Há muito o que se falar sobre Mino Carta (1933-2025). O tamanho gigantesco de sua contribuição para a imprensa brasileira ainda está por ser medido e reconhecido dignamente. O folclore que deixa para trás merece ser avaliado sem paixão ou ódio.
No convívio com Mino durante seis anos, incialmente como editor de Cultura e depois como redator-chefe de CartaCapital, conheci um chefe com características únicas. Destaco aqui uma delas, que apreciava muito. Era o ritual semanal de fechamento. Mino convocava o editor de cada seção para diagramar em sua mesa as páginas da edição. Ao seu lado, assistindo a tudo e, eventualmente, palpitando, sentava-se o diretor de Arte, George Duque Estrada. Era preciso chegar à mesa preparado para vender o seu peixe.
Mino definia o espaço que as matérias ocupariam na revista basicamente em função do que o editor da seção considerava necessário. Ou seja, Mino nunca definia um espaço previamente, como vi, ao longo dos anos, muitos editores fazerem. Em 99% das situações em que sentei com ele para fechar um texto, ele me deu o espaço que eu pedi. Ele perguntava qual era o tamanho da matéria e diagramava em função da resposta. Essa confiança no taco dos seus editores e repórteres me marcou demais.
Também me chamava a atenção a disponibilidade de Mino para atender estudantes de jornalismo. Quase toda semana aparecia algum grupo para entrevistar o jornalista. Mino se deliciava com esses encontros. Era uma oportunidade de repassar detalhadamente episódios de sua carreira e de curtir a admiração que os jovens nutriam por ele. Ele abria uma Coca zero e ia contando as mesmas histórias com as mesmas palavras. “Meu fracasso esculpido por Michelangelo”, gostava de dizer sobre o Jornal da República, por exemplo. Todo mundo na redação já conhecia de cor e salteado as aventuras profissionais de Mino, mas não lembro de ninguém reclamar. A gente gostava de ouvir esse chefe um pouco gabola.
O torcedor tradicional, que compra ingressos e jamais abandona seu time do coração, é frequentemente observado à distância, como se não tivesse representatividade, embora seus números sejam grandiosos o suficiente para merecer total respeito. Virou moda, há alguns anos, valorizar segmentos que se dizem “organizados”, mas que se especializaram em fazer justamente o contrário: bagunça e desordem.
Facções organizadas já foram extintas por determinação judicial após ações violentas – inclusive assassinatos –, dentro e fora dos estádios. Baderna e assaltos são práticas comuns, levando terror e pânico com hinos de guerra que propagam o ódio gratuito onde deveria prevalecer a rivalidade sadia.
Sempre considerei estranha a prevalência dada aos turbulentos em detrimento dos torcedores que apoiam seus times sem precisar se juntar em bandos. Estes ficam em segundo plano mesmo lotando os estádios de Belém, fazendo um espetáculo que poucas capitais conseguem mostrar. São esquecidos e preteridos quanto a serviços, acessibilidade e segurança.
Não têm voz, nem espaço junto às diretorias dos clubes, que priorizam as “organizadas”, com facilidades, afagos e até ingressos gratuitos. O mais recente exemplo dessa submissão dos dirigentes aos “organizados”, os mesmos que adoram interromper treinos para exigir “raça” e “sangue”, foram os encontros promovidos pelos dirigentes de PSC e Remo.
Comissões de representantes das facções foram recebidas nos clubes com direito a salamaleques e reverências como se representassem os torcedores de verdade. Todo mundo sabe que não há um pingo de legitimidade na ação de grupos que comparecem aos estádios para ameaçar e brigar.
Dirigentes que ignoram o que se passa no mundo real contribuem para empoderar ainda mais esses segmentos. São reféns de uma mentalidade condescendente que não cabe mais no mundo atual. É preciso tratar o torcedor legítimo com todo respeito, mas é necessário dar o tratamento cabível aos que conspiram contra a paz nos estádios.
Marcos Braz, acostumado ao relacionamento com as temíveis organizadas do Flamengo, parece decidido a confraternizar com os líderes das facções locais. Foram dois encontros em menos de três dias, incluindo uma ridícula roda de conversa na calçada do Baenão em plena manhã de terça-feira, 2.
Alguém precisa avisá-lo do que essa gente é capaz.
Leão tem fartura de opções para dar a volta por cima
Com elenco farto, sete jogadores que ainda não estrearam e quase todos os titulares à disposição, o técnico Antônio Oliveira viajou para Manaus à frente da delegação azulina com a consciência de que depende de uma vitória para seguir no emprego. Foi mantido porque a diretoria acatou os argumentos de que ele tem se saído bem em jogos fora de Belém.
Terá que mostrar isso amanhã (5) diante do desesperado Amazonas, que corre sérios riscos de rebaixamento. O Remo é favorito pela campanha que faz, mas não passa confiança ao torcedor após as pífias apresentações como mandante em Belém.
Além dos erros e manias de Antônio Oliveira, que continua firme no propósito de fazer a infrutífera dobra de laterais pela direita, há o problema do fraco rendimento individual dos principais jogadores da equipe.
Pedro Rocha, artilheiro do time e do campeonato, está sem marcar há cinco rodadas. Tem empilhado chances perdidas, errando o alvo até em jogadas relativamente fáceis. Ao seu lado no ataque, Marrony também se mostra vacilante. Sua melhor performance foi no 1º tempo diante do América-MG, em Belo Horizonte. De lá pra cá, teve atuações apagadas.
Os uruguaios Diego Hernández e Nico Ferreira ainda não mostraram qualidades que justifiquem a titularidade. Diego, aliás, pode ser escalado de novo como meia-armador, uma fuga de ideia do treinador, pois o atacante jamais atuou por ali em toda a carreira.
As carências do meio-de-campo azulino poderiam ser parcialmente sanadas com uma escalação mais simples: Caio Vinícius, Cantillo e Jaderson. Ocorre que, muitas vezes, o simples parece causar urticária em técnicos excessivamente confiantes.
Oliveira tem uma gama de opções no banco. Desde Eduardo Melo e João Pedro para o ataque, passando por Luan Martins, Régis e Pavani para o meio, até opção para a defesa, como Tassano.
Escrete vive dias de paz e novatos ganham chances
Fazia tempo que a Seleção Brasileira não desfrutava de dias de paz como agora, sob o comando de Carlo Ancelotti. Mesmo admitindo que falta “um pouco de qualidade” ao futebol brasileiro atual, o técnico vive a tranquilidade de uma classificação já assegurada.
Para o jogo de hoje, não há mistério: Alisson; Wesley, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Douglas Santos; Casemiro e Bruno Guimarães; Estevão, João Pedro, Raphinha e Martinelli. Não é um timaço, mas dá para encarar e vencer a fraca seleção chilena.
As presenças de Estevão e João Pedro são os sopros de qualidade no ataque, ágil e habilidoso, bem ao gosto das equipes dirigidas por Ancelotti. A dúvida que persiste é no setor de criação. Raphinha e Estevão são os mais cotados para ocupar a função.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 04)