 milhões de reais do governo de Lula apenas em anúncios.

Por que tamanha revolta, então?

Mais uma vez: procure o dinheiro. A Globo estava levando, e continua a levar, dez vezes mais, 500 milhões por ano.

Lula e Dilma, ironicamente, vem financiando a mídia que tenta exterminá-los.

Tamanha dependência leva a surtos de paranoia a cada eleição: e se a festa acabar? E se o governo decide reduzir ao mínimo os investimentos publicitários que vão dar nas corporações jornalísticas?

Seria uma calamidade para essas empresas. Elas cresceram graças ao dinheiro público posto nelas em proporções nababescas.

Note. Não é só o governo federal. Quantos recursos públicos não são encaminhados para as companhias de jornalismo pelo governo de São Paulo, o mais ricos do Brasil? De anúncios a compras de assinaturas, a mãozinha amiga está sempre presente.

No futuro, estudiosos tentarão decifrar por que nem Lula e nem Dilma mexeram adequadamente neste sistema que irriga recursos do contribuinte para mãos e bolsos particulares.

Minha hipótese é: medo, medo e ainda medo.

Quando os dados se tornaram públicos, e começou a surgir aqui e ali indignação, inventou-se uma coisa chamada “mídia técnica” para justificar o injustificável.

Com isso, teoricamente estava explicado por que anualmente o governo colocava 150 milhões de reais no SBT para terminar num jornalismo com Sheherazades.

Mas era e é uma falácia. Governo nenhum é obrigado a colocar dinheiro em empresa nenhuma, sobretudo quando há fundadas desconfianças sobre o caráter dela e seu comprometimento com o bem estar público.

No caso específico da Abril, e da Veja, a questão do dinheiro público se tornou especialmente dramática com a Era Digital e seu efeito destruidor sobre a mídia impressa.

Um governo amigo melhoraria extraordinariamente a situação financeira da Abril. O declínio não seria estancado, porque é impossível, mas seria mitigado.

A verba de anúncios federais cresceria instantaneamente. Lotes gigantescos de assinaturas de revistas seriam comprados. Financiamentos a juros maternais seriam obtidos.

É isso o que move a Abril — e, em medidas diferentes, as demais grandes empresas jornalísticas.

Procure o dinheiro, caso queira entender a sanha homicida delas, maldisfarçada num moralismo cínico, demagógico e canalha, para não dizer criminoso.

A frase da semana

“Estou cansado de mentiras e safadezas, de agressões à mulher que governa este país”.

Lula, sobre a escalada midiática contra o governo Dilma.

À caça de um novo Vandick?

POR GERSON NOGUEIRA

Souza é quase uma unanimidade. Negativa. Desde que chegou ao Papão há cinco meses marcou apenas um gol, naquela tarde em que o São Francisco levou de 9 a 0 na Curuzu e que até Ricardo Capanema balançou as redes. Desde então, Souza virou mero figurante. Passou quase toda a fase inicial da Segundona vendo os jogos do banco de reservas.

Nos últimos quatro jogos, dois pela Série B e dois pela Copa do Brasil, virou titular absoluto. Passou em branco, pouco produziu pelo time, mas se manteve no time.

Dado Cavalcanti justifica a escolha pela experiência do atacante e a necessidade de rodar jogadores no elenco, a fim de garantir reposição e dar vez a todos os atacantes – e o Papão tem nove jogadores na posição.

Contra o Bahia, prendeu os zagueiros por algum tempo apenas. Até a dupla baiana perceber que o artilheiro já não chega junto nas divididas e aparenta não ter os mesmos reflexos de antes.

Já em Macaé, há duas semanas, a escalação surpreendeu a todos. Como se temia, não funcionou. Souza teve várias oportunidades, desperdiçando sempre. Perdeu de carimbar a condição de titular contra uma linha de defesa nervosa e atrapalhada.

Quando Misael perdeu o pênalti que ele mesmo havia sofrido e logo a seguir a defesa permitiu o segundo gol do Macaé, muitos se voltaram contra os que falharam nos minutos finais. Nada mais injusto. Se alguém deveria ser responsabilizado por aquela derrota era Souza, pelo desperdício de gols no primeiro tempo.

