Terminou a novela: de volta à Série A após mais de três décadas e a 40 dias da estreia, o Remo finalmente anunciou na manhã desta quinta-feira (18) o nome de seu novo treinador: é o colombiano Juan Carlos Osório. Ele vai assumir o time azulino após a saída de Guto Ferreira, que comandou a empolgante campanha na reta final da Série B, conquistando o acesso à Primeira Divisão.
Aos 64 anos, ‘El Profe’, como Osório é conhecido, volta a trabalhar no futebol brasileiro após passagens discretas por São Paulo (2015) e Athletico Paranaense (2024), onde ficou por apenas dois meses. O seu principal trabalho aconteceu entre 2012 e 2015 no Atlético Nacional (Colômbia), quando conquistou seis títulos nacionais.
A trajetória de Osório inclui, além das passagens pelo Athletico-PR e São Paulo, o mexicano Tijuana, seu último clube. Sua contratação causou surpresa nos meios esportivos, em função da ausência de trabalhos vitoriosos nos últimos anos e a decepcionante experiência no Furacão, onde ficou por apenas 12 jogos.
No São Paulo, sua passagem é mais lembrada pelos bilhetinhos que mandava aos jogadores durante as partidas, variando o uso de canetas azuis e vermelhas.
No Remo, que perdeu mais de três semanas negociando com vários técnicos – Guto Ferreira, Cuca, Tiago Nunes, Léo Condé e Martín Palermo, dentre outros -, a contratação de Osório é avaliada como uma aposta do executivo Marcos Braz, que deixou claro que buscava “um nome de impacto”. Foi de Braz também a desastrosa escolha de Antônio Oliveira na Série B.
Profissional conhecido no continente, com passagem pela Seleção do México (Copa de 2018), Osório tem larga experiência no futebol latino-americano e currículo consistente.
Quatro pênaltis desperdiçados pelo Flamengo transformaram uma atuação aguerrida em frustração na final da Copa Intercontinental, ontem, em Doha (Qatar). Após um empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, o PSG errou menos nos pênaltis e conquistou a competição, com atuação inspirada do goleiro Safonov, que defendeu três cobranças.
Diante de um público melhor do que nas partidas anteriores, Kvaratskhelia abriu o placar aos 38 minutos, aproveitando cruzamento rasteiro de Doué. A bola ainda foi tocada pelo goleiro Rossi. O cenário era de amplo domínio do PSG diante de um Flamengo intimidado.
No 2º tempo, a história mudou. Com mudanças pontuais no meio-campo, o Flamengo passou a pressionar o PSG. Aos 17 minutos, veio a recompensa. Um pênalti cometido por Marquinhos sobre Arrascaeta deu ao Rubro-Negro a chance do empate. Jorginho deu um saltinho e mandou a bola no canto direito da trave de Safonov, empatando a partida.
O PSG desperdiçou três grandes chances de desempatar, sendo a última nos pés de Marquinhos. O empate levou a decisão para a prorrogação, que mostrou os times desgastados e com baixa intensidade. O PSG forçou em busca do gol, mas o Fla resistiu e segurou o empate.
Na série de penalidades, o PSG levou por 2 a 1 em uma disputa que expôs a imperícia dos jogadores, incluindo Ousmane Dembélé, premiado com o The Best Fifa, que isolou sua cobrança por cima do gol.
O grande herói foi mesmo o goleiro Matvei Safonov, que defendeu os pênaltis de Samuel, Pedro, Léo Pereira e Luiz Araújo, garantindo o triunfo do PSG e a comemoração no estádio de Doha. O clube francês havia sido derrotado pelo Chelsea na final do Mundial de Clubes 2025.
Em termos de atuação individual, Safonov foi absoluto. Arrascaeta reafirmou a importância para o time, cavando o pênalti que garantiu o empate. Marquinhos ficou aquém do nível esperado de um titular da Seleção Brasileira.
Pachequismo estraga a cobertura da final
A manchete do Sportv após a final de ontem é bem sugestiva do nível de pachequismo que a imprensa esportiva alcança nessas ocasiões: “Nos pênaltis, Flamengo perde o título da Copa Intercontinental”. Sim, para o canal, não foi vitória do PSG, mas derrota do Rubro-Negro. A inversão é deliberada, fruto da reiterada louvação que cerca o Mengo há décadas.
