Por Heraldo Campos
Em 1979, em plena ditadura militar, Walter Franco cantou a sua música “Canalha” no Festival da Tupy com os seguintes versos: “É uma dor canalha / Que te dilacera / É um grito que se espalha / Também pudera // Não tarda, nem falha / Apenas te espera / Num campo de batalha / É um grito que se espalha / É uma dor canalha”.
Foi um delírio para quem estava na platéia e para quem viu ao vivo pela TV. A provocação estava lançada. Hoje vivemos numa democracia mas, os “filhotes da ditadura”, como dizia Leonel Brizola, continuam espalhados por aí e atuam como verdadeiros canalhas em vários setores da sociedade brasileira.
Recentemente o Senado Federal aprovou projeto de lei para a flexibilização do licenciamento
ambiental. “Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirmou que o projeto de lei representa a desestruturação significativa do regramento existente sobre licenciamento e representa risco à
segurança ambiental e social no país. Para o Ministério, o projeto afronta a Constituição e viola
o princípio da proibição do retrocesso ambiental, que vem sendo consolidado na jurisprudência
brasileira.” [1]
Sem dúvida, esse projeto de lei é mais um passo lamentável dos nossos parlamentares que vem se juntar “(…) a boiada nas águas, os picaretas e a privatização das praias (…) detonando, ainda mais, pela ganância exacerbada, o ambiente em que vivemos.”
Pode ser repetitivo, mas qual seria uma das saídas, além da pressão popular sobre os políticos que pensam somente nos seu próprios umbigos e interesses excusos? Parece que está passando da hora de se pensar, mais uma vez, a médio prazo, numa reforma política “(…) com cláusula de barreira para os partidos, mandato de cinco anos, sem reeleição, em uma eleição geral para todos os cargos eletivos (…)”
E a curto prazo, o que podemos fazer? Tudo indica que o melhor caminho é aquela velha ladainha de sempre, ou seja, “(…) é votando certo nas eleições, nas forças progressistas e
democráticas, tanto numa escala local como em outra maior (…)” porque, daqui há pouco
mais de um ano, teremos novas eleições para governadores, deputados estaduais e federais,
senadores e presidente da república.
“Para viver, você deve respeitar o mundo, as árvores, as plantas, os animais, os rios e até a própria terra. Porque todas essas coisas têm espíritos, todas elas são espíritos, e sem os espíritos a Terra morrerá, a chuva irá parar e as plantas alimentares murcharão e morrerão também.” – Cacique Raoni.
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Fontes
[1] “Senado aprova flexibilização do licenciamento ambiental” – reportagem de Gésio Passos da
Rádio Nacional de 22/05/2025.
[2] “Boiada, picaretas e privatização” – crônica de Heraldo Campos de 24/05/2025.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/05/boiada-picaretas-e-privatizacao.html
[3] “Bye, Bye, Blue Caps, Green Caps and White Caps” – crônica de Heraldo Campos de
01/07/2020.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/07/bye-bye-blue-caps-green-caps-and-white.html
[4] “Bozosaurus rex” – crônica de Heraldo Campos de 03/06/2025.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/06/bozosaurus-rex.html
* Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).









