Com várias intervenções do VAR, o jogo entre Coritiba e Remo foi pleno de emoções, mas terminou 0 a 0, valendo pela 23ª rodada da Série B. Os times criaram boas chances, mas não superaram os goleiros, principalmente Marcelo Rangel, novamente em tarde inspirada. Com o empate, o Coritiba se manteve na liderança e o Remo segue na 6ª posição, com 35 pontos. Foi o 11º empate do Leão no campeonato.
O 1º tempo foi movimentado. O Coxa ameaçou aos 17 minutos, em chute de Sebas Gómez que Marcelo Rangel defendeu. Aos 24′, Clayson entrou na área e bateu cruzado, mas Rangel apareceu bem novamente. Na sobra, Lucas Ronier chutou e Reynaldo travou o chute.
A primeira chance do Remo só aconteceu aos 39′. Lançado por Davó, Sávio disparou chute forte e Pedro Morisco espalmou. Marrony pegou o rebote e finalizou, mas o lateral Zeca afastou.
Na etapa final, o Coritiba entrou modificado e quase chegou ao gol logo aos 8 minutos. Lucas Ronier bateu forte e acertou o travessão. Logo em seguida, o goleiro Pedro Morisco foi expulso após dar uma cotovelada em Caio Vinicius. O árbitro assinalou inicialmente pênalti em função da agressão dentro da área, mas o VAR erradamente anulou a marcação. O cartão vermelho foi mantido e o Coxa passou a jogar com 10 atletas.
Aos 21′, Matheus Davó atingiu o rosto de Sebas Gómez em disputa de bola. O árbitro deu o cartão vermelho, mas o VAR corrigiu a marcação, a expulsão foi anulada e aplicado cartão amarelo. O Remo fez um bom ataque, aos 27′, com Marcelinho finalizando com perigo. Aos 34′, Ronier disparou uma bomba da entrada da área e assustou a defensiva azulina.
Nova polêmica aos 41′. Lucas Ronier cruzou e a bola tocou no braço do zagueiro Klaus. A imagem mostra que o braço estava colado ao corpo e o VAR anulou mais uma vez a decisão de campo. O Remo, muito encolhido, não ameaçava o gol do Coxa, apesar da vantagem numérica. Mesmo com o estreante Eduardo Melo no centro do ataque, o time não cruzava bolas na área.
A destacar no Leão a segura atuação da defesa, com destaque para Klaus no jogo aéreo. O próximo jogo do Remo será no Mangueirão contra o Criciúma, quinta-feira (28), às 21h35.
Existem dois tipos de narrativas. É crucial abandonar uma delas
Por André Forastieri
Ted Chiang despreza Inteligência Artificial. Pode isso, escritor de ficção científica implicar com IA? Pode – se antes de ser da sci-fi, o sujeito é das letras, como Ted. Ele se diz “working writer”, termo americaníssimo e adorável, pessoa que sobrevive do ofício de escrever. Melhor não traduzir para o tradicional “operário da escrita”, que sugere linha de montagem e limitado poder de barganha.
Ted está mais para “militante das letras”. Como muitos outros criadores, não engole que as big techs chupem obra alheia para treinar seus bilionários softwares. Mas somos todos como o Keanu plugado naquelas cubas melequentas, as máquinas sugando nossa atenção e energia e nós distraídos na Matrix, não?
Alguns de nós estão mais despertos que outros. Chiang não está incomodado só com o assalto aos royalties. Critica GPT e cia. como engenhocas tôscas e inúteis para propósitos mais, digamos, humanos. Por exemplo, contar histórias.
Ted não é ludita. Nem ídolo só da nerdorama. Lembremos Joyce Carol Oates incluindo ele entre seletíssima companhia, na resenha da coletânea Expiração:
“À maneira de predecessores ecléticos como Philip K. Dick, James Tiptree, Jr., Jorge Luis Borges, Ursula K. Le Guin, Margaret Atwood, Haruki Murakami, China Miéville e Kazuo Ishiguro, Chiang explora convenções da ficção científica de modo altamente não convencional”.
