Dia de Remo: bastidores da conquista do acesso

Vídeo editado pela Remo TV com o relato dos bastidores do acesso à Série A, após 32 anos de ausência da Primeira Divisão nacional. Um dos dias mais importantes da história do Clube do Remo.

Rangel e Rocha, os melhores

POR GERSON NOGUEIRA

Saiu a lista dos melhores jogadores da Série B 2025 e a escolha do goleiro é o primeiro ponto a ser questionado. Marcelo Rangel, do Remo, de atuações excepcionais durante todo o campeonato, perdeu o posto na seleção do torneio para o jovem Pedro Mourisco, do Coritiba, escolhido pelo fato de pertencer ao time campeão.

Em termos de desempenho não há como ignorar a excepcional participação de Marcelo Rangel, responsável pela segurança defensiva do Remo e um dos baluartes da campanha do acesso, que já tinha sido o herói da subida à Série B em 2024.

É uma trajetória impecável, com direito a um punhado de defesas milagrosas em vários jogos deste campeonato, como nas partidas contra América-MG (lá e cá), Coritiba, CRB, Operário e Athlético-PR.

Mais impressionante ainda foi a excepcional recuperação, após a lesão no joelho, que poderia ter significado o fim do campeonato para ele. Desfalque em dois jogos, Rangel ficou apenas 15 dias fora da equipe, retornando contra a Chapecoense, no Baenão. O fato indiscutível é que merecia a titularidade na seleção da Série B.

Pedro Rocha entrou na lista dos melhores, nem poderia ser diferente, mas ficou a impressão de que só foi selecionado porque não podia ser ignorado, afinal de contas é o artilheiro do campeonato. Ocorre que suas atuações pelo Remo deveriam ser mais do que suficientes para a escolha.

Rocha fez a melhor temporada de sua carreira, com o maior número de gols marcados. Até pontificar como goleador do Remo e figura exponencial na campanha do acesso, suas características eram de um atacante de lado que oportuniza situações de gol para o centroavante.

No Remo, ele mudou a maneira de atuar e assumiu um papel de definidor mais pelas carências que o time apresentava, com o baixo rendimento de seus homens de área (Felipe Vizeu e Ítalo) no começo do campeonato.

No encerramento do Brasileiro, fica claro que Rocha foi o maior reforço contratado pelo Remo para a campanha em busca do acesso à Série A.

Ainda quanto à lista dos melhores, talvez fosse justo lembrar de Caio Vinícius, um dos melhores volantes da competição, fato valorizado por ter se transformado em emérito finalizador sob o comando de Guto Ferreira.

De qualquer maneira, o fundamental mesmo era a conquista do acesso. Escolhas que dependem de avaliações pessoais nem sempre são inteiramente certeiras. Neste caso, fica a convicção de que houve injustiça em relação a Marcelo Rangel. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Manter o técnico é prioridade mais urgente

A permanência do técnico Guto Ferreira é a prioridade mais urgente dentre tantas que o Remo estabeleceu para o período pós-acesso. As negociações já começaram e é provável que o comandante permaneça. As declarações dele após a partida com o Goiás sinalizam para o desejo de continuar.

Sem dúvida, a manutenção do técnico é o passo mais importante para dar início ao processo de formatação do novo elenco, que precisa estar pronto até janeiro, quando o Remo terá o Campeonato Estadual e o Brasileiro da Série A, a partir do dia 28.

Guto conseguiu transformar positivamente o Remo nas dez partidas sob seu comando. Conquistou sete vitórias, dois empates e uma derrota. Conquistou mais pontos de que seus antecessores – 23.  

É claro que o desafio da Série A é muito complexo, mas Guto tem em seu favor a longa experiência no ramo. Seu conhecimento e capacidade de observação serão extremamente preciosos na etapa de construção do time para a Primeira Divisão.

Scaloni do Interior é o novo comandante do Papão

Júnior Rocha será o técnico do PSC para a Série C e demais competições de 2026. Não tem o perfil de técnico famoso e bem credenciado como a torcida esperava, mas é um nome que se adequa às aspirações do Papão na próxima temporada, levando em conta o executivo de futebol escolhido – Marcelo Sant’Ana, apresentado oficialmente ontem.

Gaúcho de São Leopoldo, Rocha foi jogador por oito temporadas. Desde 2011, abraçou o ofício de técnico e já conquistou dois acessos para a Série B: com a Ferroviária de Araraquara, no ano passado, e com o Luverdense (MT), em 2013. Aliás, foi pelo clube de Mato Grosso que ele ficou por três anos seguidos na Segunda Divisão.

