Tucanos já não escondem defesa do golpe

POR MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND

Em um regime democrático, faz parte do jogo político a existência da oposição. Mas, neste momento no Brasil, a oposição, capitaneada pelo PSDB, não segue esse preceito. Isso ficou claro nos discursos da convenção que reelegeu o senador Aécio Neves Cunha como presidente do partido.

Os diversos oradores, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o próprio Aécio Neves Cunha, pregaram o golpe abertamente.

O primeiro ao afirmar que o PSDB está pronto para assumir o governo, enquanto o candidato derrotado na última eleição presidencial comentava que a presidenta Dilma dificilmente completará o mandato de quatro anos para o qual foi eleita.

Ficou evidente que os dois discursos se complementavam. Aécio Neves Cunha, pregando o fim do governo, e FHC enfatizando que o PSDB está pronto e preparado para assumir o governo.

Aécio é Cunha

Vale assinalar que o presidente reeleito do PSDB omite deliberadamente o seu verdadeiro sobrenome, Cunha, que remete ao pai, Aécio Cunha. Ele foi deputado da Arena, o partido apoiador dos governos ditatoriais. Foi um dos defensores da derrubada do presidente João Goulart em abril de 1964, o que levou o Brasil a atravessar uma longa noite escura.

Coincidência ou não, no mesmo domingo da realização da convenção tucana, dois colunistas de O Globo, Élio Gaspari e Merval Pereira, pregavam também o fim do mandato da presidenta.

Gaspari, repetindo a fala de Aécio Neves Cunha na convenção do PSDB, questionava várias vezes se Dilma Rousseff completaria o mandato.

Já Pereira procurava convencer seus leitores que ela não vai resistir por muito tempo, pois, para o colunista, o governo chegou ao fim.

As demais mídias hegemônicas repetem diariamente agressões verbais contra o governo, inclusive multiplicando o grau da crise que assola o país e diversos outros em várias partes do mundo capitalista.

Defesa da legalidade

É mais do que provável que o PSDB e outros partidos de direita vão tentar intensificar a pregação golpista com o apoio da mídia conservadora.

Diante desse quadro, só resta aos setores verdadeiramente democráticos deixarem de lado eventuais divergências, secundárias nesta hora, e se unirem na defesa incondicional da legalidade. Uma unidade necessária para evitar o retrocesso que representaria mais uma vez a quebra da ordem constitucional.

*Mário Augusto Jakobskind é jornalista e integra o conselho Editorial do Brasil de Fato RJ

7 comentários em “Tucanos já não escondem defesa do golpe

  1. De fato, a legalidade constitucional é a salvaguarda. Aliás, é o que de há muito eu venho sustentando aqui. Agora, é preciso saber se os problemas alusivos a Pasadina e às “Pedaladas” são obstáculos que poderão ser superados no caminho da legalidade.

    Curtir

  2. De um jeito ou de outro, caro Oliveira, é golpe. Pelo que se investiga, e também pelo que se deixa de investigar, resta claro que a iniciativa é lacerdista, ou melhor, aecista, atualizando o jargão. A própria intenção de alterar a constituição, voltando atrás da reeleição, é golpe. A não-reforma política é golpe. O engavetamento de investigações de líderes da oposição, ocultando suas falcatruas, é golpe. A disposição seletiva para investigar uns, e ignorar outros, é um golpe tão claro quanto a água. A disposição à manutenção da ordem política atual, com todas as formas de corrupção conhecidas, e as ainda por vir, estão mantidas num claro jogo de interesses pessoais e eleitoreiros. Estamos testemunhando uma ditadura surgir, daqueles que, inconformados com o presidencialismo, forçam a mão para o parlamentarismo. Não se engane, o maior desejo dos deputados é ter todo o poder nas mãos do congresso, o que facilitaria a chegada de um Cunha, ou de um Calheiros, à chefia do executivo. O brasileiro está sendo levado a aceitar que uns políticos corruptos são melhores que os outros simplesmente porque há quem oculte, com grande sucesso, os processos de justiça que pesam contra si, além das desconfianças dos eleitorados dos estados, contando com o apoio incondicional daquela que deveria ser a verdadeira delatora da corrupção, a imprensa. A seletividade à exibição dos fatos só comprova o quanto não é isenta a imprensa, com a gritaria para uns, e o silêncio para outros; que há muito tempo a imprensa é um player do poder no Brasil e no mundo. Propaganda, caro Oliveira, propaganda. O jornalismo brasileiro tomou forma de informe publicitário de direita há muito tempo. Num país onde os veículos de comunicação não podem assumir publicamente uma posição política, os políticos manipulam a imprensa porque a tem nas próprias mãos. Propaganda não é só uma vinheta que passa nos intervalos dos programas, mas também uma postura e uma opinião contundentes, inequívoca da defesa do lado que se quer tomar como aliado. Pense nisso.

