Marin temia ser envenenado na cadeia

POR RICARDO PERRONE

Da água mineral europeia tomada em fina taça ao gole sorvido numa torneira qualquer. Obrigado a abandonar o luxo do hotel suíço em que estava hospedado ao ser preso, José Maria Marin dispensou nos primeiros dias até o mínimo oferecido pelos carcereiros com medo de ser envenenado na prisão.

O relato de quem é próximo ao ex-presidente da CBF é de que uma de suas primeiras reações ao ser preso foi o pavor de tomar veneno no cárcere por obra de alguém interessado em sua morte. Assim, durante por volta das 72 primeiras horas trancafiado, ele decidiu que só beberia água da torneira, mais segura.

A preocupação extrema encontra uma de suas justificativas no fato de Marin, como advogado, sempre dizer aos amigos que um dos maiores riscos de quem vai preso é ser envenenado no presídio.

O temor ilustra como foram as horas iniciais do cartola na detenção, as piores de acordo com os poucos que conversaram com ele desde o dia 27 de maio.

Sem falar inglês, Marin não sabia exatamente o que estava acontecendo. Perdeu a noção de tempo, e achava que logo voltaria para casa. Tanto que, no início, após acordar e tomar banho, chegou a vestir terno para partir, em vão. Já são 50 dias encarcerado.

A calma só começou a chegar no primeiro telefonema em que conversou com sua mulher, Neusa. E ouviu dela que os amigos do dirigente não tinham se voltado contra ele. Respondeu, então, que aguentaria o tranco.

Outro ponto crucial foi conseguir os remédios que toma constantemente para o estômago e a pressão. A dificuldade com o idioma atrapalhou. Mas, enfim, os advogados conseguiram a receita de seu médico no Brasil em inglês.

Os 70 euros quinzenais depositados por sua família para serem gastos numa lojinha disponível na prisão o ajudam a cuidar da alimentação com iogurte e barras de cereal.

Assim, aos poucos, o cartola foi se adaptando à dura rotina na cadeia. Nesse período, demonstrou preocupação com o que a imprensa brasileira fala dele. Quis saber de um de seus defensores se estava apanhando muito dos jornalistas. Especialmente de Juca Kfouri, blogueiro do UOL.

Também tem demonstrado preocupação com Neusa, que agora passa a maior parte dos dias reclusa em casa, na capital paulistana. Na carta em que solicitou que ela nem o filho o visitassem na cadeia o dirigente chegou a pedir perdão, caso tenha desonrado o nome da família. Disse que estava pagando o preço por sua vida e que iria pagar com altivez e honradez.

Nos últimos dias, o ânimo do dirigente melhorou por ter uma ideia mais clara de quando os suíços definirão se vão extraditar o cartola para os Estados Unidos. Na última terça, aconteceu a primeira audiência na Suíça sobre o pedido de extradição feito pela Justiça dos Estados Unidos. A expectativa dos advogados é de que entre os dias 3 e 6 de agosto Marin saiba seu destino. Se a extradição for recusada, provavelmente responderá às acusações de ter recebido propina e conspirado para lavagem de dinheiro em liberdade no Brasil. Caso contrário, será transferido para uma cadeia nos Estados Unidos.

Itália mostra o lado avançado da arbitragem

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Claudia Romani, modelo e árbitra de futebol na Itália.

O blog, obviamente, dá o maior apoio.

Legendas da história do futebol

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Evaristo de Macedo, ídolo nos dois grandes clubes espanhóis. Lenda.

O torcedor-cliente

POR MAURO CÉZAR PEREIRA, na ESPN

As novas “arenas” trouxeram mudanças impactantes à rotina do nosso futebol. E com elas coisas estranhas, bizarras até. Torcer deixou de ser um ato de devoção. O fanático que sofria na derrota para voltar no jogo seguinte sai de cena para dar espaço aquele que ainda irá ao Procon reclamar formalmente por ter pago pelo ingresso num dia em que o time perdeu.
As novidades fizeram proliferar as “selfie girls” (ou boys), que ignoram o placar e passam o tempo fazendo fotos delas mesmas, com ou sem acompanhante. Pau de selfie, aquele acessório que supera todos os limites do patético, toma o lugar do mastro que agitava a bandeira com fervor.
Há ainda a galera do coraçãozinho. Este curioso personagem une as mãozinhas sobre o lado esquerdo do peito em forma de coração e passa o jogo torcendo. Não pelo que se passa em campo, mas por um instante no qual a câmera o focalize e então apareça no telão. Tudo com muito orgulho, com muito amor.
Tem ainda o torcedor de vitórias. Esse estranho espécime contraria a lógica da paixão incondicional por um clube, o que de mais precioso o futebol proporciona. Ele não tem vergonha de se dizer arrependido quando vai ao jogo e o resultado não é bom.
Pelas redes sociais, escancara sua relação interesseira com o time que deveria ser de fé. Sem constrangimento, relata claramente que não vai ao jogo se o elenco não é bom. Apoiar na hora difícil é algo que sequer passa pela sua cabeça.
O sujeito quer apenas vencer e acredita que seu clube tem obrigação proporcionar somente alegrias. Como se isso fosse possível. Como se o sabor da vitória não estivesse intimamente conectado à dor da derrota.
Esse personagem, quando não vai ao estádio, se aproveita de um dia ruim para tentar justificar a própria postura. A equipe é fraca, portanto não merece sua ilustre presença. Irei mais longe: quem torce(?) assim não merece ter um bom time. Por desconhecer a beleza do futebol, marcada pelo amor verdadeiro e desinteressado por uma camisa.
Quem dessa forma age não merece desfrutar do que o nosso esporte oferece. Das lições que a derrota nos dá à loucura, o descontrole da vitória tão esperada, sofrida, brigada. Esses seres nunca compreenderão isso, jamais terão tal emoção.
Tais personagens se proliferam nesses estádios com seus telões em alta definição. O povo está cada vez mais distante das canchas. O grito de incentivo se restringe às organizadas, confinadas a um canto e sem serem acompanhadas pelos demais quando o time mais precisa do seu grito.
Um cenário desolador que se acentua. E piora com a multiplicação dos torcedores de renda, que vibram com as cifras arrecadadas como se fossem gols. Tem também o torcedor de cartola, que defende em qualquer situação os dirigentes mais contraditórios, incompetentes ou trapalhões. Mantêm com essas pessoas uma relação de fidelidade canina que nunca demonstraram pelo time.
O pior é que nada disso parece estar ligado ao 7 a 1. Os problemas são maiores do que o massacre alemão nos mostrou. Se em campo o futebol brasileiro padece, fora segue se afastando dos mais apaixonados e atraindo quem apenas segue modismos. E modismos passam. Acabam. Que perfil de torcedor teremos no futuro?
A quem interessar possa: no Brasil mais da metade da população é classificada como pobre ou de baixa renda. São 50,9% em tais faixas. Futebol para eles, cada vez mais, é atração distante, pela TV (aberta) nas noites de quarta-feira ou tardes de domingo. Preferem lugares sobrando nos estádios do que tê-los por lá.

PS: todos têm o direito de torcer do jeito que bem entenderem. E todos, inclusive o blogueiro, têm o direito de achar lastimável que a tradição das arquibancadas seja perdida por modismos que fazem delas ambientes cada vez mais frios.

Sócio torcedor: balanço atualizado por clubes

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