Piquet: “Senna sempre foi um piloto sujo na carreira”

POR LUÍS FERNANDO RAMOS, no UOL

Convidado de honra da 30ª edição do GP da Hungria, Nelson Piquet estava bastante à vontade em Hungaroring. Deu uma volta ao lado de Bernie Ecclestone num carro conversível antes da largada e relembrou, numa conversa comigo, das impressões que teve na primeira visita da Fórmula 1 a um país do bloco comunista, em 1986.

jm1409no28-683x1024“Tinha a chamada Cortina de Ferro, se falava muita coisa. Mas quando cheguei aqui, o povo era agradável e o lugar era muito bacana. A pista também é muito legal. Muito difícil, com essa sequência grande de curvas: esquerda-direita-esquerda-direita. Eu gostava bastante. Foi muito legal ter vindo aqui logo no início da F-1 na Hungria”, afirmou.

Teve também uma longa conversa com três jornalistas locais, Sandor Meszaros, Peter Farkas e Barna Zsoldos, onde relembrou diversas passagens da prova inaugural em Hungaroring e também de sua carreira. Começando pela famosa ultrapassagem feita por fora na primeira curva de Hungaroring, que lhe garantiu a vitória. Descontraído, Piquet foi inicialmente irônico: “Senna era um piloto horrível, era fácil ultrapassá-lo”, disse, arrancando risos de seus interlocutores.

Questionado se realmente havia mostrado o dedo médio a Senna ao completar a manobra, ele descreveu a manobra. “Você viu toda a ultrapassagem? Você viu as duas voltas anteriores? Olhando com calma, na primeira vez eu tento por dentro, e ele me empurra para o lado sujo da pista. E na segunda vez ele tenta fazer o mesmo. Mas ao invés de ir para a direita, eu coloco de lado pela esquerda e ele não esperava isso”.

Depois, atacou o estilo de pilotagem do compatriota. “Ele sempre foi muito sujo na sua carreira. Ganhou o campeonato de F-3 porque ele bateu no Martin Brundle, em Brands Hatch, na última corrida, acabou com o carro em cima. (n. R.: o acidente a que Piquet se refere aconteceu em Oulton Park, na 17ª etapa das vinte realizadas). Fez o mesmo com Prost em 90 para ganhar o campeonato. Eu não concordo com isso. No automobilismo, você precisa ser limpo. Quer ser campeão? Tudo bem. Mas precisa ser limpo. Ele não era limpo na pista. Foi por isso que mostrei o dedo do meio para ele”.

Piquet também lembrou dos desentendimentos com Nigel Mansell, iniciados justamente em 1986 quando ambos eram companheiros de equipe na Williams. “Era uma equipe inglesa e muita gente ali queria ver um piloto inglês campeão. Eu era um piloto experiente, entrei na Williams e fiz todo o desenvolvimento do carro e também do motor, com o conhecimento que eu trouxe da BMW. No final, assinei um contrato de primeiro piloto. Mas aí Frank Williams teve o acidente, quebrou a espinha e estava no hospital. O problema dele era muito maior que o meu”.

Segundo o brasileiro, ele optou por criar um ambiente tumultuado justamente para evitar o que julgava um favorecimento interno a Mansell. “Perdemos o campeonato em 1986 por causa disso e poderia ter acontecido o mesmo em 87. Mas eu tinha só um probleminha comparado com o do Frank. O que eu fiz foi criar um ambiente turbulento dentro dos boxes, para não sentar na mesma mesa que Nigel. O que foi difícil, pois eu tinha de ganhar meus mecânicos e meus engenheiros para o meu lado. Foi um campeonato mais político do que técnico. Por isso que eu deixei a Williams no final do ano. Acabou sendo um grande erro, mas o clima lá era muito ruim”.

Um clima que ele sempre achou bom foi o de Budapeste durante o GP da Hungria. “As mulheres eram muito bonitas. E vi pessoas felizes, como os brasileiros. Foi uma época boa para estar aqui. Todos gostavam de vir para a Hungria. Se a minha impressão hoje é a mesma? Não sei, minha mulher veio comigo, fica mais difícil julgar”, ri o piloto.

