Herói português do Leão veio como aposta de Marcos Braz

O Remo garantiu o acesso à Série A após 32 anos com a vitória por 3 a 1 sobre o Goiás, neste domingo (23), no Mangueirão. Um nome foi o grande destaque do jogo e ponto de virada da equipe azulina: o centroavante João Pedro. Autor de dois gols na virada para cima do Esmeraldino, o português de 29 anos, que também tem cidadania de Guiné-Bissau, chegou ao clube por esforço do executivo de futebol Marcos Braz.

Contratado no dia 31 de agosto, o atacante chegou já na reta final da Série B para ajudar o Remo no tão sonhado acesso. Na apresentação destacou a importância de Braz dez dias antes de a janela de negociações fechar.

“Foi fácil (dizer sim ao Remo), é o projeto. Claro que eu procurei me informar e com as informações que obtive, não tinha como dizer que não. Claro que pesou o Braz está incluído no projeto, porque é uma pessoa do futebol”

João Pedro começou a carreira no Santa Clara e passou por Gil Vicente, Trofense, Vitória de Guimarães e Paços de Ferreira, em Portugal. Depois, jogou no Bursaspor, da Turquia, e no Panetolikos, da Grécia. Ele estava no Hà Nôi, do Vietnã, quando foi contratado pelo Remo no dia 31 de agosto Foram 4 gols e uma assistência em 12 partidas.

A volta por cima 3 décadas depois

POR GERSON NOGUEIRA

A equação para o acesso não era simples. O Remo precisava vencer e, além disso, tinha que torcer por um resultado favorável nos jogos da Chapecoense e do Criciúma. Contra as previsões mais pessimistas, tudo transcorreu de acordo com as esperanças azulinas e o esperado acesso à Série A finalmente aconteceu, 33 anos depois.  

Cabe dizer que o capítulo final da Série B começou da pior maneira para o Leão. Em jogada despretensiosa, o Goiás saiu na frente. Um golaço de Willian Lepo, aos 7 minutos. As coisas não pareciam se encaminhar para a celebração que a torcida havia preparado com tanto esmero.  

Com 47 mil espectadores lotando o Mangueirão, o gol gerou preocupação, mas a massa torcedora se encarregou de manter a crença na vitória. E o time correspondeu, tomando conta das ações e controlando o jogo com tentativas de cruzamentos e chutes de fora da área.

O Goiás recuou e não saía de seu campo nem por decreto, bem ao estilo Fábio Carille. A estratégia era conservar a vantagem e segurar o resultado. O principal mérito do Remo foi não perder a concentração e o foco. Seguiu acreditando. Pedro Rocha se livrou da marcação e mandou um chute perigoso, próximo à trave de Tadeu, aos 14’.

Como o Goiás se fechava com até oito jogadores dentro da área, o Remo precisou diversificar os ataques. Kayky disparou um chute forte, que pegou curva e quase entrou no canto esquerdo do gol, aos 26’.

O lance mais perigoso veio em um escanteio cobrado por Pedro Rocha. Klaus desviou de cabeça deu rebote, mas João Pedro chegou atrasado. Quando a chuva voltou e o jogo parecia destinado a terminar empatado no 1º tempo, eis que as coisas começaram a se encaixar para o Leão.

Aos 49’, Pedro Rocha recebeu bola cruzada por Pedro Costa e avançou em direção à meia-lua da grande área. Mesmo marcado de perto, o artilheiro do campeonato bateu à meia-altura e a bola entrou junto ao poste esquerdo de Tadeu. Na trajetória do chute, Jaderson contribuiu com um corta-luz que ajudou também a confundir o goleiro.

O empate veio na hora certa e encheu de entusiasmo o Remo para a etapa final. Os resultados lá de fora continuavam insatisfatórios. A Chape vencia o Atlético-GO e o Criciúma empatava com o Cuiabá.

Só que por volta dos 10 minutos, a torcida explodiu de alegria nas arquibancadas. O Cuiabá fez 1 a 0 lá na Arena Pantanal. O barulho da torcida funcionou como corrente elétrica junto ao time do Leão, que passou a fustigar com mais insistência em busca do segundo gol.

Aos 17 minutos, Pedro Rocha recebeu passe de Panagiotis, avançou pela esquerda e lançou a bola na área. João Pedro se antecipou à defesa e tocou para o fundo das redes, marcando 2 a 1 para o Remo e enlouquecendo o Fenômeno Azul. O Goiás, mesmo em desvantagem, continuou tímido. Fábio Carille fez mudanças, mas o time permaneceu muito atrás.

O Remo, já com Pavani e Jorge em campo, forçou mais o jogo pelos lados e, aos 38’, veio a recompensa. Jaderson passou para Pedro Rocha e este cruzou na área. João Pedro subiu mais que a zaga e testou, ampliando para 3 a 1. Uma linha de passe entre o artilheiro da Série B e o goleador do jogo.

Aí o jogo virou festa porque, instantes depois, veio a confirmação da vitória do Cuiabá. A combinação perfeita esperada pelo Remo para permitir que a torcida gritasse a plenos pulmões: “O Leão voltou!”.

