Rock na madrugada – Supertramp, “It’s Raining Again”

A morte de Rick Davies, um dos pais do Supertramp, consternou a cena roqueira mundial e também marcou um resgate da obra da banda, uma das mais bem-sucedidas no rock progressivo e no chamado soft rock dos anos 70-80. Nascido em Swindon em 1944, Davies era músico desde que ouviu “Drummin’ Man”, de Gene Krupa, passando a treinar como baterista e depois como tecladista. Fundador, vocalista e compositor do Supertramp, ele morreu aos 81 anos. 

Davies, que compôs hits como “Goodbye Stranger” e “Bloody Well Right“, foi diagnosticado com mieloma múltiplo, em 2015. O diagnóstico e a necessidade de tratamento forçaram o cancelamento de uma turnê da banda pela Europa ainda naquele ano.

O Supertramp nasceu de uma ideia original de Davies para recrutar músicos. Em meados de 1969, ele publicou um anúncio na revista Melody Maker em busca de integrantes para a banda que tinha em mente criar. Por uma feliz coincidência, Roger Hodgson foi um dos primeiros a responder e acabou recrutado. Após curta fase com o nome de Daddy, o grupo virou Supertramp (algo como supervagabundo), já com Davies e Hodgson como cabeças pensantes.

Além de Hodgson e Davies, o Supertramp teve Richard Palmer como primeiro guitarrista, mas se destacou pelas letras, visto que a dupla principal era boa na produção de estúdio e harmonizações vocais – um dos pontos altos do grupo -, mas não sabia escrever.

O poder de influência do milionário holandês Stanley ‘Sam’ August Miesegaes, fã e amigo pessoal de Davies, foi fundamental para que o Supertramp conquistasse espaço em uma grande gravadora (AM Records) apesar do começo de carreira pouco auspicioso.

A partir de 1974, o Supertramp conquistou o mundo, superando limites a cada novo álbum. Em 1979, auge do grupo, o disco Breakfast in America, vendeu mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo e ganhou dois Grammy quando o Grammy ainda era levado a sério. 

O álbum incluía sucessos como “The Logical Song”, “Take the Long Way Home” e a faixa-título. Davies era o único membro original que ainda estava na banda. Cansado das brigas, Hodgson saiu em 1983 para seguir carreira solo.

“It’s Raining Again” (Está chovendo de novo) é uma canção do álbum Famous Last Words 1982), o último com participação de Hodgson. Foi o single de trabalho do disco e alcançou o primeiro lugar uma vez na Billboard Hot 100, além de entrar no top 10 em vários países europeus e latinos. O clip da música também conquistou prêmios. Como curiosidade, o final incorpora trecho da canção infantil “It’s Raining, It’s Pouring” .

Olhe para o céu

Um animal incomum se aproxima

Por André Forastieri

Dava para prever o assassinato de Charlie Kirk? Claro que não. Mesmo com atentados contra políticos acontecendo regularmente nos EUA, inclusive contra Donald Trump. Mesmo que toda semana presencie um novo atentado à bala numa escola americana, com uma regularidade desesperadora.

É previsível depois de sua morte o acirramento da violência nos EUA – da verbal à institucional? Cartas marcadas. A extrema direita agora tem um mártir. Estranho seria o contrário.

Alguns eventos são absolutamente inesperados e não há cenário racional que os inclua. Mesmo que alguns especialistas alertem sobre chances reais deles acontecerem. Nós, pessoas comuns, não conseguimos encaixa-los no nosso horizonte de possibilidades.

Foi o caso do ataque da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001. Era previsível uma reação dura de fundamentalistas às ações americanas no Oriente Médio? Sim. Já tinha até acontecido um atentado anterior em Nova York.

Mas quem imaginaria que o World Trade Center viria abaixo ao vivo, para todo o planeta? Aquele céu azul, os aviões se espatifando, impossível desviar o olhar.

Caídas as torres, os anos seguintes seguiram roteiro fácil. Já a partir do dia 12, quando as bolsas de valores reabriram e subiram vertiginosamente as ações dos fabricantes de armas. De lá para frente, o Oriente Médio se tornou tristemente previsível – até 7 de outubro de 2023.

