A noite é do Inferno Azul

POR GERSON NOGUEIRA

Nunca a participação do torcedor azulino foi tão importante e decisiva nesta Série B como no confronto com o Atlético-GO, neste sábado (20h30), no Baenão. Com 39 pontos e na 7ª colocação, o Remo precisa vencer para continuar no pelotão de frente. Os três pontos não garantem um lugar no G4, mas mantêm vivo o sonho do acesso.

Mudanças pontuais no meio-campo e no ataque devem turbinar as ações ofensivas, tornando o time mais agressivo. É com essa pegada que o técnico Antônio Oliveira pretende cativar o torcedor, ainda ressabiado com a tímida campanha como mandante.

Régis, ao que tudo indica, deverá ser o articulador, responsabilizando-se pela criação de jogadas para o trio Marrony-João Pedro-Pedro Rocha. Pode dar certo, desde que haja equilíbrio no meio e marcação segura na zaga.

Dono da terceira melhor defesa da competição e com apenas cinco derrotas, o Remo só não está entre os quatro melhores pelo excesso de empates (12) – sete deles na gestão de Antônio Oliveira.

A perda de tempo com Diego Hernández na função de meia-armador comprometeu a dinâmica da equipe nas últimas quatro partidas. Depois de abusar da teimosa, Antônio Oliveira parece ter observado melhor as opções disponíveis. Régis, meia de ofício, é a mais visível delas.

Bom passador e hábil na condução de jogo, Régis pode funcionar como o maestro que Jaderson prefere não ser. De qualquer maneira, a presença de ambos na mesma faixa do campo só pode trazer benefícios à equipe.

Um outro fator pode contribuir para uma grande atuação: a presença de Marrony no ataque. Poucos entendiam a insistência do treinador em deixá-lo na suplência, sendo que é um dos mais produtivos na conexão com Pedro Rocha, podendo ainda ser um avançado pela direita ou jogar mais centralizado, atuando ao lado do centroavante João Pedro.

Com o barulho que a torcida se prepara para fazer – o tal Inferno Azul prometido –, o Remo terá, neste retorno ao Baenão, as condições ideais para se impor e sufocar o Atlético desde os primeiros minutos. Sem dúvida, é a melhor maneira de usar o caldeirão para vencer. (Foto: Lívia Alencar)  

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião nos debates. A rodada 27 da Série B é o principal assunto em pauta. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.

Após dois meses de jejum, Papão quer a vitória

Diante de um Goiás bastante desfalcado – oito jogadores estão fora de combate –, o PSC tenta fazer as pazes com a vitória depois de dois meses de jejum. A partida, prevista para a tarde deste sábado (16) no estádio da Serrinha, em Goiânia, tem todos os ingredientes de drama e complexidade que marcam a trajetória do Papão neste Brasileiro.

Como tudo começa e termina na meia-cancha, o PSC deve ter novidades para mudar a rotina de problemas técnicos no setor de criação. Sem outras alternativas, Márcio Fernandes decidiu escalar Leandro Vilela, Ramon Vinícius e Gustavo Nicola, jogador recém-contratado.

Satisfeito com o rendimento de Edinho na partida contra o América-MG, decidiu continuar com ele no ataque, ao lado de Diogo Oliveira e Maurício Garcez. Se tudo funcionar conforme o planejado, o Papão terá finalmente um ataque conectado com o meio-de-campo.

Com isso, Garcez e Diogo precisarão percorrer distância menor do que vêm fazendo. Permanecendo mais tempo junto à área adversária, estarão mais perto do gol e criando mais problemas para a defesa adversária.

Ao mesmo tempo, caso as escalações de Nicola e Edinho se confirmem, Márcio deixa claro que não conta com Marlon e Rossi, pelo menos por enquanto. 

O primeiro saiu vaiado nas últimas duas apresentações em casa. O segundo, ainda respeitado pelo currículo, sofre os efeitos da longa recuperação e o desgaste natural de ter ficado ausente de 14 das 26 partidas da competição.   

Fla mostra força na Conmebol ao reverter expulsão

O Flamengo deu prova insofismável de forte poder nos bastidores do futebol sul-americano. A Conmebol decidiu reverter na sexta-feira (19) a expulsão do atacante Plata, ocorrida aos 37 minutos do 2º tempo da partida com o Estudiantes, pela Libertadores, no Maracanã.