Ele também ganhou o título da Copa Verde, contra o PSC, em 2017, e venceu o campeonato mato-grossense e a Recopa Catarinense. Um fato curioso é que, em 2022, quando era técnico da Inter de Limeira (SP), Rocha foi chamado de “Scaloni do Interior”, por força de certa semelhança física com o treinador da Argentina, campeão do mundo naquele ano.

A melhor notícia para a torcida do Papão é que, nas três vezes em que disputou a Série C, entre 2022 e 2025, Rocha comandou times que obtiveram classificação para o quadrangular que define o acesso.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 27)

Bolsonaro e aliados começam a cumprir pena de prisão por tentativa de golpe contra a democracia

Decisão finaliza julgamento da trama golpista; ex-presidente vai permanecer na Superintendência da Polícia Federal, onde está preso desde sábado

Do Opera Mundi

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou o início do cumprimento da pena de prisão para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi condenado a 27 anos e três meses de prisão em regime inicialmente fechado por tentativa de golpe de Estado. Ele vai permanecer na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde está preso desde sábado (22/11).

O cumprimento da pena ocorre após o STF declarar o trânsito em julgado da ação penal. Isso significa que os réus já esgotaram todos os recursos disponíveis dentro da Corte. Bolsonaro foi condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático, golpe de Estado, dano qualificado pela violência, grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

O ex-presidente já está preso preventivamente na Superintendência da Polícia Federal na capital brasileira desde a manhã do último sábado. De acordo com a corporação, Bolsonaro tentou romper a tornozeleira eletrônica. Moraes havia determinado o uso do equipamento no âmbito da investigação sobre a tentativa de obstrução do julgamento da trama golpista, com a ajuda de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos.

Além do ex-presidente, Moraes decretou o trânsito em julgado para o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres e para o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O ministro também determinou o início do cumprimento das penas de Mauro Cid, Walter Braga Neto, Anderson Torres, Almir Garnier, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Alexandre Ramagem.

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

“O momento tão aguardado por ativistas de esquerda brasileiros e familiares de vítimas do coronavírus chegou”, escreveu, nesta terça-feira (25/11), o jornal El País sobre o início da pena de 27 anos de prisão por Jair Bolsonaro por “liderar uma conspiração golpista”. O periódico espanhol que o ex-presidente brasileiro “está agora tecnicamente preso, mas sem sair um centímetro da cela onde está detido em Brasília”.

Ao dar destaque aos “problemas gastrointestinais” de Bolsonaro, a publicação afirmou que o ex-presidente cumprirá pena no local “levando em conta sua idade e saúde frágil”, consideradas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), — órgão classificado pelo jornal como um “grande defensor da democracia”.

Segundo o El País, “se Bolsonaro cumprisse toda a sua pena na prisão, seria libertado após quase 100 anos [de idade]”, detalhando que, segundo o direito penal brasileiro, o ex-presidente deve cumprir pelo menos 25% ou seis anos em regime fechado. Após esse período, teria “permissão para trabalhar”, mas está “está impedido de concorrer a cargos públicos desde 2023”, escreveu, lembrando de sua inexigibilidade.

“Seu afastamento da vida pública e o silêncio imposto pelo juiz o enfraqueceram politicamente. Os esforços de seus filhos e de seu partido para aprovar uma lei de anistia ou uma redução de pena no Congresso — que o livraria da prisão ou ao menos diminuiria sua punição — fracassaram até agora”, analisou ainda.

Para o El País, nem a “formidável pressão exercida pelo presidente [dos Estados Unidos] Donald Trump, na forma de ameaças, tarifas e sanções econômicas contra juízes, não conseguiu salvar seu aliado e impedi-lo de ser responsabilizado por tentar subverter a ordem constitucional”

De acordo com a publicação, “as instituições brasileiras demonstraram notável resiliência diante das ameaças e agressões do político mais poderoso do mundo”.

francês Le Monde afirmou que Bolsonaro começou a cumprir sua sentença, tornando “definitiva sua condenação” após “esgotar todos os recursos cabíveis contra sua condenação”.

“O ex-capitão do Exército, que mobilizou os conservadores brasileiros para se tornar presidente em 2019 e remodelou a política do país, agora terá que cumprir uma longa pena de prisão”, escreveu o jornal.

Qual era o plano de fuga de Bolsonaro?

Pista de pouso vizinha ao condomínio de Bolsonaro, controlada pela família de Nelson Piquet, pode entrar no radar da PF como possível peça de plano do ex-presidente.