“O autor do conto que deu origem ao filme A Chegada”, como deve estar cansadíssimo de ser apresentado, deu palestra em São Paulo pra poucos. Ganhei convitinho porque quem tem amigo, tem tudo. Evento disputado e chiquetésimo, na Casa Manioca da Helena Rizzo, Ted deve ter babado com o ceviche de melão.
Quem trouxe foi a agência Pina e quem entrevistou o escritor no palquinho ali foi Jennifer Queen, sua fundadora e CEO. É fã dele, como foi seu pai; liam e comentavam em família os artigos de Ted pra New Yorker. Jennifer chavecou Ted anos pra convencê-lo a vir pro Brasil.
Satisfação pessoal e repercussão poderosa. Ted apareceu em todo lugar, da Veja ao Valor, passando por bom papo com o amigo Thiago Ney, na Folha e da indispensável newsletter Margem, leia aqui.
Bom negócio investir em inteligência, especialmente quando o lema da sua empresa é “Transforme seu negócio com história”. Contar histórias é a tecnologia mais importante: a que nos diferencia de todos os outros animais.
Jennifer e Ted
O boom da IA Generativa tem uns três anos e não dá sinais de desacelerar. Continuam os investimentos maciços. E os resultados, apareceram?
A conta burra é a seguinte: se 90% dessa grana der em pouco ou nada, os outros 10% já serão transformadores, porque é uma Olympus Mons de dinheiro.
Inevitavelmente vêm aí novas soluções. Novas soluções criam novos problemas. Estes frequentemente convivem pacificamente com problemas antigos, ancestrais. Ambiguidade, essa nossa amiga tão complicadinha.
Didático, Ted variou entre o realismo e o ranhetol. Materializou a bobice da IA em dois usos cotidianos e autocancelantes dela. Imagine que o sujeito no escritório escreve um prompt, provocou Ted, ordenando a IA a pegar seu emailzinho e transformá-lo em um textão longo e detalhado.
Nosso John Smith aperta send; do outro lado, o destinatário recebe o tijolão e naturalmente ordena sua IA a resumir todos aqueles caracteres em amigáveis bullets. É para uma coisa besta assim que precisamos de data centers piramidais consumindo água e energia em quantidades colossais?
Ted tem várias respostas. Todas destoam dos press-releases das big techs. Você pode ouvir a palestra completa aqui. Vais precisar de um esforcinho.
Tá lá no meio a minha pergunta pra ele.
Em uma entrevista em 2010, Ted explicou a límpida diferença entre histórias conservadoras e progressistas. Tem um tipo de história em que o mundo é de um certo jeito e aí aparece repentinamente uma novidade. Um cataclisma, uma invenção, um vetor poderoso de mudança qualquer. Isso provoca uma grande mudança e impõe perigosos desafios e decisões.
Ao final da história, o desafio foi enfrentado, o equilíbrio restabelecido e tudo volta a ser como era. Essas histórias são conservadoras, “o bem venceu o mal”.
As histórias progressistas também têm disrupções como premissa. Mas no final, as coisas mudaram e nunca mais voltarão a ser como antes. São histórias que reconhecem uma sociedade e existência dinâmicas, não estáticas.
Minha pergunta para Ted foi: “Como alguém pode contar uma história progressista, que seja imaginativa, eletrizante e inspiradora – e não ingênua?”
A resposta:
“Existem certos modelos de histórias. Há um modelo de história muito comum em que implicitamente, o mundo começa como um lugar bom, o mal invade, o bem e o mal lutam. No final, o bom derrota o mal e o mundo volta a ser um lugar bom.Muitos estudiosos disseram que esse modelo de história geral é implicitamente conservador. Porque é sobre restaurar o status quo.
Há outro padrão para histórias, que é mais comum na ficção científica. O mundo começa como um lugar familiar e algo novo aparece – é uma nova invenção, uma nova descoberta. Ela muda as coisas para muitas pessoas.