Leão teve ousadia, investimento e boas escolhas

Após o jogo, começou a tradicional avaliação dos responsáveis maiores pela imensa conquista azulina. Garantir presença na Série A, um ano após o acesso à Série B, é uma façanha reservada a poucos times. Méritos para o esforço da diretoria, comandada por Antônio Carlos Teixeira, que teve a ousadia de investir e acreditar de verdade no acesso.

Outro acerto foi a contratação de Guto Ferreira quando o time começava a perder fôlego na disputa, caindo para a 12ª posição em função do fraco trabalho do técnico Antônio Oliveira. Guto deu início a uma reação espetacular, conquistando seis vitórias seguidas e colocando o Remo entre os postulantes reais à conquista do acesso.

Nem mesmo os últimos resultados, com dois empates e uma derrota, arrefeceu a confiança do torcedor, atento ao bom trabalho de Guto e sua comissão técnica. Os 47 mil torcedores presentes no Mangueirão, um recorde na Série B, confirmam que o Fenômeno Azul nunca perdeu a fé na subida para a Série A – maior conquista do Remo nos últimos 20 anos.   

Papão até começa bem, mas sofre a virada

O jogo não valia mais nada para o PSC, a não ser a preocupação com uma despedida honrosa, mas o gol de Peterson aos 8 minutos deu à equipe a vantagem inicial sobre o Athletic, em S. João Del Rey. O placar poderia ter sido ampliado ainda no 1º tempo, com chute do mesmo Peterson na trave do time mineiro, cujo nervosismo era visível.

A primeira etapa foi toda favorável ao Papão, que trocava passes em velocidade e levava perigo sempre que botava pressão. Pode-se dizer que foi o melhor 1º tempo da equipe sob o comando de Ignácio Neto.

Mesmo quando o Athletic criava situações de perigo, a zaga respondia bem e o goleiro Gabriel Mesquita não dava chances ao ataque adversário.

Na virada para o 2º tempo, com o Athletic correndo o risco de rebaixamento, o jogo começou a mudar. Aléssio Da Cruz entrou na partida e, em menos de 10 minutos, conseguiu marcar os gols necessários para virar o placar e garantir a permanência do Athletic na Série B.   

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 24)

O caminho ainda é pelas pontas

POR GERSON NOGUEIRA

A receita é antiga, muitos até já deixaram de lado por esquecimento ou arrogância, mas a velha máxima continua valendo: o caminho mais fácil para chegar ao gol é pelas pontas. É exatamente o que o Remo precisa fazer neste domingo (23), às 16h30, para passar pelo Goiás e – dependendo de outro resultado favorável na rodada – conquistar o acesso à Série A.

O desafio é conseguir explorar o jogo pelos lados sem ter os ponteiros titulares, Diego Hernández e Nico Ferreira, ambos suspensos. A comissão técnica terá que apostar em dois outros jogadores de ataque, igualmente agudos: Pedro Rocha, artilheiro da competição, e Janderson, extrema-direita que foi titular no início do campeonato.

Para que a força dos atacantes seja potencializada é necessário que tenham o suporte de laterais igualmente ofensivos. Pedro Costa, reserva imediato de Marcelinho, deve ser confirmado na lateral direita, enquanto Sávio (ou Jorge) entrarão no lado esquerdo.

Em papo com os jornalistas na sexta-feira, Pedro Rocha deu a entender que aprecia o entrosamento com Sávio, autor de cruzamentos primorosos, que resultaram em gols do artilheiro. Na direita, Janderson funciona também como um resgate do sistema ofensivo que o Remo utilizou no início do campeonato, acionando Rocha com passes e cruzamentos precisos.

É a combinação mais interessante para que o Remo consiga se impor diante de um adversário qualificado e que também vem a Belém disposto a vencer para conquistar o acesso. O esquema de transições rápidas e aproveitamento de contra-ataques precisa estar afiado, bem como a capacidade de aproveitar as oportunidades.

A comissão técnica tem que se preocupar com a formação de meio-campo. Há um esboço de trio com Cantillo, Caio Vinícius e Panagiotis. Talvez não seja o suficiente para um confronto que vai exigir alta intensidade e rapidez tanto no combate quanto nas saídas rumo ao ataque. Jaderson, Nathan Camargo, Pavani e Pescador são boas alternativas.  

Enquanto torce por resultados favoráveis na rodada – derrota do Criciúma ou derrota/empate da Chapecoense –, o Remo terá que fazer o dever de casa. Só a vitória permite concretizar o sonho de acesso à Primeira Divisão. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Bola na Torre

Giuseppe Tommaso apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV, com participações de Jorge Anderson e deste escriba de Baião. Em pauta, a rodada final da Série B 2025. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.

Um simples ritual de cumprimento de tabela

Alguns aloprados chegaram a especular sobre supostas promessas de bicho gordo para o PSC endurecer o jogo com o Athletic, hoje, em São João Del Rey (MG). Os times que estão dependendo de um mau resultado do time mineiro são Ferroviária e Botafogo-SP, ambos em total desespero.

O problema é que nenhum deles tem cacife financeiro para oferecer premiação de R$ 1 milhão, como foi divulgado. Da parte dos bicolores, o que importa é encerrar a participação na Série B da forma mais digna possível, de preferência com um resultado positivo.

Vencer ou empatar não será por imposição ou estímulo de outro clube, mas por iniciativa dos próprios jogadores do Papão. O time tem muitos problemas na escalação, mas saberá honrar a história do clube.