André Rojas entendeu que o rubro-negro entrou de sola e cometeu falta. Como já estava amarelado, Plata recebeu o vermelho e foi excluído, para indignação da torcida e da cúpula flamenguista. (Aliás, uma das cenas mais hilárias do futebol é ver torcedor do Fla queixando-se de roubo).

Em movimentação rápida, o clube pressionou a Conmebol e obteve a reversão, algo raro em relação a clubes brasileiros. Antes, a entidade só havia “perdoado” o zagueiro Dedé, quando jogava pelo Cruzeiro. 

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 20 e 21)

Orgulho do Brasil, SUS completa 35 anos

Sistema mudou a realidade do acesso à saúde, elevou a qualidade de vida e segue como principal rede de assistência de 76% da população brasileira.

Nesta sexta-feira, 19 de setembro, o Sistema Único de Saúde – SUS completa 35 anos e se consolida como um dos maiores sistemas públicos, gratuito e universal de saúde do mundo. Resultado do movimento histórico da 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), o SUS ganhou forma na Constituição de 1988, que definiu a saúde como direito de todos e dever do Estado. Em 1990, a Lei nº 8.080 regulamentou o sistema em todo o território nacional.  

Em uma postagem nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sintetizou a importância do sistema para o país: “O SUS é motivo de muito orgulho para brasileiras e brasileiros: nenhum outro país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes tem um sistema universal, capaz de oferecer atendimento gratuito a todos, independente de poder ou não pagar uma consulta ou plano de saúde”, escreveu.  

Na postagem, o presidente cita uma série de investimentos do Governo Federal para fortalecer o SUS desde o início da gestão, em 2023. Ações que permitiram ao Mais Médicos dobrar de tamanho e chegar hoje a 26,8 mil profissionais. Políticas como o Brasil Sorridente, retomada, hoje com 34 mil equipes e com o reforço de 400 Unidades Odontológicas Móveis já entregues. Recomposição do Farmácia Popular, que beneficiou 22 milhões de pessoas somente neste ano com a disponibilidade gratuita dos 41 medicamentos e itens do programa. Aposta no Agora Tem Especialistas, programa lançado para garantir não só o atendimento, mas os exames e os tratamentos necessários a todos os brasileiros. “O SUS nasceu da luta de nosso povo pelos seus direitos. Cresceu, se aprimorou. Sobreviveu aos ataques daqueles que tentaram sucateá-lo. Agora, tem de volta a atenção que merece e está batendo recordes atrás de recordes”, disse Lula. 

Eu espero que nos próximos anos tenhamos um SUS cada vez mais forte, que ele chegue a cada pessoa e tenha cada vez mais um olhar para além da saúde.”
Eleuza Procópio Martinelli, enfermeira, 65 anos, atua há 30 anos no SUS

2,8 BILHÕES DE ATENDIMENTOS – Antes do SUS, apenas trabalhadores formais vinculados à Previdência Social tinham atendimento garantido nos hospitais públicos. Na prática, apenas 30 milhões de pessoas eram beneficiadas. Para o restante da população, a alternativa era a caridade, serviços filantrópicos ou o pagamento. Hoje, toda a população tem direito aos atendimentos – 76% dependem diretamente do SUS. Por ano, o SUS realiza 2,8 bilhões de atendimentos e conta com cerca de 3,5 milhões de profissionais. 

ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – Uma das ações que consolidou o cuidado integral no SUS foi a Estratégia Saúde da Família (eSF). Lançada em 1994, é um modelo inovador da Atenção Primária à Saúde (APS), que coloca a saúde no centro das necessidades da pessoa, da família e do território. As equipes estão presentes em todas as regiões com ações de promoção, prevenção, diagnóstico e tratamento em UBS das cidades, mas também em áreas remotas, fluviais, consultórios na rua e territórios indígenas. 