Por Paulo Motoryn, em Cartas Marcadas

Na edição desta semana, não podemos falar de outra coisa que não a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro após a tentativa de violação da tornozeleira eletrônica. Como você já sabe, a avaliação enviada pela Polícia Federal ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, apontou risco concreto de fuga e levou à ordem de detenção imediata.

A decisão se baseou no entendimento de que Bolsonaro já não estava sob controle suficiente das medidas cautelares e que havia, sim, indícios de preparo para escapar.

Desde sábado, dediquei minhas horas a investigar quais poderiam ser os possíveis planos de fuga do ex-capitão. Não por especulação, mas porque essa pergunta passou a orientar também o trabalho da PF.

Que caminhos reais estavam ao alcance imediato de Bolsonaro? E que estruturas poderiam ser usadas em uma eventual tentativa de evasão?

Vamos aos fatos.

Durante o esforço de apuração desta reportagem, descobri que a própria Polícia Federal passou a reexaminar informações para tentar reconstruir o que poderia ter sido um plano de fuga. Entre essas pistas, estavam informações idênticas a de um relato que chegou até mim em agosto de 2025.

Na ocasião, uma moradora do condomínio de Bolsonaro, o Solar de Brasília, no bairro do Jardim Botânico, disse que vizinhos temiam que um aeródromo privativo da família Piquet, a menos de 200 metros do condomínio, fosse cogitado como peça de um plano de fuga.

À época, procurei integrantes da PF para tentar confirmar a possibilidade e ouvi, de uma fonte do departamento, um categórico: “Chance zero”. O assunto morreu ali.

Com a prisão consumada e a suspeita de que a vigília bolsonarista na porta do condomínio pudesse servir para criar tumulto e atrasar uma ação policial para deter a fuga, a hipótese reapareceu na mesa.

Desta vez, não como fofoca de vizinhança, mas como elemento considerado pela própria PF. A mesma fonte do Departamento de Inteligência Policial, que antes havia negado a chance de uma fuga pela pista dos Piquet, confirmou que o aeródromo “entrou no radar” da corporação após o episódio da tornozeleira.

A PF, inclusive, estaria estudando diligências no local, levantamento de imagens e a eventual oitiva do proprietário, Geraldo Piquet Souto Maior, irmão de Nelson Piquet, tricampeão mundial da Fórmula 1 e aliado de primeira hora de Bolsonaro.

A pista de pouso e decolagem em questão, chamada simplesmente de Piquet, é registrada na Agência Nacional de Aviação Civil, a Anac, como aeródromo privado e localizado na borda do condomínio de Bolsonaro, imediatamente atrás da antiga Hípica Lago Sul, terreno que pertenceu à família Piquet até 2016.
Segundo documentos oficiais da ANAC e imagens de satélite consultadas pela reportagem, trata-se de uma pista asfaltada de 590 metros de comprimento por 18 metros de largura, com autorização para operação visual diurna e noturna, equipada com iluminação de borda e farol de aeródromo.

A pista é adequada para monomotores e bimotores leves, comuns na aviação executiva privada, e plenamente operacional para helicópteros, que independem de extensão para decolagem.
Para a fonte ouvida pela reportagem, a combinação da capacidade para aeronaves discretas, a operação regular e a proximidade inferior a 200 metros do condomínio tornam o aeródromo relevante em um cenário de possível evasão.
O responsável pela pista, Geraldo Piquet, mantém uma longa trajetória como piloto. Em entrevista publicada por uma revista especializada, ele conta que pilota “diferentes aeronaves”, inclusive jatos, e que sempre buscou “testar limites” para sentir a liberdade durante os voos.
As redes sociais de Geraldo reforçam essa identidade: vídeos mostram acrobacias sobre Brasília, voos de helicóptero e pousos e decolagens que parecem ocorrer na própria pista Piquet.
Esse repertório, somado ao histórico aeronáutico da família e à localização estratégica da pista em relação ao Solar de Brasília, explica o interesse renovado da PF em verificar a hipótese.
Questionei Geraldo Piquet sobre a possibilidade de uso do aeródromo em um eventual plano de fuga e se ele havia sido procurado por autoridades policiais nas últimas horas. Até o momento, não houve resposta. Também pedi uma nota oficial à PF, mas não tive retorno.
A relação entre Bolsonaro e Nelson Piquet é digna de nota. A visita do ex-piloto ao ex-presidente durante a prisão domiciliar, em 5 de novembro, autorizada por Alexandre de Moraes, reforça a hipótese.
Nos últimos anos, Piquet foi um dos mais visíveis apoiadores de Bolsonaro, dirigindo o Rolls-Royce presidencial no 7 de Setembro e participando de manifestações públicas em sua defesa.
Por ora, não há qualquer prova de que Bolsonaro tenha utilizado o aeródromo ou de que alguma movimentação real tenha sido feita em direção à pista. A apuração busca esclarecer se a estrutura chegou a ser cogitada, mesmo que informalmente, como rota de fuga.
As próximas etapas podem incluir análise de imagens, varredura de registros, inspeção técnica da pista e a oitiva de Geraldo Piquet, caso haja avanço para diligências formais.