É impossível você planejar para aquilo que é impossível de prever. É o tal do “Cisne Negro”, título do livro do Nassim Nicholas Taleb: o evento raríssimo que ninguém prevê. Mas pode acontecer, sim.

É estatisticamente inútil você se preocupar com esses momentos de mudança. Não dá para se proteger do estatisticamente próximo de zero. Nem se agarrar à chance deles se materializarem, caso positivos.

Bom lembrar que nem todo evento raríssimo é tragédia, catástrofe ou apocalipse. É só isso: raríssimo.

Na imensa maioria das situações, acontece o que é mais provável acontecer. Dá a lógica. Pro bem e pro mal. É péssima estratégia e até beócio contar com esses eventos um-em-um-milhão.

Naturalmente cada ser humano se acha especialíssimo e somos todos especialistas em auto-engano. Por isso as pessoas apostam na loteria – “alguém vai ganhar – pode ser eu!”. É como aquele fumante que você conhece, que adora contar a história do tia-avó de 93 anos de idade, até hoje baforando feito chaminé.

Como diferenciar o altamente provável do altamente improvável, e os vários matizes de cinza entre eles? Fatos ajudam, mas não é uma ciência exata.

Ninguém está a salvo de um Cisne Negro. Geralmente você e eu nos safamos de boa. Esses animais incomuns não costumam bater as asas pro nosso lado.

Quando um desses chega, chega voando e instantaneamente se impõe como a nova realidade. Passa a fazer parte da História e a transforma, seja só nossa historinha pessoal ou aquela com com H maiúsculo.

O Covid surpreendeu? Nem tanto. A possibilidade de uma pandemia estava no radar dos epidemiologistas. Best-sellers foram publicados, Hollywood fez filmes sobre epidemias. Ninguém previu o tamanho do estrago, a medíocre reação institucional, a rápida reação dos pesquisadores ou os custos da quarentena.

Ano após ano, avançamos na ciência médica. Não avançamos igualmente na estrutura da saúde pública. Em muitos casos, com cortes de gastos impostos por políticas de austeridade, os países regrediram. O Brasil, apesar do SUS, tinha na sua liderança governantes anti-vacina e anti-ciência.

Pagamos caro demais.

Nunca acreditei que Bolsonaro seria preso. Vamos combinar que eu tinha muitas boas razões pra crer que ele morreria livre e impune, como tantos outros canalhas do nosso passado e presente.

Mas olhe para o céu – tem um Cisne Negro no ar.

Enquanto isso…

“Um pitbull com quem rouba desodorante, um poodle com quem destrói Brasília 2x e tenta golpe de Estado. Por falar em poodle, Fux não devia perder tempo com um desqualificado como o Renzo Gracie, uma ponte entre o ministro do STF e a extrema-direita golpista. Hoje, o ministro jiujiteiro deu um mata-leão na própria reputação”.

Guga Noblat, jornalista

Já ganhei aposta com Fux (*)

Ele nunca topou, mas perdeu e não pagou

Por Conrado Hübner Mendes

Luiz Fux é pai generoso. Ministro do STF, fez telefonemas para pedir nomeação de filha-advogada ao TJ-RJ (“É tudo que posso deixar para ela”, disse a desembargador, segundo perfil da revista Piauí). Liberou filho-advogado para exercer advocacia de parentes no STF, ramo promissor da prática jurídica atual. Não ensinada nas faculdades, a habilidade exige laço de sangue.

Luiz Fux é colega generoso. Em liminar monocrática de 2014, jamais submetida ao plenário do STF, garantiu aos juízes do Brasil um aumento salarial oficioso por meio de auxílio-moradia ilegal. Cinco anos e bilhões de reais mais tarde, já negociado aumento com o Congresso, revogou a liminar. Sem perguntar ao plenário, sozinho “matou no peito”, como fala. Herói da magistocracia.

Luiz Fux é generoso com citações de poesia. Em discurso, não desconfiou que o verso “recomeçar e só uma questão de querer, se você quer, Deus quer” talvez não fosse de Carlos Drummond de Andrade.

Luiz Fux só não é generoso com a clareza e a credibilidade de suas ideias.

