POR GERSON NOGUEIRA
Depois que o modesto Mirassol conquistou vaga à fase de grupos da Libertadores, ao vencer o Vasco por 2 a 0 em São Januário, o mundo do futebol vem derramando elogios merecidos ao simpático clube do interior paulista, administrado no sistema associativo e surpreendentemente bem sucedido em sua primeira experiência na Série A.
Em função do êxito do Mirassol, começam as comparações com o Remo, que cumpriu jornada exemplar de dois acessos seguidos até chegar à Primeira Divisão. Penso que as semelhanças entre os dois clubes terminam aí, sem invalidar o exemplo de austeridade dado pelo clube paulista.
Clube fundado em 1925, o Mirassol tornou-se um exemplo de gestão, contando hoje com um centro de treinamento dos mais avançados do país. Tem estádio próprio, com capacidade para 15 mil pessoas (que raramente lotou no Brasileiro), o que dá a medida do tamanho de sua torcida.
Além de ter uma estrutura enxuta, sem gastos excessivos e trabalhando sempre no limite da responsabilidade financeira, o Mirassol não convive com as pressões típicas de um clube de massa, como o Remo.
As cobranças que rondam um clube de grande torcida não fazem parte do cotidiano do Mirassol. É um aspecto que faz muita diferença. O Mirassol teve tranquilidade para manter uma base de jogadores quase desconhecidos (e baratos), procedentes de clubes igualmente modestos.
O maior astro do clube é Reinaldo, ex-jogador de S. Paulo e Grêmio. A folha salarial é de R$ 4,3 milhões, a menor de um clube da Primeira Divisão brasileira, e igual à folha do Remo na Série B.
Em termos de estrutura, o Remo deve ficar atento ao que o Mirassol realiza, mas, quanto ao investimento financeiro, o modelo não se aplica. O Remo terá que montar um time potencialmente mais caro, buscando jogadores que se encaixem nas ambições do clube, cuja meta agora é disputar uma vaga em competições sul-americanas.
Para o Leão Azul, a hora é de construir seu próprio caminho, descobrindo maneiras de ser competitivo na principal competição nacional. À sua maneira, o Leão Caipira mostrou que isso é plenamente possível.

A primeira grande baixa no elenco azulino
De saída para o futebol chinês, Caio Vinícius foi um dos mais importantes jogadores do Remo na Série B. Foi o ponto de equilíbrio no sempre complexo setor de meio-de-campo. Num time que não tinha um grande articulador, o volante assumiu o papel de dar início às ações ofensivas. Evoluiu e tornou-se peça exponencial na arrancada final rumo ao acesso.
Além dos seis gols marcados na temporada (5 na Série B), Caio teve a responsabilidade de carregar a equipe em momentos difíceis de alguns jogos. Foi o caso da partida com o CRB, na estreia de Guto Ferreira.
Através da movimentação de Caio, que passou a sair com rapidez pelo meio, acionando os pontas Diego Hernández e Nico Ferreira, o Remo cresceu e dominou a partida, com direito inclusive a um gol dele.
Em partidas extremamente difíceis, contra adversários que executavam forte marcação, ele funcionou como elemento surpresa na parte ofensiva. Não por acaso, o gol de cabeça diante do Athlético-PR é um dos mais bonitos e importantes de toda a campanha do Remo.
Discreto e forte nos duelos à frente da defesa, de estilo econômico nos passes, Caio se reinventou ao longo da competição e sai como um jogador fundamental, o que irá obrigar o Remo a buscar um substituto que esteja à altura em termos de recursos técnicos. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)
Câmara homenageia os heróis do acesso
Os jogadores do Remo que conquistaram o acesso para a Série A foram distinguidos com o título honorífico de Cidadão de Belém. O projeto, apresentado pelo vereador Bieco (MDB), foi votado e aprovado por unanimidade pela Câmara Municipal de Belém (CBM) na manhã de ontem, 3. Membros da comissão técnica e da diretoria também serão agraciados.
Na mesma sessão plenária, a Câmara aprovou a concessão da Medalha Brasão D’Armas de Belém, maior honraria da Casa, ao presidente do clube, Antônio Carlos Teixeira, ao treinador Guto Ferreira, ao executivo Marcos Braz, aos atletas Marcelo Rangel e Pedro Rocha.
O título de Cidadão Honorífico é dado a pessoas não nascidas na cidade e que prestaram serviços relevantes. Já a Medalha Brasão D’Armas é uma comenda concedida a autoridades civis, militares, públicas e eclesiásticas.
Um recorde que contraria velhas crenças
A recente decisão da Copa Libertadores, vencida pelo Flamengo, foi apenas a quarta em quantidade de público presente. Dois dos clubes mais populares do país, Fla e Palmeiras levaram 45 mil espectadores ao estádio Centenário de Lima (Peru).
Um ano atrás, no estádio Monumental, campo do River Plate em Buenos Aires, a final entre Atlético-MG e Botafogo colocou 72 mil – cerca de 27 mil a mais – nas arquibancadas. É o recorde da competição, desde que foi implantado o sistema de decisão única.
O segundo maior público foi o de Fluminense x Boca, em 2023, no Maracanã: 69 mil pagantes. O terceiro foi o de Flamengo x River, em 2019, também em Lima, que teve 59 mil espectadores.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 4)