E então as coisas nunca voltam a ser do jeito que eram. O conto termina em um lugar diferente do que começou. A história acaba com o mundo sendo transformado.
Este padrão é progressista porque é sobre uma mudança do status quo… Não quer dizer que é melhor. Não é que de repente os problemas estão todos resolvidos.
Não é “progressista” no sentido de politicamente tornar as sociedades mais egalitárias. Só reflete a inevitabilidade de mudança. Às vezes, a mudança é positiva, às vezes, é negativa. Geralmente, é uma combinação de ambas.
Então, eu diria que uma história é ingênua se ela te dá apenas os pontos positivos e não reconhece os negativos, ou se ela sugere que isso seria fácil.
Qualquer história que reconheça que haverá consequências negativas e que não é sobre restaurar o status quo oferece a possibilidade de alguma interpretação progressista. Ela será sobre a possibilidade de transformação.
Então, escrevermos sobre a possibilidade de mudança não é ingênuo.”
Precisamos de mais histórias assim. Eu preciso; contar e que me contem.
Elas não oferecerão soluções simplórias ou definitivas. Não trarão com seu ponto final o Final. Buscarão o equilíbrio que a complexidade impõe. Imporão imaginação e esperança.
Enterremos as narrativas simplórias e esquemáticas. Pro inferno com o tedioso derrotismo e o otimismo boboca. Adeus final feliz, nunca mais apocalipse.
A resposta de Ted Chiang não se limita ao imenso, sempre em expansão território da ficção-científica. Se aplica a qualquer história.
Também para as histórias que contamos para nós mesmos – e sobre nós mesmos.
Se funcionar, a iniciativa será a maior do mundo em volume de recursos para conservar florestas em pé
Por Isabel Seta – Agência Pública
“Brilhante”, “ousada”, “transformadora”. É com adjetivos assim que autoridades estrangeiras de diferentes países têm se referido à proposta do governo do Brasil de criar um fundo global para financiar a conservação de florestas tropicais ao redor do mundo.
A ideia, a princípio, é simples: implementar um fundo de investimentos que gere recursos para realizar pagamentos anuais aos países em desenvolvimento com desmatamento sob controle. Esses países receberiam um valor fixo por cada hectare de floresta em pé. O que, se der certo, pode representar o maior volume de recursos na história destinado às florestas tropicais, como a Amazônia e a Mata Atlântica.
Não à toa, o “Fundo Florestas Tropicais Para Sempre” – que apesar de ser uma ideia originalmente brasileira é mais conhecido por sua sigla em inglês, “TFFF” (Tropical Forest Forever Facility) – é uma das prioridades da presidência da Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será realizada em novembro no Pará, e pode se tornar uma pauta positiva na complicada conversa global sobre financiamento climático.
“Essa é uma das inovações: é um mecanismo que valoriza a floresta em pé. O pagamento é balizado em quanto de floresta você tem”, resumiu à Agência Pública Garo Batmanian, diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e um dos arquitetos da ideia.
Apesar da importância cultural, social e econômica das florestas tropicais, além do papel fundamental que elas desempenham na regularização do clima e manutenção da biodiversidade, 25% delas já foram destruídas em todo o mundo, conforme uma pesquisa da Wildlife Conservation Society. E não há, hoje, dinheiro na mesa global para preservar os 4,3 bilhões de hectares restantes e atingir os compromissos coletivos assumidos pelos países em diferentes acordos globais de frear o desmatamento até 2030.
Números ainda preliminares levantados pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam que para evitar e reduzir o desmatamento ao redor do mundo até 2030 seriam necessários 8,9 bilhões de dólares por ano. Se viabilizado, o TFFF pode representar quase metade desse valor – segundo estimativas do governo brasileiro, ele pode gerar 4 bilhões de dólares anuais.