Argumento é coisa séria em Estados de direito. A mais séria. É seu insumo, seu lubrificante, seu produto final. Alimenta a vida cívica e a legitimidade dos tribunais. Mas o Estado de direito também pede que os emissores de argumentos, sobretudo juízes, sejam levados a sério, tenham aparência de seriedade. Não é falácia “ad hominem”, mas exigência de ética judicial.

Seriedade e aparência de seriedade são virtudes que Luiz Fux se esmera em não cultivar. Por isso, o voto de Fux está nu.

Inútil tentar classificar Fux por tipologias doutrinárias. Inútil perguntar se foi garantista ou punitivista, dicotomia que mais confunde o debate jurídico desde a Lava Jato. Garantista seria o juiz que manda soltar e absolver. Punitivista o que manda prender e condenar. Garantista que prende e punitivista que solta causam curto-circuito no senso comum autômato. Dicotomia que o jornalismo faria bem em abandonar. Melhor ler cada caso para além do resultado e observar variações argumentativas e factuais.

Fux não é punitivista nem garantista, apenas um casuísta. Resolveu deixar isso ainda mais claro no caso criminal mais importante da história nacional. Não é que o Fux de hoje discorde do Fux de ontem ou de amanhã. Fux não concorda nem discorda, apenas salpica ornamento verbal que dê alguma liga, alguma rima.

O voto de Fux não homenageou o direito de dissentir, o valor da divergência ou do pluralismo. Não ofereceu contraponto analítico numa deliberação sincera. Fux já condenou centenas de réus por tentativa de golpe no 8 de Janeiro. Quando julga seus líderes, diz que STF não tem competência.

Chico Anysio não se inspirou em Luiz Fux para inventar Rolando Lero. Dias Gomes não o conheceu para compor Odorico Paraguaçu ou Sinhozinho Malta. Luiz Fux se fez seu próprio autor. Não saiu da ficção, mas se matriculou, voluntariamente, na escola literária de onde saiu Pedro Malasartes. É o mais jurídico que se pode dizer de seu voto.

Em 2020, fiz aposta pública com Fux. Disse que, na presidência, não pautaria uma longa lista de casos delicados à sua agenda. Casos como dos penduricalhos de juízes fluminenses (“fatos funcionais”) ou do “juiz de garantias”. Jamais pautou e perdeu. Cobrei e jamais pagou.

Luiz Fux não merece ser levado a sério pelo que diz, mas pelo que representa.

A frase do dia

“O voto de Fux foi uma aula de cinismo e irresponsabilidade. Se o STF não tem como função julgar e punir tentativas de golpe de Estado, o pior de todos os crimes, então para que ela serve? O que esse senhor está fazendo lá?”.

Vladimir Safatle, filósofo, psicanalista e professor

Reforço que já estava em casa

POR GERSON NOGUEIRA

Marrony chegou com o campeonato em andamento, teve problemas físicos, perdeu espaço no ataque até para Matheus Davó, mas aos poucos vem mostrando utilidade, mesmo quando entra no decorrer das partidas. Foi o que aconteceu na partida diante do Amazonas, em Manaus. Substituiu o artilheiro Pedro Rocha no 2º tempo e teve um ótimo aproveitamento, iniciando e concluindo a jogada do terceiro gol azulino.

Com 26 anos e experiência no futebol internacional, chegou ao Evandro Almeida como opção para os lados do campo e até para atuar centralizado. A boa envergadura possibilita que atue até como centroavante, mas as características são de condução de bola em velocidade e facilidade para o drible. Pode ser candidato a formar dupla com Pedro Rocha.

No atual momento vivido pelo Remo na Série B, o equilíbrio ofensivo é uma das preocupações do técnico Antônio Oliveira. As chances de acesso dependem em boa medida da funcionalidade dos homens de frente. Eduardo Melo, Diego Hernández e João Pedro chegaram na última janela, mas ainda não decolaram, apesar de chances já concedidas.

Por ora, fica óbvio que Oliveira por enquanto não pode contar com os novatos. A comparação entre as opções existentes e as peças que deixaram o clube não vem favorecendo os reforços recentes.