CONFIANÇA – “Foi na Unidade Básica de Saúde que fiz meu pré-natal, recebi todas as vacinas e meu filho nasceu com segurança. Hoje, quando ele adoece, sei que posso contar com o SUS.” O depoimento é da técnica de enfermagem Ana Célia dos Santos, moradora da área rural de São Raimundo Nonato (PI). Ela traduz em palavras o que o Sistema Único de Saúde (SUS) representa na vida de milhões de brasileiros: confiança e acolhimento.

MAIOR REDE DE TRANSPLANTES – O Brasil tem a maior rede pública de transplantes do mundo. Em 2024, o país bateu recorde histórico no SUS, com 30 mil procedimentos. Além de realizar, gratuitamente, serviços de altíssima complexidade como transplantes, a rede pública fornece os medicamentos imunossupressores, necessários para toda a vida dos transplantados. 

“O SUS ME DEVOLVEU A VIDA” – Robério Melo, brasiliense de 52 anos, descobriu em 2017 que 90% de seu fígado estava comprometido por uma doença rara. Ouviu dos médicos que teria apenas três dias de vida. No terceiro dia, graças ao SUS, recebeu um transplante de fígado no Instituto de Cardiologia e Transplantes do DF. Hoje, Robério dedica sua vida a apoiar pacientes e a fortalecer a cultura da doação de órgãos. “Eu renasci. O SUS me devolveu a vida. Essa segunda chance me transformou e hoje dedico minha trajetória a mostrar que doar órgãos é doar vida, e sou a prova viva de que a solidariedade salva”, afirma Robério. 

COVID 19 – A luta contra a Covid-19 deixou marcas de superação e o SUS teve um papel decisivo no período. “Eu acredito muito na força do coletivo. Me recordo que, durante a pandemia, a gente viu que nós podemos realizar e cuidar de forma eficaz da saúde do povo. A atenção primária foi essencial durante a pandemia e ela é essencial para que o SUS funcione!”, relembra a agente comunitária de saúde de Natal (RN), Cintia Fernanda de Lima, que atua há 26 anos no SUS. Rodrigo Silva Souza, 27 anos, morador de Paracatu (MG), foi diagnosticado com Covid-19 em abril de 2021, quando acreditava ter apenas uma dor de garganta. Em Brasília, a mãe percebeu a gravidade e o levou ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), onde ficou internado por quase uma semana, dependente de oxigênio. “Cheguei a ter 50% do pulmão comprometido. Mesmo com o hospital lotado e gente chegando toda hora, o SUS cuidou de mim com atenção. Foi o que salvou minha vida”, recorda Rodrigo. 

EMERGÊNCIAS – Tragédias como a da Boate Kiss, em 2013, mostraram a força do SUS em emergências. A Força Nacional do SUS (FN-SUS) montou um núcleo de atenção psicossocial em Santa Maria (RS), apoiou o resgate e organizou a transferência de pacientes para hospitais de referência. Nas enchentes do Rio Grande do Sul, em 2024, o SUS garantiu o atendimento em hospitais de campanha, com reforço à vacinação e apoio psicossocial a milhares de pessoas.

YANOMAMI – Em janeiro de 2023, o Ministério da Saúde decretou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) na terra Yanomami – a maior crise humanitária em território indígena. Dois anos depois, os dados do primeiro trimestre de 2025 apontam uma redução de 33% no número de óbitos. Neste período, o número de óbitos em relação a doenças respiratórias caiu 45%, a queda por malária foi 65% e 74% por desnutrição.

VACINAÇÃO – O SUS conta com o maior programa público de vacinação da América Latina, o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Hoje, disponibiliza 48 imunobiológicos, sendo 31 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas. As ações contribuíram para marcos como a erradicação da poliomielite, em 1994, até resultados mais recentes como a recertificação de país livre de sarampo pela OPAS. Além disso, o Brasil foi pioneiro na oferta de vacina contra a dengue. 

POLÍTICAS – A trajetória de fortalecimento do SUS é marcada também pela criação do SAMU 192 (2003), do Brasil Sorridente (2004), do Farmácia Popular (2004), da Hemobrás (2004), da Rede Cegonha – atual Rede Alyne (2011), do Programa Mais Médicos (2013), do Brasil Saudável (2024), do Agora Tem Especialistas (2025) e tantas outras políticas e programas. 