Cabra bom. Pode-se até discordar de algumas opiniões de Nelsão, mas jamais pode ser acusado de bancar o bom-moço e de se esconder atrás da falsa imagem de divindade. Além disso, foi um dos maiores pilotos de todos os tempos. Quando parou de correr, parei de assistir F1.

26 comentários em “Piquet: “Senna sempre foi um piloto sujo na carreira”

    1. Exatamente, amigo Carlos. Com um detalhe extra: foi a única vez em que Senna e Piquet se enfrentaram numa pista em igualdade de condições (quanto aos carros que ocupavam).

      Curtir

  1. Essa lenga entre ele e Senna parece baralho de cadeia. Piquet ainda tem graxa no sangue .
    Penso ser um grande desperdício toda a história desses caras no automobilismo , pelo parco conhecimento do brasileiro.

    Agora essa de que o Senna foi sujo e tarárá..me fez lembrar do bunda mole do miúdo dele.
    Mas caras assim fazer muita falta no cenário insosso de hoje.

    Curtir

  2. O Piquet sempre foi chato, nunca gostei dele como esportista.

    O Sena bem diferente, ganhou a nação com seu jeito simples, mas com espirito vencedor.

    E falar de alguém pós morte ( falar mal ) é uma das piores covardias de um ser humano, caiando bem com o caráter do Nelson Piquet, que ao que parece não ensinou ao filho o que correr limpo.

    Curtir

  3. Senna corria pra vencer! Corria com o coração, sempre buscando ser o melhor.

    Chama-lo de piloto sujo soa como recalque, já que ele sempre buscou o melhor pelo esporte, sempre contestando a F1 e sua política desgrenhada.

    Senna corria sempre pra vencer! Era ousado!

    Curtir

  4. O Sena, certamente, não deve ter sido nenhum santinho, tanto na pista, quanto fora dela. E a estratégia do “bom mocismo” forjada no marketing pessoal parece ter sido algo que desagradou muita gente, inclusive alguns rivais da época.

    Mas, será que o Piquet seria o mais indicado para atirar esta primeira pedra?

    A propósito, ficando restrito às pistas, e sendo certo que os dois eram excelentes pilotos, resta indagar: quem terá obtido melhores resultados?

    Curtir

  5. Senna só jogou o carro em Proust. Meus caros, essa imagem de herói, simples e humilde é uma imagem construída pela Globo que sempre teve que aturar Nelson. Sem contar, amigos, que Nelson Piquet era um show nas pistas e fora dela. Ele era um Jonh McEnroe da Fórmula 1.

    Curtir

  6. Sena jogou o carro no Prost com toda razão , primeiro que no ano anterior, roubaram na cara dura aquela prova que ele venceu e que ainda manteria viva a disputa pelo campeonato, segundo ponto foi que o sena foi pole e era natural os pilotos pedirem para trocar o lado da pista, pois o lado que o sena tava era muito sujo e isso prejudicava ele na largada, mais uma vez o Balestre queria prejudicar o Senna e não permitiu a mudança de lado, Senna fez o correto de jogar o carro no Prost, senão ia sair prejudicado e pudesse ser que até perdesse o campeonato por conta disso.

    Curtir

  7. Sena jogou o carro no Prost com toda razão , primeiro que no ano anterior, roubaram na cara dura aquela prova que ele venceu e que ainda manteria viva a disputa pelo campeonato, segundo ponto foi que o sena foi pole e era natural os pilotos pedirem para trocar o lado da pista, pois o lado que o sena tava era muito sujo e isso prejudicava ele na largada, mais uma vez o Balestre queria prejudicar o Senna e não permitiu a mudança de lado, Senna fez o correto de jogar o carro no Prost, senão ia sair prejudicado e pudesse ser que até perdesse o campeonato por conta disso.