“Isso é quase três vezes o volume de financiamento internacional de doações para florestas tropicais”, disse André Aquino, assessor especial de Economia do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em uma apresentação sobre o fundo nesta quarta-feira, 20 de agosto.
“Quatro bilhões de dólares por ano que, em tese, poderiam beneficiar mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais. Isso é algo inexistente hoje”, disse à Pública Carlos Rittl, diretor na Wildlife Conservation Society, uma das organizações que contribuiu com o desenvolvimento da ideia.
UM NOVO MECANISMO PARA FINANCIAR FLORESTAS
A escala da iniciativa é uma das principais diferenças em relação a outros mecanismos existentes hoje que, de diferentes maneiras, também procuram realizar pagamentos para promover a redução do desmatamento e a conservação de florestas.
A questão é que muitos dos mecanismos que já existem são baseados em doações, sujeitas, portanto, à visão política do momento do país doador – basta lembrar que, com uma canetada, o presidente americano Donald Trump acabou com a principal agência americana de ajuda externa, que despejava bilhões de dólares em doações ao redor do mundo todos os anos.
No caso do TFFF, é diferente: os países que alocarem recursos no fundo vão receber esse dinheiro de volta depois de alguns anos e a juros baixos. Trata-se, portanto, de um investimento (ainda que pouco rentável) – e não de uma doação.
Há outra diferença fundamental. Hoje, um dos principais mecanismos de financiamento para florestas é voltado para redução de emissões por desmatamento e degradação. Ou seja, eles remuneram países, projetos ou comunidades que estejam diminuindo o desmatamento.
“[Os países] têm que fazer isso e continuar a fazer isso. Mas o que acontece quando um país já controlou o desmatamento, chegou ao desmatamento zero ou, como é o caso de alguns países, que não está desmatando e nem nunca desmatou? Em princípio, esses países não recebem mais dinheiro desses mecanismos, porque não estão mais reduzindo as emissões do desmatamento”, explicou Batmanian.
É aí que o TFFF entra em cena – não para competir com os mecanismos existentes, mas para atuar de forma complementar a eles, mobilizando recursos para as florestas em pé.
Desmatamento na Mata Atlântica também está em queda
O fundo é baseado em desempenho. Ou seja, os países que quiserem se candidatar – a princípio, são mais de 70 países em desenvolvimento com florestas tropicais – precisarão ter uma taxa de desmatamento baixa, de menos de 0,5%. E, para manter os pagamentos, deverão impedir que ela suba de um ano para o outro.
O desenho atual do fundo prevê levantar um volume de recursos que, ao ser reinvestido, vai render o suficiente para pagar cerca de 4 dólares por hectare de floresta tropical conservada para cada país.
Haverá descontos para cada hectare desmatado ou degradado por fogo a depender da taxa de desmatamento. Para países com até 0,3% de taxa de desmatamento, por exemplo, cada hectare derrubado representará um desconto equivalente a 100 hectares preservados, ou seja, de 400 dólares por hectare desmatado.
Os países precisarão apresentar uma lista de políticas e programas que podem ser beneficiados pelos recursos do fundo. Não haverá exigências específicas, porque cada país têm desafios diferentes para a conservação de suas florestas. Mas será preciso demonstrar que os recursos não vão substituir o orçamento já existente das políticas nacionais.
Essa determinação foi defendida pelo Ministério do Meio Ambiente primeiro para impedir que o dinheiro do TFFF entre no caixa do Tesouro do país e seja direcionado para outras áreas, como o pagamento da dívida pública. E, segundo, para evitar que aconteça o que aconteceu com o Fundo Amazônia, que ao longo dos anos passou a financiar ações e programas que eram de responsabilidade dos governos.
Em um cenário de desmatamento zero e de queimadas controladas, o Brasil pode receber cerca de R$ 7 bilhões, segundo cálculos do governo, o que representaria cinco vezes o orçamento que hoje o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem disponível para suas políticas e órgãos, conforme Aquino.