COMPLEXO INDUSTRIAL – Desde 2023, o Governo Federal retomou a agenda voltada ao fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde com medidas para reduzir a dependência do Brasil. A expectativa é que, em até dez anos, 70% das necessidades do SUS em medicamentos, equipamentos e vacinas sejam produzidos no país. 

AGORA TEM ESPECIALISTAS – Para enfrentar um dos desafios históricos que é o tempo de espera na rede pública, o Ministério da Saúde lançou o programa Agora Tem Especialistas, com foco em seis áreas estratégicas: oncologia, cardiologia, ginecologia, ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia. A expansão da telessaúde, que pode reduzir em até 30% o tempo de espera por atendimento especializado no SUS, é um dos eixos do programa. Em 2024, foram 2,5 milhões de atendimentos em telessaúde. 

NOVO PAC – Com o Novo PAC Saúde, o Governo do Brasil garante novas obras, equipamentos e veículos para fortalecer o SUS em todo o país. São novas UBS, salas de teleconsulta, unidades odontológicas móveis, policlínicas, maternidades, Centros de Atenção Psicossocial e novas ambulâncias do SAMU 192. A meta é universalizar o serviço de emergência até o final de 2026 e ele agora está presente, também, em território indígena, com atendimento 24h e profissionais bilíngues. 

ALÉM DOS HOSPITAIS – O SUS vai muito além dos hospitais e unidades de saúde. Ele está no copinho de água que você bebe, no alimento seguro que consome, na ambulância que chega em minutos, no controle de epidemias e até na regulação de medicamentos. Não é apenas hospital: é rede, prevenção, ciência e proteção social.

Fonte: Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República

O que é o Centrão?

Por Rudá Ricci

O Centrão se apresenta como o bloco político mais persistente da política nacional. Está em qualquer governo, da extrema-direita à esquerda acanhada, mas não consegue eleger Presidente da República. Envolve partidos de direita e flerta com a extrema-direita e gosta de se dizer de centro-direita. 

Estamos diante de um enigma da esfinge. Afinal, é a marca do humano, como respondeu Édipo. Mas, no caso, é a imagem de um humano muito específico: o brasileiro.

Vamos por partes. 

A primeira parte se apoia em entender como o Centrão se faz poder. Minha tese é que se trata de um bloco político que alia os herdeiros da Arena, o partido da ditadura militar, com o que há de mais fisiológico e pragmático na política brasileira, o baixo-clero. Se há freios e contrapesos na política nacional, ela está no Centrão. O lado Arena deste bloco avança nos sinais. Se aproxima do bolsonarismo, chantageia os governos de plantão, aceita o apadrinhamento do alto empresariado nacional, instrumentaliza a ordem democrática. Mas, logo aparece o seu grilo falante, o baixo-clero. O baixo-clero é pragmático e desdenha estratégias gerais ou propostas nacionais. Seu campo de atuação é o local, o território municipal. Ali está seu séquito de apoiadores liderados pelo prefeito de plantão. Prefeito é cabo eleitoral do baixo-clero. 

Aqui, vamos para a segunda parte. Se o lado Arena do Centrão é mais coeso e nacionalizado, o seu lado baixo-clero é disperso e pouco ideologizado. Ele se amolda ao relevo social e político do território nacional. Como era o PMDB (voltarei a esta analogia logo mais). E se espraia pelo sistema partidário. Darei um exemplo: o PT tem seu baixo-clero, embora o que apareça para o mundo externo é a história aguerrida do que um dia era a expressão das lutas por direitos coletivos em nosso país. PT era a expressão das demandas dos de baixo. Era. Um dos exemplos de baixo-clero petista é Odair Cunha, um dos doze deputados federais que votou pela PEC da Blindagem. 

Odair Cunha vem da Renovação Carismática, a ala meio Centrão da igreja católica brasileira. Inspirada na crença pentecostal, como parte dos evangélicos. Odair foi secretário de governo de Fernando Pimentel, quando governador de Minas Gerais. Antes, como deputado federal, chegou a comandar e alimentar 150 prefeituras mineiras. Atendia todas as prefeituras governadas pelo PT no sul de Minas Gerais e mais algumas governadas pelo PSDB e PMDB. Era um dos príncipes da fase de ouro do segundo governo Lula, quando os chineses começaram a importar minério de ferro e resolveram fazer investimentos diretos na terra do pão de queijo.