Racismo: providências começam por inquérito

A divulgação de um vídeo mostrando os xingamentos racistas e xenofóbicos de uma torcedora do Avaí em direção à torcida do Remo, no estádio da Ressacada, é o ponto de partida para um inquérito que vai apurar o crime cometido e abrir caminho para o devido processo judicial.

A Defensoria Pública do Pará enviou ofício ao Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de Santa Catarina (DPE-SC), solicitando providências diante da flagrante violação de direitos.

Segundo o defensor público Cássio Bitar, autor da denúncia, a conduta racista e agressiva contra os torcedores paraenses motivou um ofício à Defensoria de Santa Catarina pedindo providências. Ao mesmo tempo, ele se colocou à disposição para atuar em cooperação.

Uma pesquisa realizada em parceria pela CBF e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol revela que o número de casos racistas no esporte cresceu 38,77% em 2023 em comparação ao ano de 2022.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que irá instaurar procedimento administrativo através da 40ª Promotoria de Justiça da Capital para “apurar possível crime de racismo em decorrência de suposta xenofobia”.

As imagens e áudios exibidos nacionalmente comprovam que não é mera suposição: o crime de ódio e racismo de fato aconteceu. Por essa razão, a autora dos insultos foi demitida pela empresa onde trabalhava.

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 22/23)

Por risco de fuga, Bolsonaro é preso pela Polícia Federal em Brasília

A prisão tem caráter preventivo. Ministro do STF determinou procedimento depois que foi constatada tentativa de violação da tornozeleira eletrônica

A Polícia Federal prendeu, na manhã deste sábado (22), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua residência, em Brasília. A detenção foi solicitada pela própria PF e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após a descoberta de tentativa de violação da tornozeleira eletrônica às 0h08 deste sábado, o que indicaria o risco de fuga.

A medida é de caráter preventivo e não representa ainda o cumprimento da pena de 27 anos e três meses imposta pela tentativa de golpe de Estado. A fuga de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, após sua condenação pela trama golpista, acendeu o alerta e deixou a Polícia Federal e os órgãos judiciais de sobreaviso.

Equipes em viaturas descaracterizadas chegaram ao condomínio onde Bolsonaro mora, no Jardim Botânico, na capital federal. O ex-mandatário foi conduzido à Superintendência da PF, onde chegou por volta das 6h35. Segundo fontes da corporação, a decisão pela prisão preventiva foi também motivada pela convocação de uma vigília em frente ao condomínio, feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente.

Bolsonaro passou por exame de corpo de delito no Instituto Nacional de Criminalística da PF. O ministro Alexandre de Moraes também determinou que a prisão fosse realizada sem o uso de algemas e sem exposição pública do ex-presidente condenado.

Audiência de custódia será neste domingo (23)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passará por audiência de custódia neste domingo (23/11), por videoconferência. Ele foi preso pela Polícia Federal na manhã deste sábado (22/11). Agentes da PF chegaram ao Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, por volta das 6h, e conduziram o ex-mandatário à Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal. Segundo os agentes, Bolsonaro estava sozinho. A esposa Michele Bolsonaro não estava na casa.

No mandado de prisão preventiva, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que o procedimento fosse realizado apenas no domingo, de forma remota.

Segundo o documento, está autorizada “a realização de audiência de custódia de Jair Messias Bolsonaro por videoconferência, no dia 23/11/2025, às 12h, na Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal”.

(Com informações da Rede Globo, Folha de S. Paulo e CNN)

Leão protesta contra escalação de Raphael Claus para jogo decisivo diante do Goiás

A escalação de Raphael Claus não foi bem recebida pelo Clube do Remo, que emitiu uma nota oficial em termos duros, manifestando descontentamento com a indicação da CBF para comandar a partida válida pela 38ª rodada da Série B, diante do Goiás, neste domingo (23), no estádio Jornalista Edgar Proença (Mangueirão).

O Remo, 6º colocado, com 59 pontos, luta pelo acesso em um confronto direto com o Goiás, 4º colocado, com 61 pontos. Preocupado com a arbitragem, o clube solicitou à CBF “esclarecimentos sobre os critérios de designação do árbitro e demais membros da equipe de arbitragem para esta partida, com vistas a assegurar total imparcialidade, independência e conformidade com o regulamento”.

Claus esteve à frente de duas partidas do Remo, em 2021 e 2022, ambas com resultados considerados desfavoráveis a partir do desempenho do árbitro. Em 2022, o jogo da volta da 3ª fase da Copa do Brasil, terminou com a vitória do Cruzeiro por 1 a 0. Com isso, o confronto foi decidido nos pênaltis, com triunfo do time mineiro.

Um ano antes, Claus apitou o jogo entre Remo e Confiança pela última rodada da Série B 2021. A atuação de Claus até hoje é lembrada por marcações polêmicas: anulou um gol do atacante Neto Pessoa e ignorou uma penalidade muito reclamada pelos azulinos. Com 0 a 0 no placar, o Leão foi rebaixado.

A NOTA DO REMO

O Clube do Remo vem a público manifestar sua discordância e preocupação em relação à escalação do árbitro Raphael Claus para a partida válida pela última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro, frente ao Goiás Esporte Clube, marcada para este domingo no Estádio Mangueirão.