Constrangedora também foi a preocupação dos repórteres em arrancar do espanhol Luís Enrique uma declaração elogiando o Flamengo. Nem era necessário. Cavalheiro e bom desportista, o técnico iria naturalmente reservar palavras elogiosas ao time brasileiro e a seu treinador.
Não satisfeito, um repórter trepidante insistiu em saber se Luís Enrique acreditava no sucesso de Filipe Luís num clube da Europa, já dando como certeza a carreira internacional do técnico flamenguista. É quando a sabujice explícita se mistura com o viralatismo mais rasteiro.
Por fim, a tônica das mesas-redondas e dos analistas veio carregada do ufanismo que normalmente só é concedido às participações do Rubro-Negro. Não há nem a preocupação de dosar os superlativos.
PSC perde volante e ganha encrenca na Justiça
A tumultuada saída de Leandro Vilela tirou o impacto do anúncio da contratação do lateral JP Galvão, novo reforço do Papão para 2026. Em recuperação de uma lesão grave, sofrida durante o returno da Série B, o volante surpreendeu ao entrar com ação judicial cobrando do clube salários atrasados e outros direitos, no valor de R$ 4 milhões.
Jogador voluntarioso, de estilo intenso na marcação, Vilela era uma das esperanças de estabilidade no meio-campo para a próxima temporada. Ontem mesmo, ele foi anunciado como reforço do Náutico, que tem Hélio dos Anjos no comando. Coincidência ou não, Hélio mantém uma disputa litigiosa com o PSC na Justiça do Trabalho.
Ancelottinho fora é primeiro reforço do Fogão
O contestado Davide Ancelotti não é mais técnico do Botafogo. O desligamento foi oficializado ontem à noite, marcando formalmente o primeiro passo do projeto do Fogão para a próxima temporada. A dúvida é se a SAF, comandada por John Textor, será mais ágil desta vez na contratação de um treinador do que foi em 2025.
Ancelotti sai após um trabalho discreto, que não esteve à altura do caro elenco do Botafogo. Técnico iniciante, o filho de Carlo Ancelotti, técnico da Seleção Brasileira, teve dificuldade em montar um time competitivo e pecou bastante por uma certa ingenuidade na gestão de elenco.
O sexto lugar no Brasileiro e a classificação para a fase de grupos da Libertadores 2026 ficaram abaixo das metas do clube, bem como os fracos desempenhos obtidos na Libertadores e na Copa do Brasil. O Botafogo precisa de um técnico de verdade, cascudo e capaz de comandar adequadamente um elenco formado por várias cobras criadas.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 18)
Três dias depois de protestos que sacudiram as principais capitais do país contra a proposição que visa beneficiar Jair Bolsonaro e demais golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal, o Senado aprovou nesta quarta-feira (17), em votação nominal, o projeto de Lei (PL) 2162/2023, o chamado PL da Dosimetria que prevê a redução de penas de condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e pela tentativa de golpe de Estado. Foram 48 votos favoráveis e 25 votos contra. O texto segue agora para a sanção presidencial.
Os senadores aprovaram o parecer do senador Esperidião Amin (PP-SC), que reduz as penas dos condenados por atos golpistas. Entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Mais cedo, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
Amin, da bancada direitista, que é favorável à anistia, defende que a redução das penas visa “pacificar o país”. “O perdão apresentar-se-ia como solução juridicamente possível e politicamente adequada para encerrar um ciclo de tensão e reafirmar o compromisso do Estado brasileiro com a democracia e a pacificação social”, concluiu.
O relator acatou uma emenda que determina que a redução será aplicada apenas aos condenados pelos atos golpistas. O senador considerou a emenda como apenas um ajuste de redação e não de mérito, para que o projeto não tenha que retornar à Casa de origem – no caso, a Câmara dos Deputados, que aprovou a matéria na noite do dia 9 de dezembro.
Um grupo de senadores se manifestou contra o projeto por não representar o anseio do país. “Foi urdida uma trama, foi planejado um golpe de Estado no Brasil e foi tudo coordenado, financiado para que o golpe se concretizasse. Felizmente, não se concretizou por vários fatores”, disse o senador Marcelo Castro (MDB-PI).
