Situação atual lembra mais Getúlio do que Collor

POR RENATO JANINE RIBEIRO

Assistimos agora a uma movimentação oposicionista pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Alguns até comparam seu caso ao de Fernando Collor de Mello, o único presidente brasileiro que foi afastado do poder por esse remédio heroico. Mas recomendo, a quem pensa assim, que lembre outra comparação possível – outro presidente, que também perdeu o cargo, também sendo substituído pelo seu vice, só que com resultados totalmente diferentes: Getúlio Vargas.

Collor não representava nada, nenhum interesse consolidado, fosse econômico, classista ou religioso. Foi um homem de grande virtù – no sentido maquiaveliano – que viu um vazio de poder e correu a ocupá-lo. Percebeu que a direita tradicional não tinha lugar, que o centro peemedebista estava esvaziado pela inflação e que a esquerda, com os nomes de Lula e Brizola, metia medo demais no campo conservador. No meio desse vácuo de poder, que a sorte (ou a fortuna, para usarmos outro termo de Maquiavel) lhe ofereceu, ele soube dominar a bola e marcar gol. Essa, a virtù segundo Maquiavel: nada tem a ver com a moral, mas tudo com a capacidade de um líder inteligente examinar a conjuntura e agir com vistas à vitória.

Mas sua vitória se esgotou na eleição. O plano econômico que teve seu nome, e que pretendia acabar com a inflação, logo fracassou. Ele perdeu o apoio político. Assim, quando o Brasil chegou ao fundo do poço, denúncias bem feitas e bem utilizadas politicamente permitiram que fosse afastado do cargo sem drama. O segundo semestre de 1992 – dividido em três atos: o povo na rua contra ele, a Câmara aceitando a denúncia e afastando-o do cargo, o Senado condenando-o – não foi nenhuma tragédia. O País respirou. Sentiu-se adulto, maduro. E logo voltou a se preocupar por conta da alta inflação, que Collor recebera e deixara de legado. Hoje, Collor é pouco mais do que um nome.

Getúlio e Collor, dois precedentes quase opostos

Getúlio é uma história inteiramente diferente. Em agosto de 1954, após o atentado que matou o major Vaz e se originara, sem que o presidente o soubesse, em sua própria guarda pessoal, ele foi rapidamente constituído como o grande vilão nacional. A imprensa conservadora e as Forças Armadas exigiam sua saída. A decisão de se matar mudou totalmente o quadro político. Getúlio, vilão na madrugada de 24 de agosto, ao meio-dia era o grande mártir da nacionalidade. Notem que eu disse mártir, que é mais que herói. Alguém pode ser herói por sua valentia, não importando a causa por que se bate.

Nas guerras, ocorre de um exército homenagear os inimigos que se bateram com coragem, os inimigos heroicos. Mártir, não. Para alguém se tornar mártir, não basta expor ou sacrificar a vida. É preciso que ele dê a vida pela causa verdadeira, justa, boa. Suicidar-se podia ser um ato apenas heroico, caso Getúlio com isso mostrasse somente que valorizava mais seus ideais do que a própria vida. Tornou-se martírio porque o povo aplaudiu não só a forma mas também o conteúdo, não só o ato heroico mas o ideal que ele sustentava.

Em palavras mais prosaicas, em seus últimos tempos no poder, nem Getúlio nem Collor tinham apoio da mídia ou da opinião pública. Mas havia uma maioria getulista pobre, excluída socialmente, sem voz na mídia, mais silenciada do que silenciosa. Foi essa maioria que despertou com o suicídio. Já do lado de Collor, não havia ninguém. Os pobres não apoiavam o direitista que piorou suas condições de vida. As classes médias estavam indignadas com a inflação e a corrupção. Collor estava sozinho. Getúlio, não.

Nunca saberemos como ficariam as coisas, se Getúlio não optasse pelo gesto extremo. Muitos pensam que seu suicídio retardou dez anos o golpe da direita (uma vez achei um recorte amarelado de revista em que Flores da Cunha, ex-amigo seu, então deputado pela direitista UDN, dizia: o golpe virá em cinco ou dez anos; sorte que não estarei vivo quando vier). Mas pode ser que a massa tolerasse um governo de direita, no lugar de Getúlio – não fosse o seu suicídio, que tornou a questão literalmente um caso de vida ou morte.