Em sua trajetória, o árbitro possui histórico de péssimas arbitragens que já prejudicaram os resultados esportivos do Clube do Remo, inclusive graves prejuízos no passado recente.

Considerando o histórico dessa designação e o momento decisivo que o clube atravessa — com a disputa direta por acesso à Série A — entendemos que a transparência e a segurança da arbitragem são fatores essenciais para garantir a lisura da competição.

Solicitamos formalmente à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por meio dos canais competentes, esclarecimentos sobre os critérios de designação do árbitro e demais membros da equipe de arbitragem para esta partida, com vistas a assegurar total imparcialidade, independência e conformidade com o regulamento.

Reafirmamos que o Clube do Remo seguirá firme na defesa dos seus interesses e direitos, estando preparado para atuar conforme as normas que regem o futebol profissional, garantindo que a partida ocorra em ambiente justo e equilibrado, tanto para o clube quanto para seus torcedores.

Convocamos nossa torcida para com calma e urbanidade, lutarmos bravamente garantindo apoio à equipe em campo, mantendo o respeito aos adversários, à arbitragem e todos os agentes da partida — dentro do espírito que sempre nortearam os valores do clube.

Contamos com o comprometimento de todos os envolvidos para que o espetáculo esportivo seja realizado de forma justa, competitiva respeitosa, honrando a grandeza e tradição do Clube do Remo.

O legado lexical dos negros

(A propósito do 20 de novembro)

Por Sérgio Buarque de Gusmão – no Facebook

Em seu discurso de posse como primeira negra a entrar na Academia Brasileira de Letras, no dia 7, a escritora Ana Maria Gonçalves anunciou: “Venho falando pretuguês…” – referindo-se ao uso de palavras e expressões de línguas africanas correntes no português do Brasil. A realidade é que elas não são numerosas o bastante para caracterizar uma espécie de ramo intra-idiomático na língua de Machado de Assis. A ouvido nu, o tupi, sobretudo por nomear boa parte da fauna e da flora, e literariamente o francês, têm uma presença maior no português.

Proporcionalmente às quase 400 mil palavras registradas em nossos dicionários, os africanismos são poucos, uma assimetria com os termos e acepções dos idiomas que vieram com os estimados cinco milhões de pretos da África, por eles usados ao longo de três séculos de escravidão.

Rebaixados como seres humanos na economia escravista, os cativos não tinham voz e, em geral analfabetos, dispunham de poucos textos que documentassem seu léxico, só no século XX reconstituído por africanistas. A exceção eram os malês, muçulmanos sudaneses alfabetizados em árabe que liam o Alcorão.

Em Falares africanos na Bahia, a etnolinguista Yeda Pessoa de Castro anotou 3.517 palavras e expressões de origem africana, a maioria de circulação regional, não dicionarizada nem abonada por escritores. Apesar da rica crônica sexual dos negros na formação social brasileira, não vingaram algumas do banto e iorubá como nozdo (tesão), naborodô (transar), indumba (adultério), kukungola (solteira que perdeu o cabaço), huhádumi (me come).

Mas circula tabaco, que como erva e fumo veio da espanhola tabaco, e é atribuída por Yeda de Castro ao quicongo ou quimbundo mubaki com o sentido de vulva, porém Nei Lopes, no Dicionário banto do Brasil não a registra. Ela não anota prexeca, que ele supõe ser do banto, assim como xoxota. Para pênis, o dicionarista registra bimba e chibata. Cabaço, significando hímen, virgindade de homem ou mulher, o Aurélio dá como vinda do quimbundo, e Nei Lopes confirma, filiando-a a cabasu, virgindade.

A escassez de africanismos é compensada na linguagem cotidiana do povo por termos que todo brasileiro conhece e fala, como nesta amostra muito reduzida: angu, cachimbo, caçula, cafuné, farofa, fubá, moleque, muvuca, quiabo, quilombo, quindim, quitute, samba, senzala.

Yeda Pessoa de Castro destaca algumas que substituírem “a palavra de sentido equivalente em português: caçula por benjamim, corcunda por giba, moringa por bilha, molambo por trapo, xingar por insultar, cochilar por dormitar, dendê por óleo de palma, bunda por nádegas, marimbondo por vespa, carimbo por sinete, cachaça por aguardente.”

Haverá racismo no dicionário?

Quando o Brasil joga contra o Brasil

O triste espetáculo do vira-latismo em tempos de COP30.

Por Marcelo Botelho

Fico observando a reação de muitos brasileiros diante da COP30 e me pergunto, com sincera inquietação, quando foi que nos acostumamos a torcer contra nós mesmos. O fenômeno é antigo, mas a intensidade atual assusta. Há quem deseje, todos os dias, de maneira quase visceral, que qualquer espelho internacional onde o Brasil apareça retorne quebrado — como se o fracasso coletivo representasse, de algum modo, uma vitória pessoal. A isso se soma uma constatação incômoda: muitos que vibram com a possibilidade de ver o país envergonhado sequer possuem base sólida de estudo, estabilidade ou segurança mínima. Ainda assim, acolhem com entusiasmo uma sensação ilusória de pertencimento a uma elite que jamais os incluirá. O resultado é uma torcida pelo caos que nasce da ignorância e floresce na desinformação.