O desmatamento na Amazônia vem caindo desde 2022. Entre agosto de 2023 e julho de 2024 (último dado disponível pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) atingiu a menor área desde 2015, uma queda de 30,6% em relação aos 12 meses anteriores. Já na Mata Atlântica, a derrubada também está em queda, ainda que de forma menos expressiva.
Do total de recursos que o país receber, pelo menos 20% deles obrigatoriamente deverão ser repassados para povos indígenas e comunidades tradicionais – como quilombolas e ribeirinhas, no caso do Brasil. Esse é outro grande diferencial do fundo, fruto da articulação dos povos tradicionais, representados pela Aliança Global de Comunidades Territoriais (GATC), que participou do desenvolvimento da iniciativa.
“Essa foi uma das nossas grandes conquistas nesse processo: arrancar esse compromisso efetivo de que no mínimo 20% dos recursos do TFFF serão destinados aos povos indígenas e comunidades locais a nível global, o que, antes, não estava garantido”, afirma Kleber Karipuna, co-presidente da GATC.
Para ele, o TFFF pode vir a inspirar outros fundos globais a mudarem sua arquitetura financeira para envolver, diretamente, os povos tradicionais e fazer o financiamento da forma mais direta possível para esses povos.
Trata-se de uma das principais demandas do movimento indígena no Brasil. Ainda que administrem 54% das áreas de florestas intactas no mundo, os povos indígenas e tradicionais não estão sendo devidamente remunerados por isso.
Um estudo recente mostrou que, nos últimos dez anos, os povos indígenas e comunidades tradicionais receberam uma parcela ínfima do financiamento internacional, apenas 270 milhões de dólares na média, o que equivale a menos de 1% da verba oficial para mitigação e adaptação climática no período.
Os países que participarem do TFFF poderão repassar os 20% dos recursos diretamente para comitês nacionais (a serem formados com os representantes de seus povos tradicionais) ou para uma instituição internacional que, por sua vez, fará os repasses de acordo com as determinações do comitê nacional. Essa camada intermediária foi pensada para países em que há dificuldades na relação entre os povos locais e os governos.
“Indígenas de outros países trouxeram essa contribuição: de que a gente construa um mecanismo que blinde os 20% daquele país de possíveis maus usos”, explica Karipuna. “E um alerta geral de todos nós também foi para encontrarmos um formato que blinde os recursos de possíveis mudanças de governos”.
No caso brasileiro, além da remuneração direta dos 20% para povos tradicionais, o desejo do Ministério do Meio Ambiente é de que os 80% também sejam direcionados o máximo possível para quem está na ponta (e não para órgãos de comando e controle). Isso seria feito via políticas públicas, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e programas como o Bolsa Verde e o Projeto Floresta+.
Segundo Aquino, a ideia é que o dinheiro chegue para aqueles que colaboram para a conservação das florestas, seja em territórios coletivos, seja em propriedades particulares. Outra possibilidade seria a de usar os recursos para incentivar a cadeia produtiva de produtos da bioeconomia.
No longo prazo, a expectativa é que esses pagamentos venham a provocar uma mudança estrutural na direção de, enfim, a floresta em pé ter mais valor econômico do que a floresta derrubada.
Pelo menos 20% dos recursos deverão ser repassados para povos indígenas e comunidades tradicionais
Além da GATC, que representa os povos tradicionais a nível global, muitas outras organizações e diferentes governos vêm colaborando no desenho do TFFF. A ideia está sendo trabalhada há quase dois anos, desde que foi apresentada inicialmente na COP28, em Dubai.
No ano passado, o Brasil instituiu um comitê diretivo interino formado por representantes de 12 países para trabalhar conjuntamente na arquitetura do mecanismo: seis com florestas tropicais (Colômbia, República Democrática do Congo, Gana, Indonésia e Malásia) e seis que podem fazer os aportes iniciais (França, Alemanha, Noruega, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos).
Nesta quinta-feira, 21 de agosto, o governo brasileiro publicou a nova versão do documento que descreve o mecanismo, seus princípios e principais critérios.