    Curtir

  3. Amigo Lopes, acho que os propagandistas da imprensa governista estão elastecendo por demais a conotação da palavra golpe. E com isso levando os adeptos sinceros, os partidários legítimos, os militantes corretos a uma compreensão distorcida daquilo que majoritariamente tem feito o governo nestes últimos 12 anos e a considerar irrelevante atos que sempre condenaram nos vinte e pouco anos anteriores a 2003. Pense nisso.

    Note que mesmo diante de vários outros problemas com que o governo atual se defronta eu me referi a apenas dois, os quais, o próprio governo admite que existem, “Pasadina” e “pedaladas”. E fiz isso porque estes são casos de irregularidades inconteste. A reeleita já admitiu que existem, a Controladoria da Geral da União já reconheceu que existem, a própria ex presidente da petrobras já admitiu que existem. Ou seja, nada disso pode ser acusado como invenção da mídia. Aliás, quem tentava dizer que não existia, desmentindo até a reeleita era a mídia governista.

    Quanto às malfeitorias dos governos anteriores e opositores atuais, o grande responsável pela impunidade dos mesmos é o próprio governo atual. Por exemplo, o presidente do Senado está aí por obra e graça do partido rubro e seus capitães, o presidente da Câmara está aí, em última análise, como decorrência das aliança máster do partido rubro com o p m d b; os prejuízos da privataria não se reverteram porque nos últimos doze anos o partido rubro para ascender prometeu respeitar os contratos e vem cumprindo à risca o prometido. E por aí vai, passando pelo m a l u f, pelo s a r n e y, J e f e r s o n etc. Quer dizer é o projeto de poder pelo poder do partido rubro que produz e reproduz esta atmosfera de que ele tanto reclama. Não se deixe enganar.

    Com efeito, tão intensamente quanto possível a atmosfera política que levou ao impedimento do c o l l o r e a campanha pelo Fora F H C, e sabendo que existe previsão na constituição e na lei para responsabilizar um presidente por irregularidades que ele eventualmente cometa, fico muito à vontade para dizer que em havendo motivos, não constitui golpe que se instale o processo e se leve a termo o impedimento desde que que haja motivos para tal. E isso não é aecista agora, como não era l u l i s t a ou p e t i s t a na época do Fora fhc. Isso é possibilidade constitucionalista.

    Demais disso, da parte que me toca, com absoluta certeza não estou sendo levado a pensar, por quem quer que seja, que este ou aquele político são melhores que aqueloutros. É um conjunto de fatos, extraído cautelosamente deste verdadeiro cipoal elementos que nos rodeia nos últimos 30, 35 anos (vividos nas feiras, nos supermercados, nos bancos, nos hospitais, nas ruas etc) que me mostra o que realmente acontece no mundo político nacional.

    E para terminar, eu lhe remeto a ler e refletir sobre o último parágrafo que você mesmo escreveu, que é impecável. Amigo Lopes: “Propaganda não é só uma vinheta que passa nos intervalos dos programas, mas também uma postura e uma opinião contundentes, inequívoca da defesa do lado que se quer tomar como aliado. Pense nisso”.

    Curtir

  4. Heidegger dizia que o impensado é sempre mais rico. O impensado por quem defende a posição (golpista sim) de “impeachment-assim-que-tivermos-as-provas” é não ver o ridículo que é assumir tal posição baseado em nada, ou baseado “no que os outros falam” porque é muito claro que o que se quer com essa campanha difamatória é antecipar, ou produzir, fato e/ou condição política que enfraqueça o governo politicamente. É muito claro para mim que a oposição vem agindo como uma infecção oportunista que se aproveita da fragilidade eventual do organismo para atacá-lo, como o momento ruim que Dilma tem que aguentar pelo próprio erro em avaliar a dimensão e a extensão da crise econômica. O impeachment não é seriamente um objetivo, mas um discurso canhestro que permite um severo ataque à imagem do governo e colocá-lo por bom tempo sob suspeição. Esse discurso deve perder força à medida que as provas, necessárias, não sejam apresentadas, como tem ocorrido, aliás, desde o começo das investigações da lava-jato, há mais de um ano. É simplesmente ridículo que haja imprensa que assuma como verdadeira uma suspeita cujas provas estão para serem descobertas há mais de um ano. Tal perseverança só costumo ver em cientistas envolvidos em pesquisas sérias, e eles apresentam resultados conclusivos em um prazo determinado previamente. Qual o prazo para que as denúncias e vazamentos (seletivos) cessem? O que ocorre há mais de um ano é o vazamento, e ainda seletivo, de depoimentos dados por pessoas que “dizem”, “ouviram”, “acreditam” que esse ou aquele político esteja envolvido num ou noutro esquema de corrupção. Tem-se uma investigação baseada em informação muito vaga e genérica. Não vejo seriedade nesse procedimento, e tudo o que se tem feito pela Petrobras poderá ser contestada pelo uso político da ação da PF. Se provas incontestáveis vierem à tona, é quando vou jogar a toalha, mas, advirto, isso está demorando demais, um tempo suficiente para que indícios apenas produzam efeitos políticos, e não provas concretas.