E esse comportamento, que já seria triste vindo de qualquer parte do país, se torna ainda mais doloroso quando parte de paraenses. Sim, paraenses. Filhos da terra que hoje abriga o maior evento climático do planeta. Pessoas que deveriam estar celebrando o protagonismo amazônico, mas que preferem repetir um velho mantra de autodepreciação: “quanto pior, melhor”. É o complexo de vira-lata em sua forma mais cruel — não apenas duvidando da própria capacidade, mas desejando ativamente que um desastre prove seu ponto. Enquanto haitianos, venezuelanos, angolanos e tantos outros imigrantes chegam ao Brasil descrevendo-o como um lugar onde puderam recomeçar, trabalhar, estudar e viver com dignidade, muitos brasileiros seguem insistindo em enxergar somente o que há de ruim, como se o pessimismo fosse sinal de inteligência.

É nesse ambiente de torcida contra que emerge a pergunta: “Por que escolheram Belém? Brasília ou São Paulo seria muito melhor”. A crítica, compartilhada em tom de perplexidade por alguns, revela não uma análise técnica, mas uma crença arraigada de que o Norte jamais será digno de protagonismo. Para esses, a Amazônia pode ser debatida, desde que longe da Amazônia. A floresta pode ser pauta, desde que seu povo permaneça invisível. Belém, ao ser escolhida, rompeu um eixo histórico — e isso incomoda muitos que se acham donos do Brasil. Belém não é um corpo estranho ao país; é sua alma úmida, pulsante e verde. Negar sua centralidade é negar o próprio Brasil.

E como se não bastasse a resistência inicial, bastou o incêndio no East African Community Pavilion, na Blue Zone, para que uma avalanche de ataques tomasse conta das redes. “Vai botar a culpa no aquecimento global?”, ironizou um senador. “Mais um desastre que marca um evento que já começou errado”, escreveu outro. Na ânsia de transformar um incidente técnico — possivelmente iniciado por uma régua de tomadas sobrecarregada — em munição política, parlamentares correram para rotular a situação como “vergonha internacional”, “falta de água, segurança, energia e saneamento” ou “planejamento inadequado”. A pressa em julgar diz mais sobre eles do que sobre a cidade. E enquanto especialistas lembram que acidentes podem ocorrer em qualquer lugar do mundo, aqui há quem prefira acreditar que apenas Belém seria capaz de atrair o infortúnio.

Curiosamente, no mesmo instante em que as redes ferveciam, a segurança interna da COP30 montava um cordão humano para retirar jornalistas e garantir a integridade física das pessoas. A Green Zone seguia funcionando normalmente, e delegações continuavam seus debates. O incidente foi contido, os eventos na Blue Zone continuaram, e a vida prossegue — menos para aqueles que torciam, secretamente, para que o fogo consumisse não apenas uma tenda, mas o prestígio de toda a Amazônia. Para esses, o incêndio foi um prato cheio: a chance perfeita de dizer “eu avisei”, mesmo que nada tivessem avisado de fato, exceto sua má vontade permanente.

E talvez aí resida o ponto central deste texto: quando foi que deixamos de nos reconhecer como parte de um mesmo país? Quando foi que torcer contra sua própria cidade virou demonstração de esperteza? Quando foi que desejar o fracasso de Belém se tornou, para alguns, equivalente a vencer um debate político? A Amazônia é parte indissociável do Brasil. Belém é porta de entrada do país para o mundo. O êxito da COP30 é o êxito de todos nós — do Acre ao Rio Grande do Sul. Não existe país forte com regiões humilhadas. Não existe Brasil respeitado internacionalmente se o próprio brasileiro insiste em desrespeitá-lo.

E é por isso que, apesar das críticas rasas, das ironias de internet e dos profetas do apocalipse, sigo acreditando que este momento é maior do que qualquer narrador de tragédias. O mundo veio até Belém porque entendeu algo que muitos brasileiros ainda não entenderam: a Amazônia não nasce à beira — nasce no centro daquilo que somos. Belém não é exceção — é o símbolo vivo de uma região que sustenta o Brasil e inspira o mundo. Uma verdade que transcende política, geografia ou conveniências: ela diz respeito à própria essência da nossa identidade nacional.

Porque no final das contas, amar o Brasil não exige cegueira, mas exige lealdade. Exige a coragem de reconhecer falhas sem desejar o colapso. Exige maturidade para saber que um incêndio não apaga um legado. E exige, acima de tudo, que deixemos de ser espectadores do próprio fracasso para nos tornarmos protagonistas do nosso futuro. A COP30 está dizendo ao mundo que a Amazônia importa. Resta saber se nós, brasileiros, teremos grandeza suficiente para acreditar nisso também.

Nota: A imagem final é apenas uma metáfora visual. Sua inclusão atende ao caráter visual da publicação. Criada para ilustrar a forma como alguns brasileiros necessitam visualizar o desastre que insistem em desejar ao Norte do país.

Um time sem improvisações

POR GERSON NOGUEIRA

Com a provável escalação de dois laterais de ofício, Pedro Costa na direita e Sávio na esquerda, o Remo deve ir a campo contra o Goiás com um time que tem mais a ver com a excelente campanha na Série B. Desde o primeiro técnico, Daniel Paulista, o Leão sempre se valeu das laterais para conquistar a maioria de suas vitórias na competição.