O governo Lula tinha montado toda estrutura rooseveltiana, do Bolsa Família ao PAC, chegando ao Minha Casa, Minha Vida e distribuição de patrulhas mecanizadas e estações de tratamento de esgoto. Os prefeitos procuravam deputados federais que os encaminhassem e defendessem seus pleitos junto aos ministérios e outras agências estatais em busca de convênios. Os deputados federais se tornaram a face mais atuante no cotidiano da nossa república. E Odair era um dos príncipes desta lógica cartorial que tomou parte do PT. 

Odair é pragmático. Sua ascensão tem relação direta com a queda do então maior representante da igreja católica no PT mineiro: Patrus Ananias.  Sua trajetória política, de certa maneira, indica a mudança interna que o PT sofreu a partir de 2007. O PT se tornou mais pragmático e mais vinculado às prefeituras que passou a atender. E nasceu a vertente baixo-clero petista. Aliás, daí também nasceu outra ala, a que encosta no bolsonarismo, liderada pelo petista fluminense, o Quaquá.

Chegamos, então, na última parte desta análise: a cultura popular que é atraída pelo Centrão. Afinal, qual seria o motivo para o Centrão eleger tantos deputados, mas não conseguir firmar um líder nacional e elegê-lo Presidente da República. A resposta está na lógica peemedebista (roubando o conceito de Marcos Nobre). 

O PMDB viveu exatamente este dilema em sua longa vida política. No auge da sua liderança, logo após a promulgação da Constituição de 1988, Ulysses Guimarães se lançou à Presidência da República. Em 1989, como candidato a presidente, recebeu minguados 4,74% dos votos, ganhando em 98 municípios no país (tendo Lajedão-BA como o seu município mais votado com 65,52% dos votos). Em 1990, foi reeleito deputado. O PMDB era o partido mais forte do espectro partidário brasileiro. 

Em 1994, o PMDB lançava outro candidato à Presidência da República. Outro paulista: Orestes Quércia, o governador das rodovias e estradas vicinais. Foi o quarto colocado naquela eleição, com apenas 4,38% dos votos, atrás de Enéas Carneiro (Prona). 

O que acontecia com o PMDB? Ele tinha parlamentares e prefeitos às pencas. Tinha alas mais progressistas, como no Paraná ou Minas Gerais, mas tinha uma ala conservadora em São Paulo e em Minas Gerais. Enfim, era um partido que se amoldava às peculiaridades regionais e locais. Assim, se tornava popular. Mas, internamente, havia um equilíbrio tenso entre as inúmeras diferenças que carregava. Daí vinha sua dificuldade para impor um Presidente porque significaria que algum cacique local deveria ser aceito como futuro rei do partido. Um partido-mosaico como o PMDB não dava lugar a um rei. Todos os caciques eram príncipes e deveriam ficar assim. Desse modo, o PMDB sempre rachava no apoio a um candidato mais à direita e outro, mais à esquerda, e cristianizava o candidato a presidente de seu próprio partido. Era a forma de manter o equilíbrio interno neste partido. O equilíbrio entre caciques regionais. 

Este é o dilema do Centrão. Se avança com seus caciques herdeiros da Arena, se prende no pragmatismo do seu baixo-clero. O pragmatismo aponta para acordos com os governos de plantão para abastecer suas bases territoriais. A ala Arena se aproxima dos blocos mais à direita e gosta das ameaças e traições para abalar os governos progressistas. 

Assim, a cultura popular que o Centrão atrai é a pragmática, destituída de ideologias e marcadas pela vida frustrada. É aquela base social descrita por Sérgio Buarque de Holanda que precisa tocar no líder local e regional. É esta base que coloca um bilhetinho no bolso do paletó do deputado da região, pedindo um emprego para um parente, cimento para uma construção doméstica ou algum favor pequeno, plausível, porque este cidadão não confia em grandes projetos ou mudança real de sua vida. Afinal, seus pais, avós e ancestrais viveram uma vida muito parecida com a sua. Ele continua parte dos “de baixo”. As poucas chances que têm vem desta troca de favores que aumenta suas chances em períodos eleitorais. 

