Produtora do filme de Bolsonaro entra na mira do MP

Por Isabella Mota – Intercept Brasil

Apenas um dia após o Intercept Brasil revelar como o Instituto Conhecer Brasil, ICB, presidido por Karina Ferreira da Gama, recebeu milhões da prefeitura de São Paulo, vereadores e deputados enviaram ao órgão uma solicitação de abertura de inquérito civil para apurar o caso. 

Agora, o contrato que beneficiou a ONG da produtora-executiva da cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro pode ser alvo de uma investigação do Ministério Público de São Paulo.

Em uma ação conjunta, a deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Celso Giannazi e o vereador Carlos Giannazi, do PSOL, enviaram uma denúncia ao MP de São Paulo nesta quinta-feira, 11.

Os parlamentares pediram a apuração da responsabilidade do prefeito Ricardo Nunes, do MDB, a suspensão imediata do contrato ou o ajuizamento de uma ação civil pública, caso o chamamento não seja interrompido.

O vereador Nabil Bonduki, do PT, também solicitou ao órgão investigações do chamamento público em uma representação enviada na quarta, 10. Em uma seleção sem concorrência e nenhuma experiência prévia no setor de fornecimento de internet ou telecomunicações, o ICB venceu o edital para implementação de 5.000 pontos de Wi-Fi por R$ 108 milhões.

O acordo firmado em junho do ano passado com a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia, SMIT, na gestão de Ricardo Nunes, ultrapassa os valores praticados pela própria prefeitura, que já chegou a pagar menos que a metade pelo mesmo serviço.

O Intercept constatou que, do total de roteadores previstos no contrato inicial, o ICB instalou somente 3.200 e deveria receber R$ 43 milhões pela manutenção e disponibilização dos pontos de Wi-Fi por um ano, cujo valor unitário mensal é de R$ 1.800. No entanto, recebeu R$ 69 milhões, o equivalente a R$ 26 milhões a mais. 

“Cabe à prefeitura justificar o que foi feito, porque pelas nossas apurações e pelo que vocês apuraram tem uma série de irregularidades muito sérias nesse processo. Um serviço como esse não tem sentido ser feito por uma ONG, ainda mais uma que não tem nenhuma expertise nesse assunto, quem deveria realizar são empresas de tecnologia que poderiam inclusive apresentar um melhor serviço por um menor preço”, disse Nabil Bonduki ao Intercept. 

Conforme revelamos, um relatório do Tribunal de Contas dos Municípios apontou ao menos 20 irregularidades no edital e recomendou o não prosseguimento do processo. Entre outras inconsistências, a corte questionou os critérios de aferição de experiência e a escolha de uma ONG para prestação do serviço. 

No documento protocolado no Ministério Público de São Paulo, o Bonduki argumentou que fatores como a competitividade do chamamento público, a natureza e perfil institucional da entidade prestadora dos serviços, além de três aditamentos contratuais reforçam as inconsistências e “impõe a necessidade de apuração” do processo. 

Bonduki solicitou a abertura de um inquérito civil para investigar o chamamento público e pediu que o órgão verifique a implantação dos pontos de internet nas comunidades. 

“Pelo que já foi constatado, a ONG recebeu por um número de pontos muito maior do que aqueles que efetivamente foram implantados, então tem que ser investigado, porque é claramente um repasse de recursos sem a contrapartida do serviço realizado”, afirmou. Nabil Bonduki pontuou ainda o número de subcontratações realizadas, que somaram R$ 98 milhões. 

Presidente da ONG é dona da produtora do filme de Bolsonaro 

Além de presidente do ICB, Karina Ferreira da Gama é a única sócia da empresa Go Up Entertainment, responsável pela produção de “Dark Horse”, a cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesmo sem experiência prévia no cinema, Karina é produtora-executiva da obra – cuja fonte de financiamento ainda não é clara. 

Nos últimos anos, outras empresas ligadas à produtora-executiva receberam milhões em recursos públicos. Em 2025, por exemplo, o ICB recebeu R$ 2 milhões em emendas Pix do deputado Mário Frias, do PL.

Frias, que também é roteirista do filme, contratou os serviços de outro CNPJ de Karina durante as eleições de 2022. À época, a Conhecer Brasil Assessoria Produção e Mkt Cultural recebeu R$ 54 mil pelas atividades realizadas durante a campanha. 

Nós seguiremos de olho nessa história – e nos desdobramentos dessa investigação.