Com raça, paixão e fé

POR GERSON NOGUEIRA

A festa continua rolando em todas as cidades paraenses e em outras paragens também. Poucas vezes se viu tanto entusiasmo e alegria nas ruas partindo de torcedores do Clube do Remo. O motivo é mais do que justo: o acesso à elite do futebol brasileiro. Por força de uma campanha memorável, o Leão está de volta ao topo.

No jogo de domingo, no Mangueirão, o enredo foi tão meticulosamente construído que pareceu obra de roteirista de cinema dos bons, com direito a pausas de suspense e emoção, momentos de aflição e a redenção final, com direito à expectativa pelo resultado do jogo Cuiabá x Criciúma.

Nem o torcedor mais fanático e pacheco conseguiria criar um desfecho tão espetacular. O hino diz que “em cada um de nós mora a esperança”, mas esse grau de confiança foi testado no limite em vários momentos do campo. Por isso mesmo, o júbilo pelo acesso extrapolou os limites do Pará e saiu mundo afora, despertando aplausos e admiração sincera.

A grande mídia nacional, sempre tão indiferente ao que acontece na parte superior do mapa, despertou finalmente para o Remo. Quarto colocado na Série B, coube ao Leão o tratamento mais caprichado nas matérias e comentários das emissoras de TV e canais de internet, justamente porque a história mais bonita e comovente é a azulina.

Com todo respeito a Coritiba, Athlético-PR e Chapecoense, também muito merecedores do acesso, nada é comparável ao que se passou com o Remo, e não me refiro só às últimas semanas. A história do clube é um tributo à capacidade de sobrevivência e de dar a volta por cima. Não há dúvida: a grande notícia do fim de semana é o renascimento do Leão.

O Remo já esteve sem divisão, frequentou a Série D, passou poucas e boas no limbo do futebol, disputando partidas em campinhos de areia e lama, com bandeiras de escanteio demarcadas por sacos plásticos. Todas essas provações tornam mais grandioso o atual momento de glória.

O Remo está na Série A do Campeonato Brasileiro por merecimento, quase uma reparação histórica para uma torcida resiliente e apaixonada, uma das maiores nações do futebol no Brasil, que em todos os jogos aprendeu a pedir apenas que os jogadores honrem a camisa com raça, paixão e fé.

Sim, a fé é fundamental e necessária. Foi pelos braços fervorosos de torcedores e atletas que a Santinha peregrinou por estádios de todo o Brasil nesta Série B, atestando a profunda religiosidade de um povo.

Belém tem fissura por futebol e devoção pela santa padroeira. Esses caminhos se encontraram na campanha magnífica que o Remo fez neste ano. Sagrado e profano lado a lado, como no Círio de Nazaré. (Foto 1: Samara Miranda/Ascom CR; fotos 2 e 3: Agência Pará)

Sete esteios da longa marcha rumo ao topo

Alguns jogadores se destacaram por rendimento, entrega e comprometimento na campanha do Remo, em nível acima dos demais atletas do elenco. Em primeiríssimo plano, acima de todos, aparecem dois nomes de grande importância para a conquista: Pedro Rocha e Marcelo Rangel. Duas verdadeiras instituições azulinas.

Pedro Rocha foi o melhor jogador do campeonato e o principal artilheiro, com 15 gols marcados. Ninguém exemplifica melhor a sinuosa trajetória do Leão do que o camisa 32. Ele iniciou bem, como todo o time, sob o comando de Daniel Paulista.

Caiu de rendimento quando o comandante era Antônio Oliveira e renasceu com Guto Ferreira, tornando-se mais decisivo ainda. Gols de valor inestimável, como o primeiro da partida com o Goiás, que reabriu as esperanças e sacudiu a massa no Mangueirão.

Marcelo Rangel foi outro pilar, garantindo lá atrás vitórias importantes. O melhor goleiro da Série B foi sempre preciso e econômico, sem firulas ou brilharecos desnecessários. Viveu momentos de aflição, após a lesão no joelho que o deixou fora de combate por duas semanas.