O plano, agora, é lançar o TFFF de forma oficial na COP30, presidida pelo Brasil, país que deu origem à proposta, e realizada em uma cidade de floresta tropical: Belém, no Pará.
“Os países com floresta sempre falaram que precisavam de mecanismos novos e inovadores para proteger as florestas. Bom, se a gente está fazendo uma proposta de mecanismo inovador, que reconhece o valor e paga pelas florestas, nada mais natural que quem liderou as conversas venha a lançá-lo quando vai ter uma COP no país que tem a maior parte das florestas tropicais do mundo”, disse Batmanian.
A expectativa do governo brasileiro é chegar ao palco global da COP, quando representantes de 197 países estarão em Belém, com a estrutura institucional do fundo totalmente pronta e anunciar os primeiros países investidores, além da adesão de países tropicais.
BRICS, EUA: QUAIS PAÍSES DEVEM PARTICIPAR DO FUNDO?
Os principais candidatos para os aportes iniciais de dinheiro ao TFFF seriam os 12 países que fazem parte do comitê: Colômbia, República Democrática do Congo, Gana, Indonésia e Malásia, França, Alemanha, Noruega, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos. Na verdade, 12 menos um, já os Estados Unidos se ausentaram das negociações desde que Trump assumiu a presidência.
Há ainda esperança no governo brasileiro de que outros países possam vir a investir no fundo, como a China. Em julho, os líderes dos BRICS (grupo inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) assinaram uma declaração conjunta sobre financiamento, no qual mencionaram diretamente o TFFF como um “instrumento promissor para gerar um fluxo previsível e de longo prazo para financiar a conservação de florestas”.
No caso dos EUA, ficar de fora à essa altura do campeonato é o de menos. O importante é que o país não atrapalhe a viabilização da iniciativa, como sinalizou André Aquino, do MMA. Isso porque estão em andamento conversas para que o Banco Mundial, que desde o início colaborou com o desenvolvimento da proposta, seja a instituição que vai abrigar e operacionalizar o TFFF, o que daria mais segurança aos países investidores. Acontece que o país com mais peso e poder de voto no conselho que administra o banco é, justamente, os Estados Unidos, que, portanto, poderia atuar para impedir que o TFFF seja hospedado na instituição.
Diante das últimas sinalizações do banco, trata-se de uma hipótese improvável, segundo o assessor do Ministério do Meio Ambiente André Aquino. E, de qualquer forma, o fundo teria planos B, como outros bancos multilaterais de desenvolvimento.
Mas o Banco Mundial “agrega muita confiança aos investidores”, como explicou Aquino. A instituição desempenharia papéis fundamentais para a operação do fundo, que pretende chegar a um capital de 125 bilhões de dólares a serem reinvestidos para gerar a receita que vai remunerar os países tropicais.
O maior desafio é chegar a esses 125 bilhões de dólares. O objetivo é, primeiro, atrair 25 bilhões de dólares de países que colocaram dinheiro no TFFF a juros baixos, para, no longo prazo, receber esse dinheiro de volta. Isso poderia ser feito por meio dos fundos soberanos dos países – o da Noruega, por exemplo, administra quase 2 trilhões de dólares , já os diferentes fundos dos Emirados Árabes Unidos somam cerca de 2,5 trilhões de dólares.
Esse aporte inicial servirá de garantia para a capitalização do fundo por meio da emissão de títulos, o que seria feito pelo Banco Mundial, para chegar aos 125 bilhões de dólares. Esses títulos seriam classificados como de baixo risco e de boa qualidade a fim de serem colocados no mercado financeiro para serem adquiridos por investidores privados com potencial de render cerca de 7,5% a 8% ao ano. O montante que resultar da diferença entre os juros a serem pagos aos investidores iniciais e os do rendimento do fundo é o que seria pago aos países tropicais.