Desconfianças que atrapalham

POR GERSON NOGUEIRA

O técnico argentino Martín Palermo disse em entrevista na sexta-feira (12) que foi sondado pelo Remo, mas que o projeto não o cativou. Deu a entender que não sentiu firmeza quanto à continuidade, como se o acesso não sinalizasse permanência na Primeira Divisão.

É a primeira manifestação pública de um treinador sobre contato com o Remo nas últimas semanas. Ganha importância ainda maior por revelar que o clube azulino vai conviver com desconfianças sobre sua capacidade de se manter na elite. Algo natural para um time que não disputa a competição há 32 anos.

O que agrava a situação é que, além do longo tempo de ausência, o Remo tem contra si as incertezas normais que rondam um time do bloco médio, oriundo da Região Norte e com orçamento modesto na comparação com gigantes do futebol nacional.

A principal dúvida diz respeito às condições de investimento. Técnicos e jogadores avaliam os convites a partir da capacidade financeira dos clubes. Um clube emergente chega sempre sob a suspeita de que não terá bala na agulha para continuar disputando a Série A.

Não é questão de preconceito ou má vontade, apenas um olhar influenciado pelo próprio histórico da competição. Afinal, mais de 80% dos clubes vindos da Série B terminam rebaixados ao cabo de um ano de participação.

O Remo tem a declarada ambição de desmentir essa regra maldita. O projeto de chegar à Primeira Divisão foi anunciado ainda por ocasião da eleição do presidente Antônio Carlos Teixeira. Depois, ganhou força com a subida para a Série B e se concretizou nesta temporada.

As movimentações do clube nas últimas semanas atestam o comprometimento da gestão, mostrando responsabilidade, frieza e rigor na busca por reforços, evitando até o recurso fácil de sair contratando afoitamente – tanto o técnico quanto os reforços para o time. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Guto e as lembranças de um acesso heroico

“Quando você tem uma única opção de resultado, ganhar ou ganhar, talvez fique mais fácil conseguir”. Palavras de Guto Ferreira no programa Resenha ESPN, na sexta-feira, sobre o heroico acesso com o Remo. Ele citou como exemplos o empate com o Novorizontino e a derrota para o Avaí, quando a equipe jogava por mais de um resultado.

Já diante do Goiás, na rodada final, precisando vencer a qualquer custo, a concentração do time foi absoluta e determinante para o triunfo.

Guto voltou a falar com emoção do acesso obtido à frente do Remo, dedicando um carinho especial à relação com o torcedor. Citou a fé como um elemento fundamental para a evolução do Leão nas 10 rodadas finais.

Quando ele foi contratado, a obrigação era vencer oito jogos para ter a chance de conquistar o acesso. No fim das contas, as sete vitórias e os dois empates foram suficientes para alcançar o objetivo.

Ao falar sobre a relação com Marcos Braz, Guto foi econômico, mas elogiou o executivo azulino. Ao comparar os cinco acessos de sua carreira, admitiu que o conquistado com o Leão foi o mais emocionante, pelo envolvimento apaixonado da torcida e a arrancada sensacional do time.

Em tempo: o técnico Mozart, outro convidado do programa, elegeu como parada mais indigesta jogar em Belém contra a torcida do Remo.  

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa a partir das 22h deste domingo, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. 

Em discussão, a expectativa pelo Campeonato Paraense e os preparativos de Remo e PSC para 2026. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.  

Fla sob o peso da obrigação de chegar à final

O Flamengo enfrenta o Pyramids, do Egito, neste sábado (13), na semifinal da Copa Intercontinental de Clubes. O jogo será disputado em Doha, sob um calor infernal, o que deve castigar ainda mais o desgastado time rubro-negro, que fará seu 77º jogo na temporada.

Mais do que o perigo representado pelo clube egípcio, o Flamengo terá que conviver com a obrigação de alcançar a decisão da competição. Campeão sul-americano, o time rubro-negro não é favorito ao título, mas é apontado como superior ao adversário da semifinal.

Diante do Cruz Azul na estreia, o Flamengo teve bons momentos, mas sofreu mais do que o previsto, cenário que pode ser fatal contra o Pyramids, um time que se defende bem e aposta sempre no contra-ataque.

Curiosamente, na entrevista pré-jogo, Filipe Luís queixou-se da torcida brasileira pela reação à derrota sofrida para o Bayern de Munique no Mundial de Clubes. 

Com certa mágoa, o técnico diz que o Fla deixou boa impressão lá fora, mas teria sido “massacrado” no Brasil ao ser eliminado. Não lembro disso, pelo contrário – houve até o tradicional oba-oba por parte da mídia trepidante.     

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 13/14)