Ainda é muito recente a lembrança do que ocorreu na partida contra o Avaí, quando o Remo foi vitimado pelas improvisações na lateral direita – com Pedro Castro e Freitas. O resultado desastroso teve muito a ver com as escolhas do técnico para guarnecer o setor. O próprio Guto Ferreira admitiu isso minutos depois do jogo.  

O futebol é sempre mais simples quando os técnicos evitam complicações. É o que aparentemente deve ocorrer com a escalação para o confronto decisivo de domingo, no Mangueirão. Não há meio-termo, o Remo precisa vencer e para isso terá que usar seus melhores jogadores.

Sem os ponteiros titulares, Diego Hernández e Nico Ferreira, suspensos, o Remo precisará mais do que nunca dobrar a força ofensiva nas laterais. Pela direita, Pedro Costa pode formar dupla com Janderson, já que o titular Marcelinho permanece em tratamento intensivo.

No lado esquerdo, Sávio deve voltar à função que ocupou durante quase todo o primeiro turno. Com problemas físicos, perdeu a titularidade para Jorge, mas pode retomar a posição justamente para fechar a competição. Ofensivo, Sávio pode executar uma função estratégica na partida.

Ao se aproximar de Pedro Rocha, trocando passes e investindo na diagonal em direção à área, tem condições de tornar o ataque azulino ainda mais forte. Ao mesmo tempo, Sávio é um dos melhores batedores de falta do elenco, com gols importantes no currículo.

O artilheiro pode se beneficiar bastante da provável configuração do time para domingo. É como se a linha ofensiva mais produtiva que o Remo teve na Série B pudesse ser revivido com alterações pontuais, inserindo Sávio como um provável quarto atacante em determinadas situações de jogo. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Kadu conquista primeiro título no Botafogo

O lateral-direito Kadu Santos, de 20 anos, revelado na base azulina e que ainda pertence ao Remo, ganhou ontem o seu primeiro título como jogador e capitão do Botafogo. Em jogo realizado pela manhã, Kadu foi um dos destaques da vitória alvinegra sobre o Vasco (3 a 2 nos pênaltis), que valeu a conquista do Campeonato Carioca sub-20.

Com atuações elogiadas desde que foi incorporado ao time do Botafogo, mostrando qualidades técnicas e de liderança, tanto que passou a ostentar a faixa de capitão. De promessa azulina, Kadu avança para ganhar espaço dentro do Glorioso, podendo futuramente subir para os profissionais.

Goleiro presepeiro apronta e decide clássico

O goleiro Rossi, do Flamengo, protagonizou anteontem, contra o Fluminense, uma das maiores lambanças do atual Campeonato Brasileiro. Com excessiva confiança, tentou dominar uma bola dentro da área e acabou entregando a paçoca. O lance, que lembrou patacoadas do futebol-pelada, acabou abrindo caminho para a vitória tricolor.

Curiosamente, Rossi disse há algum tempo que pensava em se naturalizar brasileiro para buscar uma vaga na Seleção. Ainda bem que não levou a cabo a ideia. O Fla que se cuide. Afinal, a decisão da Libertadores vem aí.

Papão faz mistério antes de apresentar novo técnico

A contratação do novo comandante técnico é a prioridade de momento no PSC. Depois do rebaixamento à Série C, o novo colegiado que compõe a diretoria do clube entende que não há tempo a perder. O plano é começar a montagem do elenco em dezembro, garantindo que o novo time inicie os treinamentos a tempo das primeiras competições de 2026.

Como o calendário será mais apertado, com antecipação do início do Brasileiro da Série C, a pressa é justificada. Nos últimos dias, alguns nomes foram especulados, mas a diretoria só deixou escapar que o novo treinador nunca trabalhou em clubes paraenses. A previsão é de que seja apresentado na quarta-feira, 26, junto com o executivo Marcelo Sant’Ana.  

Um outro aspecto a ser observado é a manutenção de alguns jogadores do atual elenco. É bem provável que os goleiros Matheus Nogueira e Gabriel Mesquita permaneçam, assim como o lateral Edilson e o atacante Peterson.

Entre os que devem ser liberados estão os atacantes Marlon, Denilson, Marcelinho e Wendel Jr. Os zagueiros Quintana e Novillo também não estariam nos planos. No meio-campo, Carlos Eduardo e Nicola não ficam. O volante Pedro Henrique é o único meio-campista garantido para 2026.   

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 21)

Os limites ofensivos do Leão

POR GERSON NOGUEIRA

Os treinos da semana têm revelado as dificuldades do técnico Guto Ferreira para montar a estratégia ofensiva do Remo para o jogo com o Goiás, no próximo domingo, 23. A perda dos ponteiros Nico Ferreira e Diego Hernández responde por boa parte das dores de cabeça do comandante azulino, que poderá lançar um ataque inédito. O elenco só conta com quatro atacantes de ofício disponíveis para o jogo.

Janderson, João Pedro e Pedro Rocha formam o trio ofensivo mais provável para o confronto final da Série B. São jogadores que até já atuaram juntos no decorrer de jogos sob o comando de Guto Ferreira, mas nunca iniciaram uma partida.

Sem Diego Hernández para atuar no corredor direito, Janderson é a opção mais provável. Velocista, ele atuou como principal parceiro ofensivo de Pedro Rocha na fase inicial do campeonato, quando o técnico ainda era Daniel Paulista. Muitos dos 15 gols do artilheiro começaram em passes cruzados de Janderson.