Apesar da previsão de lançamento na COP, o TFFF não fará parte da agenda de negociação da conferência e nem estará atrelado às convenções internacionais da ONU sobre clima (tema da COP30), biodiversidade e desertificação, o que evita ter que discutir as regras do fundo com mais de 190 países.
“Se o TFFF fosse um mecanismo que passasse a ser negociado no âmbito de qualquer convenção, a gente provavelmente passaria os próximos muitos anos, se não uma década, discutindo como ele deve funcionar”, diz Rittl, da WCS. “E talvez nem chegássemos a um consenso sobre as regras, ou ele se tornaria muito complexo”, complementa.
Ainda assim, o diagnóstico dos entrevistados pela reportagem é o de que os recursos levantados pelo fundo podem ajudar os países a alcançarem os compromissos assumidos nessas convenções, como, no caso do Brasil, o de zerar o desmatamento até 2030.
“Esse fundo se fortaleceu muito. E eu acredito que [ele] também possa ser um grande resultado [da COP]”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, que preside a COP30, em audiência na Câmara dos Deputados no início de agosto.
Embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago
O lançamento na conferência em Belém também é uma oportunidade de trazer uma pauta positiva para inspirar as tensas discussões sobre financiamento.
Na última COP, no Azerbaijão, os países concordaram em uma meta de 300 bilhões de dólares que os países ricos, os responsáveis históricos pelo aquecimento global, precisam mobilizar para financiar ações de mitigação e adaptação dos países em desenvolvimento. O valor, porém, ficou muito abaixo da necessidade real dos países em desenvolvimento, estimada em 1,3 trilhão de dólares. E ninguém definiu de onde sairá o dinheiro – e nem a “forma” dele (doação ou empréstimo, por exemplo).
“Como a gente cria novas formas de mobilizar recursos? Nesse sentido, o TFFF traz novas ideias e formas de olhar para o financiamento”, explica Rittl. “Ele não pode, lógico, substituir a obrigação legal [de financiamento] dos países ricos. Mas acho que em um momento de muita tensão geopolítica, o TFFF tende a distensionar um pouco”.
Vai depender de quanto dinheiro países investidores vão colocar no fundo.
Relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), sistema apoiado pelas Nações Unidas para monitoramento da fome, declarou oficialmente nesta sexta-feira (22/08) que Gaza enfrenta condições de Fase 5 — a mais grave da escala de insegurança alimentar aguda, que significa fome.
Segundo o documento, mais de 500 mil palestinos estão na Fase 5 e vivem em “situação catastrófica”, marcada por inanição, miséria e risco de morte; a previsão é de que o número chegue a 640 mil até o final de setembro.
Outros 1,07 milhões de pessoas, ou 54% da população de Gaza, são classificadas como estando na Fase 4, o que significa em condições de “emergência”; enquanto 396.000 pessoas (20%) estão na Fase 3, ou condições de “crise”.
A fome foi confirmada pela primeira vez na Cidade de Gaza, e a previsão é de que ela se espalhe para as regiões de Deir al-Balah e Khan Younis nas próximas semanas.
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, responsabilizou diretamente o governo israelense pela crise. “A fome declarada hoje na província de Gaza pela Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC) é o resultado direto das ações tomadas pelo governo israelense”, afirmou.
Ele acrescentou que “é um crime de guerra usar a fome como método de guerra, e as mortes resultantes também podem ser consideradas um crime de guerra de homicídio doloso”.
Quando entrar no Couto Pereira para enfrentar o líder Coritiba, o Remo de Antônio Oliveira deve ter como exemplo a Chapecoense, que ontem aplicou um 4 a 0 contundente sobre o Athletic, em São João Del Rey, esbanjando determinação e objetividade, virtudes que ultimamente andam em baixa na equipe paraense.
Citei a Chape por estar acima do Remo na classificação, ocupando agora o 3º lugar, com 40 pontos, e por mostrar um apetite que todo candidato ao acesso deve ter.