    Curtir

  8. Amigo Celira, o que o Sena fez foi o troco no campeonato do ano anterior onde o Prost bateu propositadamente o seu carro contra o do Senna logo na largada, se eu não me engano, e assim ganhou o título. E como a Terra é redonda e o mundo também, quis o destino que os dois chegassem a final da competição em situações semelhantes ao ano anterior e o Senna não titubeou. A César o que é de César. Não entendo porque não falam a história por inteiro, apenas mostram o Senna como vilão!

    Curtir

  9. Minha questão, amigo Miguel, é mostrar para os demais colegas que não existe heróis ou vilões, como sempre pintam Piquet com relação a Senna. Para mim são todos desportistas.

    Curtir

  10. Nenhum dos dois valem um tostao furado. Um era produto da globo. O outro, sujo até a quinta geracaco, vide filho dele na ultima vez que disputou a formula um. Conclusao. Sujo falando do mal lavado. Ponto final.

    Curtir

  11. Agora um comentário claro. Senna nunca teve trabalho na equipe. Sempre pegou carros aprumados pelos outros pilotos e valeu-se de sua habilidade (Hamilton fez isso com relação a Alonso no seu primeiro ano na Mclaren) para vencer.

    Nelson, diferentemente, era da turma que senta e pensava o carro (Lauda também é desse time), daí que Nelson deixou um legado no desenvolvimento dos carros de fórmula 1 que reflete também em nossos carros de rua.

    Por isso eu considero Nelson melhor.

    Curtir

  12. Piquet era o anti-herói. Sarcástico ao extremo. Não se encaixaria no politicamente correto e comportadinho necessários hoje em dia. Pegou o final da era romântica da F1. Acompanhei de perto seus três títulos.

    Curtir

    1. Perfeita descrição da fera, amigo Maurício. Sempre teve minha admiração pela maneira desassombrada como agia, desafiando o coro dos contentes e a hipocrisia reinante na F1, além de ser obviamente um piloto excepcional.

      Curtir

  13. Verdade Celira, e ralou muito. Dormia de penetra nos boxes quando moleque. Começou fazendo amizade com mecânicos e abelhudava tudo, por isso sabia muito mais do que sentar e pilotar.

    Curtir

    1. Ao contrário, Pedro, isso foi um acerto, um golaço. Pelo meu conceito, babação pelo Galvão Bueno é pecado gravíssimo, em qualquer circunstância.

      Curtir

  14. Senna e Piquet representaram muito bem o Brasil na Fórmula 1, assim como Barrichello e Massa. Muitos falam desses dois últimos como pilotos muito ruins. Em São Paulo há clubes de kart e você pode dar uma de “piloto”, assim mesmo, entre aspas. Qualquer um que tenha tentado pilotar sabe o quanto é difícil, e tem a exata noção de que até aquele piloto “ruinzinho” daqueles monopostos que só andam lá atrás no grid são muito, mas muito habilidosos e não têm nem comparação com motoristas de engarrafamento.

    Dito isso, Senna e Piquet não eram amigos, nem inimigos, mas rivais dentro das pistas. Se ilude quem pensa que pilotos não estão de olho em contratos milionários, e vitórias que podem render ainda dinheiro. Quando o assunto é dinheiro, não tem amizade, companheiro. É cada um por si. Acho muito difícil falar em ética em plena disputa de milhões de dólares. A ética tem se voltado, e se limitado, muito mais à questões de segurança e respeito às regras do campeonato, qual seja, mas nem tanto quando o assunto é dinheiro. E Piquet apenas continua sendo ele mesmo e mantendo coerência com o passado. Se essa é uma impressão, ou uma certeza, que ele tem do Senna, quem sabe? Mas nada disso muda o fato de ambos terem sido tri-campeões na F1. Apesar de ter visto muitas corridas do Senna e do Piquet nos anos 80, em plena infância, acredito que os dois se equivaliam e que a morte prematura de Senna o transformou em mito, como uma espécie de outra categoria de pilotagem. Piquet pode falar o que quiser, ele esteve lá mas não pode reescrever a história.

    Curtir

Deixe uma resposta