    No mais, acredite, ruim com o PT, pior com PSDB+DEM+PMDB. Sei perfeitamente que o impeachment é uma salvaguarda constitucional, mas o discurso não mira o processo, e sim o desgaste político do PT porque depois de 12 anos o “capital político” do PT, um partido rubro como o PCB e o PCdoB, é gigantesco, por ter erradicado, tecnicamente falando, a fome e ter reduzido a pobreza, promovendo alguma distribuição de renda no Brasil, um feito histórico que temo que não permaneça e/ou não se repita daqui adiante na história do Brasil.

    Curtir

  5. Amigo Lopes, às vezes, como agora, você deixa sua natural cortesia de lado e desfere termos como ridículo à posições que destoam das suas, mas, tudo bem, vamos ver o que possível escrever mantendo a cortesia habitual.

    Pois bem, provas é o mínimo que se precisa para responsabilizar alguém. E a busca por elas se faz mediante investigações. E investigações não se faz de uma hora pra outra. Máxime quando a suposta rede de malfeitorias parece ser extensa.

    De outra parte, não se trata de “acreditar no que os outros falam”. Trata-se de acreditar no que os próprios envolvidos admitem, reconhecem, confessam.

    Ou preciso lembrar-lhe mais uma vez que quem admitiu irregularidades em Pasadina foram a própria D i l m a e a F o s t e r e a própria CGU, órgão de auditoria interna do próprio governo federal?

    Ou você não leu, nem assistiu as duas e o órgão de auditoria admitirem as irregularidades e o rombo na Petrobras, ou o que consta do balanço da petrolífera? Aliás, dito balanço, teve sua publicação adiada por meses para corrigir (revelar) aquilo que seria camuflado se não fosse a descoberta das malfeitorias.

    E as pedaladas? O governo, as assumiu todas, não lembra? O máximo que disse em seu próprio favor foi que trata-se de prática que todos os governos anteriores também as fizeram. Ora, e o que é isso se não uma autêntica confissão da prática da irregularidade?

    Agora, lembrando do que já escrevi outras vezes aqui no Blog, hei de admitir que estou de acordo com você num aspecto: não há realmente na oposição, um sentimento firme, convicto, induvidoso de que o impedimento da presidente seria a medida mais interessante para ela. Afinal, os tucanos não tem como obter acesso direto ao governo com o impedimento presidencial. Muito pelo contrário, com a saída dela, que asume é o pmdb que já tem o senado e a câmara.

    De sua parte, ao pmdb (que só não vê quem não quer, também é oposição), não interessa o impedimento presidencial. Afinal, com a presidente transformada em “rainha da Inglaterra”, quem vem, de fato, governando é o pmdb, e isso com a vantagem de transferir para ela todo o ônus da sanção ou veto das medidas polêmicas.

    Quer dizer, ao aliado master interessa o desgaste presidencial para continuar exercendo o poder de fato, e para os tucanos o desgaste interessa como veículo para uma almejada vitória em 2018.

    Ocorre que pra esmagadora maioria da população interessa (ou deveria interessar) que o governo não tivesse cometido as irregularidades que cometeu, que não tivesse prometido o que sabia que não ia cumprir, e que se houver elementos para começar o processo de responsabilização que ele ele seja iniciado, e que se tais elementos venham a ser provados durante o processo que haja o impedimento, tudo conforme manda a Constituição que seja feito.

    Enfim, seja com quem aí está governando, seja com qualquer outros, o pior para todos os brasileiros é que a balburdia continue e que ninguém seja responsabilizado por ela, seja quem aí está governando, seja quem já governou, seja quem pretende governar.

    Curtir

Deixar mensagem para Ferdinando Lay Cancelar resposta