É verdade que nem todos pensam assim. Há momentos que percebem que há algum movimento ou líder político que realmente tenta quebrar as barreiras que fazem da estrutura social brasileira algo que se parece com castas. Mas, mesmo quando creem, ainda há um forte traço de pragmatismo. As beneficiárias do Bolsa Família descreveram nitidamente esta cultura quando suas falas foram registradas no livro “Vozes do Bolsa Família”, apontamentos da pesquisa realizada por Walquiria Domingues Leão Rego e Alessandro Pinzani. Elas diziam que Lula era igual a qualquer outro político, com uma diferença: na infância, sentiu a dor da fome. O passado de Lula criava um fio de esperança de que seria diferente. Mas, não tanto. As frustrações da vida levavam aquelas mulheres a desconfiarem das elites políticas porque sabia que eram marcadas por interesses negociados entre eles. Eles se mantinham no poder através desses acordos feitos longe dos olhos dos cidadãos. Já tinham visto muitos casos assim, envolvendo lideranças e partidos diferentes ao longo de anos. Muitos casos contados por seus pais e avós que revelavam “mais do mesmo”. 

O Centrão, neste caso, é a força política que se aproxima mais do desencanto popular com a política brasileira. Vez ou outra, este desencanto transforma a frustração e ressentimento em raiva e aí surgem movimentos políticos mais agudos e raivosos. Mas, em condições de pressão e temperatura normais, é o estilo Centrão que possibilita pequenas vitórias e benefícios. 

É este jogo de favores que gera o lastro na política nacional. Uma âncora que faz tudo mudar para que tudo fique como está. Para os “de baixo”, mas também para o Centrão, que assim como o PMDB, sempre está no poder, mas não consegue eleger Presidente da República.

Vivi para ver

Por Frei Betto

Eu tinha 19 anos em junho de 1964. Morava no Rio, em uma “república” de estudantes dirigentes da Ação Católica. Na madrugada de 5 para 6 daquele mês, agentes do serviço secreto da Marinha, o Cenimar, invadiram nosso apartamento armados de metralhadoras. Fomos todos levados para o Arsenal da Marinha. Aos socos e pontapés me torturaram, convencidos de que eu era Betinho, líder da Ação Popular, uma organização de esquerda,  e anos depois da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. 

Entre o cárcere militar e a prisão domiciliar, fiquei retido um mês. Não houve processo ou reparação. Nem sequer o direito a um advogado. Dei-me conta do que é uma ditadura.

Cinco anos depois fui novamente preso em Porto Alegre por favorecer a fuga do Brasil de perseguidos pelo regime militar. Trazido para São Paulo, presenciei torturas, perdi companheiros e companheiras assassinados por militares e policiais civis. Ao longo de quatro anos, transitei entre oito cárceres diferentes. Fiquei dois anos entre presos políticos e mais dois na condição de preso comum com narcotraficantes, assaltantes de bancos, assassinos contumazes, estelionatários e estupradores. 

Ao completar quatro anos de cárcere, o STF reduziu minha pena para dois anos… Manteve, porém, a cassação de meus direitos políticos por 10 anos. Nenhum de meus torturadores, juízes ou carcereiros jamais respondeu à Justiça pelos crimes e abusos praticados. Foram todos beneficiados pela aberração da “anistia recíproca” decretada pelo general Figueiredo.

Tudo que vivi e sofri sob a ditadura está contido em meus livros “Cartas da Prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de Sangue” e “Diário de Fernando” (ambos da Rocco). 

Agora, sinto certo alívio ao ver Bolsonaro e seus cúmplices de organização criminosa condenados pelo STF por atentarem contra o Estado Democrático de Direito. Alívio, não por vingança, e sim por reparação simbólica que restitui à vida um sentido. Ver o direito prevalecer sobre a barbárie pode ser, para quem já peregrinou longos anos, a confirmação de que o mundo não é inteiramente injusto.