A saída de Matheus Davó veio logo em seguida às negociações que tiraram Adailton e Maxwell do Baenão. O trio não era espetacular, mas rendia mais que Eduardo, João Pedro e Hernández. O caminho, portanto, está aberto para quem mostrar capacidade de definição.

Dentre os que permanecem, Marrony merece mais atenção e aproveitamento. Nos confrontos fora de casa, que constituem o ponto alto da era Antônio Oliveira, pode ser utilizado como condutor a partir do meio-de-campo, contribuindo para tornar o ataque mais eficiente.

Alto, tem condições de aparecer para duelos na área ou com aproximação pelos lados. Pedro Rocha, que já teve Janderson como parceiro de ataque, pode passar a dispor dos passes em velocidade e da movimentação de Marrony abrindo as linhas de marcação. É uma questão de entrosamento e repetição.

O fato é que, nas circunstâncias, o ex-vascaíno não pode ficar de fora de qualquer esquematização que Oliveira tenha para a linha ofensiva azulina. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)

Dúvidas no Papão caso Diogo não possa jogar

Os problemas físicos enfrentados pelo centroavante Diogo Oliveira, ainda em decorrência do jogo com o Volta Redonda, deixaram a torcida bicolor preocupada. A angústia é justificada. Diogo é o artilheiro do PSC na Série B, com excelente aproveitamento desde que chegou na penúltima janela de transferências. Forma dupla interessante com Maurício Garcez e, pelo menos por enquanto, não tem substituto à altura.

A perda de gols no jogo com o Volta Redonda, principalmente o lance final quando avançou com a bola dominada e chutou em cima do goleiro, ainda suscita críticas ao jogador. Foi a chamada bola do jogo. Além do erro de finalização, Diogo tomou a decisão errada, pois Garcez estava bem posicionado correndo pela esquerda e poderia ter recebido o passe.

São situações de uma partida disputada em alta voltagem, que teve consequências graves, incluindo a demissão do técnico Claudinei Oliveira, mas a irritação do torcedor não se sobrepõe ao reconhecimento pelos bons serviços prestados pelo artilheiro até o momento.

Com a chegada de Márcio Fernandes, a previsão é de que jogadores recém-contratados, como os atacantes Denilson e João Marcos, ganhem oportunidade para mostrar serviço. Apesar disso, Diogo é titular absoluto. Só não joga contra o América-MG, no sábado, se estiver lesionado.

Em comunicado postado nas redes sociais, o atacante teve o cuidado de se posicionar perante os torcedores, desculpando-se pelas falhas no jogo com o Volta Redonda. Aproveitou para lembrar que não é do tipo “fominha”, muito pelo contrário. Em várias ocasiões, demonstrou noção de jogo coletivo, acionando companheiros bem posicionados.

Por enquanto, resta a expectativa quanto à plena recuperação de Diogo e pelas decisões de Márcio Fernandes, saiu quando o atual elenco começava a ser montado, mas conhece menos da metade dos jogadores que o PSC tem hoje. Ocorreram cerca de 20 contratações nesse espaço de sete meses, entre a demissão e o retorno de Márcio. Por isso, é natural que o treinador precise de algum tempo para definir a escalação e o modelo de jogo.   

SAF botafoguense desafia serenidade do torcedor

Os atuais dilemas existenciais do Botafogo, cuja gestão SAF parece viver uma indefinição societária, atormentam principalmente a vida dos torcedores. Do ano mágico de 2024, o time caiu vertiginosamente ao nível da normalidade. Ainda um bom time para os padrões brasileiros, mas sem o brilho e o poder de decisão daquele montado por Artur Jorge.

O amigo Jota Ninos, jornalista santareno, lança um olhar sereno e racional acerca dos conflitos que rondam a alma botafoguense no momento: “Futebol é paixão. O torcedor não consegue ter a mesma fria percepção de um CEO bilionário que trata o time como um negócio”.

Dito isso, não economiza gratidão a quem mudou a história do clube. “O torcedor é grato ao empresário John Textor por resgatar o Fogão do limbo e nos levar à Glória Eterna de 2024. Mas esse mesmo torcedor não consegue entender o desmonte do clube para fazer uma campanha bizarra em 2025”.

“A torcida é passional: hoje odeia um dirigente, um técnico ou um jogador, mas no minuto seguinte a um gol ou conquista esquece tudo. A essência do futebol é a paixão. A razão nem de leve nos seduz”.   