Os dois jogos válidos pela Copa do Brasil mostraram um Souza menos perdulário, mas ainda assim deixando passar duas grandes chances no jogo de ida. Felizmente, o placar de 3 a 0 permitiu que o time administrasse o jogo em Salvador, garantindo classificação.

Contra o Sampaio Corrêa, pela Série B, no último sábado, a participação foi novamente discreta. Não teve agilidade para aproveitar um rebote que em outros tempos certamente transformaria em gol. Ontem à tarde, em Maceió, teria nova oportunidade. Quem sabe não ocorre a redenção? (Por razões industriais, o caderno fecha antes do término da partida.)

Discute-se o que faz o Papão a gastar tempo e dinheiro (um bom dinheiro, sem dúvida) com um jogador que é apenas sombra do passado. Em meio a muitas especulações, penso haver um sincero esforço para que Souza venha a ser decisivo na fase aguda do campeonato, fazendo gols e readquirindo confiança. Isso tudo remete a um exemplo histórico no clube.

O investimento é bem mais vultoso, mas o objetivo lembra a aposta em Vandick, que também levou meses para deslanchar, transformando-se depois no mais importante (quanto a títulos) camisa 9 da história do Papão. O perigo é que nem tudo pode ser revivido na plenitude. Aliás, ensina Marx, a história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa.

A conferir.

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Cacaio testa opções do Leão em Castanhal

O amistoso do Remo frente à seleção de Castanhal, hoje pela manhã, vale apenas pela movimentação do time e pelas experiências que o técnico Cacaio deve fazer, lançando três novatos e testando nova dupla de ataque. Como é tempo de férias e o horário não é dos mais favoráveis, a partida não deve atrair grande público, mas pode ser extremamente valiosa para o futuro do Remo na Série D.

A estreia dos alas Gabriel e Rodrigo Soares e do volante Leandro é aguardada com expectativa, pois são setores ainda carentes no atual elenco. Nas duas primeiras partidas, contra Vilhena e Rio Branco, a fraca participação dos alas foi determinante para o isolamento do ataque e a centralização do jogo.

Levy e Alex Ruan, os alas disponíveis no Baenão, são jogadores valorosos e de boa técnica, mas não atravessam fase favorável. Levy não tem sido usado como titular, muitas vezes dando lugar ao improvisado Ilaílson. Alex, de recente safra azulina, perdeu a pegada ofensiva que fazia dele um dos mais promissores alas do nosso futebol.

Gabriel vem para disputar posição com Levy na direita. Oriundo do Fluminense, tenta a sorte na Série D, pensando em voos maiores. Veio bem avalizado. Na esquerda, Rodrigo Soares é mais rodado, com experiência no futebol paulista. Também traz boas recomendações.

No ataque, Welton ganha chance ao lado de Rafael Paty. A oportunidade foi conquistada nos 20 minutos de presença contra o Rio Branco, sábado passado. Welton entrou bem, imprimindo nova dinâmica pelo lado esquerdo. Foi produtivo e superou o então titular Aleílson.

Caso mantenha regularidade, pode ser o atacante de lado tão necessário ao esquema de Cacaio para esta primeira fase da Série D.

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Uma sucessão de irresponsabilidades

Espaço aberto para a sempre abalizada participação do amigo Ronaldo Passarinho, grande benemérito azulino e um dos mais assíduos baluartes da coluna. Como conhecedor da matéria, ele esclarece a história recente da dívida do Remo junto à Justiça do Trabalho:

“Em janeiro de 2014, o presidente Zeca Pirão, para evitar bloqueios e o leilão do Carrossel, assinou um acordo com a Justiça do Trabalho comprometendo-se a pagar R$ 120 mil mensais. Pagou as duas primeiras e deixou pendentes dez meses, totalizando R$ 1,2 milhão. Após a eleição do Pedro Minowa, para evitar execução, comprometeu quatro parcelas do patrocínio da Funtelpa, sendo 2 em 2015 e 2 em 2016. Não pagou nenhuma. A consequência: bloqueio total e leilão do Carrossel, em decisão unânime do Pleno da JT. Esta é a verdade. Considero os dois presidentes irresponsáveis na condução dos problemas do clube. O Remo precisa ultrapassar esta barreira de silêncio”.

Simples assim.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda a atração a partir de 00h10, na RBATV, com a participação de Valmir Rodrigues, João Cunha e deste escriba de Baião. Futebol paraense na mesa de debates, como sempre.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 26)