Quando ninguém imaginava que poderia voltar ao gol azulino, pois a previsão era de um tratamento de dois a três meses, ele se ergueu e voltou a campo, a tempo de garantir segurança ao sistema defensivo do Leão.

Além de ambos, é justo destacar também Caio Vinícius, Klaus, Nico Ferreira, Diego Hernández e João Pedro. A reinvenção de Caio Vinícius é um dos milagres operados por Guto Ferreira, que mudou o posicionamento do volante, transformando-o em um atacante improvável em vários jogos.

Na zaga, Klaus brilhou pela regularidade. Impecável no jogo aéreo, aplicado nos lances de chão, ele foi um dos responsáveis pela boa performance da defesa remista – o Remo é um dos três times que menos perderam, com somente oito derrotas na competição.

Os uruguaios Nico e Hernández precisaram de tempo para pegar ritmo e condicionamento, mas, quando isso ocorreu, tornaram-se peças imprescindíveis na equipe. Hernández brilhou nas cobranças de falta. Nico pontificou com aplicação e disciplina tática.

Por fim, é preciso falar de João Pedro, transformado em herói na apoteótica jornada final diante do Goiás. Com poucos e importantes gols, como na vitória sobre o Cuiabá, o centroavante português (nascido em Guiné Bissau) provou sua importância com os gols que levaram o Remo à elite. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 25)

Remo tem o jogo de maior público e lidera arrecadação da Série B

A vitória por 3 a 1 sobre o Goiás, que assegurou o acesso do Remo à Série A, quebrou os recordes de renda e público do Brasileiro da Série B. O estádio Jornalista Edgar Proença (Mangueirão) teve 43,3 mil pagantes e R$ 3,1 milhões arrecadados – valor líquido de R$ 2,2 milhões para o Leão. É apenas mais um recorde do Remo na competição, onde é também líder de arrecadação, com R$ 15.794.757 nas bilheterias obtidos nas bilheterias.

TimeRenda bruta total
RemoR$ 15.794.757
CoritibaR$ 10.327.646
Athletico-PRR$ 9.814.868
PaysanduR$ 7.021.650
ChapecoenseR$ 4.304.365
CriciúmaR$ 4.051.890
AvaíR$ 3.192.410
GoiásR$ 2.659.655
Operário-PRR$ 1.441.565
Vila NovaR$ 1.419.360
CRBR$ 1.149.905
Botafogo-SPR$ 1.089.135
Athletic ClubR$ 769.735
Atlético-GOR$ 694.680
CuiabáR$ 649.214
FerroviáriaR$ 632.190
América-MGR$ 569.910
AmazonasR$ 515.280
Volta RedondaR$ 483.600
NovorizontinoR$ 483.220

O campeão Coritiba aparece em 2º lugar, com R$ 10,3 milhões de renda bruta total. Athletico, Paysandu e Chapecoense fecham o grupo dos cinco clubes com as maiores arrecadações da Série B. 

Maiores públicos da Série B

Além de ter estabelecido o maior público do campeonato, o Remo ainda tem outras seis partidas no ranking dos maiores públicos da Série B. Já o Paysandu tem quatro jogos na lista.

JogoEstádioPúblico pagante
Remo 3 x 1 GoiásMangueirão43.315
Athletico-PR 1 x 0 América-MGLigga Arena42.091
Ahtletico-PR 0 x 1 CoritibaLigga Arena39.469
Athletico-PR 2 x 0 Volta RedondaLigga Arena38.930
Remo 0 x 1 PaysanduMangueirão38.154
Coritiba 0 x 0 Athletico-PRCouto Pereira36.391
Coritiba 0 x 0 RemoCouto Pereira33.679
Paysandu 2 x 3 RemoMangueirão33.513
Coritiba 0 x 0 Athletic ClubCouto Pereira31.922
Coritiba 0 x 0 GoiásCouto Pereira30.332
Remo 1 x 1 Botafogo-SPMangueirão28.604
Remo 1 x 0 AmazonasMangueirão27.514
Remo 1 x 1 Volta RedondaMangueirão26.887
Athletico-PR 1 x 0 Operário-PRLigga Arena26.429
Coritiba 1 x 0 Vila NovaCouto Pereira25.651
Coritiba 2 x 1 AvaíCouto Pereira23.449
Coritiba 0 x 0 NovorizontinoCouto Pereira22.731
Coritiba 2 x 5 PaysanduCouto Pereira22.612
Paysandu 1 x 1 CRBMangueirão22.035
Coritiba 2 x 0 Operário-PRCouto Pereira20.921

Júlio César, ex-Flamengo e Seleção, participa da festa da torcida do Remo no Mangueirão

Um ”torcedor” inusitado despertou atenção na festa de acesso do Remo à Série A: o ex-goleiro Júlio César. Famoso pela passagem pelo Flamengo, Inter de Milão e Seleção Brasileira, ele marcou presença no gramado do Mangueirão após a partida e até chorou com a empolgante vitória de 3 a 1 sobre o Goiás, de virada, que colocou o time azulino de volta à elite nacional.