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 11)

Fux mentiu

Por Celso Rocha de Barros

Luiz Fux condenou os golpistas pobres que denunciaram seus chefes, como Mauro Cid, e absolveu os golpistas ricos e poderosos, como Bolsonaro e Garnier. Tudo o que disse em seu voto é mentira.

Fux mentiu que o STF não é o foro adequado para julgar Jair porque ele já deixou a Presidência. Na verdade, o foro privilegiado serve, entre outras coisas, para garantir que ex-presidentes não sejam soterrados por processos em primeira instância depois de deixarem seus cargos.

Fux mentiu que Jair e seus generais não constituíram organização criminosa porque não usaram arma de fogo. Segundo o ministro, os kids pretos que tentaram matar seu companheiro de corte Alexandre de Moraes pretendiam apenas sufocá-lo com excesso de amor. Fux também parece acreditar que Jair não propôs um golpe aos chefes das Forças Armadas, mas sim ao Itamaraty e a duas professoras de ioga que estavam passando ali na hora.

Fux mentiu que o crime de golpe de Estado foi apenas um meio para a realização do crime de abolição do Estado de direito, e que, portanto, as penas não devem ser somadas. Isso pode ser verdade em alguns casos, mas não no caso de Jair: ele implementou simultaneamente a estratégia Orbán de tentar castrar institucionalmente o STF (abolição) e, sobretudo, mas não apenas, depois de perder a eleição, a estratégia Pinochet de tomar o poder violentamente (golpe). As penas devem ser somadas.

Fux mentiu sobre a tentativa de golpe ter ficado apenas em estágios preparatórios. Isso se mede pela distância entre até onde os criminosos foram e o resultado final por eles esperado. A distância é de um monossílabo, o “não” de dois comandantes militares.

Fux mentiu quando comparou o 8 de Janeiro a Junho de 2013. Entre as várias diferenças, destaco a seguinte: os black blocs foram reprimidos pela polícia, porque o secretário de segurança pública não era um ex-ministro de seu líder.

Fux mentiu sobre o diagnóstico da revista The Economist, e de seu instituto de pesquisa, a Economist Intelligence Unit (EIU), sobre o estado da democracia brasileira. Disse que a matéria de um “freelancer” (foram, na verdade, um editorial e uma capa) na revista havia exaltado o Brasil como modelo de democracia, mas que a EIU havia rebaixado a nota da democracia brasileira por restrições às redes sociais, polarização, e, sobretudo, pelo golpe tentado por Jair Bolsonaro.

Fux, a Economist achou ruim o Jair tentar um golpe e achou bom ele ser julgado. Qual o problema?

Finalmente, Fux nos pediu que ouvíssemos o relato sobre os crimes dos outros acusados sem nunca lembrar que o objetivo era instaurar Bolsonaro como ditador. Nos pediu que tratássemos os fracassos dos criminosos como provas de sua inocência.

Toda a longa digressão de Fux sobre a democracia é baseada em autores que citam Bolsonaro como um exemplo de retrocesso democrático. Fux só os citou para ajudar os golpistas a fazerem cortes de vídeo que sugerissem que o Brasil é uma ditadura, já dando, assim, sua contribuição para os golpes do futuro.

Moraes falou a verdade, Fux mentiu, mas seus votos divergem também em outros aspectos. Moraes optou por citar pouca doutrina e listar uma avalanche de provas. Fux citava autores convulsiva e ineptamente, sem nunca determinar que raciocínio específico dos autores citados livrava Jair e sua quadrilha da cadeia.

Fux, sua biografia agora é só seu voto sobre o golpe. Você é só o que traiu, o que se rendeu, o que encorajou Trump a impor mais tarifas, o que estendeu por mais alguns anos a instabilidade política que tanto mal já fez ao país, o que fortaleceu os fascistas dentro da direita brasileira.

Todos os juristas brasileiros sabem disso, inclusive os que eventualmente mentirem para você que não sabem. Aproveite a Disney.

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(*) Celso Rocha de Barros – Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de “PT, uma História”

(Publicado na Folha de S. Paulo de 10.09.2025)