Esperar é um exercício de resistência. Carreguei a dor em silêncio e envelheci sem jamais perder a esperança de, um dia, ver militares golpistas punidos pela Justiça. Suporto a cada dia o vazio deixado pela perda de tantos companheiros e companheiras, como frei Tito, meu confrade na Ordem Dominicana; Heleny Guariba, colega de teatro e cárcere; Jeová de Assis Gomes, Carlos Eduardo Pires Fleury, Aderbal Coqueiro e tantos outros(as) a mim irmanados na prisão e na resistência à ditadura. 

O escritor grego Ésquilo afirma, em “Agamêmnon”, que “A dor é a mestra mais verdadeira” . A mim, a dor não apenas ensinou; moldou décadas de sobrevivência, sustentadas pela esperança de que um dia arautos da ditadura responderiam por seus atos.

O tempo muitas vezes é cruel. Paradoxalmente, amadurece os frutos da Justiça. Miguel de Cervantes escreveu em “Dom Quixote”: “A verdade pode andar sufocada, mas jamais morre”. Assim, mesmo encoberta por manobras jurídicas, recursos e adiamentos, permanece viva e aguarda a hora de se impor.

Disse Sêneca, filósofo romano: “A justiça não consiste em ser neutra entre o certo e o errado, mas em encontrar o certo e sustentá-lo contra o errado”. Para mim, o tribunal que agora condena os cabeças da intentona golpista de 2023 representa exatamente isto – a recusa em ser neutro diante da barbárie.

Não há sentença capaz de devolver vidas perdidas em 21 anos de democracia sonegada, mas há decisões que devolvem dignidade a quem ficou. Hannah Arendt, ao refletir sobre o mal e a responsabilidade, lembrava que “a justiça deve estar sempre presente, ainda que o mundo acabe”. Sinto-me, agora, amparado pelo peso ético de uma instituição democrática, o STF, que cumpriu seu dever.

Meu estado de tranquilidade não nasce da alegria, mas da paz. Viktor Frankl, sobrevivente dos campos de concentração, escreveu em seu “Em busca de sentido”: “A felicidade deve brotar como efeito colateral da dedicação pessoal a uma causa maior”.

Punir Bolsonaro e sua organização criminosa significa preservar a memória de tantos que fomos e somos vítimas de 21 anos de ditadura. Ao ver a Justiça reconhecer oficialmente os culpados de agressão à democracia, percebo que o exemplo de resistência de Marighella, Lamarca e tantos que lutaram contra o arbítrio, não foi apagado pelo esquecimento. A sentença eterniza suas ausências como presenças.

Um idoso como eu, ao ver golpistas punidos, resgato a confiança – ainda que tardia – no poder humano de distinguir o justo do injusto, o bem do mal. O que sinto não é euforia, mas reconciliação com a vida e a democracia.

  • Frei Betto é escritor, autor do romance sobre massacre de indígenas na Amazônia, “Tom vermelho do verde” (Rocco)*, entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org  

Baixas do Goiás animam o Papão

POR GERSON NOGUEIRA

O momento vivido pelo PSC na Série B é tão complicado que qualquer boa notícia é logo saudada efusivamente. Neste momento, as sete baixas que o Goiás terá no jogo de sábado, incluindo o artilheiro Anselmo Ramon e o meia Wellington Rato, turbinam as esperanças dos bicolores na conquista de um bom resultado dentro da capital goiana.

É óbvio que a partida seria difícil de qualquer maneira, mas é inegável o prejuízo causado ao time goiano pelas expulsões e advertências ocorridas no confronto com o Coritiba na 26ª rodada.

Em função dos desfalques, o Goiás entrará com um time completamente modificado, repleto de reservas que não vinham atuando. Oportunidade para que o Papão se imponha como visitante e tente conquistar uma vitória que seria crucial para a arrancada em busca da permanência na Série B.

Quando goleou o líder Coritiba no estádio Couto Pereira, ainda com Claudinei Oliveira no comando, a façanha surpreendeu a todos, até ao próprio time. Não seria despropósito acreditar na possibilidade de um novo triunfo heroico, agora diante do vice-líder do campeonato.

A embalar o sonho há o fato de que o PSC, ao contrário do adversário, estará completo diante do Goiás. E contando com um reforço para o meio-de-campo: Gustavo Nicola, que foi rebaixado com o CSA na Série C, mas tem a confiança do técnico Márcio Fernandes, com quem já trabalhou.