A situação atual lembra mais Getúlio – claro que sem o fantasma do suicídio – do que o impeachment de Collor. Dilma pode estar desprestigiada, mas continua representando uma fração importante da sociedade brasileira. Ela não se compara a Getúlio, mas o PT sim. Hoje Dilma teria menos votos do que em outubro, mas isso não quer dizer muita coisa. Se Aécio tivesse sido eleito, ele também teria perdido votos. Medidas duras, como as que ele prometeu, custam caro em termos de popularidade. A aposta de todo governante é arrochar no começo, para colher os benefícios perto das eleições.

(*) Professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo, em artigo publicado pelo jornal Valor.

Legendas do mundo da bola

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Zidane e Ronaldo Fenômeno no Real Madri.

Frustração da Messi premia fotógrafo chinês

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A imagem congelou o olhar frustrado de Lionel Messi diante da taça do Mundial 2014 na tribuna de honra do Maracanã, logo depois da finalíssima entre Alemanha e Argentina, vencida pelos germânicos, com um gol de Götze. O registro, premiado com o primeiro lugar na categoria “Esportes” do Prêmio WordPress Photo, é do fotógrafo Bao Tailiang, do jornal chinês “Chengdu Economic Daily”. Logo depois de parar em frente à Copa, Messi receberia a premiação como melhor jogador do mundial realizado no Brasil, honraria que foi contestada até pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter.

O passado é uma parada…

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Há 35 anos, o trânsito de Belém já era caótico e o cidadão corria quase tantos riscos quanto hoje. Fotografia da esquina da Gama Abreu com Serzedelo Corrêa, em frente à Praça da República.

Derrota faz ressurgir nome de Mazola na Curuzu

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Bastou o novo tropeço, agora diante do Cametá, para as arquibancadas da Curuzu entoarem os gritos de saudade por Mazola Jr., o técnico responsável pelo acesso do Paissandu à Série B 2015. O gol de Vânderson, no começo do segundo tempo do jogo desta quarta à noite, fez com que o torcedor bicolor caísse na real em relação ao time que começa o Campeonato Paraense de forma hesitante. Com 19 contratações desde janeiro, o Papão se preparou para buscar a reconquista do título estadual, que em 2014 foi conquistado pelo maior rival, e iniciar o planejamento para a disputa da Série B, a principal competição da temporada.

Ocorre que os primeiros passos da equipe, sob direção do técnico Sidney Moraes, mostram-se trôpegos até aqui. Goleou o Gavião, estreante no Parazão, mas o primeiro tempo foi sofrível. Na segunda rodada, viu-se surpreendido em Santarém pelo também estreante Tapajós. Veloz e melhor condicionado, o Boto tapajônico impôs um ritmo que o Papão quase nunca conseguiu acompanhar. Em seguida, pela Copa Verde, a equipe se atrapalhou com o apenas esforçado Santos, em Macapá. Abriu o placar, teve algumas chances para ampliar, mas acabou cedendo o empate nos instantes finais.

Ontem à noite, cercado de expectativas, o Paissandu tentou dominar o Cametá desde os primeiros minutos. Teve o aparente controle da partida, mas fracassou nas finalizações. O gol de seu ex-volante e capitão, em jogada que expôs a vulnerabilidade da zaga, confundiu ainda mais um time que já não se entendia nas ações de meio-campo e ataque. Rogerinho e Pikachu, motores da equipe e responsáveis pela criação de jogadas, não estavam em noite inspirada. Como o conjunto ainda não funciona, o time ficou dependendo de bolas aéreas para buscar furar o bloqueio dos cametaenses. Não funcionou.