“Há uma semana, nós votamos aqui a Lei Antifacção, endurecendo as penas, dificultando a progressão. E, hoje, senhoras e senhores, nós estamos aqui, incoerentemente, fazendo exatamente o contrário”, finalizou.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o projeto foi construído para beneficiar um grupo político que atentou contra o Estado Democrático de Direito. “Essa é uma proposta casuística, uma norma jurídica que está sendo criada para beneficiar um grupo, para dar privilégio para um grupo, um grupo que atentou contra a própria Constituição”, afirmou.
“Nós temos que dar ao Brasil um recado importante de que golpe de Estado tem que se tratar com dureza, especialmente num processo que foi totalmente baseado na legalidade, que deu direito de defesa. Um julgamento que o Brasil inteiro acompanhou, um processo em que provas que foram produzidas provas materiais e a maior parte delas, produzidas pelos próprios criminosos”, reiterou.
Senadores do PL defenderam a proposta, escondendo o fato de que a intenção é beneficiar Bolsonaro. O senador Izalci Lucas (PL-DF) disse que a proposta serve para diminuir penas de pessoas que não estavam diretamente envolvidas na trama.
“Nós precisamos votar essa matéria para virar essa página e tirar essas pessoas: o pipoqueiro, o vendedor de bala, que foi condenado há oito anos, 14 anos”, disse. “Eu sou a favor da anistia, mas vamos aprovar a redução de pena para tirar os manifestantes da cadeia. Isso é o mais importante”, afirmou o senador Sergio Moro (União-PR).
O PL da Dosimetria determina que os crimes de tentativa contra o Estado Democrático de Direito e de golpe de Estado, quando praticados no mesmo contexto, implicarão no uso da pena mais grave em vez da soma de ambas as penas.
O foco do projeto é uma mudança no cálculo das penas, “calibrando a pena mínima e a pena máxima de cada tipo penal, bem como a forma geral de cálculo das penas, reduzindo também o tempo para progressão do regime de prisão fechado para semiaberto ou aberto.
Tais mudanças poderão beneficiar réus como o ex-presidente Jair Bolsonaro, além dos militares Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil; e Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Enquanto o padre Júlio Lancellotti, conhecido por defender pautas progressistas e a população de rua em São Paulo, está proibido de transmitir missas ao vivo e seguir com suas atividades nas redes sociais, outros religiosos com milhões de seguidores nas plataformas digitais seguem com a atividade liberada — que incluem declarações sobre política. Muitos também mantêm sites e anúncios pagos para páginas de cursos e lojas virtuais.
Um exemplo é Frei Gilson, que tem 8,65 milhões de inscritos no YouTube e 11,1 milhões de seguidores no Instagram. Gilson da Silva Pupo Azevedo, que está à frente da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Diocese de Santo Amaro, em São Paulo, publica músicas, cortes de shows, leituras e reflexões sobre a Bíblia.
POR QUE ISSO IMPORTA?
Padre Júlio Lancellotti é uma das principais vozes religiosas na defesa dos direitos da população em situação de rua e no combate à aporofobia, ódio às pessoas pobres.
No Instagram, padre Júlio tem 2,3 milhões de seguidores em sua conta e não poderá mais atualizá-la. Já Frei Gilson, outro líder católico, porém, conservador, segue com mais de 11 milhões de seguidores na mesma rede social, e não sofreu sanções.
O próprio cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, segue ativo nas redes, apesar de ser o responsável pela solicitação de afastamento do padre. No Instagram, o cardeal tem 53,6 mil seguidores – muito menos que os 2,3 milhões de Lancellotti no Instagram. Na conta, além de conteúdos de divulgação da arquidiocese de São Paulo, o cardeal posta notícias e trechos das suas homilias.
Frei Gilson foi um dos religiosos católicos que “caiu nas redes” de Jair Bolsonaro e chegou a ser defendido publicamente em março deste ano “como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador. Por isso, cada vez mais, vem sendo atacado pela esquerda”, publicou o ex-presidente. A defesa veio após críticas a falas do religioso no Dia Internacional da Mulher contra o empoderamento feminino e a favor que as mulheres atuem para auxiliar homens.
Em 2021, o religioso fez uma live em Brasília contra os “flagelos do comunismo”. A fala aconteceu dentro de um evento chamado “3 dias de clamor pelo Brasil”, no qual o religioso chamou o povo para “despertar na madrugada para rezar por sua pátria”.
