Os degraus do rebaixamento

POR GERSON NOGUEIRA

Poucos times cumpriram com tanto esmero o manual do rebaixamento como o Paysandu nesta edição da Série B do Campeonato Brasileiro. Desde as primeiras rodadas, o time mergulhou nas posições inferiores da classificação. Seguiu errante ao longo da disputa, trocou duas vezes de treinador, perdeu parte da janela final de transferências e se isolou na lanterna a partir da 5ª rodada do returno.

Em resumo, o Papão galgou todos os degraus do rebaixamento, ficando fora de combate a pelo menos 10 rodadas do fim do campeonato. As possibilidades matemáticas até existiam, mas a realidade de campo desmentiu qualquer projeção otimista.

Hoje à noite (19h), contra o Atlético Goianiense, na capital goiana, o PSC encara a 35ª rodada da competição já sem chances de salvação. O time não escaparia da queda nem que triunfasse nas quatro partidas que restam – chegaria, no máximo, a 39 pontos. A linha mínima de corte é 42 pontos.

A sinfonia de erros resultou na despedida melancólica em quatro capítulos, sendo que o primeiro se realiza hoje. Coube a Márcio Fernandes a missão indigesta de tentar operar um milagre. No ano passado, ele foi contratado e conseguiu deter o processo de queda, deixando o PSC bem posicionado.

Os problemas de planejamento e gestão têm sido exaustivamente debatidos. Há consenso de que foram determinantes para o rebaixamento, na medida em que implicaram na formação de um elenco desqualificado e abaixo das exigências de uma competição tão difícil e seletiva.

Para tentar obter um resultado que dignifique o clube, Márcio Fernandes escala um time modificado no meio-campo, com a inclusão de Pedro Henrique e Anderson Leite, que foram utilizados na etapa final diante do Avaí. A defesa terá a mesma formação do jogo passado.

A única boa notícia é o retorno de Maurício Garcez, artilheiro (6 gols) e principal jogador da equipe. Ele não enfrentou o Avaí por força de restrição contratual. Fez muita falta.

Marlon e Denilson completam o ataque. Se precisar alterar o time no 2º tempo, Márcio Fernandes terá poucas opções. O enxugamento promovido pela diretoria, que já desligou oito atletas, reduziu para 20 jogadores o grupo relacionado para o jogo em Goiânia.

Dois meias cotados para substituir Panagiotis

Panagiotis é uma das boas soluções encontradas por Guto Ferreira para qualificar o meio-de-campo do Remo. Passe qualificado e jogo verticalizado são as principais virtudes do armador grego. Desde que entrou na equipe, estabilizou a meia-cancha e contribuiu para agilizar a transição.

Antes dele, o Remo sofria com o excesso de passes errados e decisões erradas na saída para o ataque. Guto Ferreira teve o mérito de perceber as qualidades de Panagiotis e tratou de integrá-lo ao seu modelo de jogo.

Por tudo isso, a ausência do meia contra a Chapecoense é um tremendo prejuízo para o funcionamento coletivo do Remo. Ao longo desta semana, o técnico observou alternativas para a função exercida por Panagiotis.

Nathan Pescador surge como favorito para entrar como titular. Tem sido o substituto natural de Panagiotis nas partidas sob o comando de Guto. A desvantagem é que Nathan não tem profundidade de passe e nem o mesmo vigor físico para brigar pela retomada de bolas no meio.

Por outro lado, é tão técnico quanto Panagiotis e sabe articular jogadas a partir da linha central. Foi dele o passe inicial no contra-ataque que levou ao terceiro gol contra o Cuiabá, marcado pelo centroavante João Pedro.

A outra alternativa é Jaderson, segundo volante que também faz o papel de meia-armador com eficiência. Em certo sentido, oferece mais recursos defensivos que Nathan. Marca melhor e movimenta-se de uma área a outra.

Cantillo, meio-campista de estilo moderno, poderia ser considerado para entrar, mas tem contra si o longo período de inatividade, que pode comprometer o ritmo e a resistência. 

Mas, seja qual for a decisão de Guto, há a certeza de que o elenco tem alternativa de qualidade para a tarefa de armar e conduzir o time no decisivo confronto de domingo (2).

Virada épica põe o Palmeiras em sua sétima final

O futebol é capaz de surpreender com resultados tidos como impossíveis. A virada do Palmeiras sobre a LDU, ontem, parecia improvável. A aplicação do time brasileiro fez com que a ampla vantagem equatoriana começasse a ser demolida ainda no 1º tempo, com um categórico 2 a 0.

Na etapa final, quando o jogo já entrava na fase de desespero, o Palmeiras empatou no agregado, com Raphael Veiga. Instantes depois, o garoto Allan fez fila junto à linha de fundo e foi derrubado. O pênalti, convertido por Veiga, decretou o 4 a 0 e definiu a semifinal.

É verdade que a LDU teve atuação frouxa e caótica, limitando-se a rebater bolas, sem qualquer organização ofensiva. Pagou caro por avaliar que o placar de 3 a 0 era suficiente. Aliás, o cálculo errado começou na ida, quando os equatorianos tiraram o pé e deixaram de marcar mais gols.   