A lembrança que a torcida tem de Mazola é até natural, pois o treinador encarnou a força de reação do Papão dentro da Série C em 2014. Quando quase ninguém mais acreditava na possibilidade do acesso, eis que Mazola achou o caminho das pedras. Ele havia sido reconduzido ao cargo depois de pedir para sair no final do primeiro semestre, como reflexo da perda do título da Copa Verde. Marcado pelo estigma de não ganhar títulos, Mazola mostrou-se um profissional eficiente e focado na condução de um grupo de jogadores apenas mediano. Os méritos que levou pelo acesso têm a ver com sua firme determinação e na capacidade de fazer com que o Papão se tornasse mais forte do que realmente parecia.

O fato de a torcida gritar por Mazola não é exatamente surpreendente. Pelo contrário, é até previsível e não significa uma hostilidade aberta a Sidney Moraes. Credenciado por bons trabalhos no Icasa e no Boa Esporte, o técnico exibe o perfil jovem e arejado que o Papão idealizou para a campanha da Série B. O problema é que esses planos podem ser afetados pelo começo ruim no Parazão, apesar da enfática declaração de apoio do presidente Alberto Maia ao técnico. A questão é que clubes de massa não costumam dar muito tempo para um treinador acertar a mão. Diferente de Icasa e Boa, o Paissandu tem torcida imensa e extremamente exigente. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)

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Pará é líder em mortes por conflito agrário

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O Estado registrou 645 mortes por conflitos no campo de 1985 a 2013, número cinco vezes maior do que o Maranhão, que está em segundo lugar no ranking; o assassinato da missionária Dorothy Stang, em Anapu (PA), ganhou repercussão internacional  e hoje completa dez anos

Por Paulo Victor Chagas, da Agência Brasil

O Pará registrou 645 mortes por conflitos no campo entre 1985 e 2013, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O número é quase cinco vezes maior que o registrado pelo segundo estado no ranking de assassinatos por questões fundiárias, o Maranhão, com 138 casos no mesmo período.

De acordo com a coordenadora nacional da CPT, Isolete Wichinieski, os números de morte por disputa por terra no Pará também são superiores aos registrados em toda a Região Nordeste, composta por nove estados e que contabiliza 424 vítimas no período.

“De 2005 até 2013, o Pará teve 118 casos de assassinatos. Há também um grande número de ameaças de morte”, conta ela, antes de confirmar que a missionária Dorothy Stang, assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005, estava na lista de pessoas ameaçadas do ano anterior. O documento é divulgado anualmente pela CPT.

Para o procurador do Ministério Público Federal no Pará, Felício Pontes, houve uma diminuição, nos últimos anos, do número de mortes por conflitos agrários. A situação no estado, entretanto, ainda inspira cuidados.

“Não tenho dúvida de que na região houve uma diminuição dos conflitos. Mas eu continuo achando que se a gente levar em consideração o Pará, em termos gerais, o índice ainda é alto, muito alto”, frisa Pontes.

Segundo ele, o estado “precisaria de três andares de terra” para dar conta de abrigar todas as pessoas que têm títulos concedidos por cartórios – muitos deles irregulares por causa de fraudes e grilagem de terra – e dizem ser proprietários de terrenos.

O ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, também confirma a diminuição no número de conflitos e mortes nos últimos anos no estado.

“Depois do caso da irmã Dorothy, melhorou a especialização dos órgãos nas questões agrárias e a prova maior é que o Pará é, hoje, o estado mais bem preparado para enfrentar os conflitos agrários, uma vez que tem várias promotorias de justiça, vários juízes agrários, vara agrária, defensorias públicas agrárias, polícia civil agrárias, ouvidorias agrárias. E isso contribuiu para diminuir o número de conflitos e de violência no campo no estado do Pará.”

Na avaliação do advogado da CPT no Pará, José Batista Afonso, os conflitos são mais intensos porque o estado fica na fronteira de expansão do agronegócio em direção à Amazônia. “Expansão da pecuária extensiva, principalmente no estado do Pará, da soja em Mato Grosso, de várias monoculturas em Rondônia e também da pecuária extensiva, da soja no Maranhão, no Tocantins, e do eucalipto. O agronegócio vai empurrando essas atividades em direção à Amazônia. Isso vai pressionando e gerando conflito com as comunidades que já residem aqui”, complementa.