Durante a passagem de Antônio Oliveira, o ponta caiu no ostracismo. Sofreu lesão e ficou fora dos planos. Não foi mais utilizado e só voltou a ser relacionado entre os reservas depois que Guto Ferreira assumiu. Pela ousadia e as características agudas, pode ser fundamental na missão de furar o bloqueio defensivo do Goiás.  

João Pedro será o centroavante, jogando espetado como gosta Guto Ferreira. Opção para o jogo aéreo, ganhou espaço com os gols que fez contra Cuiabá e Avaí, curiosamente marcados com os pés.

Além desse trio preferencial, Guto não tem muita margem de manobra para montar um ataque consistente. Marrony é a única opção para utilização durante a partida. Significa que, se precisar mexer na frente, o técnico terá que adiantar o posicionamento de um dos armadores disponíveis – Jaderson, Nathan Pescador, Dodô e Régis.

Ao mesmo tempo, para que o ataque se robusteça, será preciso reforçar as laterais. Na direita, Pedro Costa pode voltar ao time, mas Guto também vem testando o lateral Alan Rodríguez nos treinos. Na esquerda, Jorge disputa a posição com Sávio, antigo titular e que funcionou bem nas movimentações ofensivas logo no início da Série B.

O fato é que o Remo se prepara para a grande decisão buscando compensar baixas importantes, situação típica de final de competição, quando o cansaço, a competitividade e o estresse determinam perdas. Acima de tudo, nesses momentos, vai prevalecer a consistência do elenco. Desfalques de última hora testam a qualidade das contratações na temporada. (Foto: Raul Martins/Ascom CR)

Papão: fiel da balança contra o Athletic

Lanterna da Série B 2025 e pior time da competição, o Papão disputa a última rodada sem qualquer ambição maior, a não ser cumprir tabela. Ocorre que a última vaga do rebaixamento está aberta e envolve Ferroviária, Botafogo-SP e Athletic – Amazonas, Volta Redonda e o PSC já caíram.

A equipe mineira, que subiu para a Série B nesta temporada – junto com Remo, Ferroviária e Volta Redonda –, depende de uma vitória simples para se livrar da queda. Em 15º lugar, o Athletic tem 41 pontos, a mesma pontuação do Botafogo, 16º colocado, também com 41 pontos.  

A Ferroviária, com 40 pontos, precisa vencer e torcer por derrotas ou empates de Botafogo e Athletic. E é aí que entra o PSC, na condição de time que pode ajudar os dois paulistas. Especula-se que um bom agrado foi oferecido aos comandados de Ignácio Neto. A conferir.

Com vários problemas para escalar a equipe, o técnico bicolor tem pouco a fazer diante de um adversário motivado e com a faca nos dentes, precisando de uma vitória simples para se salvar. Missão complicada.

Vaidade extremada não explica tudo

Poucas vezes um apelido se autoexplicou tão bem como na visita deslumbrada de Cristiano Ronaldo a Trump: Robozão.  

Seleção ressuscita bondes e aumenta preocupações

Pode ter sido apenas indolência típica de final de temporada, mas o fato é que a Seleção Brasileira fez um jogo horroroso e lerdo diante da fraca Tunísia, anteontem, em gramados franceses. Com vários nomes questionados, como Fabrício Bruno, Fabinho e Lucas Paquetá, o escrete se contentou com um empate em 1 a 1, sem repetir a boa movimentação do primeiro amistoso, contra Senegal.

Tomou um gol, levou sufoco durante o 1º tempo e achou um pênalti salvador, cobrado por Estevão. A arbitragem ainda arranjou outro penal, mas Lucas Paquetá não teve a mesma competência, mandando a bola por cima da trave. O curioso é que Estevão iria bater, mas Marquinhos, um dos donos do escrete, pediu para que Paquetá fosse o batedor.

Os bastidores da Seleção têm sido pouco comentados desde que Carlo Ancelotti assumiu, mas é visível a força de figuras que ficaram na comissão técnica, como o ex-zagueiro Juan. Só os pitacos desses auxiliares explicam a convocação de atletas como os citados acima, de baixo rendimento. O caso mais impressionante é o do longevo Fabinho, que joga no futebol árabe e não era lembrado há duas Copas.  

Não haveria problema maior se o Mundial-2026 não estivesse tão próximo, a pouco mais de sete meses. Diante do que Espanha, França, Inglaterra e Alemanha vêm jogando, o quadro fica ainda mais preocupante. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 20)

Ligações com o PCC rondam campanha de Tarcísio para 2026

Dois dos maiores articuladores da candidatura de Tarcísio ao Planalto, Antônio Rueda e Ciro Nogueira, presidentes do União Brasil e do PP, foram acusados de conexão com a facção.

Por João Filho – Intercept_Brasil

Enquanto a extrema direita e o Centrão aprovavam a PEC da Blindagem — ou da Bandidagem, para ser mais exato — que serve para proteger os políticos que cometerem crime, o presidente de um dos maiores partidos brasileiros era acusado de ser sócio da maior facção criminosa do país. 

O bom do Brasil é que tudo é autoexplicativo. Não há nuances nem mistérios. O objetivo da emenda constitucional está explícito: proteger a bandidagem da política. 