Nicola deve estrear, jogando ao lado de Leandro Vilela e Edinho. É o segundo jogador a ser aproveitado dentre os cinco que foram contratados na última janela. O primeiro foi o centroavante Denilson, que entrou nos minutos finais contra o América-MG.

A estratégia bicolor é iniciar diante do Goiás a reação para sair da lanterna. Um triunfo funcionaria como estímulo, ao time e à torcida, para a partida da próxima semana, contra o Grêmio Novorizontino, na Curuzu.

Os treinos evidenciaram a preocupação do técnico em reativar o poder de fogo da dupla Diogo Oliveira e Maurício Garcez. Peças fundamentais na boa sequência inicial de Claudinei, ambos caíram de rendimento por duas razões básicas: são pouco acionados pelo setor de meio-campo e passaram a ser marcados com atenção pelas outras equipes.

A chance de uma grande atuação em Goiânia, amanhã, passa necessariamente pelo desempenho da dupla de atacantes.

Novidades devem tornar Leão mais agressivo

Na série de treinos ministrados pelo técnico Antônio Oliveira para o jogo contra o Atlético-GO, amanhã à noite, no Baenão, tem incluído novidades que a torcida há muito tempo vinha cobrando. Marrony apareceu como titular na maior parte do tempo e Régis treinou ao lado de Caio Vinícius e Jaderson, podendo pela primeira vez começar um jogo nesta Série B.

De cara, a presença de Marrony e Régis significa que o Remo terá postura mais agressiva, buscando envolver o adversário desde os primeiros movimentos. Reconhecidamente decisivo para as pretensões de acesso, o jogo terá outro aspecto diferente: a pressão da torcida no Baenão, bem mais forte e intensa do que normalmente é no Mangueirão.

A provável escalação de Régis pode resolver o drama azulino na construção de jogadas. Dono da terceira melhor defesa do campeonato, o Remo sofre com a falta de vida inteligente no meio-campo. Habilidoso, dono de bom passe, o meia sempre faz a equipe crescer quando entra no 2º tempo.

Durante algum tempo, a reserva foi atribuída à ausência de condicionamento para atuar 90 minutos. Ao que parece, esse é um problema vencido. Melhor para o Remo.

A proximidade com o campo – nas laterais, a torcida fica a menos de 2 metros dos jogadores – faz com que o clima de caldeirão afete o comportamento do time. Às vezes, o impacto é positivo, funcionando como incentivo extra. Em outros momentos, porém, a coisa pode se tornar contraproducente, fazendo com que a cobrança se volte contra a equipe.

Dos titulares, somente Marcelo Rangel e Jaderson sabem como é jogar no Baenão lotado – Pavani, que está fora da partida, e Léo Lang também já atuaram no estádio. Sem esquecer que a última atuação foi o empate (com derrota nos pênaltis) frente ao S. Raimundo-RR, pela Copa Verde.

Ocorre que um time popular não pode jamais temer a presença do seu torcedor. O Leão é conhecido e temido justamente pela força de sua torcida, uma das mais participativas da atual Série B.

Dupla Re-Pa está devendo mais transparência

Paysandu e Remo estão entre os três clubes das duas divisões principais do Campeonato Brasileiro que descumprem norma estabelecida pela Lei Geral do Esporte, que prevê a publicação do balanço financeiro até 30 de abril do ano seguinte ao exercício em curso, por meio do site oficial do clube.

Ao lado do Amazonas, a dupla Re-Pa ainda não cumpriu essa norma legal. Os últimos balanços publicados pelos dois clubes se referem a 2023.

O PSC chegou a publicar relatórios financeiros de 2024 no Portal da Transparência, mas, diante da evidência de um prejuízo de R$ 18,8 milhões, retirou os documentos postados no site oficial.

O Remo não publicou nenhum relatório. Tudo o que se sabe é que o clube arrecadou R$ 12.013.951,94 ao longo de 2024, com valores referentes às rendas de jogos válidos pela Série C, segundo informações divulgadas pela própria diretoria.   

A desobediência à lei pode provocar punições administrativas e financeiras. As informações foram apuradas pelo repórter Lucas Quirino, do DOL.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 19)