O time de Gilmar Dal Pozzo é hoje detentor de duas goleadas (sobre Amazonas e Athletic) por 4 a 0, jogando de forma organizada, evitando quedas de rendimento nos jogos que normalmente afetam as equipes.
A espetacular reação no campeonato já dura nove partidas de invencibilidade, com forte reposição de peças e disciplina tática impressionante. O rodízio de jogadores no 2º tempo é muito bem executado, com substituições que encaixam e não permitem perdas técnicas.
Mais do que a vitória acachapante sobre o Athletic, chamou atenção a disposição demonstrada pela Chape, que vem atuando bem tanto dentro quanto fora de casa. É um rendimento de time que quer subir para a Série A e também sonha com o título do campeonato.
Todas essas virtudes têm faltado ao Remo neste período sob o comando de Antônio Oliveira. Mesmo nas vitórias fora de casa, sobre Athletic e América-MG, faltou apuro e coordenação, fazendo com que em boa parte dessas partidas houvesse uma pressão excessiva sobre o setor de defesa.
Para agravar ainda mais a situação, o Remo não conseguiu mais o rendimento que apresentava como mandante no começo da competição. Já perdeu 14 pontos como mandante, número proibitivo para quem almeja subir para a Primeira Divisão.
A partida deste sábado (23) tem importância fundamental na caminhada do Leão na Série B. Com 34 pontos, em quinto lugar na tabela, o time precisa se manter próximo dos quatro primeiros colocados – Coritiba, Goiás, Novorizontino e Chapecoense. Qualquer tropeço significará perda de posição e fôlego na disputa.
A necessidade de vencer é ainda maior pela própria situação de instabilidade do técnico Antônio Oliveira, ameaçado de demissão depois dos recentes tropeços dentro de casa. Talvez por isso mesmo, o time está mais ou menos desenhado num esquema ofensivo.
O meio-de-campo deve ser formado por Caio Vinícius, Jaderson e Diego Hernández. No ataque, Marrony, Matheus Davó e Nico Ferreira. Na prática, o Remo terá uma postura ofensiva. Para ser agressivo, o time naturalmente correrá riscos.
Com uma meia-cancha liderada pelo armador Josué, jogador de extrema habilidade e que vem se destacando na excelente campanha do Coritiba. Além de cuidar da marcação, o Remo terá que criar situações no ataque para chegar ao gol. Uma missão das mais espinhosas. (Foto: Samara Miranda/Ascom CR)
Bola na Torre
O programa deste domingo (RBATV, às 22h) vai abordar a participação de Remo e Paysandu na 23ª rodada da Série B. Guilherme Guerreiro apresenta, com as participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.
Papão lança melhor time possívelcontra o Fantasma
Diante do Operário-PR neste domingo, 24, o PSC entra com a obrigação de romper a sequência de tropeços das últimas cinco rodadas, incluindo resultados ruins dentro de casa. Depois de perder a invencibilidade de nove partidas sob o comando de Claudinei Oliveira, os bicolores não conseguiram mais vencer.
A cobrança da torcida volta a pressionar o time em busca de resultados que permitam fugir à zona de rebaixamento. As esperanças se concentram naturalmente na dupla ofensiva que vem fazendo a diferença desde que Claudinei chegou: Maurício Garcez e Diogo Oliveira. A prolongada ausência de Rossi – que novamente não está relacionado – contribui para reduzir ainda mais a produção de jogadas a partir do meio-campo.
O problema é que nas últimas partidas o PSC não teve qualidade na elaboração de jogadas, o que comprometeu bastante o aproveitamento dos atacantes. Sem sinais de criatividade no meio e baixa participação dos homens de lado, o Papão não conseguiu impor pressão sobre Athletic, Atlético-PR, Vila Nova e Chape.
Pressão é tudo que o time precisará fazer sobre o Operário para conquistar a vitória. O adversário se posiciona na parte intermediária da tabela, com características defensivas muito fortes como visitante, o que faz crer num esquema de forte marcação para conter os bicolores.
(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 23/24)