Antonio Rueda, presidente do União Brasil, foi apontado como o líder de um grupo criminoso que financia a compra de aeronaves particulares para servir ao PCC. Em entrevista ao ICL Notícias, um piloto de uma empresa de táxi aéreo revelou que Rueda seria o verdadeiro dono de quatro jatinhos ligados à facção, que estariam em nome de laranjas. 

A denúncia foi feita pelo piloto à Polícia Federal, que já incluiu o presidente do União Brasil na Carbono Oculto — a investigação que mira os negócios do PCC com o setor de combustíveis e a Faria Lima. Isso significa que há indícios de que o piloto fala a verdade. O cacique do União Brasil nega tudo. 

Embora não tenha admitido publicamente, Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, já articula sua candidatura a presidente para 2026 (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)
Embora não tenha admitido publicamente, Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo, já articula sua candidatura a presidente para 2026 (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress)

Durante os dois anos em que trabalhou para a Taxi Aéreo Piracicaba, TAP, o denunciante trabalhou como piloto de sócios importantes do PCC. Mohamad Hussein Mourad, mais conhecido como Primo, e Roberto Augusto Leme da Silva, o Beto Louco, são apontados pela investigação como empresários que têm papel central na coordenação das atividades financeiras da facção. Ambos estão foragidos. 

Segundo o piloto, os dois foram transportados por ele pelo menos 30 vezes. Em uma delas, ele disse ter ouvido Beto Louco comentar que se encontraria com o senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas, PP, que é um aliado político muito próximo de Rueda. 

Nesse mesmo dia, o piloto afirmou ter transportado uma sacola que aparentava conter dinheiro em espécie. O encontro teria ocorrido no gabinete de Ciro Nogueira, o que ele nega. 

O que está confirmado até agora é que Beto Louco esteve duas vezes na Câmara dos Deputados em 2023. Segundo os registros, ele declarou ter ido visitar o “PP e o gabinete de um deputado”. O UOL solicitou ao Senado o acesso a todos os registros de entrada de Beto Louco, mas o pedido foi negado sob uma justificativa ridícula: a de que feriria a Lei Geral de Proteção de Dados. 

É vergonhoso que o Senado se recuse a apresentar dados que confirmam ou não a visita de um homem ligado ao PCC. Os dados de quem o Senado quer proteger? Do Beto Louco ou de algum senador? É vergonhoso e bastante suspeito.  

Há ainda muito o que se investigar, mas o cheiro da podridão está forte demais. As conexões do crime organizado com o Congresso Nacional vão ganhando contornos mais claros. O PCC está infiltrado em setores importantes da economia e tem representantes no parlamento. 

O desespero para se aprovar rapidamente a PEC da Bandidagem é mais um sintoma disso. O medo de que se abra a caixa preta do Orçamento Secreto, como quer o Supremo Tribunal Federal, STF, é gigante. Quando isso acontecer, as chances das digitais do PCC aparecerem nas emendas secretas e bilionárias são enormes. 

Ciro Nogueira, presidente do PP, e Antônio Rueda, presidente do União Brasil, formalizaram recentemente a criação da Federação União Progressista (Foto: PP/Reprodução)
Ciro Nogueira, presidente do PP, e Antônio Rueda, presidente do União Brasil, formalizaram a criação da Federação União Progressista (Foto: PP/Reprodução)

É importante registrar que tanto Rueda quanto Ciro Nogueira são os principais articuladores da campanha de Tarcísio de Freitas, do Republicanos, em 2026, que ocupará o espaço deixado por Jair Bolsonaro na extrema direita. 

Eles são presidentes de dois grandes partidos que formaram recentemente a Federação União Progressista. Juntas, as siglas têm cerca de 20% das cadeiras da Câmara e 16% do Senado. Até pouco tempo, faziam parte da base política do governo Lula, mas já desembarcaram e se preparam para a eleição com Tarcísio à frente. 

Há um mês, Rueda organizou um jantar com figuras importantes da direita e da extrema direita brasileira para selar um pacto em torno da candidatura presidencial de Tarcísio, que foi a principal estrela do evento. Ciro Nogueira estava lá também, claro. 

‘O Centrão e a direita já fecharam com Tarcísio. E o PCC? Vai fechar com quem?’.

Nenhum integrante da família Bolsonaro foi convidado, já que o objetivo desse movimento é justamente assumir o posto que ela ocupa hoje, ainda que de maneira velada. Enquanto Bolsonaro está preso e seus familiares agonizam politicamente, o Centrão e a direita já fecharam com Tarcísio. E o PCC? Vai fechar com quem? Será que Rueda e Ciro Nogueira sabem?

Mais uma vez, o nome da facção ronda o do governador paulista no noticiário. Primeiro, ficamos sabendo que uma empresária investigada pela Polícia Federal por suspeita de lavar dinheiro do PCC e da máfia italiana está entre seus principais doadores de campanha. 

Depois, descobrimos que um capitão da Polícia Militar, que foi preso por abrir contas bancárias para o PCC, trabalhou como seu segurança e esteve presente em pelo menos 25 comitivas de Tarcísio. Agora, temos os fiadores da campanha eleitoral dele sendo acusados de terem ligações com a facção. Até onde isso vai, governador?