Mas, afinal, por que o ex-arqueiro estava em Belém? Júlio César mantém relação próxima com funcionários do Remo, principalmente com Marcos Braz, ex-vice-presidente do Flamengo e que hoje é executivo de futebol do clube paraense.

O ex-goleiro já tinha sido convidado pelo dirigente há um mês para assistir ao clássico contra o Paysandu. O duelo, inclusive, terminou com vitória azulina por 3 a 2. Na ocasião, ele conheceu as dependências do estádio e ganhou uma camisa personalizada.

”O Remo acabou sendo abençoado com um belíssimo gol ali no final, uma cobrança de falta realmente magistral. Parabéns aos dois times, acho que foi um Re-Pa digno de Re-Pa. Obviamente a torcida do Remo saiu mais feliz, mas para quem ama futebol, curtiu uma grande partida”, disse em entrevista à TV, após o clássico.

Neste domingo, no jogo decisivo contra o Goiás, Júlio César esteve em Belém novamente e até acompanhou a delegação do Remo no ônibus até o estádio. Com o ex-goleiro presente, o time azulino venceu por 3 a 1 com dois gols de João Pedro e outro de Pedro Rocha e contou com tropeço do Criciúma para selar o acesso.

Após o apito final, a torcida invadiu o gramado. Júlio César, por sua vez, participou da festa, foi reconhecido pelos torcedores e foi visto, emocionado, em meio à festa azulina.

Herói português do Leão veio como aposta de Marcos Braz

O Remo garantiu o acesso à Série A após 32 anos com a vitória por 3 a 1 sobre o Goiás, neste domingo (23), no Mangueirão. Um nome foi o grande destaque do jogo e ponto de virada da equipe azulina: o centroavante João Pedro. Autor de dois gols na virada para cima do Esmeraldino, o português de 29 anos, que também tem cidadania de Guiné-Bissau, chegou ao clube por esforço do executivo de futebol Marcos Braz.

Contratado no dia 31 de agosto, o atacante chegou já na reta final da Série B para ajudar o Remo no tão sonhado acesso. Na apresentação destacou a importância de Braz dez dias antes de a janela de negociações fechar.

“Foi fácil (dizer sim ao Remo), é o projeto. Claro que eu procurei me informar e com as informações que obtive, não tinha como dizer que não. Claro que pesou o Braz está incluído no projeto, porque é uma pessoa do futebol”

João Pedro começou a carreira no Santa Clara e passou por Gil Vicente, Trofense, Vitória de Guimarães e Paços de Ferreira, em Portugal. Depois, jogou no Bursaspor, da Turquia, e no Panetolikos, da Grécia. Ele estava no Hà Nôi, do Vietnã, quando foi contratado pelo Remo no dia 31 de agosto Foram 4 gols e uma assistência em 12 partidas.

A volta por cima 3 décadas depois

POR GERSON NOGUEIRA

A equação para o acesso não era simples. O Remo precisava vencer e, além disso, tinha que torcer por um resultado favorável nos jogos da Chapecoense e do Criciúma. Contra as previsões mais pessimistas, tudo transcorreu de acordo com as esperanças azulinas e o esperado acesso à Série A finalmente aconteceu, 33 anos depois.  

Cabe dizer que o capítulo final da Série B começou da pior maneira para o Leão. Em jogada despretensiosa, o Goiás saiu na frente. Um golaço de Willian Lepo, aos 7 minutos. As coisas não pareciam se encaminhar para a celebração que a torcida havia preparado com tanto esmero.  

Com 47 mil espectadores lotando o Mangueirão, o gol gerou preocupação, mas a massa torcedora se encarregou de manter a crença na vitória. E o time correspondeu, tomando conta das ações e controlando o jogo com tentativas de cruzamentos e chutes de fora da área.

O Goiás recuou e não saía de seu campo nem por decreto, bem ao estilo Fábio Carille. A estratégia era conservar a vantagem e segurar o resultado. O principal mérito do Remo foi não perder a concentração e o foco. Seguiu acreditando. Pedro Rocha se livrou da marcação e mandou um chute perigoso, próximo à trave de Tadeu, aos 14’.