Atuante no município de Anapu desde 1982, a missionária Dorothy Stang conhecia a realidade de disputa por terra no estado e sabia que corria riscos por sua postura de luta em favor do assentamento de pequenos agricultores.

“Eu falei com ela: ‘Não é assim, você está mexendo com gente perigosa’”, relembra Rosa Marga Rothe, amiga da missionária.

De acordo com relatos de pessoas ouvidas pela reportagem, apesar das ameaças, a missionária não aceitou proteção policial.

“Os próprios companheiros dela e amigos de luta achavam que ela estava sob risco e que deveria se afastar por um tempo. Ela achava que ou tem proteção para todos [ou não tem para ninguém] Por que tem só para ela?”, lembra Nilmário Miranda, que na época do assassinato era ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

Criado em 2004, o Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos é, na avaliação de Nilmário, essencial. Ele destaca, entretanto, que o número de pessoas que precisam de proteção é muito superior à capacidade do Estado de auxiliar.

“Ele [o programa de proteção] é absolutamente essencial, mas se você tira um defensor dos direitos humanos do meio em que está atuando em defesa dos povos, da justiça social, as pessoas não querem, porque perde o sentido. Ela vai ser deslocada para outro lugar, mas também vai deixar de cumprir a sua missão, sua tarefa.”

Para Nilmário Miranda, a solução para proteger de forma eficaz os defensores de direitos humanos é identificar a origem da ameaça. “Agir antes que ele [o defensor] se torne mais uma vítima desses bandidos, grileiros, pessoas sem escrúpulos, que não têm o menor respeito pelo direito à vida”, opina o ex-ministro.

Já o procurador Felício Pontes acredita que os camponeses devem se unir e não partir para o confronto com fazendeiros ou madeireiros. “Eles devem estar juntos no sindicato de trabalhadores rurais, em uma associação comunitária, e essa associação, essa personalidade jurídica, é que tem que fazer a relação com o Poder Público. Para que a gente não exponha mais ninguém”, destaca.

Na avaliação do padre Paulo Joanil da Silva, da coordenação regional da CPT no Pará, os conflitos são resultado de um problema histórico: a falta de um processo de reforma agrária. “Isso é uma decisão política: não vamos fazer reforma agrária. Isso acirra ainda mais o conflito pela posse da terra, pelo direito do trabalho, pelo direito de viver da população camponesa e abre um precedente para a invasão de grandes projetos econômicos, o agronegócio e a mineração”, critica.

Um novo fator que promete agravar a situação fundiária no estado é a migração de pessoas à procura de emprego em cidades pequenas que abrigam grandes projetos. É o caso de Altamira – com 99 mil habitantes segundo o Censo de 2010 – município mais próximo ao canteiro de obras da hidrelétrica de Belo Monte e que faz divisa com Anapu. Em 2013, a obra contava com 22,5 mil trabalhadores contratados. A expectativa era que o canteiro abrigasse até 28 mil funcionários.

“Os grandes projetos que são instalados para viabilizar essa produção, de produção de energia por exemplo, acabam atraindo migrantes para cá. E os trabalhadores que migram para cá, grande parte deles não consegue emprego nessas empresas e acaba indo para ocupação urbana ou rural”, analisa o advogado da CPT no Pará, José Batista Afonso.

A frase do dia

“Este Eduardo Cunha desbancou o Collor como o político brasileiro de olhar mais vidrado. Não passa numa blitz”.

Marcelo Rubens Paiva, escritor

Tabela do returno define data do Re-Pa

A Federação Paraense de Futebol definiu nesta quarta-feira a tabela do segundo turno do Campeonato Paraense. Esta fase terá um único grupo, diferente da primeira, que possuía A1 e A2. Todos os times que não se enfrentaram na primeira etapa da competição irão jogar contra nesta fase. Caso Remo x Paysandu não se enfrentem nas etapas finais do primeiro turno, o primeiro clássico oficial será no dia 29 de março, às 16h no estádio Mangueirão.

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