POR GERSON NOGUEIRA
A estupenda vitória sobre o Cuiabá na sexta-feira à noite, na Arena Pantanal, deixou o acesso à Primeira Divisão mais perto dos azulinos. Com 57 pontos, o Remo pulou para a vice-liderança da Série B, encostado no líder Coritiba. Foi a sexta vitória consecutiva do time dirigido por Guto Ferreira, a segunda melhor sequência do campeonato – perde apenas para o recorde de sete vitórias do Athlético-PR.
São resultados que impressionam os adversários e encantam a torcida, que está em estado de graça e organizou uma festiva recepção ao time no aeroporto de Val-de-Cans, sábado pela manhã. A empolgação é plenamente justificada, embora nada tenha sido ganho ainda. A reta final será árdua e disputada ponto a ponto, cheia de riscos e surpresas.
A questão é que o torcedor tem total direito de extravasar seu contentamento diante da excepcional campanha que o Remo faz. O apoio incondicional sempre houve, mas desta vez há o diferencial de que está sendo correspondido à altura. Por isso mesmo, os jogos têm sido um show de público nas arquibancadas – o 2º maior da Série B.
Diante do atual cenário, o Remo precisa de seis pontos para ficar no limite da classificação, embora o bom senso indique a necessidade de conquistar mais pontos. Nos jogos em casa, contra adversários diretos, Chapecoense e Goiás, a conquista de duas vitórias torna-se imperiosa.
Fora de casa, contra Novorizontino e Avaí, conquistar vitórias e empates podem até levar ao título. A fase é tão auspiciosa que faz o torcedor acreditar ainda mais nas possibilidades do time, cuja arrancada passa a impressão de que finalmente a caminhada azulina pode ser exitosa.
De aspirante pouco considerado ao acesso, a série de triunfos fez o Remo pular para o 2º lugar nos cálculos da UFMG, agora com 74,6% de probabilidades, logo abaixo do líder Coritiba.
Condicionamento reforçado turbina a arrancada
O condicionamento físico nunca se mostrou tão decisivo quanto nesta fase final da Série B. O Remo é a prova viva do papel que um elenco bem preparado pode fazer. A sequência de seis vitórias, atropelando os adversários, está diretamente associada à melhoria da preparação do elenco a partir da contratação de Guto Ferreira e sua comissão técnica.
O fato é que, no início do returno, Remo ‘morria’ a partir dos 15 minutos do 2º tempo, tornando qualquer jogo uma verdadeira loteria, principalmente nas partidas em Belém, onde precisava propor o jogo e envolver o adversário.
Diego Hernández, Nico Ferreira, Marcelinho, Kayky e Janderson são exemplos da preparação imposta ao elenco que explica a arrancada vertiginosa no chamado momento certo da competição, superando adversários naturalmente combalidos no aspecto físico.
Papão perde, avança rumo à Série C e técnico critica
A entrevista que Márcio Fernandes deu após a derrota para o Avaí é mais esclarecedora sobre a situação do PSC do que tudo o que os dirigentes já falaram e é mais transparente do que o resultado do jogo. À sua maneira, o tocou em pontos cruciais da desastrosa temporada bicolor na Série B. Pela primeira vez, citou francamente a falta de planejamento e os erros nas contratações, sem se alongar sobre outras questões mais ou menos óbvias.
É claro que, além das limitações técnicas de um elenco formado aos trancos e barrancos, há o problema sempre decisivo dos atrasos de salários, capaz de derrubar sozinho qualquer campanha. Márcio não precisou mencionar isso, pois a insatisfação de alguns jogadores já extrapolou os limites do clube e chegou à justiça trabalhista – caso de Dudu Vieira.
Diante de tão farto coquetel de barbeiragens é difícil avaliar apenas as atuações do ponto de vista técnico. O certo é que o PSC cumpriu com afinco o manual do rebaixamento: cinco vitórias e impressionantes 17 derrotas em 34 rodadas. Não há esperança que resista – a não ser aquela que vem do otimismo fingido dos bajuladores – a tantos desatinos.
Márcio faz o que pode, junta peças que não combinam e, sem alternativas, aposta em jogadores que rendem pouco ou nada. O desânimo se acentua e afeta o desempenho, como na derrota frente ao Avaí, construída antes da metade do 1º tempo em falhas primárias da zaga, que levaram o técnico a admitir que uma goleada não teria sido exagerada.
Sem seu principal jogador, Garcez, o PSC tentou buscar o empate depois que Márcio mudou todo o meio-campo. Não faltou esforço e vontade na etapa final, mas a derrota parecia decretada desde os primeiros movimentos do confronto, como ocorreu tantas vezes nesta Série B.
Conforme as palavras do próprio Márcio, é tempo de refletir e buscar projetar 2026 com a responsabilidade que faltou em 2025. Um passo importante é a reunião de quarta-feira, convocada pelo presidente Roger Aguilera para definir uma junta governativa, com ele no comando.
(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 27)