Como o Goiás se fechava com até oito jogadores dentro da área, o Remo precisou diversificar os ataques. Kayky disparou um chute forte, que pegou curva e quase entrou no canto esquerdo do gol, aos 26’.

O lance mais perigoso veio em um escanteio cobrado por Pedro Rocha. Klaus desviou de cabeça deu rebote, mas João Pedro chegou atrasado. Quando a chuva voltou e o jogo parecia destinado a terminar empatado no 1º tempo, eis que as coisas começaram a se encaixar para o Leão.

Aos 49’, Pedro Rocha recebeu bola cruzada por Pedro Costa e avançou em direção à meia-lua da grande área. Mesmo marcado de perto, o artilheiro do campeonato bateu à meia-altura e a bola entrou junto ao poste esquerdo de Tadeu. Na trajetória do chute, Jaderson contribuiu com um corta-luz que ajudou também a confundir o goleiro.

O empate veio na hora certa e encheu de entusiasmo o Remo para a etapa final. Os resultados lá de fora continuavam insatisfatórios. A Chape vencia o Atlético-GO e o Criciúma empatava com o Cuiabá.

Só que por volta dos 10 minutos, a torcida explodiu de alegria nas arquibancadas. O Cuiabá fez 1 a 0 lá na Arena Pantanal. O barulho da torcida funcionou como corrente elétrica junto ao time do Leão, que passou a fustigar com mais insistência em busca do segundo gol.

Aos 17 minutos, Pedro Rocha recebeu passe de Panagiotis, avançou pela esquerda e lançou a bola na área. João Pedro se antecipou à defesa e tocou para o fundo das redes, marcando 2 a 1 para o Remo e enlouquecendo o Fenômeno Azul. O Goiás, mesmo em desvantagem, continuou tímido. Fábio Carille fez mudanças, mas o time permaneceu muito atrás.

O Remo, já com Pavani e Jorge em campo, forçou mais o jogo pelos lados e, aos 38’, veio a recompensa. Jaderson passou para Pedro Rocha e este cruzou na área. João Pedro subiu mais que a zaga e testou, ampliando para 3 a 1. Uma linha de passe entre o artilheiro da Série B e o goleador do jogo.

Aí o jogo virou festa porque, instantes depois, veio a confirmação da vitória do Cuiabá. A combinação perfeita esperada pelo Remo para permitir que a torcida gritasse a plenos pulmões: “O Leão voltou!”.

Leão teve ousadia, investimento e boas escolhas

Após o jogo, começou a tradicional avaliação dos responsáveis maiores pela imensa conquista azulina. Garantir presença na Série A, um ano após o acesso à Série B, é uma façanha reservada a poucos times. Méritos para o esforço da diretoria, comandada por Antônio Carlos Teixeira, que teve a ousadia de investir e acreditar de verdade no acesso.

Outro acerto foi a contratação de Guto Ferreira quando o time começava a perder fôlego na disputa, caindo para a 12ª posição em função do fraco trabalho do técnico Antônio Oliveira. Guto deu início a uma reação espetacular, conquistando seis vitórias seguidas e colocando o Remo entre os postulantes reais à conquista do acesso.

Nem mesmo os últimos resultados, com dois empates e uma derrota, arrefeceu a confiança do torcedor, atento ao bom trabalho de Guto e sua comissão técnica. Os 47 mil torcedores presentes no Mangueirão, um recorde na Série B, confirmam que o Fenômeno Azul nunca perdeu a fé na subida para a Série A – maior conquista do Remo nos últimos 20 anos.   

Papão até começa bem, mas sofre a virada

O jogo não valia mais nada para o PSC, a não ser a preocupação com uma despedida honrosa, mas o gol de Peterson aos 8 minutos deu à equipe a vantagem inicial sobre o Athletic, em S. João Del Rey. O placar poderia ter sido ampliado ainda no 1º tempo, com chute do mesmo Peterson na trave do time mineiro, cujo nervosismo era visível.

A primeira etapa foi toda favorável ao Papão, que trocava passes em velocidade e levava perigo sempre que botava pressão. Pode-se dizer que foi o melhor 1º tempo da equipe sob o comando de Ignácio Neto.

Mesmo quando o Athletic criava situações de perigo, a zaga respondia bem e o goleiro Gabriel Mesquita não dava chances ao ataque adversário.

Na virada para o 2º tempo, com o Athletic correndo o risco de rebaixamento, o jogo começou a mudar. Aléssio Da Cruz entrou na partida e, em menos de 10 minutos, conseguiu marcar os gols necessários para virar o placar e garantir a permanência do Athletic na Série B.   

