Por Jamari França
A fonte da juventude de Paul McCartney é a adoração dos fãs que ele tem pelo mundo a fora. Ele serve um show impecável de duas horas e trinta e cinco minutos para uma platéia de todas as idades e recebe de volta uma carga de energia positiva que o realimenta para seguir em frente. E olha que o véio adora uma adulação. Mil vezes no show ele abre os braços, levanta o instrumento, se curva e outras mumunhas mais para que a platéia berre seu nome, grite, aplauda, ajoelhe, chore, ria e tudo o mais. Vi adolescentes cantando as músicas certinho e gente de cabelo branco com brilho nos olhos pelas lembranças do significado das músicas dos Beatles em suas vidas. Catarse total. O setlist foi o mesmo dos shows de Santiago e Lima. Nada a reclamar. Claro que falta uma ou várias canções, normal de quem tem um repertório tão vasto. Banda afiadíssima, garganta nos trinques, casa cheia num coro de 45 mil vozes a maior parte do show e a festa ficou completa.
Paul prova que está em paz com seu passado. Sabe que sua maior obra foi feita ao lado de John, George e Ringo, daí serve uma porção generosa desse repertório no show: 23 canções no total de 34. Das cinco primeiras músicas, três são dos Beatles. A abertura com novo arranjo de Hello Goodbye, All My Loving e Drive My Car. As outras duas são da Wings, sua banda pós-Beatles, Jet e Letting Go.
Ele se alterna entre baixo, seu emblemático Hofner violino, violão, bandolim, ukelele, guitarra (Les Paul) e piano(Yamaha de cauda). Quando está no baixo, os dois músicos Rusty Anderson e Brian Ray tocam guitarra. Se ele vai para o piano, guitarra ou violão, Brian toca baixo. O baterista Abe Laboriel tem uma pegada animal, ele recria algumas batidas de Ringo em músicas como A Day In The Life e The End, mas nas demais baixa a mão. Paul Wickens faz bases nos teclados e é encarregado de recriar em samplers a sonoridade Beatle de várias canções, como as cordas de Eleanor Rigby e Yesterday. Dois enormes telões verticais mostram Paul e a banda, o telão central ilustra as músicas. Na homenagem a George em Something, fotos dele surgiram no telão. Em Here Today, para John Lennon, uma lua cheia brilhou no fundo do palco. Não sei se é piração minha mas notei uma maior emoção de Paul na homenagem a seu parceiro de tantas canções.
A homenagem a John foi além de Here Today. No final de A Day In The Life ele puxou o hino pacifista Give Peace a Chance que a platéia toda cantou e ele elogiou: “Lindo, paz em toda parte, por todo o mundo. Precisamos disso agora.” Jimi Hendrix também mereceu citação, um trecho instrumental de Foxy Lady ao final de Let Me Roll It. Houve momentos de introspecção e momentos de grande euforia. Yesterday e Here Today foram momenos clamos, com a platéia toda cantando a primeira. Mrs. Vandebilt, Ob-La-Di Ob-La-Da, Back In The USSR e Helter Skelter tiraram o povo do chão.