Com raça e determinação, o Palmeiras obteve a maior virada já vista numa semifinal de Libertadores, assegurando outra decisão brazuca no torneio. Como Botafogo x Atlético-MG em 2024, Flamengo e Palmeiras irão brigar pela Glória Eterna em novembro – a 7ª final do Verdão na competição. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 31)

Um abismo financeiro entre os rivais

POR GERSON NOGUEIRA

A possibilidade do acesso do Remo à Série A descortina uma realidade inédita na vida dos grandes rivais do futebol paraense. Se o Leão subir, abrirá um abismo financeiro superior a R$ 100 milhões em relação ao Papão, levando em conta o faturamento que a Primeira Divisão garante.

Um cálculo conservador aponta faturamento anual superior a R$ 150 milhões para um clube que chega à Série A oriundo da Série B. Se isso se confirmar, o Remo terá uma receita bruta suficiente para estabelecer pela primeira vez neste século ampla vantagem em relação ao Paysandu.

A questão aqui é financeira, quem vai faturar mais na próxima temporada. Caso permaneça na Série B, o Remo seguirá com uma receita em torno de R$ 50 milhões. Já o PSC terá menos de um terço disso na Série C, o que compromete seriamente qualquer plano de crescimento.

Ao contrário, a preocupação de dirigentes e conselheiros é com a sobrevivência do clube dentro da Terceira Divisão, com brutal redução de receita e dificuldades naturais para montar um time competitivo. É um processo de quase recomeço para um clube que esteve na Série B por duas temporadas seguidas nos últimos anos.  

Caso Pedro Rocha e seus companheiros consigam materializar os sonhos do Fenômeno Azul, o Remo chegará ao paraíso da plenitude financeira. Como nunca em sua história, terá uma receita abundante para formar um elenco de qualidade e condições para executar as obras do CT de Outeiro e a ampliação do estádio Banpará Baenão.

Além das verbas de participação, contratos de transmissão e cotas de patrocínio, o Remo terá a vantagem de entrar na 5ª fase da Copa do Brasil, com premiação correspondente. Haverá ainda o enfrentamento com grandes clubes, propiciando 19 arrecadações robustas no estádio Jornalista Edgar Proença, o Mangueirão.

Há também o dinheiro oriundo do acordo com as ligas. A LFU, com 11 clubes, distribui R$ 1,4 bilhão por ano, enquanto a Libra, com nove times (Remo e PSC inclusos), divide R$ 1,35 bilhão, montante que compreende repasses fixos e bônus por desempenho técnico e audiência.

Os valores impressionam pela abundância e, quanto à rivalidade local, representam a abertura de um espaçamento técnico só visto nos anos em que o PSC disputava a Série B e o Remo patinava na D ou sem divisão. Significará uma inflexão importante no cenário das últimas décadas.

Mangueirão na rota turística do continente

O estádio Jornalista Edgar Proença foi incluído na Rota Turística do Futebol do Mercosul, circuito que conecta os maiores estádios e museus esportivos de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia, promovendo o futebol como patrimônio cultural e turístico.

A presença do Mangueirão carimba o Pará como potência esportiva, turística e cultural do continente. A escolha é um prêmio à revitalização do estádio, que permitiu sua utilização em grandes espetáculos, como jogos das Eliminatórias Sul-Americanas, desde a reinauguração em 2023.

Único estádio do Norte incluído na Rota Mercosul, o Mangueirão terá como concorrentes os principais estádios do continente, como os míticos La Bombonera (Argentina) e Centenário (Uruguai).

O circuito está vinculado à marca Visit South America, que busca valorizar o futebol como uma das expressões culturais mais fortes da identidade sul-americana. Ao distinguir o Mangueirão, a Conmebol reconhece o relevo que a arena multiuso paraense conquistou no cenário internacional.

Começa o processo de desmanche na Curuzu

Consciente da proximidade do rebaixamento, a diretoria do PSC começou a fase de desligamentos no elenco. Além de Rossi, que já estava afastado da equipe, o clube acertou as contas com os jogadores Ronaldo Henrique, Novillo, Thiago Heleno, Denner, Quintana e Dudu Vieira (já desligado).  

Com essas mudanças, o clube tenta se antecipar aos litígios que certamente irão ocorrer nos próximos meses, a exemplo do que se viu em 2024.

É um passo inevitável e necessário, pois as despesas precisam ser enxugadas o quanto antes. O desmonte já vai afetar a participação nas quatro rodadas finais. Para enfrentar o Atlético-GO, amanhã (31), em Goiânia, Márcio Fernandes terá um grupo reduzido.

Apenas 20 jogadores estarão à disposição. Entre os relacionados para o jogo, três jovens da base: Lucca, Kauã Hinkel e Pedro Henrique, que entrou contra o Avaí. O cenário lembra outras situações de “fim de festa” quando os garotos são sempre lembrados para compor elenco.

Pena que mais uma vez a utilização da prata da casa seja puramente para quebrar galho, sem obedecer a um planejamento sério e sem o menor interesse em preservar a garotada ao final da temporada.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 30)