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 24)

O caminho ainda é pelas pontas

POR GERSON NOGUEIRA

A receita é antiga, muitos até já deixaram de lado por esquecimento ou arrogância, mas a velha máxima continua valendo: o caminho mais fácil para chegar ao gol é pelas pontas. É exatamente o que o Remo precisa fazer neste domingo (23), às 16h30, para passar pelo Goiás e – dependendo de outro resultado favorável na rodada – conquistar o acesso à Série A.

O desafio é conseguir explorar o jogo pelos lados sem ter os ponteiros titulares, Diego Hernández e Nico Ferreira, ambos suspensos. A comissão técnica terá que apostar em dois outros jogadores de ataque, igualmente agudos: Pedro Rocha, artilheiro da competição, e Janderson, extrema-direita que foi titular no início do campeonato.

Para que a força dos atacantes seja potencializada é necessário que tenham o suporte de laterais igualmente ofensivos. Pedro Costa, reserva imediato de Marcelinho, deve ser confirmado na lateral direita, enquanto Sávio (ou Jorge) entrarão no lado esquerdo.

Em papo com os jornalistas na sexta-feira, Pedro Rocha deu a entender que aprecia o entrosamento com Sávio, autor de cruzamentos primorosos, que resultaram em gols do artilheiro. Na direita, Janderson funciona também como um resgate do sistema ofensivo que o Remo utilizou no início do campeonato, acionando Rocha com passes e cruzamentos precisos.

É a combinação mais interessante para que o Remo consiga se impor diante de um adversário qualificado e que também vem a Belém disposto a vencer para conquistar o acesso. O esquema de transições rápidas e aproveitamento de contra-ataques precisa estar afiado, bem como a capacidade de aproveitar as oportunidades.

A comissão técnica tem que se preocupar com a formação de meio-campo. Há um esboço de trio com Cantillo, Caio Vinícius e Panagiotis. Talvez não seja o suficiente para um confronto que vai exigir alta intensidade e rapidez tanto no combate quanto nas saídas rumo ao ataque. Jaderson, Nathan Camargo, Pavani e Pescador são boas alternativas.  

Enquanto torce por resultados favoráveis na rodada – derrota do Criciúma ou derrota/empate da Chapecoense –, o Remo terá que fazer o dever de casa. Só a vitória permite concretizar o sonho de acesso à Primeira Divisão. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Bola na Torre

Giuseppe Tommaso apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV, com participações de Jorge Anderson e deste escriba de Baião. Em pauta, a rodada final da Série B 2025. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.

Um simples ritual de cumprimento de tabela

Alguns aloprados chegaram a especular sobre supostas promessas de bicho gordo para o PSC endurecer o jogo com o Athletic, hoje, em São João Del Rey (MG). Os times que estão dependendo de um mau resultado do time mineiro são Ferroviária e Botafogo-SP, ambos em total desespero.

O problema é que nenhum deles tem cacife financeiro para oferecer premiação de R$ 1 milhão, como foi divulgado. Da parte dos bicolores, o que importa é encerrar a participação na Série B da forma mais digna possível, de preferência com um resultado positivo.

Vencer ou empatar não será por imposição ou estímulo de outro clube, mas por iniciativa dos próprios jogadores do Papão. O time tem muitos problemas na escalação, mas saberá honrar a história do clube.

Racismo: providências começam por inquérito

A divulgação de um vídeo mostrando os xingamentos racistas e xenofóbicos de uma torcedora do Avaí em direção à torcida do Remo, no estádio da Ressacada, é o ponto de partida para um inquérito que vai apurar o crime cometido e abrir caminho para o devido processo judicial.

A Defensoria Pública do Pará enviou ofício ao Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de Santa Catarina (DPE-SC), solicitando providências diante da flagrante violação de direitos.

Segundo o defensor público Cássio Bitar, autor da denúncia, a conduta racista e agressiva contra os torcedores paraenses motivou um ofício à Defensoria de Santa Catarina pedindo providências. Ao mesmo tempo, ele se colocou à disposição para atuar em cooperação.

Uma pesquisa realizada em parceria pela CBF e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol revela que o número de casos racistas no esporte cresceu 38,77% em 2023 em comparação ao ano de 2022.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) informou que irá instaurar procedimento administrativo através da 40ª Promotoria de Justiça da Capital para “apurar possível crime de racismo em decorrência de suposta xenofobia”.

As imagens e áudios exibidos nacionalmente comprovam que não é mera suposição: o crime de ódio e racismo de fato aconteceu. Por essa razão, a autora dos insultos foi demitida pela empresa onde trabalhava.

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 22/23)