O nome de Gilson chegou a ser citado pela Polícia Federal (PF) nas investigações que culminaram na condenação e prisão de Bolsonaro. Segundo a PF, Gilson teria recebido de outro religioso, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, um texto que pedia a católicos e evangélicos que orassem pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e outros 16 generais quatro estrelas.
A ação foi batizada de “oração do golpe”. O padre Silva chegou a ser indiciado por, segundo as investigações, ter participado de uma reunião com o ex-assessor Filipe Martins e o advogado Amauri Feres Saad, em 19 de novembro de 2022, em Brasília (DF), mas não foi denunciado, assim como frei Gilson também não.
Mesmo sendo de outro estado, padre Paulo Ricardo, vigário na paróquia Cristo Rei, em Várzea Grande (MT), é outro religioso com bastante influência nas redes sociais e também trata de política. Ele conta com 2,7 milhões de seguidores no Instagram, 2,17 milhões de inscritos no YouTube e 328,1 mil seguidores no X/Twitter.
O nome de Paulo Ricardo “estourou” nas redes em 2019, quando Jair Bolsonaro divulgou um vídeo no qual o religioso fala sobre o direito do porte e uso de armas por cristãos. Na gravação, em que o padre diz que “a Igreja não é pacifista, mas é pacífica”, vele relaciona campanhas pelo desarmamento a uma “crise histérica” e diz para o cidadão que “você tem o direito de não ser covarde. Nós cristãos não somos pacifistas”, afirmou sobre uso de armas contra bandidos.
O vídeo havia sido postado inicialmente em 2011, no contexto do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, quando um homem de 23 anos invadiu uma escola municipal e matou a tiros 12 estudantes.
A relação entre Ricardo e Bolsonaro é longa: em 2017, o então pré-candidato recomendou o canal do religioso como exemplo de rede que combate a “doutrina marxista” no Brasil. Já em 2015, Bolsonaro postou outro vídeo do padre divulgando uma palestra feita pelos dois sobre o tema “família”, a convite do religioso na Paróquia Imaculada Conceição, na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal.
O padre Paulo Ricardo também investe em anúncios pagos no Google. A busca pelo seu nome gera um anúncio para sua página de cursos online e sua loja de livros.
Nos cursos, o religioso oferece aulas sobre temas variados, desde “como ler a Bíblia” a “terapia da alma feminina” e a importância das “navegações portuguesas”. O padre também tem um curso sobre a relação entre a fé cristã e as obras de O Senhor dos Anéis, do escritor britânico J. R. R. Tolkien.
Já a página de livros vende títulos variados, inclusive “combos”, como dois volumes para meditação diária da série de homiliários. O combo custa R$ 237,64 à vista ou 12x de R$ 20,83. Nas redes, ele também divulgou uma promoção de descontos de “black november” de cursos “para você se tornar um católico melhor e mais confiante”, nas palavras do padre.
A Pública procurou o frei Gilson e o padre Paulo Ricardo pelo Instagram, porém, não obteve retorno. Caso eles enviem seus posicionamentos, a reportagem será atualizada.
O QUE DIZ A ARQUIDIOCESE
Procurada pela Agência Pública, a Arquidiocese de São Paulo informa que a proibição foi feita durante uma conversa entre “o arcebispo e seu padre e, portanto, [as questões] dizem respeito ao âmbito interno da igreja”, diz a nota. Via assessoria, a reportagem foi informada que a “orientação” de sair das redes sociais e não transmitir suas missas pela internet, “foi para o bem do padre” e se refere apenas a ele. Os demais párocos da capital paulista seguem liberados para suas manifestações nas redes.
A assessoria de comunicação da Arquidiocese informou que não recebe valores referentes a cursos e livros vendidos por padres. A Arquidiocese recebe, segundo a assessoria, uma parte dos valores arrecadados pelas paróquias. Também foi salientado à Pública pela assessoria que a Arquidiocese Metropolitana de São Paulo não responde por todas as paróquias da cidade de São Paulo, apenas uma parte. Foi dito que a Diocese de Santo Amaro, por exemplo, não responde à arquidiocese sob coordenação de Dom Odilo Scherer, “assim como, a paróquia do padre Marcelo Rossi”.